Perseguição no Costa Rios

Em meio aos gritos do meu parceiro com o trabuco na mão, eu podia sentir o roçar do cano do 38, ora na minha orelha, ora nos meus cabelos!

Era uma ensolarada manhã de outono. Subia eu a Avenida Prefeito Olavo Gomes de Oliveira, quando na curva do japonês o tirocínio policial disparou!… Defronte o Posto Pantanal descia um sujeito de bicicleta! Ao avistar o golzinho preto & branco dos ‘zomi’, o sujeito que vinha na banguela puxou a aba do chapelão de palha na cara tentando esconder o rosto. Meu parceiro, com poucos meses de polícia e seu sotaque paulistano, nem se deu conta do ‘detalhe’. Mas eu, polícia ‘véio’, notei o gesto discreto do chapeludo e mantive os olhos grudados nele. Quando passou por nós ele deu uma discreta olhadinha… para conferir se estavam procurando por ele ou, talvez, apenas para ver se eram policiais conhecidos! Diminuí a marcha e continuei com os olhos grudados no chapeludo… Pelo retrovisor! Metros abaixo, defronte o Vinícius Meyer, ele deu uma discreta olhada para trás! Estava devendo!!!

Antes que ele virasse a próxima esquina para entrar no Costa Rios, eu invadi a pista contrária, passei pela borda do posto do Armando e desci de volta em direção ao Aterrado! O chapeludo entrou na primeira esquina! Eu entrei na segunda… Mesmo assim, apesar de estar pedalando, ele tinha vasta dianteira e saiu na minha frente na esquina da primeira rua do Costa Rios paralela à Avenida do Aterrado! Emparelhei com ele.

O que aconteceu nos minutos seguintes eu nunca soube definir se foi cômico ou se foi trágico! Quando virei a viatura cantando pneu e iniciei a perseguição, naturalmente comentei com o novato, que se tratava de um suspeito em potencial… A sacolinha que ele levava presa ao guidão da bicicleta na mão esquerda poderia ser um tijolo de ‘erva marvada’, um quilo de ‘pedra bege fedorenta’ ou ‘farinha do capeta’, ou outra rés furtiva qualquer! Ou então o chapeludo era fugitivo! Por isso, tão logo iniciamos a perseguição, meu parceiro empunhou o trezoitão.

Quando me aproximei, o fujão da bicicleta optou pela minha esquerda… Aí é que morava o perigo!…

Enquanto eu tentava ‘fechar’ o ‘biker’ fujão, meu ‘parça’ gritava histericamente com seu sotaque paulistano:

– Para mano! Porra meu, não tá vendo que é cana, caralho!… Para senão eu vou atirar, meu! Porra, mano!

Em outra circunstância eu teria dado gargalhadas do palavreado do meu parceiro, mas naquele momento não tinha graça…

Enquanto berrava ordens, como se estivesse numa ruela centenária da Mooca, o detetive ‘grão’ sacudia sem parar o trabuco na direção do suspeito! O problema é que entre o trabuco e o fujão… estava eu ao volante! Mais precisamente minha vasta cabeleira começando ganhar tons de cinza!

Enquanto ouvia:

– “Porra meu, tá maluco mano! Eu vou atirar caralho”… – Eu podia sentir o roçar do cano do 38 niquelado ora na minha orelha, ora nos meus cabelos!

O clímax da perseguição aconteceu na penúltima esquina do bairro antes de virar para entrar no Aterrado pela porta dos fundos! Quando ele vacilou para entrar à esquerda eu encostei o para-choque do gol na traseira da bicicleta e o joguei ao chão!

Neste momento o novato quase se apoiou no meu ombro com o revolver encostado no meu peito para alvejar o fujão! Se ele puxasse o gatilho, pelo menos meu bigode ficaria chamuscado!

Transeuntes, aposentados, ciclistas pararam para assistir o imbróglio! Muitas donas de casa deixaram o feijão queimar naquela manhã! Mas tinham que satisfazer a curiosidade! Uma bicicleta meio amassada debaixo de uma viatura policial; uma sacolinha branca caída ao lado; toda aquela gritaria do policial num linguajar que mais parecia o de outro bandido, valiam ‘ingresso’!

– Porra, meu, não respeita polícia não, caralho? Vou atirar, maluco… Vai parar ou não?

Parou!

Não de medo das ameaças do policial ‘mano’, mas parou! Parou dois quarteirões depois, quando eu coloquei uma das mãos suadas na sua camisa! Meu parceiro do ‘caralho’, ainda com a porra da ordem na boca, chegou nos segundos seguintes.

Eu não o conhecia. Quando saí de Pouso Alegre na década de 80 as figurinhas do meu álbum eram Carlinhos Blau-Blau, Cirilo Bola Sete, Ailton Franklin e outros. Mas a julgar pela recusa da minha carona e desobediência às ordens da porra do meu parceiro, certamente era figurinha fácil no álbum da polícia! Quem dá um pinote dos ‘zomi’ como o diabo foge da cruz, não deve apenas um quilo de asinhas de frango ou uma magrela velha!

Ao consultar nosso ‘álbum’ de fichas amarelas – aquele mesmo que havia sido montado pelos colegas Ângelo e Décio nos anos 70 – com propaganda do “Hotel Lydia” no rodapé – não tardou aparecer a foto de um sujeito moreno, olhos negros, cabelos espandongados com o nome “Cristiano Dias”! Sua capivara incluía furtos, roubos e tentativas de homicídio, cujas penas somadas lhe garantiriam décadas de hospedagem gratuita no Hotel do Contribuinte. Estava ‘pedido’!

Cristiano, no entanto, não chegou a criar raízes no Hotel do Juquinha. Naquele mesmo ano sua gorda capivara no arquivo da polícia recebeu uma tosca cruz feita manualmente com pincel atômico vermelho!… Estava encerrada sua carreira criminosa!

Meu ex-‘parça’, “paulistano da Mooca, meu”, nunca aprendeu o ‘mineirês’ – e outros valores básicos inerentes à ingrata, porém honrada profissão policial. Ele também não criou raízes do lado de cá da lei…

Mas essa já é outra história!

 

*** Essa história completa, com o título “Um ‘puta’ bandido e um ‘porra’ policial”, começa na página 355 do livro “Quem matou o suicida”.

O Juiz e a Delegada…

       O imbróglio aconteceu por que a delegada de plantão não reconheceu a assinatura do Homem da Capa Preta no Alvará e se recusou a cumprir o ‘mandamus’!

“Quinze minutos depois um cidadão entrou no gabinete da delegada de plantão. Entrou sem bater. Tinha os poucos cabelos brancos em desalinho, usava camiseta verde, surrada, bermudão de moletom claro bastante jongolhó e chinelos tipo croc escuro – traje muito apropriado para sair na varanda no meio da noite para ver a lua cheia! – Parecia que havia acabado de sair da cama! Trazia na mão a mesma folha de papel que o advogado saíra levando minutos antes: era o mesmo ‘Alvará de Soltura’ manuscrito no restaurante nos primeiros minutos da madrugada – só estava, propositalmente, mais amassado!

O velho magistrado, do qual não se tem notícia de que algum dia tenha esboçado algum sorriso a alguém em seu gabinete ou em qualquer relação profissional, era puro siso. Sua carranca natural, agora acentuada pela insatisfação de ver sua ordem questionada obrigando-o a ir à delegacia àquela hora, inundou o gabinete da delegada.

O soldado que estava próximo à porta quase bateu continência! A escrivã, como a maioria dos policiais de baixo clero, que conhecia a figura, no mínimo soturna do Homem da Capa Preta, pareceu encolher atrás da tela do computador.

Até o ‘dimenor’, debochado e desafiador sentado diante da mesa da delegada, se encolheu e baixou os olhos. Sabia que a tempestade estava iminente…

Enfim, todos, se fossem tartarugas teriam se recolhidos em seus cascos. Melhor ainda se fossem tatu-bola… assim poderiam se enrolar no casco e rolar devagarinho para fora do gabinete.

Todos menos a delegada! Ela se manteve altiva e desafiadora!

Embora, de fato, não conhecesse o magistrado cuja assinatura aparecia no rodapé do manuscrito, sabia que estava diante dele!

Contrariando a lógica das lógicas, o juiz não foi à delegacia de polícia no meio da madrugada atestar pessoalmente a veracidade da própria assinatura e determinar a soltura do seu – até poucas horas antes – tutelado… Ele foi questionar a ousadia, digo, a ‘desobediência’ da delegada de plantão.

O diálogo travado nos minutos seguintes entre as duas autoridades, foi inenarrável. Não teve palavras de baixo calão, cacofônicas ou sequer pejorativas… Mas teve cobras, lagartos, lagartixas, aranhas e fel, muito fel! O diálogo não poderia ser mais inamistoso… e belicoso!

“Quem era aquela delegadinha de roça que não conhecia o grande e veterano magistrado e desobedecia a sua ordem? Quem era ela para questionar sua assinatura”?

“Quem era aquele senhor, quase em trajes íntimos, para invadir seu gabinete, durante um estafante e modorrento flagrante de inimputável, para impor sua… arrogância”?

Quem, dos corredores ouviu, curioso, ressabiado ou amedrontado, a conversa, garante ter ouvido ‘alto e bom som’:

– “Quem você pensa que é para invadir meu gabinete a essa hora”?

– “Você sabe com quem está falando?”

-“Posso prendê-la por desacato…” – teria ameaçado o magistrado.

-“… E quem vai cumprir a ordem”? – teria desafiado a delegada.

A troca de farpas & espinhos entre o Juiz e a delegada no gabinete a portas abertas retumbava nos corredores, livre, pesada e solta para quem quisesse ouvir… e se proteger das faíscas!

E a tensão aumentando… Prestes a pegar fogo!

O advogado – que ao ligar para o magistrado havia colocado uma boa dose de pimenta malagueta nos argumentos contra a delegada – mantinha certa distância do fogo cruzado, e já se arrependia do seu ato.

Sim… Nenhum dos dois abria mão de sua autoridade! Ou quem sabe dos seus egos! De suas teimosias…

O velho juiz, a mais alta autoridade judiciária na comarca, acostumado a ver delegados curvados à sua frente, além da sisudez de magistrado, levava na algibeira da bermuda jongolhó um pequeno trabuco.

A delegada tinha duas vantagens… Estava no seu habitat! E tinha uma .40 negra dentro do coldre pendurada na perna direita da calça operacional…

O duelo estava prestes a acontecer…

Quem sacaria primeiro?…

 

Para saber quem sacou primeiro, acesse:

[email protected]  E leia “O Juiz e a Delegada… Quem prende quem”?

Um cadáver na beira da estrada…

Quem seria?

“Três horas depois a estradinha ficou pequena para quem queria seguir para os sítios ao pé da serra ou descer para pegar a estrada principal que levava às cidades vizinhas. Uma faixa quadriculada de amarelo e preto isolava a guarita, agora toda enfumaçada, na beira da estrada. Havia carros dos dois lados da via. Três deles eram da polícia, um da militar, outro da perícia da polícia civil e o terceiro com o letreiro na traseira: “Delegacia de Homicídios”. Os curiosos ocupavam todo o entorno; queriam saber o que acontecera; de quem era o corpo carbonizado; davam palpites…

– Parece que é um andarilho… – dizia um.

– Eu ‘vi ele’ passando lá perto da minha casa ontem de tardinha… – dizia outro.

– Será que foi acidente? – indagava um terceiro.

– Acho que ele foi queimado enquanto dormia…

– Ah, não… com o calor ele teria acordado! – discordou outro.

– … Ou não. Esses andantes bebem muito. Deve ter derramado a garrafa de cachaça no fogo…

– Eu acho que alguém tocou fogo nele!

– Tá doido! Por que alguém faria uma maldade dessas com o pobre coitado?

Enquanto a perita, com carinha doce de colegial – talvez na sua terceira semana de trabalho – fotografava a mesma cena por infinitos ângulos diferentes e anotava tudo em sua prancheta, dois homens, de braços cruzados, cada um ostentando no peito um distintivo de couro com uma estrela reluzente no meio, por cima dos óculos Ray Ban, observavam a tétrica cena. Talvez, esperando que alguma teoria diferente da dos curiosos surgisse de algum lugar. Satisfeita com a infindável sequência de fotos, medidas e anotações, finalmente a jovem perita se aproximou dos dois policiais e disse:

– Por mim o corpo está liberado, doutor…

– Tem algum palpite?… – Indagou o policial mais empertigado, com distintivo dourado e vermelho.

–  Nada além do óbvio… há restos de cobertores, latas, trapos… coisas comuns de andarilho, que não foram queimados. Quanto ao corpo, a única certeza é que era de um homem, pelo tamanho dos ossos, adulto.

– Documentos…

– Tudo virou cinza.

– Algum trauma, fratura, projétil?…

– Nada visível. Só o legista, com raio x, poderá achar algo caso haja… Posso autorizar a funerária a remover o corpo para o IML e dispensar a PM?

– Ok. Bom trabalho Cintia. Obrigado. Quer interrogar alguém Alfredo? – disse o delegado, virando-se para o policial de distintivo verde.

– Não. A PM já qualificou e sabatinou a testemunha que encontrou o corpo e outros curiosos. Vai colocar tudo no BO. Eu gostaria de dar uma olhada nas imediações da guarita, ver se acho alguma coisa que os curiosos ainda não destruíram. Vamos manobrar a viatura no final da estrada, para dar tempo de os curiosos se dispersarem… – disse o detetive”.

 

Esse pequeno trecho é parte integrante do romance policial de Airton Chips:

“UMA VIAGEM QUE NÃO CHEGOU AO FIM”.

O livro está disponível no site da ‘Editora Dialética’ ou, através do WhatsApp 35 9.9802-3113.

O estupro de Beto Cowboy

Apagado o fogo da paixão, ele foi embora… Mas deixou um coração ferido para trás!

Hotel “Recanto das Margaridas”, em Santa Rita do Sapucaí.

Beto Cowboy era um sujeito alto, forte, brejeiro… e bonito! Era de pouca prosa, muito sério, mas tinha um semblante agradável. Tinha no olhar e no comportamento um certo mistério! Era o típico sujeito capaz de despertar emoções nos corações femininos. Por onde passava, sempre despertava desejos e paixões. Radicado no Vale do Paraíba, trabalhava no pequeno circo de rodeios rodando a região. Era um dos peões mais solicitados da companhia. Depois de cada apresentação noturna saia pela cidade, para abraçar umas loiras… e às vezes uma morena! Não raro amanhecia nos braços de uma das suas fãs!

Mariana, vinte e poucos anos, era uma mulher bonita, fogosa, carinhosa, sonhadora, dona do próprio nariz embora a vida não fosse um mar de rosas. Apesar de madura, tinha um espírito aventureiro e acreditava em príncipe encantado.

Certo dia o príncipe apareceu na cidade … Em um circo de rodeios! Sem pensar muito nas consequências Mariana se deixou levar pelos encantos de Beto Cowboy. Amanheceram debaixo do mesmo lençol. No dia seguinte, após meia dúzia de juras de amor eterno e promessas de que voltaria para ela, Beto Cowboy baixou lona e pegou a estrada. As juras? Ah, as juras foram sopradas pelo vento e se perderam ao longo do tempo.

A noite de amor de Beto Cowboy & Mariana, no entanto, ainda que tardio, deu fruto. Chegou nove meses depois… Uma bela menina mais linda do que a mãe.

O mundo e o circo têm duas coisas em comum: ambos são redondos e dão muitas ‘voltas’!

Quinze anos depois, numa dessas voltas que o mundo dá, e o circo também, Beto Cowboy levantou lona outra vez em Santa Rita do Sapucaí! Ao saber que tinha uma filha adolescente, quis conhecê-la. A emoção de conhecer um ‘pedacinho’ seu, abalou seus alicerces. Mais maduro e calejado, o peão pensou em abandonar o picadeiro e criar raízes na cidade.

A ferida no peito de Mariana havia cicatrizado. A presença do príncipe, agora mais maduro, mais discreto e mais charmoso, reacendeu a antiga paixão. Dois dias depois o circo baixou lona outra vez e partiu. Desta vez levava um peão a menos. Beto Cowboy ficou nos braços de Mariana. Juntaram os cobertores.

Beto Cowboy não teve dificuldades para arrumar meios de subsistência. Homem forte, saudável, desincumbia-se de qualquer tarefa que não exigisse diploma técnico ou universitário. Parecia que depois de anos e anos de vida (errante), sem nem um passarinho para tratar, finalmente ele iria criar raízes – em Santa Rita do Sapucaí.

As atividades do dia a dia, embora fossem dignas, prazerosas e rendessem o pão na mesa… não rendiam aplausos. Beto Cowboy começou a ficar acabrunhado. Mariana lhe dava tudo que uma mulher bonita e fogosa poderia lhe dar. No entanto, a rotina não anda junto com a fantasia, com a poesia… Sem poesia a vida a dois perde um pouco do brilho, vai ficando opaca. Além do mais, o artista não vive sem aplausos!

Beto Cowboy juntou a tralha.

As discussões foram curtas e breves… Houve choros e juras de amor… Mas nada amoleceu o coração cigano do cowboy. E ele pegou a estrada…

Não houve atritos, não houve pé-na-porta, não houve barraco… Mas Mariana ficou muito ferida!

Beto Cowboy saiu da vida de Mariana… mas não saiu do seu coração! Coração ferido… de mulher abandonada! Duas vezes abandonada…

O tempo, remédio para todos os males, passou. Parecia ter curado as feridas…

O grande e histórico Rio Paraíba do Sul continuou descendo, ora lento, ora rápido em direção ao mar.

Certo dia o circo recebeu três carrancudos clientes muito antes da hora do show. Queriam conhecer Beto Cowboy. Quando ele se identificou, um dos visitantes sacou da algibeira um papel timbrado: era uma ‘carta branca’ do ‘homem da capa preta’ da Comarca de Santa Rita do Sapucaí! Após ler parcimoniosamente o “mandamus”, o homem da lei estendeu um par de pulseiras de pratas e disse aquelas duas palavrinhas que fazem gelar a espinha de qualquer cidadão:

– “Teje Preso”

– Preso?! Mas por quê? – quis saber o patrão do peão.

– Estupro da própria filha. É o que está aqui no Mandado – informou o policial.

No crepúsculo daquele mesmo dia Beto Cowboy foi conhecer, por dentro, o “Hotel Recanto das Margaridas”!

A recepção não foi das melhores…

Pela ‘lei social’ – leia-se Código Penal – o crime de estupro custa ao estuprador de 6 a 10 anos de liberdade… ou de estadia gratuita no hotel do contribuinte. Pela lei dos ‘manos’, ou dos ‘irmãos de caminhada’, a pena pode custar mais. Além da segregação imediata do convívio com os demais presos, pode custar um braço, uma perna, algumas costelas e, na maioria das vezes, custa a vida!

Quando chegamos para dar apoio ao ‘banho de sol’ naquela segunda-feira, o carcereiro me disse que havia um preso no ‘seguro’, com algumas costelas quebradas. Era Beto Cowboy! A pancadaria havia acontecido na virada da noite se sexta-feira. Tão logo o novo hospede fez o ‘check in’ no famoso hotel – Presidio Modelo do Sul de Minas – inaugurado em abril de 99, as ‘terezas’ começaram a circular pelos sombrios corredores, levando e trazendo ‘pipas’… Em poucos minutos a cadeia toda sabia que o tal cowboy havia assinado um 213, crime que, segundo a lei do cárcere, exige justiça sumária.

Nas primeiras horas da noite os ‘justiceiros de garotinhas’ estupradas apenas espalharam o terror.

Quando as luzes da meia noite se apagaram, Beto Cowboy entrou no borralho! Teve sorte… foram apenas algumas costelas quebradas e um deslocamento de clavícula! O mais difícil foi aguentar essas dores durante mais de 48 horas no chão frio e escuro do ‘seguro’… sem uma novalgina sequer!

A clavícula, eu e a doutora Tatiana, usando um lençol, puxando cada um de um lado e um forte tranco, colocamos no lugar. E Beto Cowboy voltou sem dores físicas para o famoso hotel.

As fraturas cicatrizaram com carinhos e afagos de uma ‘enfermeira’ pra lá de especial!

Dois dias depois conheci Mariana. No início da tarde, quando cheguei para o apoio e triagem às visitas de presos, Mariana estava lá… Era a primeira da fila! Não parecia ter mágoa do estuprador. Pelo contrário… Parecia ter saudade, muita saudade! Nas semanas seguintes Mariana foi sempre a primeira da fila para visitar o… “estuprador de estimação”!

O detalhe dessa história é que… Beto Cowboy NÃO cometeu estupro contra a filha!

Acusá-lo de ter estuprado a filha, foi a maneira que Mariana encontrou para se vingar pelo segundo abandono ou… para trazer Beto Cowboy para perto dela!

Ceará e a greve de fome!

Ele parou de comer e de beber em protesto para ser preso na sua cidade natal!

Antiga Delegacia de Policia e Cadeia de Silvianópolis.

     Nove e meia de uma noite morna de verão de 1994. As duas crianças seguiam absortas pela estradinha, sob a luz parca da lua crescente que já se despedia no céu. De repente, um susto! Voltaram correndo e gritando na direção do casal de namorados que vinha logo atrás:

– Pedro, tem duas assombração perto da porteira – disse o rapazinho de oito anos.

– É… Eles assustaram a gente! – emendou esbaforida a garotinha de 5 anos.

Não havia motivos para tamanho susto. Mas estava lançada a semente da discórdia! Era preciso defender as crianças, irmãos da namoradinha, mesmo que fosse de assombrações! Pedro apertou o passo e no minuto seguinte chegou à porteira. Não eram assombrações! Eram apenas o José Ribamar, conhecido por Ceará e seu sobrinho Gesualdo. Os dois homens estavam sentados no barranco do outro lado da porteira, pitando um palheiro, enquanto esperavam um morador do bairro para tratar de negócios. Tal morador bem como Pedro, a namoradinha e as crianças estavam numa novena não longe dali e deveriam passar pela porteira. A discussão entre Pedro e os dois ‘assustadores’ de crianças indefesas foi inevitável. Na presença da namorada, Pedro ficou mais valente do que era necessário. Em poucos minutos a discussão entrou em ‘vias de fato’ e… culminou com os fatos!

Ceará e o jovem sobrinho, moradores do bairro Jardim Yara em Pouso Alegre, tocavam uma pequena lavoura encravada no pé da serra do bairro dos Fernandes. Era ali que passavam os dias vivendo no rancho e só voltavam para casa no final de semana. Por isso, quando saiam do rancho à noite, Ceará sempre levava na cinta um facão!  Em meio à discussão com Pedro, o facão de Ceará foi parar na cabeça do futuro cunhado das crianças assustadas! As pessoas que saíram da novena e vinham logo atrás, evitaram que tanto Pedro quanto Ceará perdessem de vez a cabeça!

Na manhã seguinte ao imbróglio, sentei Ceará e seu sobrinho no piano da Delegacia de Polícia de Silvianópolis, onde eu trabalhava – também – como escrivão. Em 1994 ainda não existia a famigerada Lei 9.099/95. Portanto, o artigo 129 do CP ainda dava cana! Ainda mandava seus infratores para o hotel do contribuinte. Ceará, com seus quarenta e tantos anos, pegou 120 dias de xilindró. Seu sobrinho, de 19 anos, pegou 90. Como foram presos em flagrante, desde a noite do destempero passaram a se hospedar no “velho hotel” da rua Júlio Correia Beraldo, mesmo prédio da DP.

Antes de concluir o inquérito policial contra Ceará, puxei sua capivara. Não encontrei nada em Minas Gerais, onde ele morava, e nem no Estado do Ceará, que lhe deu o apelido! Mas encontrei no Estado do Piauí. Ceará devia um 121 na pequena Pio IX, onde ele nasceu e viveu até tropeçar nas malhas da lei. Antes de receber as pulseiras de prata, Ceará dobrou a serra do cajuru e veio vender redes de varandas no Sul de Minas, onde acabou fincando raízes. Depois da casa caída, Ceará contou-me que havia matado um ‘cabra da peste’ naquela cidade por causa de uma mariposa.

– A gente tava na zona… O cabra começou bater numa rapariga, eu chamei ele na chincha, danei com ele, mas não teve jeito… aí eu cravei a lapiana no bucho dele!

– A… mariposa era sua parente, sua conhecida?

– Parente não… de vez em quando a gente tinha uns aprochego, só isso… mas deixo cabra covarde bater em mulher não…  – justificou.

– Quando foi isso?

– Faz uns 15 anos.

Ao tomar conhecimento de que o seu fujão estava passando ‘férias’ conosco cá em terras sul-mineiras, como de praxe, o homem da capa preta da comarca de Pio IX pediu que o segurássemos por aqui, pois eles viriam busca-lo para ser julgado naquele Estado.

E o tempo foi passando. Um mês, dois meses, três meses… Ao cabo de 120 dias Ceará já não devia mais nem um centavo à justiça mineira. Mas continuou dando despesas ao contribuinte mineiro!

A justiça de qualquer dos estados brasileiros, nunca teve interesse e nunca se preocupou em buscar um condenado, ou ainda pior, um denunciado seu em outro Estado. Muito menos o Estado do Piauí, um dos mais pobres do Brasil.

Minas Gerais não tinha nenhum interesse em manter um hospede que já havia pago seu débito… Mas também não podia soltar o confesso assassino sabendo que ele estava na lista negra do Estado coirmão!

Diante da obnubilada conjuntura Ceará foi ficando, ficando, ficando… atrás das grades em Silvianópolis sem nada dever à justiça mineira! Inconformado, sem poder voltar para seu sitiozinho ao pé da serra nos Fernandes ou para sua casa no Jardim Yara, com o passar dos dias, das semanas, Ceará passou a cobrar uma solução para o seu caso – com razão. Que o soltassem! Ou que o transferissem para sua terra natal para ser julgado!

Numa segunda-feira quando o ‘bandeco’ pago pela prefeitura chegou, Ceará o dispensou. Começava naquele dia uma greve de fome! E os dias foram passando… e o grandão Ceará, alto, de braços fortes e musculosos se definhando, os olhos afundando, a palidez aumentando, e o aspecto de ‘cadáver vivo’ se aflorando. Uma semana depois, parecendo alguém saído de uma tumba de setecentos anos, Ceará parou também de beber agua!

No décimo dia sem comer e no terceiro sem beber, Ceará parecia pior do que se tivesse vindo do Ceará para Pouso Alegre… à pé!

No meio da tarde daquela quarta-feira recebi um telefonema da TV Alterosa. O repórter queria saber se era verdade que havia um preso ali há dez dias sem comer e sem beber. Confirmei. E deixei claro que o problema não era POLICIAL mas sim JUDICIAL.

Duas horas depois recebei outro telefonema. Esse era de pertinho, vinha ali da esquina, da secretaria criminal do Fórum Homero Brasil.

– Prepare o preso Ceará para viagem. O homem da capa determinou que ele seja transferido ainda hoje para sua cidade natal – disse a senhora Nilma, da Secretaria Criminal.

Duas horas depois Ceará, trôpego e pálido, mas com os olhos brilhantes, sentou-se no banco de trás do Palio da Policia Militar e seguiu para Belo Horizonte. Lá trocou de viatura e de escolta e foi prestar contas do seu crime à justiça do Piauí.

Nunca mais tive notícias do moço que exibiu e brandiu o facão grande na porteira do bairro dos Fernandes… Não sei quanto ele pagou por ter defendido a mariposa em Pio IX.

O detalhe que chama a atenção nessa história é que: um simples telefonema da imprensa para o Fórum da Comarca de Santana fez girar a emperrada máquina da justiça e em poucos minutos resolveu um problema que se arrastava há meses!

Mas como a imprensa ficou sabendo que havia um preso ilegal, virando esqueleto, no velho hotel da Júlio Correia Beraldo? Quem ligou para a TV naquele décimo dia de – justa – greve de fome?

‘Corto minha língua, mas nem no ‘pau de arara’ eu conto “quem fui”’!

Um policial na corda bamba!

O carro no qual ele viajava levava um quilo de maconha!

Trevo da Brasilinha, na Fernão Dias (foto ilustrativa, retirada do vídeo  “Como era a Rodovia Fernão Dias antes da duplicação”, no Pouso Alegre . Net

 

Doar sangue e contribuir para salvar uma vida, é um ato senão heroico, ao menos nobre. Talvez por isso, sempre que os hospitais ou bancos de sangue estão com o estoque muito baixo, apelam para instituições públicas tais como Corpo de Bombeiros, Policias Civil e Militar e quartel do exército, para reposição e são prontamente atendidos. Foi assim que me tornei doador de sangue. E por muitos anos pude sentir a prazerosa sensação de ser – quase – ‘herói’!

Além do sentimento altruísta de estar contribuindo gratuitamente para a saúde de uma pessoa – na maioria das vezes desconhecida; da gratidão dos parentes da pessoa beneficiada; do atendimento especialmente carinhoso dos funcionários do ‘banco de sangue’; daquele ‘lanchinho especial’ servido pela copeira; do olhar de orgulho das pessoas à sua volta, há um outro sentimento… O de “folga”! De não ter que trabalhar naquele dia! Sim, após a retirada de 500ml do precioso líquido, o doador precisa de repouso. Como as doações são agendadas sempre pela manhã o doador de sangue tem o resto do dia livre.

No quartel, embora fôssemos soldados – a maioria contra a vontade, pois o serviço militar é obrigatório – não estávamos interessados tanto na nobreza do ato, mas sim na folga inesperada e gratuita naquele dia. Por isso, sempre que o comandante da bateria solicitava a manifestação de cinco voluntários para doação de sangue no dia seguinte, vinte e cinco ou mais levantavam as mãos, rsrsrsrsrs… Eu era um dos primeiros!

Na polícia também comecei cedo a nobre carreira de doador de sangue! Antes mesmo de ser diplomado.

Era uma quinta feira de janeiro de 81. Antes de dispensar a “D8”, minha turma do curso de formação de detetives na ACADEPOL, o coordenador fez a clássica pergunta:

– Tem algum doador de sangue aqui!

Mal ele concluiu a pergunta eu já levantei a mão!

– Voce deverá estar em jejum no hospital da PC na Av. Carandaí, às 08:00h da manhã. Peça o comprovante de doação… e pode tirar o resto do dia de folga – orientou ele.

Tirar folga justamente na sexta-feira e poder voltar para casa um dia antes, depois de três semanas longe da família, era quase um sonho. Ficou melhor ainda quando cheguei à minha ‘república’, no Prado, ao pé da noite. Um ex-colega do exército, que eu não via desde que dera ‘baixa’, estava hospedado ali e voltaria para Pouso Alegre na manhã seguinte, ele e o motorista do pai. Melhor impossível! Eu nem precisaria pegar o ENSA às nove e meia da manhã para chegar em casa, com sorte, às seis da tarde. Melhor ainda, de carona, de ‘grátis’! Deus estava me recompensando pelas minhas boas ações de doador de sangue!

Às sete da manhã peguei o ônibus azul na esquina do Cine Amazonas. Às nove peguei o ônibus vermelho na Praça 7, de volta para a república. Poucos minutos depois minha singela mochila estava no banco de trás da Caravan verde do pai do meu amigo. Com aquele carrão, e um motorista maduro e experiente, antes das três da tarde dobraríamos a lombada do Clube de Campo Fernão Dias e eu pousaria meus olhos saudosos na minha querida Pouso Alegre. Bendito o dia em que me tornei doador de sangue, pensava eu!

Mas havia pedras no caminho! Na verdade… erva!

Meu ex-colega do 14º GAC, vizinho de armário e de beliche, era consumidor de um produto até então especial, que não se encontrava a qualquer hora em qualquer lugar naquela época. Hoje, em cada esquina da Baixada do Mandu em Pouso Alegre, você encontra esse produto… Na verdade, você nem precisa descer à baixada… Basta um ‘torpedinho’! Em quinze minutos um motoboy entrega a encomenda na sua casa, na porta da sua escola, ou até mesmo no seu local de trabalho. Tempos atrás um assessor da câmara municipal de Pouso Alegre comprava o tal produto através do Cel. corporativo da Casa de Leis! No alvorecer da década de 80, esse produto, natural e perfumado, além de proibido, era raro e caro… mesmo na capital! Por isso a encomenda do meu amigo demorou para chegar! E o tempo foi passando… Dez horas, onze horas, onze e meia… meio-diiiiiia!…

Eu já começava a me arrepender da carona! Se tivesse pego o Impala às dez e meia da manhã na rodoviária, chegaria ao Fernandão em Pouso Alegre antes da cinco da tarde. Mas era um saco viajar no Impala lotado ouvindo a tagarelice cantada da baianada que descia do Nordeste para S.P. Além do mais, o Impala fazia a linha Teixeira de Freitas-BA/São Paulo, não entrava na cidade. Eu teria que descer no trevo da Brasilinha e descolar uma carona para casa… E eu nunca foi bom de carona! Meu amigo ao menos me deixaria na porta de casa.

À uma da tarde, quando eu já pensava em descer para a rodoviária a fim de pegar o ENSA das 15:30h, finalmente um golzinho pardo parou sorrateiro na esquina. Depois de ter certeza de que não era uma cilada dos ‘homi’, o motorista se aproximou do portão da república e entregou a encomenda.

Às 13:15h, depois de consumir o produto proibido, finalmente pegamos a estrada. Tanto meu amigo ex-soldado quanto seu motorista, exalavam o cheiro adocicado da ‘erva’! Fizeram duas viagens … uma pela perigosa Fernão Dias esburacada… e outra pelas estrelas, no rabo do cometa!

Quatro e trinta e cinco da tarde avistei Pouso Alegre. Minutos depois apeei da Caravan na porta de casa no bairro da Saúde. Não sei como o motorista conseguiu fazer BH/Pouso Alegre – 390 km – em quatro horas e vinte minutos pela Fernão Dias de pista única! Com certeza a ‘erva marvada’ ajudou!

Depois desse fato, fiquei muitos anos sem ver meu ex-colega de caserna. Certo dia, já aposentado na policia mas frequentando regularmente a delegacia como jornalista policial, voltei a encontrá-lo por lá. Conversamos como velhos amigos. Falamos da caserna, do destino que um ou outro amigo havia tomado depois da ‘baixa’. Ele contou-me que havia viajado – literalmente – para outro continente e que estava de volta à cidade. De fato, ele se tornara um discreto, porém sério e honrado cidadão. Sobriamente vestido, sem nenhum débito com a lei. Mais tarde fomos vizinhos de bairro, nos cumprimentávamos cordialmente sempre que cruzávamos na rua, mas nunca tocamos naquela quase alucinada viagem BH/Pouso Alegre. Eu nunca soube o que ele fez com a antiga paixão que nutria pela ‘erva marvada’ quando era jovem.

Agora que você chegou até aqui, engate uma ré!

Volte pela mesma estrada 40 anos no tempo…

Imagine se naquela vertiginosa viagem pela esburacada Fernão Dias, tivéssemos sido parados numa blitz dos homens da lei!

Imagine o que aconteceria se os patrulheiros da estrada tivessem encontrado um tabletão de quase um quilo de canabis sativa de Linneu dentro da Caravan!…

Receber as pulseiras de prata e assinar o artigo 12 da lei 6368, seria apenas um detalhe!…

Depois de doar meio litro de sangue para um deputado na capital,  e pegar uma carona para chegar mais cedo em casa, minha viagem terminaria no Velho Hotel da Silvestre Ferraz!

Naquele dia o jovem acadêmico de polícia, aspirante a detetive, conheceria o lado de dentro de uma cela… e encerraria precocemente sua carreira policial, antes mesmo de concluir o curso e receber o diploma!

Tudo por conta de uma carona com um amigo…

Policia Civil fecha a ‘Kasa 51’ em Pouso Alegre

A boate era usada para lavagem de dinheiro do tráfico de drogas.

A operação desencadeada na manhã desta segunda-feira, 30, prendeu dois envolvidos e apreendeu carros de luxo, incluindo um Range Rover Evoque, um Mercedes e um Jaguar. Os bens adquiridos, segundo a investigação, com dinheiro ilícito, são avaliados em mais de cinco milhões de reais. Mas é apenas a aponta do iceberg do que possui a quadrilha, avalia o delegado responsável pela operação.

A investigação do DEOESP da capital, começou há cerca de um ano, quando a policia paulista informou a polícia mineira acerca das atividades criminosas de Joao Vitor Albieiro e de sua esposa Nathalia Alessandra, signatários de dois mandados de prisão em São Paulo e Santa Catarina. Naquela ocasião, ao perceberem a polícia paulista fungando nos seus cangotes, João Vitor e a esposa dobraram a serra do cajuru e foram comer pão de queijo em Belo Horizonte. Abaixada a poeira, João Vitor e Nathalia desceram para o Sul de Minas, onde ele se apresentou à sociedade local como empresário.

Na progressista cidade sul mineira, uma das melhores do país para se empreender, João Vitor adotou novo nome: Jonathas, e adquiriu a boate ‘Kaza 51’, no centro da cidade. Mas foi o cheiro de peixe que atraiu a atenção e levou os homens da lei da capital mineira para o sul de minas… a “Big Shark”, loja montada pelo traficante para lavar dinheiro do tráfico – aliás, nome muito sugestivo!

De fato, João Vitor não é “peixe pequeno”! O moço de apenas 28 anos, é figurinha fácil no álbum da polícia interestadual. Foi preso em 2016 por roubo, processado em Santa Catarina em 2018 por tráfico. Segundo a investigação ora em curso, sua quadrilha tem ramificações no estado do Amazonas, por onde entra parte das remessas de drogas que são distribuídas por ele em São Paulo e Minas.

Durante a investigação, Rubens, um dos supostos membros da quadrilha, foi preso ainda no estado do Pará transportando uma tonelada de ‘erva marvada’.

Ainda segundo o delegado Thiago Machado, João Vitor Albieiro levava vida de nababo em Pouso Alegre. Vivia em um condomínio de alto padrão e circulava no meio social se passando por empresário e desfilando em carros de luxo! No entanto, para evitar holofotes da polícia, os bens estão registrados quase todos em nome de laranjas e de familiares, inclusive a sogra e avó da esposa, as quais respondem pelo crime de lavagem de dinheiro. Segundo a investigação, tais bens, atribuídos ao falso empresário do ramo noturno e de ‘tubarão grande’, estão espalhados por Cabreúva, Itupeva, Jundiaí, Bertioga, todos no estado de São Paulo, e agora Pouso Alegre-MG.

Dos 09 mandados de prisão, cinco investigados receberam as pulseiras de prata da lei. Dois deles – Fábio Camilo e Rafael Pessoa Romano – presos em Pouso Alegre, foram se hospedar no Hotel do Juquinha.

João Vitor, a esposa Nathalia e Julio, o braço direito do bando, conseguiram dobrar a serra do cajuru!

A demora da justiça em analisar e expedir os respectivos ‘mandamus’ solicitados pelo paladino da lei, acabou dando refresco para o traficante e parte do seu bando. João Vitor e a esposa Nathalia Alessandra e o corretor de imóveis e braço direito do bando, Julio Marangoni, mais uma vez conseguiram dobrar a serra do cajuru… mas a batata está assando pra eles!

 

A advogada e o “Crime da Mala”

     Dois dias depois de matar sua benfeitora, o assassino voltou ao local do crime, colocou o corpo na mala e jogou na beira do rio!

Filho de família simples, correta e ordeira do interior de Minas, Ed, 38 anos, tornou-se  ovelha negra…

     A noite quente de final de janeiro de 2018 era ainda criança quando o rapaz levantou-se do chão e se atirou no sofá. Estava ofegante. Acabara de fazer muito esforço físico. A coroa dera mais trabalho do que ele esperava. Mas agora estava ali, estendida aos seu pés no tapete da sala. Depois de recuperar o fôlego, reclamou com a mulher:

– “Não precisava nada disso! Custava ter me dado cinquenta reais?” – disse ele fingindo censura.

A mulher continuou muda, imóvel, estendida no chão. E jamais responderia! Jamais se moveria! O único membro que ela moveria seria o dedo polegar… dali a quarenta e oito! Mas só moveria diante de um tosco alicate… pois estava morta, completamente morta! O fio de carregador de celular que obstruíra a passagem de oxigênio pela garganta ainda estava envolto no seu pescoço. O assassino havia enlaçado e mantido o fio em volta do pescoço dela até que ela parasse de respirar. A carteira dela, objeto da luta curta e desigual, estava jogada a um canto da sala. Indiferente ao corpo ainda quente estendido no chão, o rapaz se levantou do sofá e vasculhou freneticamente a carteira.

– “Que droga! Não tem dinheiro! Só papeis e cartões de banco”! – praguejou ele.

Despejou todo o conteúdo da carteira sobre o sofá… precisava encontrar a senha do cartão. Antes de revirar o quarto e outros possíveis locais da casa onde a advogada poderia esconder seu dinheiro, o assassino deu um pequeno empurrão com o pé, no ombro ela, para ter certeza de que ela estava morta. O corpo ainda morno e flácido apenas balançou como uma gelatina, mas continuou inerte. Durante meia hora o assassino revirou a casa da advogada em busca de dinheiro. Mas nada encontrou. Sentou-se desacorçoado outra vez no sofá da sala e olhou com raiva para o cadáver à sua frente. Soltou uma praga qualquer.

– “Toda velha que mora sozinha guarda dinheiro em casa… onde está o dinheiro? Agora não serve de nada pra você”! – pensou alto o assassino de ocasião.

O corpo continuou inerte e mudo no chão morno da sala. Apesar das morte rápida, abrupta e violenta causada pela asfixia, seu rosto estava sereno. Excetuando os longos cabelos ruivos revoltos durante a luta desesperada pela vida, o cadáver da advogada estava bem apresentável. O assassino teve pena. Arrumou-lhe uma mecha de cabelo que cobria parcialmente seu rosto e ficou por uns instantes a contemplá-la. Lembrou-se das outras vezes que batera na porta da sua casa nos últimos meses. A primeira foi para pedir comida – ganhou um pacote de macarrão e um litro de óleo. A segunda vez ofereceu para carpir o quintal da advogada. Enquanto carpia, a mulher ficou na janela conversando com ele, ouvindo – a parte sem censura das – suas histórias de vida. Naquele dia ganhou cinquenta reais. Mais do que isso, ganhou a confiança da mulher, confiança para abrir-lhe a porta naquele início de noite e dar-lhe um prato de comida.

Era a quinta vez que voltava à casa de Luzia em busca de pequenos adjutórios, a primeira no período noturno. Não tivera escolha. Uma hora atrás pedalava sua bicicleta velha, desalentado, feito barata tonta nas cercanias da Avenida Perimetral. Sentia uma angústia que não sabia de onde vinha – na verdade sabia. O peito doía, o estômago doía, a cabeça doía…  Só havia um remédio… uma pedra! Precisava urgentemente de uma pedra… uma pedra bege fedorenta! Para isso ele precisava de ‘derreal’! Mas ele não tinha dez reais na algibeira da bermuda. Poderia fazer uma troca na biqueira. Mas o que daria em troca? Ele só tinha a bicicleta velha. Rodou várias biqueiras da baixada do Mandu e ninguém quis pegar a magrela… ela não valia uma pedra! Foi aí que ele se lembrou da ‘tia boazinha’…

Apesar de a noite ainda ser uma criança, Luzia o atendeu ressabiada. No entanto, após ouvir suas chorumelas – entre elas, que não havia feito sequer uma refeição naquele dia – ela abriu a porta e o deixou entrar. O atrito começou quando ele pediu e insistiu em dinheiro. Temerosa, percebendo que fora incauta, Luzia tentou correr para porta! Ed tentou impedir que ela saísse e acusasse sua presença. E travou-se a batalha de vida ou morte… por um punhado de reais para comprar pedra bege fedorenta!

O macambúzio desfecho do encontro com a advogada e benfeitora não abalou os sentimentos e nem os desejos de Ed. Ele continuou sentindo aquela fissura, aquele mal-estar, aquela necessidade de afagar o cérebro… aquela vontade louca, indefinível de queimar uma pedra! Seu cérebro precisava ouvir o fedorento crepitar do crack, crack, crack no fundo de uma latinha amassada, de aspirar a fumaça da piteira improvisada e sentir o efeito da farinha do capeta misturada com outras porcarias! Para isso ele precisava de… dim-dim, ‘Money’, bufunfa, ‘faz-me rir’, dez, ao menos dez ‘reial’!

Depois de longos minutos revirando a casa da advogada em busca de dinheiro, sem sucesso, Ed deixou o macabro local e foi direto ao caixa eletrônico mais próximo levando apenas o cartão bancário roubado. Não conseguiu fazer o tão desejado saque. Não conseguiu o dinheiro que precisava para comprar a droga.

Mas deixou rastros…

O local do fútil e inútil crime fica num beco discreto, com duas ruelas apertadas formando uma cruz, escondido no átrio direito do coração de Pouso Alegre, frequentado apenas pelos moradores locais e entregadores em domicílio ou de correspondência. Quarenta e oito horas depois Ed voltou ao local do crime. Ele não sabia exatamente por que… mas voltou!

Talvez tenha voltado apenas para se cumprir o velho jargão da psiquiatria policialesca que diz que “o criminoso sempre volta à cena do crime”!

Talvez tenha voltado atraído pelo espírito da pobre Luzia, que exigia dele algum destino para seu corpo!

Talvez tenha voltado influenciado pelos espíritos trevosos que costumam assediar os malfeitores… para induzi-lo a outras maldades!

Talvez tenha sido arrastado pela possibilidade de lucro fácil. Sabia que não encontraria dinheiro. Mas tudo que havia lá poderia ser transformado em dinheiro. Os infindáveis ‘intrujões’ da baixada do Mandú, ou os próprios fornecedores da pedra bege fedorenta, à base de cinco por um, fazem qualquer negócio, sem perguntar a procedência do objeto que já sabem de tratar de ‘rês furtiva’.

A quarta opção parece ser a mais verossímil!

Antes de entrar, Ed sondou sorrateiramente a casa da advogada. Estava como ele deixara na noite anterior: em silencio! Silencioso também o assassino girou a fechadura da porta que ficara apenas cerrada, empurrou a porta lentamente e deparou com sua benfeitora. Luzia estava exatamente como ela a deixara na noite anterior! inerte estendida no chão! Seu crime continuava em segredo. A única diferença é que agora Luzia parecia um cadáver. Cadáver exposto no tapete da sala há 48 horas!

Na noite do crime, mesmo sem conseguir sacar o dinheiro da conta da advogada, Ed conseguiu enganar seu cérebro. A fissura havia passado. Há duas noites havia matado a pobre mulher num momento de confusão mental, confusão causada pela abstinência da droga. Naquele momento ele não tinha necessidade de drogas, mas, no futuro, poderia ter. Foi aí que a quarta opção apareceu clara e fria na sua mente! Ele sabia que a aposentada quase não tinha parentes, e poucos contatos com eles. Sabia também que Luzia era o tipo de pessoa que se relacionava com os vizinhos do ‘portão para fora’, restrito a ‘bom dia, ‘boa tarde’, ou seja: uma vida social discreta, quase invisível. Certamente ninguém perceberia sua ausência. Por isso resolveu se apossar de todos os bens moveis de Luzia. O limpador de quintal resolveu fazer uma ‘limpeza’ geral dentro da casa. Nos dias seguintes, à prestação, os moveis da advogada mudaram de dono. Levados por carroças, foram parar nas bocas de fumo e lojas de ‘intrujões’ na baixada do Mandú a menos de um quilometro dali. Um vizinho chegou a questionar Ed. Mas ele tinha uma resposta pronta e convincente.

– “Minha tia foi morar no asilo. Ela me pediu para vender os moveis dela”! – respondeu o rapaz, sem pestanejar. Aliás, ele contrariou o velho ditado de que “quem não deve não teme”. Ele devia e no entanto não temeu… e nem tremeu!

Mas afinal, e o corpo da advogada e professora aposentada Luzia? Ele continuou estendido no chão da sala de sua casa por vários dias atrapalhando Ed e seus ajudantes de carroça a arrastar os móveis? Foi enterrado no fundo do seu quintal, aquele mesmo quintal que meses antes abrira a porta para o assassino?

Não.

A maioria dos crimes, frios ou brutais, não são planejados. Eles acontecem por três motivos: por estupidez e descontrole emocional; por circunstâncias do momento e; por ausência de sensibilidade humana. Logo, acabam vindo à tona. Tivesse Ed enterrado o corpo de Luzia no seu quintal, seu crime jamais seria descoberto. Mas ele não tinha nem coragem e nem inteligência para tal. Por isso escolheu uma opção mais simplista – e arriscada! Ou quem sabe, na esperança de ver o crime descoberto, o espírito de Luzia tenha induzido o assassino a sair na rua carregando o corpo. E foi o que ele fez! Ao decidir tomar posse dos bens de Luzia, de porteira fechada, Ed pegou seu corpo, colocou numa mala, colocou a mala na garupa da sua bicicleta – aquela que não valia uma pedra de crack – e rumou para a baixada do Mandú. A mala foi deixada numa restinga de mata ciliar na beira do velho rio!

Antes de colocar os bens de Luzia numa ‘marika’ e atear fogo, Ed ainda pensou em movimentar sua conta bancária, mesmo sem senhas. Para isso precisaria das digitais da morta. Na noite seguinte à desova, três dias depois de tê-la matado, Ed voltou à beira do rio Mandú, abriu a mala e cortou com um alicate os polegares do cadáver! Usando os sinais biométricos dos dedos em putrefação, tentou mais uma vez acessar o caixa eletrônico na cabine do terminal rodoviário, a poucos metros de onde jazia a macambúzia mala com o restante do corpo!

O crime da advogada transportada numa mala e desovada na beira do rio, sem os polegares superiores, foi descoberto quatro semanas depois. Seu sumiço, no entanto, foi percebido bem antes. Uma amiga dela foi a primeira que notou seu silencio, a falta de respostas aos seus telefonemas. Amiga virtual e leitora do Blog do Airton Chips, ela manifestou sua preocupação. Foi aconselhada a levar o fato à polícia, ou aos parentes de Luzia. No dia 07 de fevereiro uma sobrinha comunicou o desaparecimento da advogada e professora aposentada, de 67 anos, à polícia civil.

Dias depois os detetives descobriam que os cartões bancários de Luzia haviam visitado caixas eletrônicos… sem a sua presença! Depois de visitar os asilos da cidade, os detetives passaram a seguir os rastros das carroças que dias antes haviam desfilado pelo beco onde morava a advogada. Não tardou chegaram ao muquifo de Ed, o ‘suspeito número um’, nas rebarbas insalubres da baixada do Mandú. Ed não estava em casa para a entrevista e rotina. Além do mais, eram ainda investigações e ele não estava em estado de flagrância, portanto não poderia receber as pulseiras de prata, por isso não o procuraram mais.

O ‘mandamus’ do homem da capa preta autorizando a prisão temporária do suspeito pelo sumiço de Luzia, foi assinado na sexta-feira, 23 de fevereiro, exatamente quatro semanas depois de ela ter sido asfixiada por ele na sala de sua casa! Mandados de prisão autorizados pelo homem da capa preta e liberados para a polícia na sexta-feira, costumam dar pelo menos dois dias de liberdade ao desfavorecido. A menos que ele cometa outro crime e receba as pulseiras de prata no final de semana! Esse foi o caso do ingrato e incauto assassino da advogada. Ele foi preso por outro crime!

No final da madrugada do sábado, 24, um gatuno sorrateiro entrou, sem convite, nas dependências da ‘Casa Dia’. Embora seja viciado em drogas e a Casa Dia se dedique a acolher, curar viciados e recuperá-los, o gatuno não pretendia se curar… Pelo contrário, pretendia conseguir recursos para alimentar seu vício. Ao acordar casualmente no meio da madrugada um interno viu o vulto sorrateiro se esgueirando pela comunidade com uma faca na mão, e soltou os cachorros… literalmente! Os cães colocaram o gatuno para correr, evitando que ele levasse a rês furtiva, a qual já havia separado para roubar.

Ganha um doce de batata doce caramelado quem adivinhar o nome do gatuno que tentou furtar a Casa Dia! Ganhou! Isso mesmo… o nome dele é Ed! Ed, o assassino da advogada.

Para confirmar o velho jargão policialesco de ‘Sir’ Arthur Conan Doyle – criador de Sherlock Holmes – ou, talvez, – mais uma vez – induzido pelo espírito da advogada em busca de justiça, o ‘criminoso voltou à cena do crime’! Na verdade, ele nem foi embora! Ficou rondando nas imediações. A tentativa de furto na entidade que vive de doações revoltou os internos e moradores do bairro. No início da tarde, ao ser visto rondando novamente a Casa Dia, populares o pegaram, deram-lhe uma surra e o entregaram para a polícia. Entregaram respirando, pois não sabiam o que ele havia feito no ‘verão passado’, quero dizer, no mês passado! Ironicamente as pulseiras de prata dos homens da lei salvaram sua vida!

A prisão de Ed, realizada por populares no final de semana, poupou o trabalho dos policiais da delegacia de homicídios. No início da semana Ed, até então apenas personagem das investigações policiais, sentou-se ao piano do delegado de Homicídios e assinou o 121. Desta vez, ‘induzido’ apenas pelo paladino da lei e seus pupilos, ele voltou mais uma vez ao local ‘dos’ crimes de latrocínio, ocultação e vilipendio de cadáver. Contra sua vontade ele contou todos os detalhes do funesto crime! Desde então o autor do ‘crime da mala’ de Pouso Alegre está hospedado no Hotel do Juquinha.

O Código Penal diz que Ed tem ‘direito’ a hospedagem gratuita por 30 anos. Isso, no entanto, vai depender de duas benevolências! A da justiça brasileira, prevista na Lei de Execuções Penais, que diz que ele tem direito a saidinhas temporárias e redução da pena para se ressocializar! E a benevolência dos ‘irmãos de caminhada’, que, na cadeia, costumam ter suas próprias leis para quem comete crimes contra crianças e idosos!

O tempo dirá quantos anos o assassino que interrompeu a respiração da advogada ficará sem respirar o benfazejo ar da liberdade!

Eu poderia…

… Estar curtindo mensagens fúteis no meu face…

Eu poderia estar compartilhando fake News no WhatsApp…

Eu poderia estar assistindo mais um espetáculo circense (de baixo nível) da CPI da pandemia…

Eu poderia estar pedalando na orla da lagoa da Pampulha ou do Mineirão…

Eu poderia estar falando de esporte, de polícia ou de política e ‘apagando incêndio’ através do programa ‘Tudo Junto & Misturado’ da Super Radio 90,9FM, como faço toda quinta-feira…

Eu poderia estar lendo um livro (tenho vários que ainda não tive tempo sequer de abrir)…

Eu poderia estar fazendo propaganda dos meus livros “Meninos que vi crescer” e “Quem matou o suicida”…

Eu poderia estar escrevendo mais um capítulo do meu livro “Cachorradas da minha vida”…

… Ou poderia, simplesmente, estar tomando o gostoso sol de inverno no meu jardim!…

… Mas preferi fazer essa singela postagem!

     O ultimo sábado 26 de junho, foi lembrado!?!?! como “Dia Internacional de Combate às Drogas”. A data foi data estipulada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Resolução nº 42/112, de 7 de dezembro de 1987, como um dia especial de combate às drogas, criado por recomendação da Conferência Internacional sobre o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas.

     Na ocasião o MJ divulgou um balanço sobre as apreensões de drogas feitas pela PRF no período de 26 de junho de 2020 a 16 de junho de 2021.

     Foram apreendidas:

* 633 toneladas de ‘erva marvada’… também conhecida como maconha.

* 31 toneladas de ‘farinha do capeta’… também conhecida como cocaína.

* 4.638 pessoas envolvidas com o tráfico receberam as pulseiras de prata e foram sentar-se ao piano no paladino da lei nas DPs Brasil afora.

     “Abrace seu filho… Não deixe que as drogas o abracem”!

Acabou a caçada ao criminoso

Sargento troca tiros e mata estuprador na beira do rio!

Sargento Campos em 2009: – Foi ali no fundo perto da restinga, onde está hoje esse milharal, que eu troquei tiros com o bandido!

Passava de cinco e meia da tarde. O sol de fim de inverno havia acabado de se deitar atrás da restinga de mata ciliar. Estavam numa capoeira a poucos metros do rio cujas águas barrentas desciam serenas naquele trecho. Apesar da agitação do dia e especialmente da tensão daquele momento, os dois homens começaram sentir frio. Os agasalhos haviam ficado na viatura, a cerca de um quilômetro dali, na saída da cidade.

– Soldado, daqui a poucos minutos vai escurecer. Melhor suspendermos a caçada por hoje. Vá buscar a viatura. Vou ficar esperando você aqui… eu estou muito cansado – disse o sargento.

Ao ver seu subordinado atravessar a cerca de arame farpado e sair na estradinha rural do bairro Pouso do Campo, a menos de cinquenta metros dele, e seguir para a cidade, o sargento sentou-se ao chão numa pequena saliência do terreno sobre o capim batido pelo gado. Estava cansado, muito cansado. Havia saído de casa para uma patrulha florestal no município de Bom Repouso, a mais de cem quilômetros dali. Findada a operação, voltara para Pouso Alegre e subira de barco o Rio Sapucaí, já no final da tarde. Não precisava fazer isso. Já trabalhara mais de oito horas naquele dia. Mas havia dezenas de policiais colegas seus embrenhados no mato, numa arriscada caçada humana tentando prender o famigerado estuprador! O denodo policial não o deixaria descansar… E fora se juntar aos demais colegas na caçada.

Ligeiramente protegido pela saliência do terreno, sentou-se atrás de uma moita de assa-peixe. Não fosse o perigo e a tensão, dormiria! Mas era preciso ficar atento. O bandido poderia estar muito longe dali… mas poderia surgir de trás de uma moita a qualquer momento. Só a natureza falava. O silencio do crepúsculo foi cortado pelo canto triste de um Curiango bem perto do rio. De repente, apesar da sinfonia interminável dos grilos, o experiente policial ouviu o leve quebrar de galhos secos! Não estava mais só! Sem sair da saliência do terreno onde estava encostado, virou o corpo, apontou o trabuco na direção de onde ouvira o barulho e ficou atento. Poderia ser uma capivara, um lobo, um gato, ou a sua caça… Fernando da Gata! O coração bateu mais acelerado. Àquela hora, a poucos metros da mata ciliar, parecia ainda mais escuro… todos os gatos eram pardos! Aguçou bem os ouvidos e arregalou os olhos. Não tardou surgiu um vulto apalpando o terreno. Não dava para distinguir quem, mas era uma pessoa… Só podia ser o bandido! Apontou o trabuco para o vulto a menos de vinte metros e deu a ordem:

– “Quem está aí! Responda ou eu atiro”!

O vulto estacou… mas não respondeu. Silencio total. Os grilos interromperam a cantoria. Um casal de sapos que trocavam ameaças – vou, não vou, vou, não vou – na beira do barranco do rio, também silenciou. O curiango que estava mais próximo bateu asas, levantou voo rasteiro e sumiu na noite.

“Percebi que o vulto fez um pequeno movimento à direita, talvez tenha movido apenas o braço. Antes que eu decifrasse o movimento, ouvi um disparo e em seguida uma pequena chama vermelha na minha direção”.

Antes de ouvir o segundo tiro, o policial puxou o gatilho apontando para o vulto! Ouviu-se um baque surdo. Em meio à frugal fumaça, pareceu ter visto um rápido movimento do vulto. Deu mais um disparo de advertência, sem resposta. Depois do bater de asas de alguns pássaros que dormiam na restinga, silencio total! A noite demorou segundos para cair, embora os segundos demorassem uma eternidade para passar! O sargento não tinha certeza se havia acertado o vulto, se ele havia morrido ou se havia fugido. Com os olhos de lince, tentando ver algum movimento no escuro, optou pela imobilidade sob a proteção da vala e do assa-peixe à espera de reforços. Foram minutos eternos até que avistou os faróis da viatura dançando na estrada, se aproximando. Só deixou a trincheira quando o capitão, os soldados e dois civis chegaram com cães e lanternas.

No local onde o vulto recebeu o único tiro, a cerca de vinte metros à perpendicular do sargento, havia capim amassado, denotando que ele estivera ali. Sobre o capim havia um revólver calibre 38 niquelado, com manchas de sangue, com o qual ele havia disparado na direção do policial. Horas mais tarde, depois de intensa varredura, encontraram o corpo do bandido. Fernando da Gata, com um único ferimento no peito, estava numa moita de capim nas imediações do local do duelo.

Fernando “da Gata ” Soares Pereira, 21, figurinha fácil no álbum da polícia desde o final da menoridade penal, tinha uma capivara do tamanho do Rio Sapucaí – o qual ele atravessara a nado naquela sexta-feira, ou da extensão do Rio Jaguaribe no Ceará, onde ele cansou de brincar de ‘bandido & mocinho’ com a polícia local. De Russas desceu para São Paulo e de lá para o Sul de Minas, sempre com os homens da lei fungando nos seus calcanhares. Caçado ininterruptamente por dezenas de policiais mineiros durante mais de 48 horas, quis o destino que ele parasse na mira do Sargento Campos… numa capoeira de beira de rio, no crepúsculo de uma sexta-feira. Duelo sem alarde e sem testemunhas. Apenas dois tiros… um pra cá e outro pra lá! Um sem direção, cuja azeitona se cravou na terra que anos depois adubaria uma lavoura de milho! E outro certeiro, cujo projétil ainda quente penetrou no lado direito do peito do bandido, permitindo que ele corresse mais de cem metros, para morrer solitário, encoberto por uma moita de capim.

Sargento Campos e este cronista, em 2009, na DP de Santa Rita do Sapucaí, quando eu o levei ao local do duelo, 27 anos depois!

Sargento José Lucio Campos não tinha superpoderes, não usava cueca vermelha por cima do uniforme, não era super-herói! Era apenas um policial que, como a maioria, honra a farda que veste… e a instituição que paga seu salário. Um policial que toda manhã sai para o trabalho… e não sabe a hora que volta… se volta! Campos foi o policial certo, na hora certa, no lugar certo! E encerrou um ciclo de terror que assombrava o Sul de Minas naquele final de inverno de 1982.

Assim terminou a vida do assaltante e estuprador “Fernando da Gata”… mas não terminou sua história! Três semanas depois seu corpo – sem os dedos – foi recebido como herói na pequena Russas, no Ceará…