Flagrante!!!

A cena paralisou suas mãos!

Imagem ilustrativa

Apesar de a noite ser ainda uma criança, fazia muito frio na rua. Na penumbra do interior do carro, ligeiramente oculta pela sombra de uma arvore, Joana esperava pacientemente. Chegara no início da tarde à cidade. Tivera tempo de sobra para fazer sua investigação. Descobrira onde era o escritório, parte da rotina, dos horários e agora estava ali, a poucos metros da porta da casa de Paula. Segundo seus levantamentos ela saia do trabalho por volta das seis da tarde e antes de ir para casa passava no supermercado. Já eram mais de sete horas… estava demorando! De repente um carro diminuiu a velocidade, sinalizou e parou na frente do seu carro. Joana percebeu que era um homem ao volante. Sentiu o coração disparar! Esperou alguns segundos. A porta do passageiro se abriu e uma mulher protegida por um grande casaco bege saiu tentando equilibrar nos braços um pacote de papeis. Quando ela se virou para contornar a frente do carro, Joana pode ver com certeza: Era Paula! Um ligeiro frio percorreu sua espinha. Nesse instante a porta do motorista se abriu e um homem, que já mexia no banco traseiro, fez movimentos de descer. O coração de Joana bateu a duzentos por minuto. O homem saiu do carro de costas pra ela…

Era Renato?

O grande casaco escuro aumentava sua silhueta… O rapaz alto e corpulento, cabelos curtos… era Renato!!

Ele deu um passo em direção à Paula, recolheu os papeis das mãos dela, juntou os dois pacotes e atravessaram o passeio em direção ao portão da casa da jovem advogada. Joana tinha os olhos colados no casal.

Num instante ela abriu o portão, virou-se para o homem e deu-lhe um longo beijo apaixonado.

Joana ia saltar do carro para surpreender o casal, mas de repente ficou paralisada. A cena foi muito forte. Um misto de sentimentos a invadiu naquele momento. Queria não ter visto aquilo. Sentiu um certo asco! Por um segundo desviou os olhos.

Quando voltou a olhar para o casal, Joana já havia fechado o portão e Renato estava entrando no seu carro.

Era mesmo Renato! Estava mais magro e usava barba, coisa que não fazia há anos.

Enquanto pensava no que fazer, o motorista deu partida, deu seta e saiu do local. Joana pensou em seguir o carro de Renato, mas seus dedos travaram, grudaram no molho de chaves e ela não conseguiu dar partida.

Quando finalmente conseguiu virar a chave no orifício da ignição, o carro de Renato já virava a esquina.

“Foi melhor assim”, pensou Joana. “Eu não ia conseguir dirigir. Ia acabar batendo o carro”. Ficou longos minutos ali olhando a rua silenciosa e fria. Baixou um palmo o vidro do motorista para deixar entrar o ar frio da noite. Pareceu ouvir o barulho do chuveiro de Paula. Viu-a nua, esfregando o sabonete pelo corpo, cantarolando uma canção qualquer debaixo do chuveiro. Viu Renato alto, forte, ereto entrando nu no chuveiro… tentou desviar o ‘olhar’ e instintivamente sacudiu a cabeça, querendo se afastar da cena! Com isso Paula e Renato sumiram do banheiro, sumiram da sua imaginação!

Só então se deu conta de que estava ali há quase dez minutos desde que vira o carro de Renato virar a esquina.

Mas será que era mesmo Renato? De costas, era o mesmo porte físico. Alto, ombros largos… De frente os ombros largos mantinham o casaco aberto fazendo uma figura corpulenta, mas parecia mais magro… ou seria mais jovem e atlético? Mas era Renato. Tinha certeza. Ou será que não? Ou será que apenas seu subconsciente viu Renato ali se despedindo de Paula com aquele beijo apaixonado?

Pensou em descer do carro, tocar a campainha e ir falar com Paula. Dizer que havia descoberto seu romance com seu marido. Mas de que adiantaria? Poderia ter dito isso mais cedo no escritório dela! Ou até por telefone, sem sair de casa! Ela certamente negaria. “Eu tinha que ter abordado os dois abraçados no portão”, pensou Joana. “Pegá-los em flagrante… e ver que explicação ele daria para ter abandonado a família de maneira tão covarde. Ver que recado ele daria para seus filhos adolescentes que sempre o tiveram como herói”! Assim pensando Joana rumou para o hotel. Precisava sair da rua, ficar entre quatro paredes, sozinha, para extravasar sua revolta, sua mágoa, sua dor… Precisava esmurrar alguma coisa. Chorar, talvez. Sim. Precisava chorar. Chorar bastante, até esvaziar todos aqueles sentimentos confusos que pressionavam seu peito… e seu cérebro! Tudo que precisava agora era de quatro paredes… para esconder suas lágrimas!

 

Esse pequeno trecho é parte integrante do romance policial de Airton Chips:

“UMA VIAGEM QUE NÃO CHEGOU AO FIM”.

O livro está disponível no site da ‘Editora Dialética’ ou, através do WhatsApp 35 9.9802-3113.

 

Sapucaia… A arvore que enganou o historiador!

Na região onde rios e cidades levam seu nome, não se tem a localização de um único pé nativo da famosa arvore.

Dos 125 pés de Sapucaia que enfeitam praças e jardins de Belo Horizonte, 35 estão na orla da lagoa da Pampulha.

Você que já viajou pelo Sul de Minas, com certeza cruzou cidades e rios com nomes originários na Sapucaia… São Gonçalo do Sapucaí, Santa Rita do Sapucaí, Porto Sapucaí. Se subir até a bela Campos do Jordão você passará por São Bento do Sapucaí, Sapucaí Mirim e poderá beber nas nascentes cristalinas dos rios Sapucaí e Sapucaí Mirim. Todas estas localidades e rios receberam esse batismo em homenagem à famosa Sapucaia, arvore de grandes copadas, supostamente abundante no Sul de Minas, principalmente nas margens baixas dos rios que levam seu nome.

Só que não!

A famosa Sapucaia, conhecida (e explorada) pelos europeus que aqui chegaram, desde o século XVI, originaria da Mata Atlântica, hoje anda pela beira da morte. Não se tem a localização de um único pé nativo no Sul de Minas.

O que o historiador chamou de Sapucaia, era, na verdade, o Óleo Copaíba!

Este sim, nativo e abundante na região onde batizou tanta ‘gente’!

As arvores são de fato parecidas, apenas no porte, porém muito diferentes na florada, na formação da casca (a Sapucaia tem formato de rusgas e fissuras, lembra a casca do cedro). O óleo copaíba tem a casca um pouco mais lisa e seu fruto é pequeno. O fruto da Sapucaia tem o tamanho de uma cabeça de cachorro médio. Se cair do galho a trinta metros de altura sobre um cachorro, pode aleijá-lo! O fruto da Sapucaia (semente) tem grande valor nutricional embora não seja comercializado. O óleo copaíba tem grande valor medicinal. Ambas as arvores, que podem passar de trinta metros de altura, podem forrar o chão da casa que você pisa!

Por engano ou não, o nome ficou. Todos estes lugares que eu citei foram batizados com o nome da Sapucaia. Mesmo não vendo a arvore, toda vez que você passar por ali, vai se lembrar do que acabou de ler!

Anos atrás a prefeitura de Belo Horizonte plantou 125 pés de Sapucaia em suas praças, jardins e logradouros públicos, inclusive na Praça da Liberdade. No entorno da Lagoa da Pampulha, por onde pedalo quase todos os dias, já contei até o momento 35 arvores!

Esta é época mais fácil de ‘percebê-las’… É a época da florada, ou melhor, da ‘folhada’! Sim. A Sapucaia não dá flores… No início da primavera as folhas verdes, novas, mudam de cor e durante cerca de duas semanas tingem suas copas de rosa e lilás. Por isso é fácil percebê-las… e contá-las.

Belo Horizonte é bastante arborizada e florida, especialmente na região da Pampulha. O ano todo sibipirunas, manacás, primaveras, flamboyants, jacarandás rosas, ipês de várias cores, sapucaias, cada um a seu tempo enchem nossos olhos – e corações – de cores! Na ilha da lagoa, no momento, tem três pés floridos que não consigo afirmar qual deles é ipê roxo ou Sapucaia.

Mas, voltando à Sapucaia, a arvore que enganou o historiador e acabou batizando rios e cidades no Sul de Minas, tem sim Sapucaia no Sul do Estado. Graças a um cidadão altruísta que resolveu preservar a espécie tão bela. Em Santa Rita do Sapucaí há dois belos espécimes da famosa arvore. E é muito fácil identificá-los. Quando entrar na cidade pelo acesso sul, pela ponte principal, quando estiver no final da ponte sobre o Rio Sapucaí, olhe para a margem à sua direita à frente. Ali – salvo engano no quintal de uma academia – duas belas arvores com suas copadas lilás irão encher seus olhos!

Dos 125 pés de Sapucaia que enfeitam praças e jardins de Belo Horizonte, 35 estão na orla da lagoa da Pampulha.

Agradeço a natureza todos os dias por tão belo espetáculo… E agradeço a Deus a sensibilidade para perceber as belezas que nos cercam e tornam nossa vida mais colorida, mais alegre, mais divertida, mais romântica…

      

Ernane Wood está de volta…

Ele e o sócio Mauricio reabriram a banca “Central” na Galeria Portal

“Não é a mesma coisa, pois estamos afastados da rua. Mas é o que dá para fazer. Trinta e oito anos trabalhando na mesma banca, no mesmo lugar… é a única coisa que eu sei fazer. E não dá para ficar parado”, diz Ernane, mais conhecido do que nota de dez na cidade.

Era eu ainda um garoto branquelo de calça curta quando passei pela primeira vez na Pç. Senador José Bento em Pouso Alegre e lá já estava a “Banca Central”! Era bem menor, proporcional ao tamanho da cidade que em 1969 tinha cerca de 40 mil habitantes. O dono era o Sr. Dirceu! Sujeito magro, miúdo, cabelos já grisalhos, lisos e bem cortados. Vestia-se com elegância, calça e camisa social. Entre uma tragada e outra do seu inseparável cigarro Minister, conversava com a clientela e com todos que passavam entre a banca e as “Casas Pernambucanas”. Nos anos seguintes, ainda molecão de cabelos compridos, entreguei muitos botijões de gás na sua casa na Rua das Papoulas no Jardim Yara e vinha cobrar a ‘notinha’ na banca. Tempos depois, quando Dirceu morreu, seu filho Juarez tentou tocar a banca, mas a profissão de funileiro falou mais alto.

Foi assim que Ernane Faria Wood assumiu a Banca Central e tocou o comercio de beira de calçada, com o sócio Mauricio, por mais de três décadas… e viu outras bancas de calçada surgirem pela cidade.

Em 2004, quando lancei meu jornal impresso FOLHA de Pouso Alegre, a cidade tinha 13 bancas de jornais. Seis delas num raio de menos de cem metros, no coração de Pouso Alegre. A mais antiga era a do Ernane na praça Senador José Bento. Ainda na praça, na outra extremidade, ficava a banca da Rita e logo adiante atrás da catedral, a banca da Ligia. Mais acima em frente a antiga Caixa ficava a banca do Sergio. No inicio da Duque de Caxias uma de cada lado: Saulo à direita e Toninho à esquerda. A banca do Chico reinou durante décadas no final da Dr. Lisboa em frente o Bradesco. Na Vicente Simões havia duas bancas, a do Carlinhos em frente o Alvoradão e outra na pracinha do Semáforo do Santa Lucia. Madalena tocou sua banca durante um tempo na porta da Univas. Defronte o Posto Pantanal havia a banca do Fernando. Rubens Gomes vendeu milhares de Figurinhas da Copa na sua banca na porta da Medicina.  Cristina, minha ex-colega do ensino fundamental, tem sua banca no interior do Baronesa. O velho Claret – e depois Andreia – vendia de tudo e um pouco mais numa banca no terminal rodoviário.

As bancas nasceram para atender a demanda das pessoas que liam “jornais e revistas”. Sim, houve um tempo em que as pessoas liam jornais e revistas impressas, rsrsrsrs! Com isso s bancas viviam abarrotadas de revistas semanais tais como IstoÉ, Exame, Veja, Placar, Contigo, Tititi, Caras, e outras de vida efêmera…

Havia também os jornais diários, de circulação nacional: Estado de Minas, Folha de São Paulo, O Globo… e os jornais semanais de Pouso Alegre. Na década de 90, a cidade teve oito jornais circulando regularmente – escrevi notícias policiais e esportivas em quatro deles (Sul das Geraes, Jornal do Estado, Diário de Pouso Alegre e Folha do Vale). Hoje apenas dois, tropegamente, conseguem sobreviver!

Com a mudança de habito do brasileiro e consequente decadência dos jornais e revistas, os comerciantes migraram para outros produtos. Visando a própria sobrevivência e as necessidades da clientela, hoje as bancas de jornais e revistas vendem brinquedos, souvenirs, isqueiros, recarga de celular, cigarros, ‘zona azul’ (quando funciona), chaveiros, posters do Galo campeão, rsrsrsrs, games, de quatro em quatro anos Figurinhas da Copa, bolinhas de gude, máscaras contra covid, balas, chicletes, e se um ribeirão passasse perto venderia também varas, anzóis e minhoca para pescar!

Vende até livros!

Em 2014, quando lancei meu primeiro livro, espalhei “Meninos que vi crescer” por todas as bancas da cidade. Ano passado “Quem matou o suicida” também foi parar nas gôndolas das bancas.

“Quem matou o suicida” e “Meninos que vi crescer” estão na Banca Central, na galeria Portal, ao lado do Teatro Municipal.

O golpe de misericórdia nas “bancas de jornais & revistas” de Pouso Alegre, foi dado pela prefeitura em meados deste ano. A pretexto de ‘revitalizar’ o centro a cidade, as bancas estão sendo retiradas, fechadas. A própria prefeitura se encarregou de ‘guinchar’ as bancas, como vimos nas imagens que circularam pela internet. Sergio, Rita, Carlinhos, Ernane se aposentaram ‘compulsoriamente’ … sem proventos. Perderam o ganha-pão…

Um destes comerciantes há anos entrincheirado na sua banca no centro, desesperado com o fim do seu ganha-pão, esteve muito perto do fim da vida!

Ernane deu a volta por cima. Depois de quase três meses sem trabalho e sem ver a cor do dim-dim que pingava todo dia, desde que sua banca foi fechada, ele o sócio Mauricio enfim reabriram a tradicional Banca Central. Desde o ultimo final de semana eles estão atendendo a clientela na Galeria Portal, na Dr. Lisboa.

“Não é a mesma coisa, pois estamos afastados da rua. Mas é o que dá para fazer. Trinta e oito anos trabalhando na mesma banca, no mesmo lugar… é a única coisa que eu sei fazer. E não dá para ficar parado”, diz Ernane, mais conhecido do que nota de dez na cidade.

Para atrair novamente a clientela, Ernane passa boa parte do dia na porta da galeria, ao lado do Teatro Municipal.

Boa sorte Ernane e Mauricio… Boa sorte órfãos de Bancas de Jornais & Revistas.

A Vendinha do “Vilino”

Deixou ‘rastros’ na minha terra.

Nasceu pequenina – uma porta e duas janelinhas – na beira da estrada. Viveu mais de quatro décadas… e morreu pequenina, na beira da estrada, com uma porta e duas janelinhas! Mas deixou histórias para contar…
Ao longo de mais de quarenta anos a vendinha do Vilino mudou três vezes de endereço, mas sempre na beira da estrada principal do bairro dos Coutinhos. A primeira foi construída entre a casa da “Lôrdes” e a casa do “Câindo”. Casinha de madeira com uma janelinha lateral, para que o vendeiro pudesse ver de longe quem se aproximava pela estrada poeirenta, outra janelinha para olhar quem passava em frente, e uma portinha no centro. No seu interior cabiam seis ou sete pessoas sentadas nos dois bancos, um grande e outro pequeno.
Ali se vendia pão com mortadela, guaraná Tubaína, paçoquinha, pirulitos e bala Chita de várias cores. O produto mais vendido, no entanto, razão de ser das vendinhas de roça, era… suco de gerereba! Tatuzinho, democrata, Moreninha, Amélia… de garrafa ou de garrafão. Por isso mesmo a vendinha não era socialmente bem-vista. Seus frequentadores ou eram jovens pouco afeitos às responsabilidades do dia seguinte, ou pouco afeitos aos hábitos caseiros. Ou então eram cidadãos menos sisudos, mais liberais…
Os conservadores não punham os pés na vendinha nem para buscar remédios! Se precisassem passar defronte a vendinha durante a noite, passavam do outro lado da estrada. Se por acaso estivessem usando lanterna, tocha de bambu ou tição de fogo para iluminar a estrada, apagavam, para não serem vistos e não ter que cumprimentar quem estivesse na janelinha da venda.
Além do secular suco de gerereba, descoberto casualmente pelos escravos de engenho séculos antes, a vendinha vendia também vinho suave e a tradicional loira gelada. A energia elétrica só chegaria ao bairro uma década e meia depois. Por isso, a cerveja era mantida em uma caixa de isopor em meio às pedras de gelo. O doce guaraná Tubaína e outros refrigerantes eram mantidos em contato com a terra, num buraco feito no barranco do lado de dentro da vendinha. Luz? Lampião à querosene!
Com raras exceções, a vendinha do Vilino foi um divisor social! Seus frequentadores quase sempre trabalhavam de camaradas para terceiros … Por isso mesmo, os conservadores, geralmente patrões, quando precisavam de um camarada para o dia seguinte, para a colheita ou plantio, para roçar pasto, para mutirão, etc… buscavam empregados – desocupados ou descompromissados – na vendinha do Vilino. A vendinha, única no bairro, era ‘ponto de encontro’ dos homens… servia de ‘agência’ de empregos. Servia também para se negociar excedente de produção agrícola, animais…
A segunda vendinha foi construída na curva da Porteira do Buraco, encostada no barranco da estrada, ao pé do terreno do ‘Tio Lilo’, duzentos metros distante da primeira. A venda cresceu. Ali cabiam sentadas encostadas na parede, quase dez pessoas. Por isso ganhou mais duas janelinhas, uma de frente para a estrada e outra na lateral. Alguns frequentadores vinham do bairro vizinho, o Canta Galo. Aos domingos, o entorno da vendinha ao pé do campo de futebol, fervia de gente. Ao lado da vendinha havia um banquinho – uma única tábua de madeira apoiada em três tocos fincados no chão – para acolher os frequentadores durante o dia. À noite não tinha utilidade, pois as pessoas não podiam ‘pegar’ sereno…
Quase tudo que vendia na sua pequenina vendinha, Vilino trazia do Bar do Nezinho em Congonhal. Inicialmente na garupa da sua bicicleta e depois no bagageiro do ônibus da Gardenia até o ‘ponto’ na beira do asfalto.
A terceira vendinha nasceu da necessidade de ‘barrar a concorrência’, já que estava localizada na beira do campo de futebol! Para isso Vilino comprou um bico de terreno do pretenso concorrente, a poucos metros da segunda, mais perto do ribeirão. Essa foi feita de alvenaria e abrigava até uma mesa de bilhar.
Vilino, desde pequeno trabalhava na roça. Por isso, excetuando os sábados e domingos, a vendinha abria sempre no finalzinho da tarde ou no crepúsculo, e fechava por volta de nove da noite. A rotina cansou o vendeiro. Depois de quase uma década na dupla atividade laborativa, Vilino vendeu a terceira vendinha para o “Tonho Dorvá”… e foi trabalhar na cidade.
A história da Vendinha do Vilino, no entanto, não se restringe à necessidade de ampliar a fonte de renda ou ao mero tino comercial. Vilino, que não se tem notícia de que tenha ostentado um único diploma escolar, era homem culto, politizado e bem informado. Ouvia diariamente, no seu radinho à pilha, “A Voz do Brasil” – programa popularmente tachado de enfadonho, no entanto mais barato, mais informativo e mais honesto do que qualquer outro programa radiofônico e ou televisivo hoje em dia.
Vilino era uma daquelas pessoas à frente do seu tempo. Ele queria propiciar informação às pessoas… ele queria estar em contato com as pessoas, ainda que fosse na sua singela vendinha de beira de estrada. Por isso, pouco tempo depois, retomou a antiga rotina. Agora, casado com ‘Marirene’, construiu sua vendinha no terreno do sogro Ovidio, na mesma curva da Porteira do Buraco, no lado oposto às duas vendinhas anteriores. Essa também, como mostram as fotos que ilustram essa crônica, era tão pequenina quanto as duas primeiras. Também tinha uma porta e duas janelinhas. E Vilino voltou a estreitar o convívio com os moradores do bairro… quase todos conterrâneos e parentes.
Da leitura dessa crônica se depreende que Vilino era um desses baixinhos tagarelas que vivem roubando a cena com causos pitorescos, piadas e palavrórios acima de cem decibéis … Ledo engano! Vilino era alto, forte, moreno e… calado. Roubava a cena sim, pois quando falava, todos se calavam para escutá-lo. Era o típico mineiro, daqueles que observam muito, que escutam muito, e só falam quando tem certeza… e só falam o suficiente!
Nos seus mais de quarenta anos de vendeiro, Vilino atendeu muitos clientes com garrucha de dois canos na algibeira; com faca na cinta; presenciou muito pé de briga; muita discussão, mas nenhuma delas passou das vias de fato. Quando ele intervia… os ânimos serenavam!
Durante décadas a pequenina Vendinha do Vilino viu na sua janelinha, nos seus banquinhos de madeira, homens sisudos… e homens hilários! Ouviu muitos casos… e causos! Ouviu muito riso… e também choro! Ouviu estórias… e histórias! Viu muitos meninos crescerem… e algumas pessoas partirem!
Avelino Augusto Coutinho, o ‘nosso’ Vilino, tocou sua vendinha de 1969 a 2011. Há poucos meses, aos 81 anos, ele voltou para os braços do Criador… Deixando rastros na minha terra!

Aqui você encontra quem matou o suicida!

O livro está disponível nos seguintes lugares:


O novo livro de Crônicas Policiais de Airton Chips já está à venda. Além de crônicas, o livro trás lendas urbanas, personagens que marcaram época, e mostra a transformação sociocultural do Sul de Minas, especialmente de Pouso Alegre, a cidade que transformou fazendas e pastos em bairros ruas e avenidas e quadruplicou a população nos últimos 50 anos. Cinquenta anos acompanhados passo a passo pelo autor.

Em Pouso Alegre o livro está disponível nas livrarias:

– Livraria Intelecto, Rua Capitão Pedro Narciso, 85 centro (ao lado da antiga estação ferroviária), fone 3422-4097 e 9.8700.4097.

– Livraria “Quiosque do Saber”, no Serrasul Shopping, fone 3427-5559 e 9.9726-3279.

Nas bancas:

– Banca do Toninho, na avenida Duque de Caxias, 128, centro Fone 9.9915-6331.

– Banca Federal (Sergio), praça Garcia Coutinho, 11, centro, Fone 9.9253-0415.

– Banca Catedral (Ligia – Venicio), praça Garcia Coutinho, 01, Fone 9. 9989-3446.

– Banca Central (Ernani), praça Senador Jose Bento, 47, centro, Fone 3421-4610.

– Banca Cometa ( Júlio), praça Senador José Bento s/n, Fone 9.9996-6646.

– Banca do Chico, Avenida Dr. Lisboa (em frente o Bradesco), Fone 3412-1764.

– Banca Alternativa (Cristina), Hipermercado Baronesa, Fone 3449-1743.

Preços dos livros:

* Nas bancas e livrarias R$ 38,90.

* Através do site de vendas www.facebook.com/blogdoairtonchips/shop/ R$ 44,90 ( entregue sem custo em qualquer lugar do Brasil).

* No formato digital, no site Amazon (Kindle), R$ 24,90.  

Por que os cães não atacavam “Fernando da Gata”?

Quase três décadas mais tarde eu descobri o que deixava os esguios Dobermans… ‘tão dóceis’!

‘Bichinhos’ iguais a este nunca atacaram Fernando da Gata… Porque será?

Toda cidade tem uma história de bandido para contar. Algumas têm mais de uma. Pouso Alegre, a cidade que mais cresceu no Sul de Minas no último meio século – pulou de 40 mil em 1970 para 150 mil habitantes atualmente – também tem suas histórias. O mais ilustre bandido que pisou e deixou rastros indeléveis em terras manduanas, atendia pelo nome de “Fernando da Gata”…

O famoso – às avessas! – que passou sorrateiro pela cidade, deixando para trás um rastro de suspense, de medo, de fatos e de boatos, foi Fernando Soares Pereira, o “Fernando da Gata”. O baixinho cearense ficou menos de uma semana na cidade… mas fez estragos em algumas famílias e na população! Tão sorrateiro como agiu na calada da noite o bandido se foi levando quilos e toneladas de joias! Quilos de anéis, cordões e pulseiras de famílias abastadas da cidade… E toneladas de dignidade! Ele estuprou quatro recatadas senhoras, esposas de ricos empresários… na frente dos seus maridos! Vindo de Russas-CE, Fernando da Gata fez escala na capital paulista e, bem que tentou mudar de vida. Trabalhou alguns meses na construção civil, mas seu ‘talento’ criminoso era por demais valioso para ser desperdiçado debaixo de sacos de cimento, pilhas de tijolos e latas de concreto! O famigerado bandido nascera talhado para grandes empreitadas… ainda que fossem para o mal! Em poucos meses de atividade criminosa na capital paulista, o Eldorado dos nordestinos, o baixinho cearense se tornou celebridade… no álbum da polícia! E colocou toda a polícia civil paulistana nos seus calcanhares… E a imprensa, ávida por furos jornalísticos, também!

Foi assim que, para dar folga às madames paulistanas, o assaltante solitário foi parar em Pouso Alegre em meados de 1982. Fernando da Gata chegou à cidade no mês do ‘cachorro louco’! Não por acaso, de todos os predicados atribuídos a ele, o principal, era exatamente sua capacidade de acalmar e dominar ‘cachorros loucos’! Não eram exatamente loucos, mas eram ferozes cães de guarda, especialmente os esguios ‘Dobermanns’, os quais reinavam nos quintais das mansões naquele começo de década depois que a luzes se apagavam! Ninguém ousaria entrar nos quintais na calada da noite. Ninguém… menos Fernando da Gata! Os donos das casas até ouviam os latidos ferozes dos seus ‘dobermanns’ no meio da noite. Mas quando se arriscavam a abrir a porta ou espiar pela janela, lá estava o amigo fiel sentado num canto do quintal! Atento, mas silencioso. Como se tivesse visto apenas um gato em cima do muro e o intruso já tivesse ido embora. Minutos depois o gato, quero dizer, o “da Gata”, estava no seu quarto apontando um trabuco para o seu nariz!
Mas como o esguio Dobermann parou de latir e se aquietou no canto?
Esse foi o grande mistério que Fernando da Gata levou com ele no crepúsculo de um dia frio de inverno, no começo de setembro, nas margens do Rio Sapucaí, uma semana e meia depois de protagonizar a maior caçada policial da história e colocar Pouso Alegre no mapa nacional com suas façanhas. Fernando da Gata não matou os cães de guarda. Sequer tocou em algum cachorro! Ou talvez tenha tocado… para lhes fazer um cafuné!

– Como pode, um cachorro que quase pula muros para atacar quem passa na calçada do lado de fora, ficar quietinho no canto do quintal enquanto o bandido entra e arromba a porta da casa do dono? – Perguntavam as pessoas com os olhos saltando das órbitas.

– Ele tem parte com o demônio! – Respondiam umas, fazendo o sinal da cruz!

– Ele hipnotiza os cães! – Diziam outras, incrédulas.

Seu fascínio sobre os ferozes Dobermanns – ou o contrário! – virou mito. Vinte e sete anos depois da sua morte desvendei o mistério… E matei o mito!

O livro está à venda…

Para desvendar o mistério de “Por que os cães não atacavam Fernando da Gata”, acesse… https://www.facebook.com/blogdoairtonchips/shop/

A rotina do Rabo Verde

O louco mais querido da cidade…

“A rotina do Rabo Verde” e outras trinta cronicas policiais estão no livro “Quem matou o suicida”.

A figura carrancuda dentro de um conjunto cáqui encardido, debaixo de um chapéu amassado fazendo sombra para o par de olhos azuis, com um saco nas costas, sem saber ler ou escrever, sem lenço & sem documentos e sem um teto para chamar de seu, Rabo Verde figura entre as personagens mais ilustres de Pouso Alegre no Século XX…

Até a poucas décadas, antes do advento dos celulares e seus aplicativos, quando as pessoas tinham tempo para olhar e sentir a rotina à sua volta, era possível perceber alguns personagens do cotidiano se misturando à nossa história. Toda cidade, grande ou pequena, tinha seus personagens assim. Pouso Alegre teve vários no século passado. Chimango, Maria Coquinha, Ananias, Padre Mateus, Nego Artur e tantos outros. Quando, nas rodinhas de saudosistas, falamos dos personagens folclóricos que marcaram a cidade, o primeiro que nos vem à mente é o… “Rabo Verde”!

A expressão inquieta, o jeito soturno, o modo sacudido de emitir as palavras – muitas ininteligíveis – a mania de resmungar sozinho palavras desconexas sem uma sequência lógica de fala, a sujeira do traje, o saco de roupa que sempre carregava nas costas, a mania de catar comida no lixo – embora não lhe faltasse uma alma boa para encher sua marmita gratuitamente ou em troca de capina de quintal – faziam de ‘seu’ Antônio Barnabé um louco! Mas era um louco inofensivo. Jamais fazia mal a alguém. Desde que não lhe chamassem pelo apelido de Rabo Verde! Aí, além dos palavrões impublicáveis, pedras, tijolos, sabugos, ou qualquer objeto que estivesse ao seu alcance tornava-se uma arma! As crianças se divertiam com sua brabeza… Os pais arrancavam os cabelos de preocupação! Passada a raiva, ele fazia troça do próprio apelido!

-Quem tem o rabo verde, seu Antônio?

– Arara, papagaio… e eu!

Durante décadas, desde meados do século passado, essa figura simples fez parte da rotina das pessoas em Pouso Alegre…

– O Rabo Verde foi preso… Ele foi levado no ‘forninho’ pra delegacia, o filho do delegado foi pro hospital, muito sangue… Ele tá muito machucado… – disse estabanado o garoto entrando correndo no Empório Goulart, no final da tarde!

– Calma, menino! Conta essa história direito! Por que prenderiam o Rabo Verde? Ele não faz mal a ninguém. O que tem o filho do delegado com isso? – interrompeu o comerciante enquanto servia uma dose de Fernet a um freguês cativo…

– Dessa vez acho que ele fez, sim… Ele deu uma pedrada na cabeça do menino, o filho do delegado!

– Espera, espera, espera… Você está dizendo que o Rabo Verde acertou uma pedrada na cabeça de um garoto? E o garoto é filho daquele delegado novo que chegou à cidade?!

– … É isso mesmo. Nóis tava lá na beira da linha esperando pra ver a Maria Fumaça, aí o Rabo Verde tava passando… e a pedrada acertou bem na cabeça do Serginho…

– Peraí, vocês mexeram com o pobre coitado? Por que não correram?

– Nós corremos, mas o Serginho não sabia que tinha que correr…

– Caramba! Filho do delegado… e lerdo! – comentou um freguês do empório entrando na conversa.

– É. Mas é que ele é novo na cidade. Veio da capital. Ainda não conhece as molecagens do interior – interveio outro freguês assíduo do empório.

– E esse delegado novo também não conhece o Rabo Verde. Dizem que ele é um capeta! Vai querer arrancar o couro do pobre coitado! Precisamos fazer alguma coisa. Alguém precisa ir à delegacia explicar para o delegado que o ‘nosso’ Rabo Verde não bate bem da cabeça…

Um dos fregueses do Mario Goulart, que costumava chegar sempre no finalzinho da tarde para bebericar o suco de ‘gerereba’ e jogar conversa fora, se prontificou a ir  à delegacia. Primeiro para saber a gravidade da situação; segundo, para tentar livrar a barra do Rabo Verde.

… Tentou, mas não conseguiu. Afinal, lesão é lesão tanto na capital quanto na pacata Pouso Alegre de vinte mil habitantes!

E o “Rabo Verde” foi se hospedar no Velho Hotel da Silvestre Ferraz!

Para continuar lendo a “Rotina do Rabo Verde”, acesse… https://www.facebook.com/blogdoairtonchips/shop/

*Em Pouso Alegre, o livro está à disposição na Livraria Intelecto e em todas as bancas de jornais.

“Quem matou o suicida”

Este é o título do novo livro de Airton Chips.

“Quem matou o suicida”… o livro caçula de Airton Chips

      Seis anos depois de “Meninos que vi crescer”, o colunista policial e escritor Airton Chips lança agora seu segundo livro de crônicas policiais.

“Quem matou o suicida?” segue a mesma linha de “Meninos que vi crescer”, lançado em 2014. São crônicas policiais vivenciadas pelo policial e colunista ao longo da sua carreira, nos últimos quarenta anos. Algumas são tensas, tristes, macabras… Outras são hilárias, divertidas, comoventes, saudosistas…

No controverso título “Quem matou o suicida”, – a intrigante estória de um fazendeiro encontrado morto na ponta de uma corda no meio do mato, numa pequena cidade do interior de Minas – mais importante do que saber quem é o assassino, é perceber a fragilidade da investigação policial que, por isso mesmo, na maioria das vezes deixa o assassino impune. O tino policial, a argucia do velho detetive e o desfecho da história de “Quem matou o suicida”, no entanto, ‘pagam o ingresso’!

“Quem matou o suicida” é apenas uma das trinta e uma histórias deste denso livro que desnuda o heroísmo do policial; que o exibe como um mortal comum, sujeito a erros, medos, deslizes profissionais e… traições! “O último dia do policial”; “Porque os cães não atacavam Fernando da Gata”; “O batateiro do bigode falho”; “Os fantasmas do velho hotel da Silvestre Ferraz”; histórias macabras como “O esquartejador de Silvianópolis”; “O assassinato de Silvio Santos”; “Larissa de Extrema”; “Larissa de Pouso Alegre” são uma amostra disso.

“Paulinho & Mariana, os pais do nóia JC”, mostra o drama de uma família cujo filho aos dezesseis anos trocou o banco da escola pelo banco da esquina com os amigos de ‘baseados’ e nunca mais conseguiu deixar as drogas. A curta história passada em um plantão médico, com o título “Tragicomédia no Hospital Frei Caetano” mostra a precocidade com que os adolescentes iniciam perigosamente nas drogas. Além desta o livro traz outras histórias hilárias tais como “A múmia de Bueno Brandão e os Três ossos pequenos”; “O louco e a cascavel” e; “Um puta bandido e um porra policial”.

O bucolismo, o saudosismo e a transformação sociocultural de Pouso Alegre no último meio século estão presentes nas histórias “Ribeirões da minha infância”; “A lenda do Zorro da Zona Boêmia”; “Anos 70, a década de ouro da humanidade” e; “O mistério do Corpo Seco” – que misteriosamente ‘sumiu’ do primeiro livro do autor.

Além dos casos policiais, vivenciados ou investigados pelo autor ao longo da carreira, o livro traz comoventes histórias de vida, de superação, tais como: “Maria, 90 anos de solidão”, “Guermina e o Catre”, “O menino que dormia nas caixas de maçã” …

E para começar a leitura: “A rotina do Rabo Verde”! o louco mais querido de Pouso Alegre no século passado, com lugar cativo na galeria de pessoas ilustres do Museu Tuany Toledo. Enfim, uma obra para matar a saudade dos tempos idos, para desnudar a alma do ser humano e, constatar que ainda existem profissionais que amam o que fazem – profissionais capazes de levar uma “Mensagem à Garcia”! -, mas estão cada vez mais escassos!

Tudo isso narrado com bom humor, de um jeito gostoso de ler, por alguém que cresceu em contato com as pessoas, nas ruas, observando o comportamento humano. Alguém que viveu e há décadas conta casos policiais na imprensa de Pouso Alegre.

A ‘família’ está aumentando…

“Quem matou o suicida” pode ser encontrado e adquirido nas livrarias e bancas de jornais de Pouso Alegre e região, ou, através do site “www.facebook.com/blogdoairtonchips/shop” – entregue sem custo em qualquer lugar do Brasil.

Vá buscar ao seu!

 

Em jogo controverso, o PAFC vence outra vez e mantém invencibilidade de dois anos!

O time jogou mal, foi dominado no meio campo, falhou no sistema defensivo e tomou um gol no início do jogo, mas fez o dever de casa: venceu de virada e assumiu a liderança isolada do campeonato.

Sob sol e sob chuva a torcida organizada não arreda pé…

Como era de se esperar, depois de duas vitórias seguidas fora de casa, o Pouso Alegre levou excelente público ao Manduzão no sábado à tarde: 3.599 pagantes, e outros tantos convidados e autoridades.

Apesar da euforia da gigante e festiva torcida rubro-negra, quem comemorou primeiro foram os pouco mais de uma dúzia de atleticanos que vieram de São João Del Rey e ficaram escondidinhos num cantinho  da arquibancada atrás do gol. Logo aos oito minutos de jogo o Athletic jogou uma ducha de água fria na galera do Pouso Alegre. Falha coletiva do sistema defensivo do Dragão, desde o meio campo, que permitiu que a bola fosse alçada na ponta esquerda passando por cima do lateral mal posicionado. O atacante do Atlhetic foi à linha de fundo, venceu o marcador e cruzou rasteiro, com perfeição para a área. A pelota passou sorrateira e sensual beijando as mãos do goleiro Cairo e os pés dos zagueiros e sobrou limpa e sorridente nos pés do atacante pedindo para ser empurrada para as redes.

Apesar da vantagem no placar, o Athletic continuou dominando o meio campo e partindo pra cima até ser barrado ainda na intermediaria. Foi num dos vários contra-ataques rápidos que o Dragão chegou ao empate em meados do primeiro tempo. Na cobrança do escanteio a bola beijou a luva do goleiro e sobrou na cabeça do zagueiro Lucas Rocha, no segundo pau, e foi dormir no filó, levando a galera ao delírio.

No segundo tempo, sempre em rápidos contra ataques, o Pousão precisou de pouco mais de dois minutos para virar o marcador. Noutra cobrança de escanteio a bola sobrou na cabeça do meia Matheus Roldam, no miolo da área e novamente foi beijar as redes do time visitante.

O placar não mudou o jeito dos times de jogar. Enquanto o Dragão jogava pelas laterais tentando chegar à linha de fundo, muitas vezes fazendo a pelota cruzar o meio campo pelo alto, o Athletic, ousadamente cruzava o meio campo com a bola nos pés… até perdê-la na intermediaria. Nalgumas vezes, no entanto, obrigou o goleiro Cairo a agarrar a redonda ou expulsá-la da área. Numa dessas bolas marotas Cairo precisou usar toda sua envergadura para evitar o empate. Já deitado na grama ele conseguiu expulsar a pelota com a ponta dos dedos. Dois minutos depois, já nos acréscimos do jogo, a bola voltou a se esgueirar perigosamente na área do Dragão até encontrar uma canela salvadora e se afastar pela linha de fundo. O alívio só chegou aos cinquenta minutos do segundo tempo quando o esguio e austero ‘homem de preto’ virou-se para o centro do campo, olhou para o céu, levantou os braços e soprou o apito pela última vez! Estava selada a terceira vitória seguida do Dragão

A vitória por 2 x 1 sobre o Athletic de São João Del Rey colocou o PAFC no topo da tabela com 10 pontos e aumentou a invencibilidade do time comandado pelo técnico Rogério Henrique. Agora são 21 jogos sem conhecer a derrota.

Apesar de não ter jogado tudo que pode e tudo que sabe, o Dragão do Sul de Minas continua voando alto com a torcida. O apaixonado torcedor fez festa do começo ao fim do jogo. Quando o time acertava, ele aplaudia; quando o jogador disputava com garra e virilidade, ele aplaudia; e quando o jogo ficava morno, o torcedor colocava lenha na fervura! Não por acaso o Pouso Alegre é campeão de público no interior.

Para completar a alegria do torcedor, o árbitro da partida, desta vez, não permitiu o cai-cai dos jogadores visitantes como ocorrera no jogo contra o Tupi de Juiz de Fora pela primeira rodada. E não foi só o homem de preto que fez a alegria da galera… um cachorrinho vira-latas invadiu o campo e atravessou de ponta a ponta o gramado incentivado pela galera aos gritos de “vai, vai… morde lá na frente”, numa alusão à pegada, à pressão sobre o time adversário! Por quase um minuto o simpático e elétrico cãozinho foi a ultima batatinha do pacote…

Veja outros números o PAFC no campeonato mineiro:

O técnico Rogério Henrique já utilizou 18 jogadores nestes primeiros 4 jogos, sendo que Cairo, Nando, Lucas Rocha, Foguinho e Roldan jogaram todas as partidas e não foram substituídos ainda. Ao todo, cada um jogou 406 minutos até aqui.

O Pouso Alegre hoje é o único invicto na competição, tem o melhor ataque (7 gols) e o artilheiro (Roldan, com 3, ao lado de Ingro, do Athletic)

Dos 7 gols do Pouso Alegre no campeonato, 5 foram de cabeça. Com a vitória sobre o Athletic o Pousão chegou a 21 jogos sem derrotas desde 2018 (15 vitórias e 6 empates).

Que venham mais números positivos contra o Serranense!

PAFC: empate com triplo sabor de derrota!

O time jogava em casa; tinha um jogador a mais em campo metade do segundo tempo; e teve um pênalti a seu favor no último minuto de jogo…

      Apesar do resultado o time passou confiança!

Foto: Guará Comunicação/PAFC

O jogo de estreia do Dragão do Sul de Minas no Modulo B do campeonato mineiro 2020, diante de mais de três mil torcedores, teve quase de tudo: teve gol tramado ainda cedo pela linha de fundo, teve gol do adversário, ainda mais cedo, no primeiro minuto do segundo tempo, teve virada do adversário, teve agressão de jogador à maqueiro, teve expulsão de jogador nervosinho, teve muitos cartões amarelos para o time visitante, teve o tradicional ‘cai-cai’ do time visitante para esfriar o jogo, e teve o que de pior poderia ter num jogo que seguia empatado… Pênalti chutado pra fora no último minuto da partida!

Romarinho não foi só infeliz na cobrança de pênalti. Ele exagerou na criatividade e dificultou a própria cobrança. Um jogador destro não pode ficar à direita da bola na hora de bater o pênalti! A coreografia de correr na horizontal para depois endireitar o corpo para bater na pelota, tentando desestabilizar o goleiro, tira completamente a estabilidade do batedor! O momento da cobrança de pênalti é o mais tenso da partida e todo foco deve se concentrar no toque final que vai mandar a bola para o gol. Por isso o batedor deve deixar de lado a firula, se posicionar a menos de três metros e dar poucos passos até o toque final na pelota.

A perda do gol e dos consequentes dois pontos do jogo, no entanto, não diminui a importância de Romarinho no time. Ele continua sendo o talismã, o jogador moleque, extrovertido e aguerrido dentro de campo… e merece todo apoio dos companheiros e da torcida. Afinal, qualquer jogador perde pênalti… Só não perde quem não bate! Romarinho já é ídolo da torcida e certamente vai consolidar esse status neste campeonato de 2020.

O jogador contratado para ser referência no meio campo do Pouso Alegre, voltando de cirurgia, ficou no banco e entrou no decorrer da partida. Faltou, portanto, tempo para mostrar seu talento e experiencia em campo. Mas promete. Edson Pio sabe como poucos chamar a pelota de ‘meu bem’, e sabe o que fazer com ela quando a tem nos braços, ou melhor… nos pés! Quando estiver cem por cento, certamente vai somar muito ao time e cair nas graças da galera.

Apesar do percalço, foi um bom jogo. O time evoluiu em comparação à performance do ano passado quando conquistou o título – invicto – da segundona. Fez um primeiro tempo quase impecável, pôs a bola para rolar, sufocou o adversário e construiu muito bem as jogadas que redundaram nos dois gols marcados: resultado de jogadas bem construídas. Os dois gols que sofreu resultaram de bolas rebatidas na área.

O tradicional time da Zona da Mata mineira usou e abusou da tradição, experiencia e catimba de clube grande do interior. A cada cinco minutos, mesmo fora da disputa de bola, um jogador alvinegro ficava estendido no chão. Por isso o jogo foi até os 52 minutos…

O público – 3.185 – foi mais uma vez excelente para um jogo de Modulo B. E é só começo de campeonato…

Nas próximas duas rodadas o PAFC vai jogar longe da sua apaixonada torcida. Dia 14 de fevereiro, sexta-feira, joga em Muriaé contra o Nacional, que estreou empatando fora de casa com o Serranense. No dia 22 de fevereiro, sábado de carnaval, encara o Guarani de Divinópolis, que venceu em casa, o outro caçula do grupo, Betim.

Previsão? Se jogar como jogou o primeiro tempo contra o Tupi, pode trazer de quatro a seis pontos na bagagem…