Ernane Wood está de volta…

Ele e o sócio Mauricio reabriram a banca “Central” na Galeria Portal

“Não é a mesma coisa, pois estamos afastados da rua. Mas é o que dá para fazer. Trinta e oito anos trabalhando na mesma banca, no mesmo lugar… é a única coisa que eu sei fazer. E não dá para ficar parado”, diz Ernane, mais conhecido do que nota de dez na cidade.

Era eu ainda um garoto branquelo de calça curta quando passei pela primeira vez na Pç. Senador José Bento em Pouso Alegre e lá já estava a “Banca Central”! Era bem menor, proporcional ao tamanho da cidade que em 1969 tinha cerca de 40 mil habitantes. O dono era o Sr. Dirceu! Sujeito magro, miúdo, cabelos já grisalhos, lisos e bem cortados. Vestia-se com elegância, calça e camisa social. Entre uma tragada e outra do seu inseparável cigarro Minister, conversava com a clientela e com todos que passavam entre a banca e as “Casas Pernambucanas”. Nos anos seguintes, ainda molecão de cabelos compridos, entreguei muitos botijões de gás na sua casa na Rua das Papoulas no Jardim Yara e vinha cobrar a ‘notinha’ na banca. Tempos depois, quando Dirceu morreu, seu filho Juarez tentou tocar a banca, mas a profissão de funileiro falou mais alto.

Foi assim que Ernane Faria Wood assumiu a Banca Central e tocou o comercio de beira de calçada, com o sócio Mauricio, por mais de três décadas… e viu outras bancas de calçada surgirem pela cidade.

Em 2004, quando lancei meu jornal impresso FOLHA de Pouso Alegre, a cidade tinha 13 bancas de jornais. Seis delas num raio de menos de cem metros, no coração de Pouso Alegre. A mais antiga era a do Ernane na praça Senador José Bento. Ainda na praça, na outra extremidade, ficava a banca da Rita e logo adiante atrás da catedral, a banca da Ligia. Mais acima em frente a antiga Caixa ficava a banca do Sergio. No inicio da Duque de Caxias uma de cada lado: Saulo à direita e Toninho à esquerda. A banca do Chico reinou durante décadas no final da Dr. Lisboa em frente o Bradesco. Na Vicente Simões havia duas bancas, a do Carlinhos em frente o Alvoradão e outra na pracinha do Semáforo do Santa Lucia. Madalena tocou sua banca durante um tempo na porta da Univas. Defronte o Posto Pantanal havia a banca do Fernando. Rubens Gomes vendeu milhares de Figurinhas da Copa na sua banca na porta da Medicina.  Cristina, minha ex-colega do ensino fundamental, tem sua banca no interior do Baronesa. O velho Claret – e depois Andreia – vendia de tudo e um pouco mais numa banca no terminal rodoviário.

As bancas nasceram para atender a demanda das pessoas que liam “jornais e revistas”. Sim, houve um tempo em que as pessoas liam jornais e revistas impressas, rsrsrsrs! Com isso s bancas viviam abarrotadas de revistas semanais tais como IstoÉ, Exame, Veja, Placar, Contigo, Tititi, Caras, e outras de vida efêmera…

Havia também os jornais diários, de circulação nacional: Estado de Minas, Folha de São Paulo, O Globo… e os jornais semanais de Pouso Alegre. Na década de 90, a cidade teve oito jornais circulando regularmente – escrevi notícias policiais e esportivas em quatro deles (Sul das Geraes, Jornal do Estado, Diário de Pouso Alegre e Folha do Vale). Hoje apenas dois, tropegamente, conseguem sobreviver!

Com a mudança de habito do brasileiro e consequente decadência dos jornais e revistas, os comerciantes migraram para outros produtos. Visando a própria sobrevivência e as necessidades da clientela, hoje as bancas de jornais e revistas vendem brinquedos, souvenirs, isqueiros, recarga de celular, cigarros, ‘zona azul’ (quando funciona), chaveiros, posters do Galo campeão, rsrsrsrs, games, de quatro em quatro anos Figurinhas da Copa, bolinhas de gude, máscaras contra covid, balas, chicletes, e se um ribeirão passasse perto venderia também varas, anzóis e minhoca para pescar!

Vende até livros!

Em 2014, quando lancei meu primeiro livro, espalhei “Meninos que vi crescer” por todas as bancas da cidade. Ano passado “Quem matou o suicida” também foi parar nas gôndolas das bancas.

“Quem matou o suicida” e “Meninos que vi crescer” estão na Banca Central, na galeria Portal, ao lado do Teatro Municipal.

O golpe de misericórdia nas “bancas de jornais & revistas” de Pouso Alegre, foi dado pela prefeitura em meados deste ano. A pretexto de ‘revitalizar’ o centro a cidade, as bancas estão sendo retiradas, fechadas. A própria prefeitura se encarregou de ‘guinchar’ as bancas, como vimos nas imagens que circularam pela internet. Sergio, Rita, Carlinhos, Ernane se aposentaram ‘compulsoriamente’ … sem proventos. Perderam o ganha-pão…

Um destes comerciantes há anos entrincheirado na sua banca no centro, desesperado com o fim do seu ganha-pão, esteve muito perto do fim da vida!

Ernane deu a volta por cima. Depois de quase três meses sem trabalho e sem ver a cor do dim-dim que pingava todo dia, desde que sua banca foi fechada, ele o sócio Mauricio enfim reabriram a tradicional Banca Central. Desde o ultimo final de semana eles estão atendendo a clientela na Galeria Portal, na Dr. Lisboa.

“Não é a mesma coisa, pois estamos afastados da rua. Mas é o que dá para fazer. Trinta e oito anos trabalhando na mesma banca, no mesmo lugar… é a única coisa que eu sei fazer. E não dá para ficar parado”, diz Ernane, mais conhecido do que nota de dez na cidade.

Para atrair novamente a clientela, Ernane passa boa parte do dia na porta da galeria, ao lado do Teatro Municipal.

Boa sorte Ernane e Mauricio… Boa sorte órfãos de Bancas de Jornais & Revistas.

A Vendinha do “Vilino”

Deixou ‘rastros’ na minha terra.

Nasceu pequenina – uma porta e duas janelinhas – na beira da estrada. Viveu mais de quatro décadas… e morreu pequenina, na beira da estrada, com uma porta e duas janelinhas! Mas deixou histórias para contar…
Ao longo de mais de quarenta anos a vendinha do Vilino mudou três vezes de endereço, mas sempre na beira da estrada principal do bairro dos Coutinhos. A primeira foi construída entre a casa da “Lôrdes” e a casa do “Câindo”. Casinha de madeira com uma janelinha lateral, para que o vendeiro pudesse ver de longe quem se aproximava pela estrada poeirenta, outra janelinha para olhar quem passava em frente, e uma portinha no centro. No seu interior cabiam seis ou sete pessoas sentadas nos dois bancos, um grande e outro pequeno.
Ali se vendia pão com mortadela, guaraná Tubaína, paçoquinha, pirulitos e bala Chita de várias cores. O produto mais vendido, no entanto, razão de ser das vendinhas de roça, era… suco de gerereba! Tatuzinho, democrata, Moreninha, Amélia… de garrafa ou de garrafão. Por isso mesmo a vendinha não era socialmente bem-vista. Seus frequentadores ou eram jovens pouco afeitos às responsabilidades do dia seguinte, ou pouco afeitos aos hábitos caseiros. Ou então eram cidadãos menos sisudos, mais liberais…
Os conservadores não punham os pés na vendinha nem para buscar remédios! Se precisassem passar defronte a vendinha durante a noite, passavam do outro lado da estrada. Se por acaso estivessem usando lanterna, tocha de bambu ou tição de fogo para iluminar a estrada, apagavam, para não serem vistos e não ter que cumprimentar quem estivesse na janelinha da venda.
Além do secular suco de gerereba, descoberto casualmente pelos escravos de engenho séculos antes, a vendinha vendia também vinho suave e a tradicional loira gelada. A energia elétrica só chegaria ao bairro uma década e meia depois. Por isso, a cerveja era mantida em uma caixa de isopor em meio às pedras de gelo. O doce guaraná Tubaína e outros refrigerantes eram mantidos em contato com a terra, num buraco feito no barranco do lado de dentro da vendinha. Luz? Lampião à querosene!
Com raras exceções, a vendinha do Vilino foi um divisor social! Seus frequentadores quase sempre trabalhavam de camaradas para terceiros … Por isso mesmo, os conservadores, geralmente patrões, quando precisavam de um camarada para o dia seguinte, para a colheita ou plantio, para roçar pasto, para mutirão, etc… buscavam empregados – desocupados ou descompromissados – na vendinha do Vilino. A vendinha, única no bairro, era ‘ponto de encontro’ dos homens… servia de ‘agência’ de empregos. Servia também para se negociar excedente de produção agrícola, animais…
A segunda vendinha foi construída na curva da Porteira do Buraco, encostada no barranco da estrada, ao pé do terreno do ‘Tio Lilo’, duzentos metros distante da primeira. A venda cresceu. Ali cabiam sentadas encostadas na parede, quase dez pessoas. Por isso ganhou mais duas janelinhas, uma de frente para a estrada e outra na lateral. Alguns frequentadores vinham do bairro vizinho, o Canta Galo. Aos domingos, o entorno da vendinha ao pé do campo de futebol, fervia de gente. Ao lado da vendinha havia um banquinho – uma única tábua de madeira apoiada em três tocos fincados no chão – para acolher os frequentadores durante o dia. À noite não tinha utilidade, pois as pessoas não podiam ‘pegar’ sereno…
Quase tudo que vendia na sua pequenina vendinha, Vilino trazia do Bar do Nezinho em Congonhal. Inicialmente na garupa da sua bicicleta e depois no bagageiro do ônibus da Gardenia até o ‘ponto’ na beira do asfalto.
A terceira vendinha nasceu da necessidade de ‘barrar a concorrência’, já que estava localizada na beira do campo de futebol! Para isso Vilino comprou um bico de terreno do pretenso concorrente, a poucos metros da segunda, mais perto do ribeirão. Essa foi feita de alvenaria e abrigava até uma mesa de bilhar.
Vilino, desde pequeno trabalhava na roça. Por isso, excetuando os sábados e domingos, a vendinha abria sempre no finalzinho da tarde ou no crepúsculo, e fechava por volta de nove da noite. A rotina cansou o vendeiro. Depois de quase uma década na dupla atividade laborativa, Vilino vendeu a terceira vendinha para o “Tonho Dorvá”… e foi trabalhar na cidade.
A história da Vendinha do Vilino, no entanto, não se restringe à necessidade de ampliar a fonte de renda ou ao mero tino comercial. Vilino, que não se tem notícia de que tenha ostentado um único diploma escolar, era homem culto, politizado e bem informado. Ouvia diariamente, no seu radinho à pilha, “A Voz do Brasil” – programa popularmente tachado de enfadonho, no entanto mais barato, mais informativo e mais honesto do que qualquer outro programa radiofônico e ou televisivo hoje em dia.
Vilino era uma daquelas pessoas à frente do seu tempo. Ele queria propiciar informação às pessoas… ele queria estar em contato com as pessoas, ainda que fosse na sua singela vendinha de beira de estrada. Por isso, pouco tempo depois, retomou a antiga rotina. Agora, casado com ‘Marirene’, construiu sua vendinha no terreno do sogro Ovidio, na mesma curva da Porteira do Buraco, no lado oposto às duas vendinhas anteriores. Essa também, como mostram as fotos que ilustram essa crônica, era tão pequenina quanto as duas primeiras. Também tinha uma porta e duas janelinhas. E Vilino voltou a estreitar o convívio com os moradores do bairro… quase todos conterrâneos e parentes.
Da leitura dessa crônica se depreende que Vilino era um desses baixinhos tagarelas que vivem roubando a cena com causos pitorescos, piadas e palavrórios acima de cem decibéis … Ledo engano! Vilino era alto, forte, moreno e… calado. Roubava a cena sim, pois quando falava, todos se calavam para escutá-lo. Era o típico mineiro, daqueles que observam muito, que escutam muito, e só falam quando tem certeza… e só falam o suficiente!
Nos seus mais de quarenta anos de vendeiro, Vilino atendeu muitos clientes com garrucha de dois canos na algibeira; com faca na cinta; presenciou muito pé de briga; muita discussão, mas nenhuma delas passou das vias de fato. Quando ele intervia… os ânimos serenavam!
Durante décadas a pequenina Vendinha do Vilino viu na sua janelinha, nos seus banquinhos de madeira, homens sisudos… e homens hilários! Ouviu muitos casos… e causos! Ouviu muito riso… e também choro! Ouviu estórias… e histórias! Viu muitos meninos crescerem… e algumas pessoas partirem!
Avelino Augusto Coutinho, o ‘nosso’ Vilino, tocou sua vendinha de 1969 a 2011. Há poucos meses, aos 81 anos, ele voltou para os braços do Criador… Deixando rastros na minha terra!

A Despedida do Chiquinho…

Depois de três meses ouvindo rezas e ritos do padre Cintra na fazenda do Portuga, o Coisa Ruim da Borda decidiu ir embora! Mas prometeu que quando o ‘padre chato’ morresse, ele voltaria para buscar sua prometida!

A historia completa do “Coisa Ruim da Borda” e outras 49 cronicas investigadas pelo detetive estão neste livro.

Eram menos de dez da manhã de meados do mês de fevereiro quando o fazendeiro recolheu algumas rezes no curral, chamou a filha mais velha e disse-lhe:

– Mocinha, sua mãe vai me ajudar a curar bernes do gado… Vá você para a cozinha preparar o almoço!

A bela garota de 13 anos, prendada e obediente como todas de sua idade naquela época, simplesmente anuiu e foi cumprir a ordem do pai. Ao entrar na cozinha do casarão assobradado, na encosta de um pasto no alto da colina, estacou assustada diante do que viu e voltou correndo para chamar o pai…

– Ué, pai… o sr. me mandou fazer o almoço, mas o almoço está pronto! Está quentinho pronto para ser servido! Vem ver!

Sem entender o que a menina estava falando e sem tempo para discussão, Portuga soltou a corda que havia acabado de passar no pescoço de uma bezerra e foi para dentro de casa, acompanhado da esposa. Ao entrar na cozinha teve a mesma surpresa da filha… na taipa do fogão à lenha, panelas com feijão, arroz, abobrinha, torresmo ainda soltavam fumaça…

– Mas que diabos! Quem fez esta comida?

Neste instante um vulto quase invisível passou correndo em ziguezague pela cozinha em direção ao quintal deixando no ar um cheiro de enxofre e uma risada esganiçada e zombeteira. Ainda surpreso com a aparição da comida pronta, e com os pelos todos do corpo arrepiados, Portuga se aproximou das panelas e verificou que a comida estava tão cheirosa e saborosa quanto a que a esposa fazia todos os dias.

Esse foi o primeiro sinal da presença do Chiquinho na fazenda!

Mais tarde, cavalgando pelo pasto na lida com o gado, Portuga sentiu que seu cavalo arriou nas patas traseiras, como se alguém tivesse montado na garupa.

Por volta de nove da noite, quando tudo se aquietou na fazenda, os cachorros começaram a latir como se estivessem tentando afugentar uma alcateia. E depois passaram a uivar em lúgubre agonia. E assim vararam a madrugada.

Na manhã seguinte, ainda com cara de quem não dormiu, Portuga arreou o alazão e, embora não fosse fervoroso cristão, foi à cidade procurar o padre.

Desde então, durante várias semanas, o jovem pároco da cidade subiu a serra da Ponte de Pedra com sua batina preta cobrindo as ancas do pangaré castanho para benzer no casarão do Portuga. O benzimento passou a exorcismo e nas semanas seguintes outros padres mais velhos e mais experientes da região, como o padre Oriolo, de Pouso Alegre, o padre Alderige, de Santa Rita de Caldas, padres Capuchinhos de Ouro Fino vieram tentar expulsar o espírito brincalhão da fazenda do portuga…

Com os padres vieram também os repórteres… de todos os cantos do Brasil! A revista “O Cruzeiro”, a maior da época, estampou a história do Coisa Ruim da Borda na sua capa e nas suas páginas. Mas nada disso afugentou o Chiquinho. Cansados de subir a serra para as sessões de exorcismo, os padre mais experientes voltaram para sua paroquias… E o Coisa Ruim da Borda ficou só por conta do jovem padre Cintra.

Apesar da pouca experiência, o jovem e intrépido padre Pedro não abandonou seu rebanho. Toda tarde ele arriava seu cavalo e subia a serra da Ponte de Pedra para rezar no casarão do Portuga e tentar convencer Chiquinho a ir embora. Até que uma noite, depois de muitas Aves Marias e outros rituais católicos ‘exorcizantes’, finalmente Chiquinho se cansou, perdeu as estribeiras e disse com voz enfadada:

– Vou-me embora desta casa! Não aguento mais a reza desse padre!

E a paz voltou a reinar na fazenda do morro da Ponte de Pedra. O Coisa Ruim da Borda havia sido exorcizado.

Jornalistas e curiosos se plantão juram de pés juntos, que antes de partir, Chiquinho teria acrescentado:

– “Mas depois que esse padre chato morrer, eu voltarei para buscar o que é meu”!

A última aparição do Coisa Ruim da Borda aconteceu – isso é fato, está registrado no ‘Livro do Tombo’ da Matriz de Nossa Senhora do Carmo em Borda da Mata – no dia 23 de abril de 1953, há 68 anos!

O Padre Pedro Cintra morreu em 2003!

Será que Chiquinho voltou mesmo para buscar sua prometida?

O Mistério do Coisa Ruim da Borda – desvendado – está no livro “Meninos que vi crescer!

Aventura na festa da Borda

Meu apelido tem origem na famosa e simpática dupla de heróis “patrulheiros da (…) estrada…”. No entanto, dez anos antes, eu poderia ser chamado de “Pipoqueiro da estrada”!             

Mauritânia Furtado: 43 anos depois voltei para agradecer a bela  e gentil senhora que me deu um prato de comida!

A cena era de parar o trânsito! Quem passou pela MG 290  no meio daquela ensolarada e fresca tarde de julho, arregalou os olhos e depois colou o olhar no retrovisor do carro até sumir na curva da estrada. À beira da via um grupo de lavradores, uns descalços outros usando galochas de borracha, chapéus, outros portando enxadas nos ombros cercavam um pequeno veículo que parecia ser um carrinho de vendedor ambulante… um mascate! Quem diminuiu a velocidade pode constatar que de fato, era um carrinho de vendedor… de pipoca! Mas não era pipoca branca e quentinha para degustar assistindo sessão da tarde! Eram pipocas coloridas – verde, amarela, vermelha, laranja… – e amendoim torrado coberto com chocolate! A cena inusitada daquele carrinho sendo empurrado por dois garotos rodovia afora no meio da tarde lenta de julho atraiu a atenção dos lavradores que carpiam arroz na várzea superior na baixada do bairro Anhumas. Curiosos vieram até a beira da estrada tentar entender o que era aquilo! Certamente nunca tinham visto pipoca colorida, juntada com melado grudento e cortada em pedaços! Portanto, tinham que experimentar para ver que gosto tinha aquilo! Se os lavradores saciaram a fome e a curiosidade, os dois vendedores tiraram a barriga da miséria… Venderam dúzias de tabletes de pipoca colorida… pelo dobro do preço!

– Para onde vocês estão indo com esse carrinho? – indagou um dos lavradores.

– Vamos vender pipoca na festa da Borda… – respondeu o mais franzino.

– Nossa! Vocês nem chegaram na metade do caminho ainda! – observou outro, tentando desgrudar a pipoca vermelha dos dentes…

Saciada a fome e a curiosidade da clientela… e o bolso dos pipoqueiros! os dois garotos retomaram lenta e resolutamente a viagem, empurrando o carrinho colorido estrada afora, atraindo o olhar curioso dos poucos motoristas que passavam.

A aventura começara duas horas mais cedo perto da rodoviária de Pouso Alegre. Eu passava por ali empurrando aleatoriamente meu carrinho de pipoca quando esbarrei no meu velho amigo Rui de Paula – Sim, eu era menino, tinha apenas 12 anos, mas já tinha ‘velhas’ amizades. O Rui era muito mais velho do que eu: vinte meses! A amizade com o Rui era importante, pois ele morava no Aterrado… e eu morria de medo de ir ao Aterrado. Com a amizade fui aos poucos ganhando confiança!

Depois de trocar dois centavos de prosa o Rui falou:

– Hoje é dia de Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Borda da Mata… Está tendo festa lá.  Vamos lá vender pipoca?

Aos doze anos de idade eu conhecia duas cidades: Congonhal, onde nasci e Pouso Alegre, onde eu morava há dois anos. A única coisa que eu sabia sobre Borda da Mata… é que a cidade ficava na direção de Borda da Mata! Mesmo assim, se o Rui que tinha catorze anos, era mais alto e mais forte do eu, era meu amigo, e sabia que tinha festa na Borda, não pensei duas vezes.

Saímos da praça João Pinheiro, em Pouso Alegre, à uma e quinze da tarde. Às sete e quinze da noite deixamos a MG 290 e entramos na rua principal de Borda da Mata empurrando o carrinho colorido. Logo adiante, na primeira travessa à esquerda, paramos para satisfazer a curiosidade de algumas crianças e começar nossas vendas! O burburinho da criançada atraiu a atenção de uma senhora na terceira casa da rua. Quando a bela mulher morena, esguia, de cabelos longos e olhar suave saiu ao portão, aproveitei para pedir-lhe um copo d’agua. Antes de atender meu pedido, ela fez algumas perguntas. Minutos depois voltou com os copos d’agua e dois pratos alombados de comida quentinha: arroz branco, feijão de caldo vermelho e grosso e bife de alcatra. Foi a melhor refeição trivial que já comi na vida!

Saciada a fome do corpo, fomos saciar a fome do espírito… a fome de aventura e de alguns trocados! Por volta de oito da noite chegamos à praça Antonio Megale. Chegamos devagar devido à dificuldade para abrir caminho com o carrinho colorido em meio a tanta gente. Estacionamos ao lado do jardim e começamos a vender nosso produto. Em menos de uma hora vendemos tudo. Não sobrou sequer um pacotinho de pipoca colorida ou um saquinho marrom de amendoim ‘pra contar a história’! Como tudo era novidade, vendi pelo dobro do preço. Faturei num só dia o que precisaria de três semanas de boas vendas para ganhar!

Dois terços da aventura realizados, era hora de voltar para casa! Teríamos que enfrentar mais 27 quilômetros de estrada gelada, no meio da noite, mais seis horas de viagem empurrando o carrinho vazio?

Às nove e meia da noite eu atravessava a avenida Duque de Caxias, ao lado do mercado municipal de Pouso Alegre, recém reformado pela construtora do Fiíco, quando avistei o Waltinho, filho do meu patrão…

– O que aconteceu? Onde você estava até essa hora? – perguntou ele, com expressão visivelmente preocupada.

– Eu estava numa festa na Vendinha… Olha consegui vender tudo hoje – respondi com naturalidade. E subimos a Getúlio Vargas em direção à casa do dono do carrinho de pipocas coloridas. Eles nunca souberam da minha aventura na festa da Borda!

Em 2014, quarenta e três anos depois, voltei à mesma casa para levar um exemplar autografado do meu primeiro livro – Meninos que vi crescer – àquela gentil senhora que, espontaneamente, nos servira aquele manjar dos anjos. Mauritania Furtado estava então com 87 anos. Claro que ela não se lembrava de mim… mas se lembrava dos dois garotos e do carrinho de pipocas coloridas!

Esse ‘capitulo’ é parte da historia “O mistério do Coisa Ruim da Borda”, uma das 50 historias do meu primeiro livro “Meninos que vi crescer”!

A propósito, neste mês de abril, faz 68 anos que o “Chiquinho”, conhecido como ‘Coisa Ruim da Borda’, fez sua última aparição no casarão do Portuga na Fazenda da Ponde de Pedra!

Será que foi a ultima aparição mesmo???

Aqui você encontra quem matou o suicida!

O livro está disponível nos seguintes lugares:


O novo livro de Crônicas Policiais de Airton Chips já está à venda. Além de crônicas, o livro trás lendas urbanas, personagens que marcaram época, e mostra a transformação sociocultural do Sul de Minas, especialmente de Pouso Alegre, a cidade que transformou fazendas e pastos em bairros ruas e avenidas e quadruplicou a população nos últimos 50 anos. Cinquenta anos acompanhados passo a passo pelo autor.

Em Pouso Alegre o livro está disponível nas livrarias:

– Livraria Intelecto, Rua Capitão Pedro Narciso, 85 centro (ao lado da antiga estação ferroviária), fone 3422-4097 e 9.8700.4097.

– Livraria “Quiosque do Saber”, no Serrasul Shopping, fone 3427-5559 e 9.9726-3279.

Nas bancas:

– Banca do Toninho, na avenida Duque de Caxias, 128, centro Fone 9.9915-6331.

– Banca Federal (Sergio), praça Garcia Coutinho, 11, centro, Fone 9.9253-0415.

– Banca Catedral (Ligia – Venicio), praça Garcia Coutinho, 01, Fone 9. 9989-3446.

– Banca Central (Ernani), praça Senador Jose Bento, 47, centro, Fone 3421-4610.

– Banca Cometa ( Júlio), praça Senador José Bento s/n, Fone 9.9996-6646.

– Banca do Chico, Avenida Dr. Lisboa (em frente o Bradesco), Fone 3412-1764.

– Banca Alternativa (Cristina), Hipermercado Baronesa, Fone 3449-1743.

Preços dos livros:

* Nas bancas e livrarias R$ 38,90.

* Através do site de vendas www.facebook.com/blogdoairtonchips/shop/ R$ 44,90 ( entregue sem custo em qualquer lugar do Brasil).

* No formato digital, no site Amazon (Kindle), R$ 24,90.  

Por que os cães não atacavam “Fernando da Gata”?

Quase três décadas mais tarde eu descobri o que deixava os esguios Dobermans… ‘tão dóceis’!

‘Bichinhos’ iguais a este nunca atacaram Fernando da Gata… Porque será?

Toda cidade tem uma história de bandido para contar. Algumas têm mais de uma. Pouso Alegre, a cidade que mais cresceu no Sul de Minas no último meio século – pulou de 40 mil em 1970 para 150 mil habitantes atualmente – também tem suas histórias. O mais ilustre bandido que pisou e deixou rastros indeléveis em terras manduanas, atendia pelo nome de “Fernando da Gata”…

O famoso – às avessas! – que passou sorrateiro pela cidade, deixando para trás um rastro de suspense, de medo, de fatos e de boatos, foi Fernando Soares Pereira, o “Fernando da Gata”. O baixinho cearense ficou menos de uma semana na cidade… mas fez estragos em algumas famílias e na população! Tão sorrateiro como agiu na calada da noite o bandido se foi levando quilos e toneladas de joias! Quilos de anéis, cordões e pulseiras de famílias abastadas da cidade… E toneladas de dignidade! Ele estuprou quatro recatadas senhoras, esposas de ricos empresários… na frente dos seus maridos! Vindo de Russas-CE, Fernando da Gata fez escala na capital paulista e, bem que tentou mudar de vida. Trabalhou alguns meses na construção civil, mas seu ‘talento’ criminoso era por demais valioso para ser desperdiçado debaixo de sacos de cimento, pilhas de tijolos e latas de concreto! O famigerado bandido nascera talhado para grandes empreitadas… ainda que fossem para o mal! Em poucos meses de atividade criminosa na capital paulista, o Eldorado dos nordestinos, o baixinho cearense se tornou celebridade… no álbum da polícia! E colocou toda a polícia civil paulistana nos seus calcanhares… E a imprensa, ávida por furos jornalísticos, também!

Foi assim que, para dar folga às madames paulistanas, o assaltante solitário foi parar em Pouso Alegre em meados de 1982. Fernando da Gata chegou à cidade no mês do ‘cachorro louco’! Não por acaso, de todos os predicados atribuídos a ele, o principal, era exatamente sua capacidade de acalmar e dominar ‘cachorros loucos’! Não eram exatamente loucos, mas eram ferozes cães de guarda, especialmente os esguios ‘Dobermanns’, os quais reinavam nos quintais das mansões naquele começo de década depois que a luzes se apagavam! Ninguém ousaria entrar nos quintais na calada da noite. Ninguém… menos Fernando da Gata! Os donos das casas até ouviam os latidos ferozes dos seus ‘dobermanns’ no meio da noite. Mas quando se arriscavam a abrir a porta ou espiar pela janela, lá estava o amigo fiel sentado num canto do quintal! Atento, mas silencioso. Como se tivesse visto apenas um gato em cima do muro e o intruso já tivesse ido embora. Minutos depois o gato, quero dizer, o “da Gata”, estava no seu quarto apontando um trabuco para o seu nariz!
Mas como o esguio Dobermann parou de latir e se aquietou no canto?
Esse foi o grande mistério que Fernando da Gata levou com ele no crepúsculo de um dia frio de inverno, no começo de setembro, nas margens do Rio Sapucaí, uma semana e meia depois de protagonizar a maior caçada policial da história e colocar Pouso Alegre no mapa nacional com suas façanhas. Fernando da Gata não matou os cães de guarda. Sequer tocou em algum cachorro! Ou talvez tenha tocado… para lhes fazer um cafuné!

– Como pode, um cachorro que quase pula muros para atacar quem passa na calçada do lado de fora, ficar quietinho no canto do quintal enquanto o bandido entra e arromba a porta da casa do dono? – Perguntavam as pessoas com os olhos saltando das órbitas.

– Ele tem parte com o demônio! – Respondiam umas, fazendo o sinal da cruz!

– Ele hipnotiza os cães! – Diziam outras, incrédulas.

Seu fascínio sobre os ferozes Dobermanns – ou o contrário! – virou mito. Vinte e sete anos depois da sua morte desvendei o mistério… E matei o mito!

O livro está à venda…

Para desvendar o mistério de “Por que os cães não atacavam Fernando da Gata”, acesse… https://www.facebook.com/blogdoairtonchips/shop/

A rotina do Rabo Verde

O louco mais querido da cidade…

“A rotina do Rabo Verde” e outras trinta cronicas policiais estão no livro “Quem matou o suicida”.

A figura carrancuda dentro de um conjunto cáqui encardido, debaixo de um chapéu amassado fazendo sombra para o par de olhos azuis, com um saco nas costas, sem saber ler ou escrever, sem lenço & sem documentos e sem um teto para chamar de seu, Rabo Verde figura entre as personagens mais ilustres de Pouso Alegre no Século XX…

Até a poucas décadas, antes do advento dos celulares e seus aplicativos, quando as pessoas tinham tempo para olhar e sentir a rotina à sua volta, era possível perceber alguns personagens do cotidiano se misturando à nossa história. Toda cidade, grande ou pequena, tinha seus personagens assim. Pouso Alegre teve vários no século passado. Chimango, Maria Coquinha, Ananias, Padre Mateus, Nego Artur e tantos outros. Quando, nas rodinhas de saudosistas, falamos dos personagens folclóricos que marcaram a cidade, o primeiro que nos vem à mente é o… “Rabo Verde”!

A expressão inquieta, o jeito soturno, o modo sacudido de emitir as palavras – muitas ininteligíveis – a mania de resmungar sozinho palavras desconexas sem uma sequência lógica de fala, a sujeira do traje, o saco de roupa que sempre carregava nas costas, a mania de catar comida no lixo – embora não lhe faltasse uma alma boa para encher sua marmita gratuitamente ou em troca de capina de quintal – faziam de ‘seu’ Antônio Barnabé um louco! Mas era um louco inofensivo. Jamais fazia mal a alguém. Desde que não lhe chamassem pelo apelido de Rabo Verde! Aí, além dos palavrões impublicáveis, pedras, tijolos, sabugos, ou qualquer objeto que estivesse ao seu alcance tornava-se uma arma! As crianças se divertiam com sua brabeza… Os pais arrancavam os cabelos de preocupação! Passada a raiva, ele fazia troça do próprio apelido!

-Quem tem o rabo verde, seu Antônio?

– Arara, papagaio… e eu!

Durante décadas, desde meados do século passado, essa figura simples fez parte da rotina das pessoas em Pouso Alegre…

– O Rabo Verde foi preso… Ele foi levado no ‘forninho’ pra delegacia, o filho do delegado foi pro hospital, muito sangue… Ele tá muito machucado… – disse estabanado o garoto entrando correndo no Empório Goulart, no final da tarde!

– Calma, menino! Conta essa história direito! Por que prenderiam o Rabo Verde? Ele não faz mal a ninguém. O que tem o filho do delegado com isso? – interrompeu o comerciante enquanto servia uma dose de Fernet a um freguês cativo…

– Dessa vez acho que ele fez, sim… Ele deu uma pedrada na cabeça do menino, o filho do delegado!

– Espera, espera, espera… Você está dizendo que o Rabo Verde acertou uma pedrada na cabeça de um garoto? E o garoto é filho daquele delegado novo que chegou à cidade?!

– … É isso mesmo. Nóis tava lá na beira da linha esperando pra ver a Maria Fumaça, aí o Rabo Verde tava passando… e a pedrada acertou bem na cabeça do Serginho…

– Peraí, vocês mexeram com o pobre coitado? Por que não correram?

– Nós corremos, mas o Serginho não sabia que tinha que correr…

– Caramba! Filho do delegado… e lerdo! – comentou um freguês do empório entrando na conversa.

– É. Mas é que ele é novo na cidade. Veio da capital. Ainda não conhece as molecagens do interior – interveio outro freguês assíduo do empório.

– E esse delegado novo também não conhece o Rabo Verde. Dizem que ele é um capeta! Vai querer arrancar o couro do pobre coitado! Precisamos fazer alguma coisa. Alguém precisa ir à delegacia explicar para o delegado que o ‘nosso’ Rabo Verde não bate bem da cabeça…

Um dos fregueses do Mario Goulart, que costumava chegar sempre no finalzinho da tarde para bebericar o suco de ‘gerereba’ e jogar conversa fora, se prontificou a ir  à delegacia. Primeiro para saber a gravidade da situação; segundo, para tentar livrar a barra do Rabo Verde.

… Tentou, mas não conseguiu. Afinal, lesão é lesão tanto na capital quanto na pacata Pouso Alegre de vinte mil habitantes!

E o “Rabo Verde” foi se hospedar no Velho Hotel da Silvestre Ferraz!

Para continuar lendo a “Rotina do Rabo Verde”, acesse… https://www.facebook.com/blogdoairtonchips/shop/

*Em Pouso Alegre, o livro está à disposição na Livraria Intelecto e em todas as bancas de jornais.

“Quem matou o suicida”

Este é o título do novo livro de Airton Chips.

“Quem matou o suicida”… o livro caçula de Airton Chips

      Seis anos depois de “Meninos que vi crescer”, o colunista policial e escritor Airton Chips lança agora seu segundo livro de crônicas policiais.

“Quem matou o suicida?” segue a mesma linha de “Meninos que vi crescer”, lançado em 2014. São crônicas policiais vivenciadas pelo policial e colunista ao longo da sua carreira, nos últimos quarenta anos. Algumas são tensas, tristes, macabras… Outras são hilárias, divertidas, comoventes, saudosistas…

No controverso título “Quem matou o suicida”, – a intrigante estória de um fazendeiro encontrado morto na ponta de uma corda no meio do mato, numa pequena cidade do interior de Minas – mais importante do que saber quem é o assassino, é perceber a fragilidade da investigação policial que, por isso mesmo, na maioria das vezes deixa o assassino impune. O tino policial, a argucia do velho detetive e o desfecho da história de “Quem matou o suicida”, no entanto, ‘pagam o ingresso’!

“Quem matou o suicida” é apenas uma das trinta e uma histórias deste denso livro que desnuda o heroísmo do policial; que o exibe como um mortal comum, sujeito a erros, medos, deslizes profissionais e… traições! “O último dia do policial”; “Porque os cães não atacavam Fernando da Gata”; “O batateiro do bigode falho”; “Os fantasmas do velho hotel da Silvestre Ferraz”; histórias macabras como “O esquartejador de Silvianópolis”; “O assassinato de Silvio Santos”; “Larissa de Extrema”; “Larissa de Pouso Alegre” são uma amostra disso.

“Paulinho & Mariana, os pais do nóia JC”, mostra o drama de uma família cujo filho aos dezesseis anos trocou o banco da escola pelo banco da esquina com os amigos de ‘baseados’ e nunca mais conseguiu deixar as drogas. A curta história passada em um plantão médico, com o título “Tragicomédia no Hospital Frei Caetano” mostra a precocidade com que os adolescentes iniciam perigosamente nas drogas. Além desta o livro traz outras histórias hilárias tais como “A múmia de Bueno Brandão e os Três ossos pequenos”; “O louco e a cascavel” e; “Um puta bandido e um porra policial”.

O bucolismo, o saudosismo e a transformação sociocultural de Pouso Alegre no último meio século estão presentes nas histórias “Ribeirões da minha infância”; “A lenda do Zorro da Zona Boêmia”; “Anos 70, a década de ouro da humanidade” e; “O mistério do Corpo Seco” – que misteriosamente ‘sumiu’ do primeiro livro do autor.

Além dos casos policiais, vivenciados ou investigados pelo autor ao longo da carreira, o livro traz comoventes histórias de vida, de superação, tais como: “Maria, 90 anos de solidão”, “Guermina e o Catre”, “O menino que dormia nas caixas de maçã” …

E para começar a leitura: “A rotina do Rabo Verde”! o louco mais querido de Pouso Alegre no século passado, com lugar cativo na galeria de pessoas ilustres do Museu Tuany Toledo. Enfim, uma obra para matar a saudade dos tempos idos, para desnudar a alma do ser humano e, constatar que ainda existem profissionais que amam o que fazem – profissionais capazes de levar uma “Mensagem à Garcia”! -, mas estão cada vez mais escassos!

Tudo isso narrado com bom humor, de um jeito gostoso de ler, por alguém que cresceu em contato com as pessoas, nas ruas, observando o comportamento humano. Alguém que viveu e há décadas conta casos policiais na imprensa de Pouso Alegre.

A ‘família’ está aumentando…

“Quem matou o suicida” pode ser encontrado e adquirido nas livrarias e bancas de jornais de Pouso Alegre e região, ou, através do site “www.facebook.com/blogdoairtonchips/shop” – entregue sem custo em qualquer lugar do Brasil.

Vá buscar ao seu!

 

Em jogo controverso, o PAFC vence outra vez e mantém invencibilidade de dois anos!

O time jogou mal, foi dominado no meio campo, falhou no sistema defensivo e tomou um gol no início do jogo, mas fez o dever de casa: venceu de virada e assumiu a liderança isolada do campeonato.

Sob sol e sob chuva a torcida organizada não arreda pé…

Como era de se esperar, depois de duas vitórias seguidas fora de casa, o Pouso Alegre levou excelente público ao Manduzão no sábado à tarde: 3.599 pagantes, e outros tantos convidados e autoridades.

Apesar da euforia da gigante e festiva torcida rubro-negra, quem comemorou primeiro foram os pouco mais de uma dúzia de atleticanos que vieram de São João Del Rey e ficaram escondidinhos num cantinho  da arquibancada atrás do gol. Logo aos oito minutos de jogo o Athletic jogou uma ducha de água fria na galera do Pouso Alegre. Falha coletiva do sistema defensivo do Dragão, desde o meio campo, que permitiu que a bola fosse alçada na ponta esquerda passando por cima do lateral mal posicionado. O atacante do Atlhetic foi à linha de fundo, venceu o marcador e cruzou rasteiro, com perfeição para a área. A pelota passou sorrateira e sensual beijando as mãos do goleiro Cairo e os pés dos zagueiros e sobrou limpa e sorridente nos pés do atacante pedindo para ser empurrada para as redes.

Apesar da vantagem no placar, o Athletic continuou dominando o meio campo e partindo pra cima até ser barrado ainda na intermediaria. Foi num dos vários contra-ataques rápidos que o Dragão chegou ao empate em meados do primeiro tempo. Na cobrança do escanteio a bola beijou a luva do goleiro e sobrou na cabeça do zagueiro Lucas Rocha, no segundo pau, e foi dormir no filó, levando a galera ao delírio.

No segundo tempo, sempre em rápidos contra ataques, o Pousão precisou de pouco mais de dois minutos para virar o marcador. Noutra cobrança de escanteio a bola sobrou na cabeça do meia Matheus Roldam, no miolo da área e novamente foi beijar as redes do time visitante.

O placar não mudou o jeito dos times de jogar. Enquanto o Dragão jogava pelas laterais tentando chegar à linha de fundo, muitas vezes fazendo a pelota cruzar o meio campo pelo alto, o Athletic, ousadamente cruzava o meio campo com a bola nos pés… até perdê-la na intermediaria. Nalgumas vezes, no entanto, obrigou o goleiro Cairo a agarrar a redonda ou expulsá-la da área. Numa dessas bolas marotas Cairo precisou usar toda sua envergadura para evitar o empate. Já deitado na grama ele conseguiu expulsar a pelota com a ponta dos dedos. Dois minutos depois, já nos acréscimos do jogo, a bola voltou a se esgueirar perigosamente na área do Dragão até encontrar uma canela salvadora e se afastar pela linha de fundo. O alívio só chegou aos cinquenta minutos do segundo tempo quando o esguio e austero ‘homem de preto’ virou-se para o centro do campo, olhou para o céu, levantou os braços e soprou o apito pela última vez! Estava selada a terceira vitória seguida do Dragão

A vitória por 2 x 1 sobre o Athletic de São João Del Rey colocou o PAFC no topo da tabela com 10 pontos e aumentou a invencibilidade do time comandado pelo técnico Rogério Henrique. Agora são 21 jogos sem conhecer a derrota.

Apesar de não ter jogado tudo que pode e tudo que sabe, o Dragão do Sul de Minas continua voando alto com a torcida. O apaixonado torcedor fez festa do começo ao fim do jogo. Quando o time acertava, ele aplaudia; quando o jogador disputava com garra e virilidade, ele aplaudia; e quando o jogo ficava morno, o torcedor colocava lenha na fervura! Não por acaso o Pouso Alegre é campeão de público no interior.

Para completar a alegria do torcedor, o árbitro da partida, desta vez, não permitiu o cai-cai dos jogadores visitantes como ocorrera no jogo contra o Tupi de Juiz de Fora pela primeira rodada. E não foi só o homem de preto que fez a alegria da galera… um cachorrinho vira-latas invadiu o campo e atravessou de ponta a ponta o gramado incentivado pela galera aos gritos de “vai, vai… morde lá na frente”, numa alusão à pegada, à pressão sobre o time adversário! Por quase um minuto o simpático e elétrico cãozinho foi a ultima batatinha do pacote…

Veja outros números o PAFC no campeonato mineiro:

O técnico Rogério Henrique já utilizou 18 jogadores nestes primeiros 4 jogos, sendo que Cairo, Nando, Lucas Rocha, Foguinho e Roldan jogaram todas as partidas e não foram substituídos ainda. Ao todo, cada um jogou 406 minutos até aqui.

O Pouso Alegre hoje é o único invicto na competição, tem o melhor ataque (7 gols) e o artilheiro (Roldan, com 3, ao lado de Ingro, do Athletic)

Dos 7 gols do Pouso Alegre no campeonato, 5 foram de cabeça. Com a vitória sobre o Athletic o Pousão chegou a 21 jogos sem derrotas desde 2018 (15 vitórias e 6 empates).

Que venham mais números positivos contra o Serranense!

PAFC: empate com triplo sabor de derrota!

O time jogava em casa; tinha um jogador a mais em campo metade do segundo tempo; e teve um pênalti a seu favor no último minuto de jogo…

      Apesar do resultado o time passou confiança!

Foto: Guará Comunicação/PAFC

O jogo de estreia do Dragão do Sul de Minas no Modulo B do campeonato mineiro 2020, diante de mais de três mil torcedores, teve quase de tudo: teve gol tramado ainda cedo pela linha de fundo, teve gol do adversário, ainda mais cedo, no primeiro minuto do segundo tempo, teve virada do adversário, teve agressão de jogador à maqueiro, teve expulsão de jogador nervosinho, teve muitos cartões amarelos para o time visitante, teve o tradicional ‘cai-cai’ do time visitante para esfriar o jogo, e teve o que de pior poderia ter num jogo que seguia empatado… Pênalti chutado pra fora no último minuto da partida!

Romarinho não foi só infeliz na cobrança de pênalti. Ele exagerou na criatividade e dificultou a própria cobrança. Um jogador destro não pode ficar à direita da bola na hora de bater o pênalti! A coreografia de correr na horizontal para depois endireitar o corpo para bater na pelota, tentando desestabilizar o goleiro, tira completamente a estabilidade do batedor! O momento da cobrança de pênalti é o mais tenso da partida e todo foco deve se concentrar no toque final que vai mandar a bola para o gol. Por isso o batedor deve deixar de lado a firula, se posicionar a menos de três metros e dar poucos passos até o toque final na pelota.

A perda do gol e dos consequentes dois pontos do jogo, no entanto, não diminui a importância de Romarinho no time. Ele continua sendo o talismã, o jogador moleque, extrovertido e aguerrido dentro de campo… e merece todo apoio dos companheiros e da torcida. Afinal, qualquer jogador perde pênalti… Só não perde quem não bate! Romarinho já é ídolo da torcida e certamente vai consolidar esse status neste campeonato de 2020.

O jogador contratado para ser referência no meio campo do Pouso Alegre, voltando de cirurgia, ficou no banco e entrou no decorrer da partida. Faltou, portanto, tempo para mostrar seu talento e experiencia em campo. Mas promete. Edson Pio sabe como poucos chamar a pelota de ‘meu bem’, e sabe o que fazer com ela quando a tem nos braços, ou melhor… nos pés! Quando estiver cem por cento, certamente vai somar muito ao time e cair nas graças da galera.

Apesar do percalço, foi um bom jogo. O time evoluiu em comparação à performance do ano passado quando conquistou o título – invicto – da segundona. Fez um primeiro tempo quase impecável, pôs a bola para rolar, sufocou o adversário e construiu muito bem as jogadas que redundaram nos dois gols marcados: resultado de jogadas bem construídas. Os dois gols que sofreu resultaram de bolas rebatidas na área.

O tradicional time da Zona da Mata mineira usou e abusou da tradição, experiencia e catimba de clube grande do interior. A cada cinco minutos, mesmo fora da disputa de bola, um jogador alvinegro ficava estendido no chão. Por isso o jogo foi até os 52 minutos…

O público – 3.185 – foi mais uma vez excelente para um jogo de Modulo B. E é só começo de campeonato…

Nas próximas duas rodadas o PAFC vai jogar longe da sua apaixonada torcida. Dia 14 de fevereiro, sexta-feira, joga em Muriaé contra o Nacional, que estreou empatando fora de casa com o Serranense. No dia 22 de fevereiro, sábado de carnaval, encara o Guarani de Divinópolis, que venceu em casa, o outro caçula do grupo, Betim.

Previsão? Se jogar como jogou o primeiro tempo contra o Tupi, pode trazer de quatro a seis pontos na bagagem…