Perseguição no Costa Rios

Em meio aos gritos do meu parceiro com o trabuco na mão, eu podia sentir o roçar do cano do 38, ora na minha orelha, ora nos meus cabelos!

Era uma ensolarada manhã de outono. Subia eu a Avenida Prefeito Olavo Gomes de Oliveira, quando na curva do japonês o tirocínio policial disparou!… Defronte o Posto Pantanal descia um sujeito de bicicleta! Ao avistar o golzinho preto & branco dos ‘zomi’, o sujeito que vinha na banguela puxou a aba do chapelão de palha na cara tentando esconder o rosto. Meu parceiro, com poucos meses de polícia e seu sotaque paulistano, nem se deu conta do ‘detalhe’. Mas eu, polícia ‘véio’, notei o gesto discreto do chapeludo e mantive os olhos grudados nele. Quando passou por nós ele deu uma discreta olhadinha… para conferir se estavam procurando por ele ou, talvez, apenas para ver se eram policiais conhecidos! Diminuí a marcha e continuei com os olhos grudados no chapeludo… Pelo retrovisor! Metros abaixo, defronte o Vinícius Meyer, ele deu uma discreta olhada para trás! Estava devendo!!!

Antes que ele virasse a próxima esquina para entrar no Costa Rios, eu invadi a pista contrária, passei pela borda do posto do Armando e desci de volta em direção ao Aterrado! O chapeludo entrou na primeira esquina! Eu entrei na segunda… Mesmo assim, apesar de estar pedalando, ele tinha vasta dianteira e saiu na minha frente na esquina da primeira rua do Costa Rios paralela à Avenida do Aterrado! Emparelhei com ele.

O que aconteceu nos minutos seguintes eu nunca soube definir se foi cômico ou se foi trágico! Quando virei a viatura cantando pneu e iniciei a perseguição, naturalmente comentei com o novato, que se tratava de um suspeito em potencial… A sacolinha que ele levava presa ao guidão da bicicleta na mão esquerda poderia ser um tijolo de ‘erva marvada’, um quilo de ‘pedra bege fedorenta’ ou ‘farinha do capeta’, ou outra rés furtiva qualquer! Ou então o chapeludo era fugitivo! Por isso, tão logo iniciamos a perseguição, meu parceiro empunhou o trezoitão.

Quando me aproximei, o fujão da bicicleta optou pela minha esquerda… Aí é que morava o perigo!…

Enquanto eu tentava ‘fechar’ o ‘biker’ fujão, meu ‘parça’ gritava histericamente com seu sotaque paulistano:

– Para mano! Porra meu, não tá vendo que é cana, caralho!… Para senão eu vou atirar, meu! Porra, mano!

Em outra circunstância eu teria dado gargalhadas do palavreado do meu parceiro, mas naquele momento não tinha graça…

Enquanto berrava ordens, como se estivesse numa ruela centenária da Mooca, o detetive ‘grão’ sacudia sem parar o trabuco na direção do suspeito! O problema é que entre o trabuco e o fujão… estava eu ao volante! Mais precisamente minha vasta cabeleira começando ganhar tons de cinza!

Enquanto ouvia:

– “Porra meu, tá maluco mano! Eu vou atirar caralho”… – Eu podia sentir o roçar do cano do 38 niquelado ora na minha orelha, ora nos meus cabelos!

O clímax da perseguição aconteceu na penúltima esquina do bairro antes de virar para entrar no Aterrado pela porta dos fundos! Quando ele vacilou para entrar à esquerda eu encostei o para-choque do gol na traseira da bicicleta e o joguei ao chão!

Neste momento o novato quase se apoiou no meu ombro com o revolver encostado no meu peito para alvejar o fujão! Se ele puxasse o gatilho, pelo menos meu bigode ficaria chamuscado!

Transeuntes, aposentados, ciclistas pararam para assistir o imbróglio! Muitas donas de casa deixaram o feijão queimar naquela manhã! Mas tinham que satisfazer a curiosidade! Uma bicicleta meio amassada debaixo de uma viatura policial; uma sacolinha branca caída ao lado; toda aquela gritaria do policial num linguajar que mais parecia o de outro bandido, valiam ‘ingresso’!

– Porra, meu, não respeita polícia não, caralho? Vou atirar, maluco… Vai parar ou não?

Parou!

Não de medo das ameaças do policial ‘mano’, mas parou! Parou dois quarteirões depois, quando eu coloquei uma das mãos suadas na sua camisa! Meu parceiro do ‘caralho’, ainda com a porra da ordem na boca, chegou nos segundos seguintes.

Eu não o conhecia. Quando saí de Pouso Alegre na década de 80 as figurinhas do meu álbum eram Carlinhos Blau-Blau, Cirilo Bola Sete, Ailton Franklin e outros. Mas a julgar pela recusa da minha carona e desobediência às ordens da porra do meu parceiro, certamente era figurinha fácil no álbum da polícia! Quem dá um pinote dos ‘zomi’ como o diabo foge da cruz, não deve apenas um quilo de asinhas de frango ou uma magrela velha!

Ao consultar nosso ‘álbum’ de fichas amarelas – aquele mesmo que havia sido montado pelos colegas Ângelo e Décio nos anos 70 – com propaganda do “Hotel Lydia” no rodapé – não tardou aparecer a foto de um sujeito moreno, olhos negros, cabelos espandongados com o nome “Cristiano Dias”! Sua capivara incluía furtos, roubos e tentativas de homicídio, cujas penas somadas lhe garantiriam décadas de hospedagem gratuita no Hotel do Contribuinte. Estava ‘pedido’!

Cristiano, no entanto, não chegou a criar raízes no Hotel do Juquinha. Naquele mesmo ano sua gorda capivara no arquivo da polícia recebeu uma tosca cruz feita manualmente com pincel atômico vermelho!… Estava encerrada sua carreira criminosa!

Meu ex-‘parça’, “paulistano da Mooca, meu”, nunca aprendeu o ‘mineirês’ – e outros valores básicos inerentes à ingrata, porém honrada profissão policial. Ele também não criou raízes do lado de cá da lei…

Mas essa já é outra história!

 

*** Essa história completa, com o título “Um ‘puta’ bandido e um ‘porra’ policial”, começa na página 355 do livro “Quem matou o suicida”.

O Juiz e a Delegada…

       O imbróglio aconteceu por que a delegada de plantão não reconheceu a assinatura do Homem da Capa Preta no Alvará e se recusou a cumprir o ‘mandamus’!

“Quinze minutos depois um cidadão entrou no gabinete da delegada de plantão. Entrou sem bater. Tinha os poucos cabelos brancos em desalinho, usava camiseta verde, surrada, bermudão de moletom claro bastante jongolhó e chinelos tipo croc escuro – traje muito apropriado para sair na varanda no meio da noite para ver a lua cheia! – Parecia que havia acabado de sair da cama! Trazia na mão a mesma folha de papel que o advogado saíra levando minutos antes: era o mesmo ‘Alvará de Soltura’ manuscrito no restaurante nos primeiros minutos da madrugada – só estava, propositalmente, mais amassado!

O velho magistrado, do qual não se tem notícia de que algum dia tenha esboçado algum sorriso a alguém em seu gabinete ou em qualquer relação profissional, era puro siso. Sua carranca natural, agora acentuada pela insatisfação de ver sua ordem questionada obrigando-o a ir à delegacia àquela hora, inundou o gabinete da delegada.

O soldado que estava próximo à porta quase bateu continência! A escrivã, como a maioria dos policiais de baixo clero, que conhecia a figura, no mínimo soturna do Homem da Capa Preta, pareceu encolher atrás da tela do computador.

Até o ‘dimenor’, debochado e desafiador sentado diante da mesa da delegada, se encolheu e baixou os olhos. Sabia que a tempestade estava iminente…

Enfim, todos, se fossem tartarugas teriam se recolhidos em seus cascos. Melhor ainda se fossem tatu-bola… assim poderiam se enrolar no casco e rolar devagarinho para fora do gabinete.

Todos menos a delegada! Ela se manteve altiva e desafiadora!

Embora, de fato, não conhecesse o magistrado cuja assinatura aparecia no rodapé do manuscrito, sabia que estava diante dele!

Contrariando a lógica das lógicas, o juiz não foi à delegacia de polícia no meio da madrugada atestar pessoalmente a veracidade da própria assinatura e determinar a soltura do seu – até poucas horas antes – tutelado… Ele foi questionar a ousadia, digo, a ‘desobediência’ da delegada de plantão.

O diálogo travado nos minutos seguintes entre as duas autoridades, foi inenarrável. Não teve palavras de baixo calão, cacofônicas ou sequer pejorativas… Mas teve cobras, lagartos, lagartixas, aranhas e fel, muito fel! O diálogo não poderia ser mais inamistoso… e belicoso!

“Quem era aquela delegadinha de roça que não conhecia o grande e veterano magistrado e desobedecia a sua ordem? Quem era ela para questionar sua assinatura”?

“Quem era aquele senhor, quase em trajes íntimos, para invadir seu gabinete, durante um estafante e modorrento flagrante de inimputável, para impor sua… arrogância”?

Quem, dos corredores ouviu, curioso, ressabiado ou amedrontado, a conversa, garante ter ouvido ‘alto e bom som’:

– “Quem você pensa que é para invadir meu gabinete a essa hora”?

– “Você sabe com quem está falando?”

-“Posso prendê-la por desacato…” – teria ameaçado o magistrado.

-“… E quem vai cumprir a ordem”? – teria desafiado a delegada.

A troca de farpas & espinhos entre o Juiz e a delegada no gabinete a portas abertas retumbava nos corredores, livre, pesada e solta para quem quisesse ouvir… e se proteger das faíscas!

E a tensão aumentando… Prestes a pegar fogo!

O advogado – que ao ligar para o magistrado havia colocado uma boa dose de pimenta malagueta nos argumentos contra a delegada – mantinha certa distância do fogo cruzado, e já se arrependia do seu ato.

Sim… Nenhum dos dois abria mão de sua autoridade! Ou quem sabe dos seus egos! De suas teimosias…

O velho juiz, a mais alta autoridade judiciária na comarca, acostumado a ver delegados curvados à sua frente, além da sisudez de magistrado, levava na algibeira da bermuda jongolhó um pequeno trabuco.

A delegada tinha duas vantagens… Estava no seu habitat! E tinha uma .40 negra dentro do coldre pendurada na perna direita da calça operacional…

O duelo estava prestes a acontecer…

Quem sacaria primeiro?…

 

Para saber quem sacou primeiro, acesse:

[email protected]  E leia “O Juiz e a Delegada… Quem prende quem”?

“Os Fantasmas do Velho Hotel… “

Construída em 1932, a velha cadeia testemunhou infindáveis, maquiavélicas e fantasmagóricas histórias. Desativado em 2009, o carcomido prédio ainda abriga em seus sombrios corredores muitos… ‘fantasmas’!

“Pedro Louco” é um deles!

      Pedro Louco protagonizou um dos fatos mais marcantes da história do Velho Hotel da Silvestre Ferraz. O fato aconteceu nos idos de 1970, no tempo em que puxar cadeia ainda era vergonhoso, mas de certa forma era também bucólico, romântico e principalmente educativo!

     Pedro Louco não era bandido. Ao contrário, era um sujeito honesto, trabalhador e honrado. Honra daquelas que se lava com sangue. Certa vez um conhecido caminhoneiro, aproveitando sua ausência, passou uma ‘cantada’ na sua esposa, na borracharia onde ela o ajudava. Ao tomar conhecimento da ofensa, Pedro Louco pegou seu trabuco e foi atrás do caminhoneiro abusado. A honra foi lavada na subida da serra de Ipuiuna. Desde então Pedro Louco tornou-se hóspede do Velho Hotel da Silvestre Ferraz.

     Com menos de trinta hóspedes no velho hotel naquela década, gozando do privilégio de preso ‘cela livre’, após distribuir os ‘bandecos’ e varrer os corredores, Pedro Louco descia para a delegacia, onde também fazia limpeza. De lá, eventualmente, dobrava a esquina e se dirigia ao bar do Vaguinho Dorigatti na Com. Jose Garcia, para abraçar a estonteante “Severina do Popote”. Ia e voltava sempre acompanhado de um detetive… que também gostava do famigerado suco de gerereba com torresmo!

Numa tardinha fresca de 78, quando Pedro Louco saía do bar do Vaguinho ao lado de um detetive, um irmão do caminhoneiro se aproximou sorrateiro e, sem alarde, descarregou o trabuco na cabeça do borracheiro! A fumaça dos tiros entrou pelas narinas do detetive antes que ele esboçasse qualquer reação.

Cumprida a vingança pela morte do irmão, o assassino entregou a arma ainda fumegante ao detetive e foi ocupar o lugar de Pedro Louco no Velho Hotel da Silvestre Ferraz!

 

* Pedro Louco é apenas um dos “Fantasmas do Velho Hotel da Silvestre Ferraz”.

No livro “Quem matou o suicida” há muitos outros”!

… Mariana, mãe do nóia JC

 

(Imagem ilustrativa)

“De repente a campainha do telefone arrancou Mariana dos seus pensamentos. Levou um susto. Era tudo que esperava! Um telefonema, de algum lugar, com alguma notícia! Podia ser de qualquer lugar. Desde que fosse a respeito do filho. Da varanda até a estante onde estava o aparelho não gastou três segundos! Pegou o aparelho e o apertou junto à orelha…

– Aê dona, seguinte… Seu filho tá agarrado aqui no muquifo, cheio de pedra. Se você não pagar o que ele me deve dentro de uma hora, vou encher ele de furo, tá ligado?

– Como é que é? Não entendi… meu filho… – tentou argumentar Mariana, mas foi interrompida pelo interlocutor com a voz ainda mais tenebrosa e incisiva:

– Seguinte dona, ‘prestenção’ que só vou falar uma vez… Faz dois dias que o vacilão do seu filho está aqui na baixada queimando a pedra. Conheço ele. Sei que ele não para, não. O nóia tá me devendo trezentas pratas! Se essa grana não estiver aqui dentro de uma hora, vou fazer picadinho dele, tá entendendo?

Mariana sentiu um filete de gelo escorrer pela espinha. Na verdade, quando o traficante falou atabalhoado pela primeira vez, ela já havia entendido. Já ouvira aquelas ameaças e cobranças outras vezes. Era sempre o marido quem ia buscar o filho na sarjeta, mas era ela quem atendia o telefone. Não tinha trezentos reais na carteira. Aliás, há muito não deixava dinheiro na carteira! Enquanto ouvia as ameaças do traficante ia pensando no que fazer. Teve ímpetos de mandar o traficante catar coquinhos, de dizer que não estava nem aí para suas ameaças, que não importava mais com o filho. Teve vontade de simplesmente desligar o telefone e ver no que dava. Afastou o aparelho do ouvido, olhou para ele com desprezo e ódio e o depositou placidamente no gancho, sem dizer uma palavra. Sentou-se muda no sofá. Sentiu um certo torpor.

… Viu o menino franzino balbuciar desajeitadamente o ‘mãmã’ com pouco mais de um ano.

… Viu o filhinho com a roupinha humilde, mas limpa, acenando para ela na porta da escola no primeiro dia de aula.

… Ouviu a voz eufórica do filho falando dos novos amigos da escolinha… Viu o garoto adolescente, sorrateiro, tentando esconder o boletim escolar cheio de anotações em vermelho…

… Viu o menino sair de casa tantas vezes bem arrumado, usando bermuda, camiseta e tênis novos, perfumado…

… Viu o filho tantas vezes chegar a casa com a roupa suja, rasgada, as vezes a roupa nem era dele, fedendo, às vezes descalço.

… Viu o menino enfurnado no quarto, taciturno, arredio.

… Viu o menino tantas vezes entrar no carro com o pai, levando uma pequena mochila nas mãos, partir para mais uma clínica de recuperação.

… Viu o corpo do menino magro, ossudo, pele empalidecida num caixão tosco na funerária…

… Viu o aparelho telefônico vibrando na estante.

Demorou para ouvir o som do aparelho. Pegou-o e o levou lentamente ao ouvido, muda. Ouviu a mesma voz de antes…

– E aê, tia! Vai deixar o vacilão morrer aqui mermo?

Mariana continuou muda.

– Tá de sacanagem, né tia! Tá de sacanagem que não sabe o que vai acontecer com o seu nóia? – insistiu o traficante já mais exaltado. Escute – disse ele – vou te fazer um favor… Vou levar seu filho aí na porta da tua casa agora. Quando chegar aí quero minha grana. Se não estiver com as trezentas pratas na mão, furo seu garotão aí na sua porta, na sua frente, tá ligado?”

 

 

(Paulinho & Mariana, os pais do nóia JC /“Quem Matou o Suicida” – Airton Chips – primavera de 2020).

 

 [email protected]

 

Tensão na beira do rio

       Se soltasse a corda… morreria o filho! Se não soltasse, morreriam os dois!

“Popota retirou a cápsula vazia e colocou outra intacta no tambor. Girou, esticou o braço, apontou a arma para Renato e lentamente foi movendo o braço e o Taurus na direção de Mateus. A tensão aumentou. Seria mais uma cena de tortura… ou desta vez ele atiraria? – pensou Renato. De repente um novo estampido cortou o espaço espantando um ou outro sabiá que pousava nas frondosas mangueiras. A bala desta vez tinha um alvo. Um alvo indireto, mas tinha um alvo. Atingiu em cheio a perna esquerda traseira da cadeira. Sem uma das pernas a cadeira caiu de costas para trás. Só o impacto da bala talvez não fosse suficiente para derrubá-la do barranco. Mas no susto Mateus deu um salto para trás e caiu do barranco! Desta vez Renato estava acompanhando o alvo e não o movimento do dedo do bandido. Foi providencial! Quase com um só salto desesperado ele agarrou o filho pendurado no barranco! Enquanto tentava desesperadamente trazer a cadeira e o filho, amarrados, de volta, Popota lentamente substituiu o projétil deflagrado por outro, levantou-se do tosco toco, deu três passos adiante, apontou o Taurus para Renato e ordenou:

– Solte a cadeira!

A perna da cadeira não aguentou o peso e se quebrou. Num milésimo de segundo Renato conseguiu segurar a corda que prendia os pés do filho à madeira, mas ele desceu um pouco mais. Agora ele estava totalmente pendurado no barranco. Popota votou a ordenar:

– Solte a corda!

Renato podia sentir o calor do bandido a um metro apontando o revólver para ele. Olhou para baixo, para aquele poço sereno. Nem sinal de Tortuga que havia mergulhado ali minutos antes. Se o filho estivesse livre das amarras talvez tivesse alguma chance. No entanto, preso ao que restava da cadeira velha, teria morte lenta e desesperada se debatendo no fundo do rio, se ele soltasse. Se não soltasse… o bandido mataria os dois!

– Vou falar pela última vez – soou a voz, agora colérica, do psicopata.

Depois silencio total. O filho suspenso apenas pelo braço direito já pesava o dobro. Pode ouvir o leve ranger da mola do gatilho sendo pressionada para trás. Apesar da fé, contraiu os ouvidos para minimizar o estrondo. E o estrondo veio”…

 

Esse pequeno trecho é parte integrante do romance policial de Airton Chips:

“UMA VIAGEM QUE NÃO CHEGOU AO FIM”.

O livro está disponível no site da ‘Editora Dialética’ ou, através do WhatsApp 35 9.9802-3113.

Geraldo… o ‘eremita’ de Corinto

     Há anos ele dorme numa caixa de papelão sob uma marquise e passa os dias nas imediações da sua ‘casa’!

Depois de ficar ao menos sete meses com o mesmo traje, de agosto para cá, ele já trocou de roupa três vezes!

Desde o dia em que mudei para meu novo endereço no São Luis, notei sua figura silenciosa e taciturna sob a marquise do deposito da transportadora. Ele estava sentado sobre um ‘puf’ de papelão e tinha ao lado, devidamente dobrados e empilhados, um tufo comprido de mais papelão. A princípio achei que ele fosse um dos funcionários da empresa, embora usasse uma roupa diferente dos demais. Podia ser um ‘chapa’, um daqueles serviçais contratados para serviços pesados esporádicos! A impressão se reforçou à noite, quando tornei a passar por ali e ele estava sentado no mesmo puf, fumando seu cigarrinho. Pensei com meus botões:

– “Além de chapa, ele deve fazer ‘bico’ de vigia do deposito”!

Nos dias seguintes, a caminho da escola, passei a nota-lo de manhãzinha mexendo nalguns cestos de lixo, dois quarteirões abaixo na mesma rua. Voltei a confabular com meus botões:

– “Ele deve morar no porão de uma dessas casas por aqui. Deve estar colocando o lixo para fora”!

Era começo de fevereiro, dias de chuva na região da Pampulha. Durante o dia, o sujeito desaparecia. No início da noite lá estava ele solitário, pitando novamente na porta da transportadora.

O período chuvoso durou pouco. São Pedro foi econômico na região em 2022. No meio de março as chuvas já haviam saído de férias. Bom para o meu personagem, que passou a circular de novo nas imediações… e se tornou mais visível.

Com a chegada precoce da seca, meu ‘observado’ passou a desfilar discreta e lentamente diante dos meus olhos todos os dias. Foi aí que eu me dei conta: ele não trabalhava no deposito da transportadora, nem de chapa e nem de vigia. Na verdade ele ‘mora’ ali na porta. Depois de espantar os pernilongos com a fumaça do seu cigarrinho, ele arma sua cama de papelão e dorme ainda noite criança… E se levanta com o cantar do galo do ‘seu’ Jorge, na outra ponta do quarteirão. A comprida caixa de papelão que serve de cama, serve também de canastra ou cômoda para guardar seus lençóis, travesseiros e cobertores. Desfaz a cama, dobra tudo, empilha num canto da porta da transportadora e vai para a lida.

Seus movimentos começam justamente na subida da rua, onde mexe num cesto de lixo aqui, outro acolá em busca do desjejum. Mas não tarda aparece alguém,  ainda de pijama, num portão com um pão e um copo de café. Mesmo saciado ele ainda busca alguma coisa nos cestos de lixo, pois, para o vício do tabaco não existe muitas almas bondosas.

O descanso da sua árdua labuta do dia a dia acontece no mesmo trecho onde ele toma o desjejum. Senta, fuma o cigarrinho, traça uma marmita, as vezes deita-se no chão forrado de papelão e assim passa boa parte do dia descansando na sombra das frondosas mangueiras ao lado de um grande muro sem construção. Sua rotina se resume a circular por ali, quase sempre na mesma rua em que ‘mora’. Como diria meu saudoso amigo, detetive ‘Pinguim’: “sem nem um passarinho para tratar”! Vida melhor não há.

À noite os papelões viram cama…

Mas, e a higiene pessoal, a troca de roupa…

Desde que concluí que meu vizinho é um morador de rua, passei a observá-lo mais atentamente. Não foi difícil perceber que ele usa sempre o mesmo traje. Calça de brim cor de cimento queimado, camisa de pequenas listras claras, boné de uma firma qualquer, botina de cano alto na cor da calça e, invariavelmente – faça chuva ou faça sol – uma jaqueta grande, caqui, pendendo também para o cimento verde. Parece quase um uniforme. De fevereiro, quando o conheci, até meados de agosto, ele trajou sempre o mesmo ‘conjunto’!

Sociabilidade?

Zero.

Das poucas vezes que passo por ele à pé ou pedalando, estendo-lhe o tradicional bom dia belorizontino. As vezes ele responde com um grunhido rouco, desatento ou medroso. Na maioria das vezes responde com o silencio. Até o momento não o vi trocar uma palavra com ninguém!

Outro dia, sensibilizado com a performance da pobre criatura, ao voltar de uma caminhada, resolvi investigar a vida do meu vizinho e, quem sabe, interferir na vida dele. Abordei seus vizinhos mais próximos: os funcionários da transportadora em cuja porta ele ‘mora’!

– Rapais, mexe c’ele não, sô! Seu Geraldo tá bem assim. Ele num precisa de nada não – disse o gerente da firma gastando seu peculiar belorizontez.

– Segundo os vizinhos, tem uns 15 anos que ele tá aqui no bairro. Só aqui na porta do deposito tem uns 3 anos que ele dorme. Desde que eu vim trabalhar aqui ele já dormia aí! – corroborou o auxiliar do gerente.

– Ele está com a mesma roupa desde fevereiro… – tentei esticar a conversa.

– Tá? A gente já se acostumou tanto que nem repara mais…

– E banho? Eu moro no fim da rua. Tenho banheiro externo… eu poderia…

– Ih moço, seu Geraldo não liga pra banho não sô. Eu tenho chuveiro aqui no deposito, para os funcionários… Já ofereci, mas ele não quis não. Um tempo atrás eu insisti muito pra ele tomar banho. Ele saiu resmungando e ficou vários dias sem aparecer aqui… – interpelou o gerente.

– E comida…

– Comida sobra. Tem dia que ele ganha umas três marmitas na mesma hora.

– Vocês têm informação sobre a procedência dele? Saúde mental…

– Parece que ele é de Corinto (norte de Minas). Ouvi dizer que ele tem até casa lá – informou o gerente.

– Além de comida e banho, sabem se alguém tentou tirá-lo da rua?

– Tempos atras o pessoal da Assistência Social esteve aí, queriam levar ele… Ele não quis não – respondeu o secretário.

Eu imaginava que minha investigação redundaria nisso.

São mais de 40 anos esbarrando na rua em pessoas com perfil parecido. Esbarrando e observando…

Das minhas observações, posso concluir que os moradores de rua hoje, pertencem a três grupos.

A – ‘Loucos de todo gênero’.

B – Desajustado familiar.

C – Egressos do sistema prisional.

Os loucos não têm noção de higiene, de vida organizada em grupo familiar ou grupo social e nem obrigações pessoais. Essa é uma condição natural. A pessoa já nasce com esse ‘dom’! E não tem conserto… só vai mudar quando parar de respirar!

O desajustado é aquele que, embora tenha conciência, discernimento dos seus direitos e deveres, ele não se sujeita as regras e obrigações no seio da família. Prefere viver na rua, sem dar satisfação a ninguém dos seus atos. Neste perfil se enquadram também as pessoas que desacorçoaram diante das dificuldades da vida – muitas vezes chefes de família já maduros – e foram pra a rua pra fugir dos problemas.

O terceiro e mais numeroso grupo, é o dos egressos do sistema prisional. Geralmente são pessoas que começaram cedo no crime. Não aprenderam a trabalhar. Acostumados com o ócio nas cadeias, não valorizam o trabalho. Some-se a isso a discriminação social pela condição de egresso da prisão, o que é natural. Afinal, em todo país subdesenvolvido, há milhares de pessoas com ficha limpa procurando emprego. Enfraquecidos pelo vício das drogas, pouquíssimos conseguem se inserir no mercado de trabalho. Quase a sua totalidade está nos semáforos das médias e grandes cidades fazendo malabarismos e tentando sujar os para-brisas dos carros que passam em troca de uma moeda. Não raro estão cometendo pequenos delitos para sobreviver.

Com o advento do Crack – a droga mais viciante e barata do mercado – em meados dos anos 90, os egressos do sistema prisional quintuplicaram nas duas últimas duas décadas… E não dá sinais de parar por aí! Portanto, não esperem que os semáforos se esvaziem!

Mas o que essa definição de morador de rua tem a ver com o nosso pacato Geraldo do bairro São Luís?

Nada. Até onde as investigações me conduziram, o ‘ermitão urbano’ de Corinto tem um único vicio: o tabaco. E ele não incomoda ninguém… Pelo contrário. Ele não quer nenhum tipo de relacionamento com ninguém. E se afasta de fininho para não ser incomodado!

Desisti de interferir na vida do Geraldo…

Mas não desisti de pensar nele!

É quase impossível mergulhar debaixo de um lençol limpo, cheiroso, numa cama macia, espaçosa e não lembrar de Deus…

… E não lembrar de Geraldo!

Flagrante!!!

A cena paralisou suas mãos!

Imagem ilustrativa

Apesar de a noite ser ainda uma criança, fazia muito frio na rua. Na penumbra do interior do carro, ligeiramente oculta pela sombra de uma arvore, Joana esperava pacientemente. Chegara no início da tarde à cidade. Tivera tempo de sobra para fazer sua investigação. Descobrira onde era o escritório, parte da rotina, dos horários e agora estava ali, a poucos metros da porta da casa de Paula. Segundo seus levantamentos ela saia do trabalho por volta das seis da tarde e antes de ir para casa passava no supermercado. Já eram mais de sete horas… estava demorando! De repente um carro diminuiu a velocidade, sinalizou e parou na frente do seu carro. Joana percebeu que era um homem ao volante. Sentiu o coração disparar! Esperou alguns segundos. A porta do passageiro se abriu e uma mulher protegida por um grande casaco bege saiu tentando equilibrar nos braços um pacote de papeis. Quando ela se virou para contornar a frente do carro, Joana pode ver com certeza: Era Paula! Um ligeiro frio percorreu sua espinha. Nesse instante a porta do motorista se abriu e um homem, que já mexia no banco traseiro, fez movimentos de descer. O coração de Joana bateu a duzentos por minuto. O homem saiu do carro de costas pra ela…

Era Renato?

O grande casaco escuro aumentava sua silhueta… O rapaz alto e corpulento, cabelos curtos… era Renato!!

Ele deu um passo em direção à Paula, recolheu os papeis das mãos dela, juntou os dois pacotes e atravessaram o passeio em direção ao portão da casa da jovem advogada. Joana tinha os olhos colados no casal.

Num instante ela abriu o portão, virou-se para o homem e deu-lhe um longo beijo apaixonado.

Joana ia saltar do carro para surpreender o casal, mas de repente ficou paralisada. A cena foi muito forte. Um misto de sentimentos a invadiu naquele momento. Queria não ter visto aquilo. Sentiu um certo asco! Por um segundo desviou os olhos.

Quando voltou a olhar para o casal, Joana já havia fechado o portão e Renato estava entrando no seu carro.

Era mesmo Renato! Estava mais magro e usava barba, coisa que não fazia há anos.

Enquanto pensava no que fazer, o motorista deu partida, deu seta e saiu do local. Joana pensou em seguir o carro de Renato, mas seus dedos travaram, grudaram no molho de chaves e ela não conseguiu dar partida.

Quando finalmente conseguiu virar a chave no orifício da ignição, o carro de Renato já virava a esquina.

“Foi melhor assim”, pensou Joana. “Eu não ia conseguir dirigir. Ia acabar batendo o carro”. Ficou longos minutos ali olhando a rua silenciosa e fria. Baixou um palmo o vidro do motorista para deixar entrar o ar frio da noite. Pareceu ouvir o barulho do chuveiro de Paula. Viu-a nua, esfregando o sabonete pelo corpo, cantarolando uma canção qualquer debaixo do chuveiro. Viu Renato alto, forte, ereto entrando nu no chuveiro… tentou desviar o ‘olhar’ e instintivamente sacudiu a cabeça, querendo se afastar da cena! Com isso Paula e Renato sumiram do banheiro, sumiram da sua imaginação!

Só então se deu conta de que estava ali há quase dez minutos desde que vira o carro de Renato virar a esquina.

Mas será que era mesmo Renato? De costas, era o mesmo porte físico. Alto, ombros largos… De frente os ombros largos mantinham o casaco aberto fazendo uma figura corpulenta, mas parecia mais magro… ou seria mais jovem e atlético? Mas era Renato. Tinha certeza. Ou será que não? Ou será que apenas seu subconsciente viu Renato ali se despedindo de Paula com aquele beijo apaixonado?

Pensou em descer do carro, tocar a campainha e ir falar com Paula. Dizer que havia descoberto seu romance com seu marido. Mas de que adiantaria? Poderia ter dito isso mais cedo no escritório dela! Ou até por telefone, sem sair de casa! Ela certamente negaria. “Eu tinha que ter abordado os dois abraçados no portão”, pensou Joana. “Pegá-los em flagrante… e ver que explicação ele daria para ter abandonado a família de maneira tão covarde. Ver que recado ele daria para seus filhos adolescentes que sempre o tiveram como herói”! Assim pensando Joana rumou para o hotel. Precisava sair da rua, ficar entre quatro paredes, sozinha, para extravasar sua revolta, sua mágoa, sua dor… Precisava esmurrar alguma coisa. Chorar, talvez. Sim. Precisava chorar. Chorar bastante, até esvaziar todos aqueles sentimentos confusos que pressionavam seu peito… e seu cérebro! Tudo que precisava agora era de quatro paredes… para esconder suas lágrimas!

 

Esse pequeno trecho é parte integrante do romance policial de Airton Chips:

“UMA VIAGEM QUE NÃO CHEGOU AO FIM”.

O livro está disponível no site da ‘Editora Dialética’ ou, através do WhatsApp 35 9.9802-3113.

 

Sapucaia… A arvore que enganou o historiador!

Na região onde rios e cidades levam seu nome, não se tem a localização de um único pé nativo da famosa arvore.

Dos 125 pés de Sapucaia que enfeitam praças e jardins de Belo Horizonte, 35 estão na orla da lagoa da Pampulha.

Você que já viajou pelo Sul de Minas, com certeza cruzou cidades e rios com nomes originários na Sapucaia… São Gonçalo do Sapucaí, Santa Rita do Sapucaí, Porto Sapucaí. Se subir até a bela Campos do Jordão você passará por São Bento do Sapucaí, Sapucaí Mirim e poderá beber nas nascentes cristalinas dos rios Sapucaí e Sapucaí Mirim. Todas estas localidades e rios receberam esse batismo em homenagem à famosa Sapucaia, arvore de grandes copadas, supostamente abundante no Sul de Minas, principalmente nas margens baixas dos rios que levam seu nome.

Só que não!

A famosa Sapucaia, conhecida (e explorada) pelos europeus que aqui chegaram, desde o século XVI, originaria da Mata Atlântica, hoje anda pela beira da morte. Não se tem a localização de um único pé nativo no Sul de Minas.

O que o historiador chamou de Sapucaia, era, na verdade, o Óleo Copaíba!

Este sim, nativo e abundante na região onde batizou tanta ‘gente’!

As arvores são de fato parecidas, apenas no porte, porém muito diferentes na florada, na formação da casca (a Sapucaia tem formato de rusgas e fissuras, lembra a casca do cedro). O óleo copaíba tem a casca um pouco mais lisa e seu fruto é pequeno. O fruto da Sapucaia tem o tamanho de uma cabeça de cachorro médio. Se cair do galho a trinta metros de altura sobre um cachorro, pode aleijá-lo! O fruto da Sapucaia (semente) tem grande valor nutricional embora não seja comercializado. O óleo copaíba tem grande valor medicinal. Ambas as arvores, que podem passar de trinta metros de altura, podem forrar o chão da casa que você pisa!

Por engano ou não, o nome ficou. Todos estes lugares que eu citei foram batizados com o nome da Sapucaia. Mesmo não vendo a arvore, toda vez que você passar por ali, vai se lembrar do que acabou de ler!

Anos atrás a prefeitura de Belo Horizonte plantou 125 pés de Sapucaia em suas praças, jardins e logradouros públicos, inclusive na Praça da Liberdade. No entorno da Lagoa da Pampulha, por onde pedalo quase todos os dias, já contei até o momento 35 arvores!

Esta é época mais fácil de ‘percebê-las’… É a época da florada, ou melhor, da ‘folhada’! Sim. A Sapucaia não dá flores… No início da primavera as folhas verdes, novas, mudam de cor e durante cerca de duas semanas tingem suas copas de rosa e lilás. Por isso é fácil percebê-las… e contá-las.

Belo Horizonte é bastante arborizada e florida, especialmente na região da Pampulha. O ano todo sibipirunas, manacás, primaveras, flamboyants, jacarandás rosas, ipês de várias cores, sapucaias, cada um a seu tempo enchem nossos olhos – e corações – de cores! Na ilha da lagoa, no momento, tem três pés floridos que não consigo afirmar qual deles é ipê roxo ou Sapucaia.

Mas, voltando à Sapucaia, a arvore que enganou o historiador e acabou batizando rios e cidades no Sul de Minas, tem sim Sapucaia no Sul do Estado. Graças a um cidadão altruísta que resolveu preservar a espécie tão bela. Em Santa Rita do Sapucaí há dois belos espécimes da famosa arvore. E é muito fácil identificá-los. Quando entrar na cidade pelo acesso sul, pela ponte principal, quando estiver no final da ponte sobre o Rio Sapucaí, olhe para a margem à sua direita à frente. Ali – salvo engano no quintal de uma academia – duas belas arvores com suas copadas lilás irão encher seus olhos!

Dos 125 pés de Sapucaia que enfeitam praças e jardins de Belo Horizonte, 35 estão na orla da lagoa da Pampulha.

Agradeço a natureza todos os dias por tão belo espetáculo… E agradeço a Deus a sensibilidade para perceber as belezas que nos cercam e tornam nossa vida mais colorida, mais alegre, mais divertida, mais romântica…

      

Covid Brasil X EUA … Para pensar na cama!

Enquanto aqui morreram 97 mil pessoas, lá, no mesmo período, com todas as pessoas vacinadas, morreram 390 mil pessoas!

Em setembro de 2021, num dos momentos mais sensíveis da pandemia do Coronavírus, comecei arquivar os números da doença, no Brasil e nos Estados Unidos. Naquela ocasião, toda a população americana, que quis, já havia sido vacinada. O Brasil estava bem próximo de atingir o mesmo objetivo.

 

Em meados de setembro do ano passado, os números da Covid nos dois países eram estes:

 

Brasil: (Sexta, 17 de setembro 2021… 20 milhões de casos + 34.407 novos casos + 649 óbitos = Total 589 mil óbitos

USA: (Sexta-feira, 17 setembro 2021… 43 milhões de casos + 155 mil novos casos + 3.415 mil óbitos = Total 670 mil óbitos

Desde então venho acompanhando os números nos dois países. Nesta terça-feira, 27, este são os números atuais nos dois países:

 

Brasil: Terça-feira, 27 setembro… 34,6 milhões de casos + 13.861 novos casos + 85 óbitos = Total 686 mil óbitos

USA: Terça-feira, 27 setembro… 95,9 milhões de casos + 58.520 novos casos + 404 óbitos = Total 1,06 milhão de óbitos

 

Depois de ceifar 686 mil vidas humanas no Brasil e 1.06 (um milhão e sessenta mil) nos Estados Unidos, a Covid está sob controle em quase todo o planeta. A imprensa já nem liga mais para Covid. Os números da Covid no mundo já não fomentam mais as intrigas políticas e não vendem mais audiência nos veículos de comunicação – a menos que seja para colocar 400 mil mortes na conta do adversário político.

Há várias semanas a média de mortos por Covid no Brasil estacionou na casa de 50 por dia, em média. Nos Estados Unidos a média se mantem alta, em torno 500 óbitos por dia há várias semanas.

Os números diluídos neste final de semana ficaram em 404 óbitos no país do democrata Joe Biden. Amanhã, esse número deve aparecer acima de 700.

No Brasil, também em números diluídos para o final de semana, foram anotados 85 óbitos por Covid. Amanhã esse número será inferior a 50. Acesse o Google nesta quarta-feira e confira.

Apesar de ter ceifado tantas vidas, a Covid ajudou centenas de prefeituras e dezenas de Estados a colocar suas contas ordinárias em dia! Sim, todos os estados e municípios do Brasil onde há estrutura mínima para cuidar da saúde, receberam polpudas verbas do governo federal para combater a Covid. Nem todos usaram o dinheiro para isso… Nem todos conseguiram evitar que as pessoas contraíssem o vírus e que morressem em decorrência dele! Morreram, infelizmente, – e lamento – aquelas pessoas que tinham, sabendo ou não, algum tipo de comorbidade e, de um jeito ou de outro contraíram o vírus! Na minha família isso aconteceu.

Dentre tanto que se falar sobre a covid nestes dois anos e meio, um fato precisa ser trazido à tona, ao conhecimento da sociedade, para que as pessoas reflitam sobe tudo que ouviu da imprensa e dos políticos neste período: trata-se dos números da Covid nos dois países, quase iguais em tamanho e tão diferentes na economia: EUA e Brasil.

Os Estados Unidos têm 335 milhões de habitantes… O Brasil tem 215 milhões.

Nos Estados Unidos, morreram de Covid, 1,06 (um milhão e sessenta mil) pessoas!

No Brasil, morreram de Covid 686 mil pessoas.

Até aí tudo bem. A proporção está próxima da equivalência.

O que chama a atenção é o período em que essas pessoas morreram!

Nos últimos doze meses, mais precisamente desde o dia 17 de setembro de 2021, quando comecei a acompanhar diariamente os dados pelo Google, no Brasil morreram 97.000 (noventa e sete) mil pessoas…

No mesmo período nos Estados Unidos, país mais rico do mundo e dono da mundialmente conhecida farmacêutica Pfizer, morreram 390.000 (trezentos e noventa) mil pessoas!

Por alguma razão, a grande mídia não fala sobre isso. Eu também não vou falar. Deixo para você, que acabou de ler essa matéria, refletir e tirar suas conclusões!

 

Obs: esses números, como eu disse no início, foram anotados diariamente desde o dia 17 de setembro de 2021 até a presente data. Portanto, os números não são meus… São do Google. Estão lá à sua disposição.

Ernane Wood está de volta…

Ele e o sócio Mauricio reabriram a banca “Central” na Galeria Portal

“Não é a mesma coisa, pois estamos afastados da rua. Mas é o que dá para fazer. Trinta e oito anos trabalhando na mesma banca, no mesmo lugar… é a única coisa que eu sei fazer. E não dá para ficar parado”, diz Ernane, mais conhecido do que nota de dez na cidade.

Era eu ainda um garoto branquelo de calça curta quando passei pela primeira vez na Pç. Senador José Bento em Pouso Alegre e lá já estava a “Banca Central”! Era bem menor, proporcional ao tamanho da cidade que em 1969 tinha cerca de 40 mil habitantes. O dono era o Sr. Dirceu! Sujeito magro, miúdo, cabelos já grisalhos, lisos e bem cortados. Vestia-se com elegância, calça e camisa social. Entre uma tragada e outra do seu inseparável cigarro Minister, conversava com a clientela e com todos que passavam entre a banca e as “Casas Pernambucanas”. Nos anos seguintes, ainda molecão de cabelos compridos, entreguei muitos botijões de gás na sua casa na Rua das Papoulas no Jardim Yara e vinha cobrar a ‘notinha’ na banca. Tempos depois, quando Dirceu morreu, seu filho Juarez tentou tocar a banca, mas a profissão de funileiro falou mais alto.

Foi assim que Ernane Faria Wood assumiu a Banca Central e tocou o comercio de beira de calçada, com o sócio Mauricio, por mais de três décadas… e viu outras bancas de calçada surgirem pela cidade.

Em 2004, quando lancei meu jornal impresso FOLHA de Pouso Alegre, a cidade tinha 13 bancas de jornais. Seis delas num raio de menos de cem metros, no coração de Pouso Alegre. A mais antiga era a do Ernane na praça Senador José Bento. Ainda na praça, na outra extremidade, ficava a banca da Rita e logo adiante atrás da catedral, a banca da Ligia. Mais acima em frente a antiga Caixa ficava a banca do Sergio. No inicio da Duque de Caxias uma de cada lado: Saulo à direita e Toninho à esquerda. A banca do Chico reinou durante décadas no final da Dr. Lisboa em frente o Bradesco. Na Vicente Simões havia duas bancas, a do Carlinhos em frente o Alvoradão e outra na pracinha do Semáforo do Santa Lucia. Madalena tocou sua banca durante um tempo na porta da Univas. Defronte o Posto Pantanal havia a banca do Fernando. Rubens Gomes vendeu milhares de Figurinhas da Copa na sua banca na porta da Medicina.  Cristina, minha ex-colega do ensino fundamental, tem sua banca no interior do Baronesa. O velho Claret – e depois Andreia – vendia de tudo e um pouco mais numa banca no terminal rodoviário.

As bancas nasceram para atender a demanda das pessoas que liam “jornais e revistas”. Sim, houve um tempo em que as pessoas liam jornais e revistas impressas, rsrsrsrs! Com isso s bancas viviam abarrotadas de revistas semanais tais como IstoÉ, Exame, Veja, Placar, Contigo, Tititi, Caras, e outras de vida efêmera…

Havia também os jornais diários, de circulação nacional: Estado de Minas, Folha de São Paulo, O Globo… e os jornais semanais de Pouso Alegre. Na década de 90, a cidade teve oito jornais circulando regularmente – escrevi notícias policiais e esportivas em quatro deles (Sul das Geraes, Jornal do Estado, Diário de Pouso Alegre e Folha do Vale). Hoje apenas dois, tropegamente, conseguem sobreviver!

Com a mudança de habito do brasileiro e consequente decadência dos jornais e revistas, os comerciantes migraram para outros produtos. Visando a própria sobrevivência e as necessidades da clientela, hoje as bancas de jornais e revistas vendem brinquedos, souvenirs, isqueiros, recarga de celular, cigarros, ‘zona azul’ (quando funciona), chaveiros, posters do Galo campeão, rsrsrsrs, games, de quatro em quatro anos Figurinhas da Copa, bolinhas de gude, máscaras contra covid, balas, chicletes, e se um ribeirão passasse perto venderia também varas, anzóis e minhoca para pescar!

Vende até livros!

Em 2014, quando lancei meu primeiro livro, espalhei “Meninos que vi crescer” por todas as bancas da cidade. Ano passado “Quem matou o suicida” também foi parar nas gôndolas das bancas.

“Quem matou o suicida” e “Meninos que vi crescer” estão na Banca Central, na galeria Portal, ao lado do Teatro Municipal.

O golpe de misericórdia nas “bancas de jornais & revistas” de Pouso Alegre, foi dado pela prefeitura em meados deste ano. A pretexto de ‘revitalizar’ o centro a cidade, as bancas estão sendo retiradas, fechadas. A própria prefeitura se encarregou de ‘guinchar’ as bancas, como vimos nas imagens que circularam pela internet. Sergio, Rita, Carlinhos, Ernane se aposentaram ‘compulsoriamente’ … sem proventos. Perderam o ganha-pão…

Um destes comerciantes há anos entrincheirado na sua banca no centro, desesperado com o fim do seu ganha-pão, esteve muito perto do fim da vida!

Ernane deu a volta por cima. Depois de quase três meses sem trabalho e sem ver a cor do dim-dim que pingava todo dia, desde que sua banca foi fechada, ele o sócio Mauricio enfim reabriram a tradicional Banca Central. Desde o ultimo final de semana eles estão atendendo a clientela na Galeria Portal, na Dr. Lisboa.

“Não é a mesma coisa, pois estamos afastados da rua. Mas é o que dá para fazer. Trinta e oito anos trabalhando na mesma banca, no mesmo lugar… é a única coisa que eu sei fazer. E não dá para ficar parado”, diz Ernane, mais conhecido do que nota de dez na cidade.

Para atrair novamente a clientela, Ernane passa boa parte do dia na porta da galeria, ao lado do Teatro Municipal.

Boa sorte Ernane e Mauricio… Boa sorte órfãos de Bancas de Jornais & Revistas.