A advogada e o “Crime da Mala”

     Dois dias depois de matar sua benfeitora, o assassino voltou ao local do crime, colocou o corpo na mala e jogou na beira do rio!

Filho de família simples, correta e ordeira do interior de Minas, Ed, 38 anos, tornou-se  ovelha negra…

     A noite quente de final de janeiro de 2018 era ainda criança quando o rapaz levantou-se do chão e se atirou no sofá. Estava ofegante. Acabara de fazer muito esforço físico. A coroa dera mais trabalho do que ele esperava. Mas agora estava ali, estendida aos seu pés no tapete da sala. Depois de recuperar o fôlego, reclamou com a mulher:

– “Não precisava nada disso! Custava ter me dado cinquenta reais?” – disse ele fingindo censura.

A mulher continuou muda, imóvel, estendida no chão. E jamais responderia! Jamais se moveria! O único membro que ela moveria seria o dedo polegar… dali a quarenta e oito! Mas só moveria diante de um tosco alicate… pois estava morta, completamente morta! O fio de carregador de celular que obstruíra a passagem de oxigênio pela garganta ainda estava envolto no seu pescoço. O assassino havia enlaçado e mantido o fio em volta do pescoço dela até que ela parasse de respirar. A carteira dela, objeto da luta curta e desigual, estava jogada a um canto da sala. Indiferente ao corpo ainda quente estendido no chão, o rapaz se levantou do sofá e vasculhou freneticamente a carteira.

– “Que droga! Não tem dinheiro! Só papeis e cartões de banco”! – praguejou ele.

Despejou todo o conteúdo da carteira sobre o sofá… precisava encontrar a senha do cartão. Antes de revirar o quarto e outros possíveis locais da casa onde a advogada poderia esconder seu dinheiro, o assassino deu um pequeno empurrão com o pé, no ombro ela, para ter certeza de que ela estava morta. O corpo ainda morno e flácido apenas balançou como uma gelatina, mas continuou inerte. Durante meia hora o assassino revirou a casa da advogada em busca de dinheiro. Mas nada encontrou. Sentou-se desacorçoado outra vez no sofá da sala e olhou com raiva para o cadáver à sua frente. Soltou uma praga qualquer.

– “Toda velha que mora sozinha guarda dinheiro em casa… onde está o dinheiro? Agora não serve de nada pra você”! – pensou alto o assassino de ocasião.

O corpo continuou inerte e mudo no chão morno da sala. Apesar das morte rápida, abrupta e violenta causada pela asfixia, seu rosto estava sereno. Excetuando os longos cabelos ruivos revoltos durante a luta desesperada pela vida, o cadáver da advogada estava bem apresentável. O assassino teve pena. Arrumou-lhe uma mecha de cabelo que cobria parcialmente seu rosto e ficou por uns instantes a contemplá-la. Lembrou-se das outras vezes que batera na porta da sua casa nos últimos meses. A primeira foi para pedir comida – ganhou um pacote de macarrão e um litro de óleo. A segunda vez ofereceu para carpir o quintal da advogada. Enquanto carpia, a mulher ficou na janela conversando com ele, ouvindo – a parte sem censura das – suas histórias de vida. Naquele dia ganhou cinquenta reais. Mais do que isso, ganhou a confiança da mulher, confiança para abrir-lhe a porta naquele início de noite e dar-lhe um prato de comida.

Era a quinta vez que voltava à casa de Luzia em busca de pequenos adjutórios, a primeira no período noturno. Não tivera escolha. Uma hora atrás pedalava sua bicicleta velha, desalentado, feito barata tonta nas cercanias da Avenida Perimetral. Sentia uma angústia que não sabia de onde vinha – na verdade sabia. O peito doía, o estômago doía, a cabeça doía…  Só havia um remédio… uma pedra! Precisava urgentemente de uma pedra… uma pedra bege fedorenta! Para isso ele precisava de ‘derreal’! Mas ele não tinha dez reais na algibeira da bermuda. Poderia fazer uma troca na biqueira. Mas o que daria em troca? Ele só tinha a bicicleta velha. Rodou várias biqueiras da baixada do Mandu e ninguém quis pegar a magrela… ela não valia uma pedra! Foi aí que ele se lembrou da ‘tia boazinha’…

Apesar de a noite ainda ser uma criança, Luzia o atendeu ressabiada. No entanto, após ouvir suas chorumelas – entre elas, que não havia feito sequer uma refeição naquele dia – ela abriu a porta e o deixou entrar. O atrito começou quando ele pediu e insistiu em dinheiro. Temerosa, percebendo que fora incauta, Luzia tentou correr para porta! Ed tentou impedir que ela saísse e acusasse sua presença. E travou-se a batalha de vida ou morte… por um punhado de reais para comprar pedra bege fedorenta!

O macambúzio desfecho do encontro com a advogada e benfeitora não abalou os sentimentos e nem os desejos de Ed. Ele continuou sentindo aquela fissura, aquele mal-estar, aquela necessidade de afagar o cérebro… aquela vontade louca, indefinível de queimar uma pedra! Seu cérebro precisava ouvir o fedorento crepitar do crack, crack, crack no fundo de uma latinha amassada, de aspirar a fumaça da piteira improvisada e sentir o efeito da farinha do capeta misturada com outras porcarias! Para isso ele precisava de… dim-dim, ‘Money’, bufunfa, ‘faz-me rir’, dez, ao menos dez ‘reial’!

Depois de longos minutos revirando a casa da advogada em busca de dinheiro, sem sucesso, Ed deixou o macabro local e foi direto ao caixa eletrônico mais próximo levando apenas o cartão bancário roubado. Não conseguiu fazer o tão desejado saque. Não conseguiu o dinheiro que precisava para comprar a droga.

Mas deixou rastros…

O local do fútil e inútil crime fica num beco discreto, com duas ruelas apertadas formando uma cruz, escondido no átrio direito do coração de Pouso Alegre, frequentado apenas pelos moradores locais e entregadores em domicílio ou de correspondência. Quarenta e oito horas depois Ed voltou ao local do crime. Ele não sabia exatamente por que… mas voltou!

Talvez tenha voltado apenas para se cumprir o velho jargão da psiquiatria policialesca que diz que “o criminoso sempre volta à cena do crime”!

Talvez tenha voltado atraído pelo espírito da pobre Luzia, que exigia dele algum destino para seu corpo!

Talvez tenha voltado influenciado pelos espíritos trevosos que costumam assediar os malfeitores… para induzi-lo a outras maldades!

Talvez tenha sido arrastado pela possibilidade de lucro fácil. Sabia que não encontraria dinheiro. Mas tudo que havia lá poderia ser transformado em dinheiro. Os infindáveis ‘intrujões’ da baixada do Mandú, ou os próprios fornecedores da pedra bege fedorenta, à base de cinco por um, fazem qualquer negócio, sem perguntar a procedência do objeto que já sabem de tratar de ‘rês furtiva’.

A quarta opção parece ser a mais verossímil!

Antes de entrar, Ed sondou sorrateiramente a casa da advogada. Estava como ele deixara na noite anterior: em silencio! Silencioso também o assassino girou a fechadura da porta que ficara apenas cerrada, empurrou a porta lentamente e deparou com sua benfeitora. Luzia estava exatamente como ela a deixara na noite anterior! inerte estendida no chão! Seu crime continuava em segredo. A única diferença é que agora Luzia parecia um cadáver. Cadáver exposto no tapete da sala há 48 horas!

Na noite do crime, mesmo sem conseguir sacar o dinheiro da conta da advogada, Ed conseguiu enganar seu cérebro. A fissura havia passado. Há duas noites havia matado a pobre mulher num momento de confusão mental, confusão causada pela abstinência da droga. Naquele momento ele não tinha necessidade de drogas, mas, no futuro, poderia ter. Foi aí que a quarta opção apareceu clara e fria na sua mente! Ele sabia que a aposentada quase não tinha parentes, e poucos contatos com eles. Sabia também que Luzia era o tipo de pessoa que se relacionava com os vizinhos do ‘portão para fora’, restrito a ‘bom dia, ‘boa tarde’, ou seja: uma vida social discreta, quase invisível. Certamente ninguém perceberia sua ausência. Por isso resolveu se apossar de todos os bens moveis de Luzia. O limpador de quintal resolveu fazer uma ‘limpeza’ geral dentro da casa. Nos dias seguintes, à prestação, os moveis da advogada mudaram de dono. Levados por carroças, foram parar nas bocas de fumo e lojas de ‘intrujões’ na baixada do Mandú a menos de um quilometro dali. Um vizinho chegou a questionar Ed. Mas ele tinha uma resposta pronta e convincente.

– “Minha tia foi morar no asilo. Ela me pediu para vender os moveis dela”! – respondeu o rapaz, sem pestanejar. Aliás, ele contrariou o velho ditado de que “quem não deve não teme”. Ele devia e no entanto não temeu… e nem tremeu!

Mas afinal, e o corpo da advogada e professora aposentada Luzia? Ele continuou estendido no chão da sala de sua casa por vários dias atrapalhando Ed e seus ajudantes de carroça a arrastar os móveis? Foi enterrado no fundo do seu quintal, aquele mesmo quintal que meses antes abrira a porta para o assassino?

Não.

A maioria dos crimes, frios ou brutais, não são planejados. Eles acontecem por três motivos: por estupidez e descontrole emocional; por circunstâncias do momento e; por ausência de sensibilidade humana. Logo, acabam vindo à tona. Tivesse Ed enterrado o corpo de Luzia no seu quintal, seu crime jamais seria descoberto. Mas ele não tinha nem coragem e nem inteligência para tal. Por isso escolheu uma opção mais simplista – e arriscada! Ou quem sabe, na esperança de ver o crime descoberto, o espírito de Luzia tenha induzido o assassino a sair na rua carregando o corpo. E foi o que ele fez! Ao decidir tomar posse dos bens de Luzia, de porteira fechada, Ed pegou seu corpo, colocou numa mala, colocou a mala na garupa da sua bicicleta – aquela que não valia uma pedra de crack – e rumou para a baixada do Mandú. A mala foi deixada numa restinga de mata ciliar na beira do velho rio!

Antes de colocar os bens de Luzia numa ‘marika’ e atear fogo, Ed ainda pensou em movimentar sua conta bancária, mesmo sem senhas. Para isso precisaria das digitais da morta. Na noite seguinte à desova, três dias depois de tê-la matado, Ed voltou à beira do rio Mandú, abriu a mala e cortou com um alicate os polegares do cadáver! Usando os sinais biométricos dos dedos em putrefação, tentou mais uma vez acessar o caixa eletrônico na cabine do terminal rodoviário, a poucos metros de onde jazia a macambúzia mala com o restante do corpo!

O crime da advogada transportada numa mala e desovada na beira do rio, sem os polegares superiores, foi descoberto quatro semanas depois. Seu sumiço, no entanto, foi percebido bem antes. Uma amiga dela foi a primeira que notou seu silencio, a falta de respostas aos seus telefonemas. Amiga virtual e leitora do Blog do Airton Chips, ela manifestou sua preocupação. Foi aconselhada a levar o fato à polícia, ou aos parentes de Luzia. No dia 07 de fevereiro uma sobrinha comunicou o desaparecimento da advogada e professora aposentada, de 67 anos, à polícia civil.

Dias depois os detetives descobriam que os cartões bancários de Luzia haviam visitado caixas eletrônicos… sem a sua presença! Depois de visitar os asilos da cidade, os detetives passaram a seguir os rastros das carroças que dias antes haviam desfilado pelo beco onde morava a advogada. Não tardou chegaram ao muquifo de Ed, o ‘suspeito número um’, nas rebarbas insalubres da baixada do Mandú. Ed não estava em casa para a entrevista e rotina. Além do mais, eram ainda investigações e ele não estava em estado de flagrância, portanto não poderia receber as pulseiras de prata, por isso não o procuraram mais.

O ‘mandamus’ do homem da capa preta autorizando a prisão temporária do suspeito pelo sumiço de Luzia, foi assinado na sexta-feira, 23 de fevereiro, exatamente quatro semanas depois de ela ter sido asfixiada por ele na sala de sua casa! Mandados de prisão autorizados pelo homem da capa preta e liberados para a polícia na sexta-feira, costumam dar pelo menos dois dias de liberdade ao desfavorecido. A menos que ele cometa outro crime e receba as pulseiras de prata no final de semana! Esse foi o caso do ingrato e incauto assassino da advogada. Ele foi preso por outro crime!

No final da madrugada do sábado, 24, um gatuno sorrateiro entrou, sem convite, nas dependências da ‘Casa Dia’. Embora seja viciado em drogas e a Casa Dia se dedique a acolher, curar viciados e recuperá-los, o gatuno não pretendia se curar… Pelo contrário, pretendia conseguir recursos para alimentar seu vício. Ao acordar casualmente no meio da madrugada um interno viu o vulto sorrateiro se esgueirando pela comunidade com uma faca na mão, e soltou os cachorros… literalmente! Os cães colocaram o gatuno para correr, evitando que ele levasse a rês furtiva, a qual já havia separado para roubar.

Ganha um doce de batata doce caramelado quem adivinhar o nome do gatuno que tentou furtar a Casa Dia! Ganhou! Isso mesmo… o nome dele é Ed! Ed, o assassino da advogada.

Para confirmar o velho jargão policialesco de ‘Sir’ Arthur Conan Doyle – criador de Sherlock Holmes – ou, talvez, – mais uma vez – induzido pelo espírito da advogada em busca de justiça, o ‘criminoso voltou à cena do crime’! Na verdade, ele nem foi embora! Ficou rondando nas imediações. A tentativa de furto na entidade que vive de doações revoltou os internos e moradores do bairro. No início da tarde, ao ser visto rondando novamente a Casa Dia, populares o pegaram, deram-lhe uma surra e o entregaram para a polícia. Entregaram respirando, pois não sabiam o que ele havia feito no ‘verão passado’, quero dizer, no mês passado! Ironicamente as pulseiras de prata dos homens da lei salvaram sua vida!

A prisão de Ed, realizada por populares no final de semana, poupou o trabalho dos policiais da delegacia de homicídios. No início da semana Ed, até então apenas personagem das investigações policiais, sentou-se ao piano do delegado de Homicídios e assinou o 121. Desta vez, ‘induzido’ apenas pelo paladino da lei e seus pupilos, ele voltou mais uma vez ao local ‘dos’ crimes de latrocínio, ocultação e vilipendio de cadáver. Contra sua vontade ele contou todos os detalhes do funesto crime! Desde então o autor do ‘crime da mala’ de Pouso Alegre está hospedado no Hotel do Juquinha.

O Código Penal diz que Ed tem ‘direito’ a hospedagem gratuita por 30 anos. Isso, no entanto, vai depender de duas benevolências! A da justiça brasileira, prevista na Lei de Execuções Penais, que diz que ele tem direito a saidinhas temporárias e redução da pena para se ressocializar! E a benevolência dos ‘irmãos de caminhada’, que, na cadeia, costumam ter suas próprias leis para quem comete crimes contra crianças e idosos!

O tempo dirá quantos anos o assassino que interrompeu a respiração da advogada ficará sem respirar o benfazejo ar da liberdade!

Eu poderia…

… Estar curtindo mensagens fúteis no meu face…

Eu poderia estar compartilhando fake News no WhatsApp…

Eu poderia estar assistindo mais um espetáculo circense (de baixo nível) da CPI da pandemia…

Eu poderia estar pedalando na orla da lagoa da Pampulha ou do Mineirão…

Eu poderia estar falando de esporte, de polícia ou de política e ‘apagando incêndio’ através do programa ‘Tudo Junto & Misturado’ da Super Radio 90,9FM, como faço toda quinta-feira…

Eu poderia estar lendo um livro (tenho vários que ainda não tive tempo sequer de abrir)…

Eu poderia estar fazendo propaganda dos meus livros “Meninos que vi crescer” e “Quem matou o suicida”…

Eu poderia estar escrevendo mais um capítulo do meu livro “Cachorradas da minha vida”…

… Ou poderia, simplesmente, estar tomando o gostoso sol de inverno no meu jardim!…

… Mas preferi fazer essa singela postagem!

     O ultimo sábado 26 de junho, foi lembrado!?!?! como “Dia Internacional de Combate às Drogas”. A data foi data estipulada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Resolução nº 42/112, de 7 de dezembro de 1987, como um dia especial de combate às drogas, criado por recomendação da Conferência Internacional sobre o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas.

     Na ocasião o MJ divulgou um balanço sobre as apreensões de drogas feitas pela PRF no período de 26 de junho de 2020 a 16 de junho de 2021.

     Foram apreendidas:

* 633 toneladas de ‘erva marvada’… também conhecida como maconha.

* 31 toneladas de ‘farinha do capeta’… também conhecida como cocaína.

* 4.638 pessoas envolvidas com o tráfico receberam as pulseiras de prata e foram sentar-se ao piano no paladino da lei nas DPs Brasil afora.

     “Abrace seu filho… Não deixe que as drogas o abracem”!

Acabou a caçada ao criminoso

Sargento troca tiros e mata estuprador na beira do rio!

Sargento Campos em 2009: – Foi ali no fundo perto da restinga, onde está hoje esse milharal, que eu troquei tiros com o bandido!

Passava de cinco e meia da tarde. O sol de fim de inverno havia acabado de se deitar atrás da restinga de mata ciliar. Estavam numa capoeira a poucos metros do rio cujas águas barrentas desciam serenas naquele trecho. Apesar da agitação do dia e especialmente da tensão daquele momento, os dois homens começaram sentir frio. Os agasalhos haviam ficado na viatura, a cerca de um quilômetro dali, na saída da cidade.

– Soldado, daqui a poucos minutos vai escurecer. Melhor suspendermos a caçada por hoje. Vá buscar a viatura. Vou ficar esperando você aqui… eu estou muito cansado – disse o sargento.

Ao ver seu subordinado atravessar a cerca de arame farpado e sair na estradinha rural do bairro Pouso do Campo, a menos de cinquenta metros dele, e seguir para a cidade, o sargento sentou-se ao chão numa pequena saliência do terreno sobre o capim batido pelo gado. Estava cansado, muito cansado. Havia saído de casa para uma patrulha florestal no município de Bom Repouso, a mais de cem quilômetros dali. Findada a operação, voltara para Pouso Alegre e subira de barco o Rio Sapucaí, já no final da tarde. Não precisava fazer isso. Já trabalhara mais de oito horas naquele dia. Mas havia dezenas de policiais colegas seus embrenhados no mato, numa arriscada caçada humana tentando prender o famigerado estuprador! O denodo policial não o deixaria descansar… E fora se juntar aos demais colegas na caçada.

Ligeiramente protegido pela saliência do terreno, sentou-se atrás de uma moita de assa-peixe. Não fosse o perigo e a tensão, dormiria! Mas era preciso ficar atento. O bandido poderia estar muito longe dali… mas poderia surgir de trás de uma moita a qualquer momento. Só a natureza falava. O silencio do crepúsculo foi cortado pelo canto triste de um Curiango bem perto do rio. De repente, apesar da sinfonia interminável dos grilos, o experiente policial ouviu o leve quebrar de galhos secos! Não estava mais só! Sem sair da saliência do terreno onde estava encostado, virou o corpo, apontou o trabuco na direção de onde ouvira o barulho e ficou atento. Poderia ser uma capivara, um lobo, um gato, ou a sua caça… Fernando da Gata! O coração bateu mais acelerado. Àquela hora, a poucos metros da mata ciliar, parecia ainda mais escuro… todos os gatos eram pardos! Aguçou bem os ouvidos e arregalou os olhos. Não tardou surgiu um vulto apalpando o terreno. Não dava para distinguir quem, mas era uma pessoa… Só podia ser o bandido! Apontou o trabuco para o vulto a menos de vinte metros e deu a ordem:

– “Quem está aí! Responda ou eu atiro”!

O vulto estacou… mas não respondeu. Silencio total. Os grilos interromperam a cantoria. Um casal de sapos que trocavam ameaças – vou, não vou, vou, não vou – na beira do barranco do rio, também silenciou. O curiango que estava mais próximo bateu asas, levantou voo rasteiro e sumiu na noite.

“Percebi que o vulto fez um pequeno movimento à direita, talvez tenha movido apenas o braço. Antes que eu decifrasse o movimento, ouvi um disparo e em seguida uma pequena chama vermelha na minha direção”.

Antes de ouvir o segundo tiro, o policial puxou o gatilho apontando para o vulto! Ouviu-se um baque surdo. Em meio à frugal fumaça, pareceu ter visto um rápido movimento do vulto. Deu mais um disparo de advertência, sem resposta. Depois do bater de asas de alguns pássaros que dormiam na restinga, silencio total! A noite demorou segundos para cair, embora os segundos demorassem uma eternidade para passar! O sargento não tinha certeza se havia acertado o vulto, se ele havia morrido ou se havia fugido. Com os olhos de lince, tentando ver algum movimento no escuro, optou pela imobilidade sob a proteção da vala e do assa-peixe à espera de reforços. Foram minutos eternos até que avistou os faróis da viatura dançando na estrada, se aproximando. Só deixou a trincheira quando o capitão, os soldados e dois civis chegaram com cães e lanternas.

No local onde o vulto recebeu o único tiro, a cerca de vinte metros à perpendicular do sargento, havia capim amassado, denotando que ele estivera ali. Sobre o capim havia um revólver calibre 38 niquelado, com manchas de sangue, com o qual ele havia disparado na direção do policial. Horas mais tarde, depois de intensa varredura, encontraram o corpo do bandido. Fernando da Gata, com um único ferimento no peito, estava numa moita de capim nas imediações do local do duelo.

Fernando “da Gata ” Soares Pereira, 21, figurinha fácil no álbum da polícia desde o final da menoridade penal, tinha uma capivara do tamanho do Rio Sapucaí – o qual ele atravessara a nado naquela sexta-feira, ou da extensão do Rio Jaguaribe no Ceará, onde ele cansou de brincar de ‘bandido & mocinho’ com a polícia local. De Russas desceu para São Paulo e de lá para o Sul de Minas, sempre com os homens da lei fungando nos seus calcanhares. Caçado ininterruptamente por dezenas de policiais mineiros durante mais de 48 horas, quis o destino que ele parasse na mira do Sargento Campos… numa capoeira de beira de rio, no crepúsculo de uma sexta-feira. Duelo sem alarde e sem testemunhas. Apenas dois tiros… um pra cá e outro pra lá! Um sem direção, cuja azeitona se cravou na terra que anos depois adubaria uma lavoura de milho! E outro certeiro, cujo projétil ainda quente penetrou no lado direito do peito do bandido, permitindo que ele corresse mais de cem metros, para morrer solitário, encoberto por uma moita de capim.

Sargento Campos e este cronista, em 2009, na DP de Santa Rita do Sapucaí, quando eu o levei ao local do duelo, 27 anos depois!

Sargento José Lucio Campos não tinha superpoderes, não usava cueca vermelha por cima do uniforme, não era super-herói! Era apenas um policial que, como a maioria, honra a farda que veste… e a instituição que paga seu salário. Um policial que toda manhã sai para o trabalho… e não sabe a hora que volta… se volta! Campos foi o policial certo, na hora certa, no lugar certo! E encerrou um ciclo de terror que assombrava o Sul de Minas naquele final de inverno de 1982.

Assim terminou a vida do assaltante e estuprador “Fernando da Gata”… mas não terminou sua história! Três semanas depois seu corpo – sem os dedos – foi recebido como herói na pequena Russas, no Ceará…

Lázaro… o “Fernando da Gata” do Cerrado

Caçada ao maníaco que matou casal e dois filhos em Ceilândia, chega ao decimo dia.

      Psicopata de 32 anos tem mais de 200 homens nos seus calcanhares… mas ainda não sentiu o frio das pulseiras de prata!

Lázaro Barbosa… o “Maníaco do Cerrado”.

O bárbaro assassinato de uma família inteira aconteceu no dia 09 de junho, na cidade de Ceilândia, no Distrito Federal. Lázaro Barbosa matou a tiros e golpes de faca o cidadão Cláudio Vidal de Oliveira, de 48 anos, e os filhos dele Gustavo Marques Vidal, 21, e Carlos Eduardo Marques Vidal, 15 anos. Cleonice Marques de Andrade, 43, esposa de Claudio, foi levada como refém e morta logo em seguida na beira de um córrego. Desde então, centenas de policiais do Distrito Federal estão na sombra do assassino!

Após o assassinato da família de Claudio, ainda em Ceilândia, Lázaro invadiu um sitio, fez o caseiro e sua filha de reféns e roubou a propriedade. Só então ele dobrou a serra do cajuru em direção ao município de Cocalzinho de Goiás.

Por onde passa o guampudo vai deixando um rastro de crimes. Em Cocalzinho de Goiás ele invadiu uma fazenda, atirou em quatro pessoas e ateou fogo na casa. No domingo, quatro dias depois dos primeiros crimes, o meliante furtou um carro para fugir, mas o abandonou ao avistar uma barreira policial. E continuou a fuga pela mata. Ainda no município de Cocalzinho, na segunda-feira, durante uma tentativa de roubo, ele teria sido alvejado por um sitiante e fugido. No mesmo dia ele pediu comida em outro sitio na região, onde teria passado a noite, antes de fugir para a mata. Na terça-feira, durante tentativa de abordagem, o guampudo reagiu à prisão e baleou dois policiais no município de Edelândia… e continuou dobrando a serra do cajuru!

As últimas informações sobre o “Maníaco do Cerrado” são desta quinta-feira, 17, quando a polícia o avistou numa mata da região e trocou tiros com ele. Mesmo ferido ele continuou a fuga pela mata. Segundo o secretário de Segurança de Goiás, são mais de trezentos policiais perseguindo o bandido com helicóptero, carros, cavalos e à pé, pelo mato.

Apesar de ter centenas de policiais fungando no seu cangote, o “maníaco do Cerrado” ainda não sentiu o frio das pulseiras de prata.

Lázaro Barbosa é figurinha fácil no álbum da polícia desde 2007. Naquele ano ele cometeu duplo assassinato na cidade de Barra dos Mendes, na Bahia. Embora tenha caído nas malhas da lei, o guampudo, então com 18 anos, não criou raízes no Hotel do Juquinha baiano! Dez dias depois ele abriu um ‘tatu’ na cela e dobrou a serra do cajuru.

Dois anos depois, sabedor de que em Brasília, onde o sol nasce para todos mas  a lei penal não atinge a todos, Lázaro Barbosa foi para lá. Mas enroscou-se nas malhas da lei… Acusado de roubo, estupro e porte de armas, o meliante foi parar no velho hotel da Papuda.

Foi no presidio onde os ‘papudos’ de colarinho branco tiram férias, que Lázaro recebeu um laudo psicológico que o descreve como “psicopata imprevisível”, com comportamento agressivo, impulsivo, instabilidade emocional e falta de controle e equilíbrio.

Apesar desse laudo, no ano seguinte, em 2014, já condenado pelos crimes de duplo homicídio, estupro, roubo e porte ilegal de arma, Lázaro teve sua pena convertida para o regime semiaberto! Como frequentou cursos de “ressocialização” no interior do presidio, ele ganhou o “atestado de bom comportamento”. Daí para nova fuga foi um pulinho. Em 2016 Lázaro vazou da Papuda e dobrou a serra do cajuru.

Dois anos mais tarde Lázaro caiu novamente nas malhas da lei. Foi preso no município de Águas Lindas de Goiás. E mais uma vez não criou raízes atrás das grades! Fugiu dias depois da prisão, e continuou a exibir seu ‘atestado de bom comportamento’ na região! Meses depois, em abril de 2020, ele invadiu uma chácara no município de Santo Antonio do Descoberto e, na tentativa de roubar, acabou golpeando um idoso com um machado.

Antes da chacina da família em Ceilândia, o maníaco do cerrado esteve em ao menos duas cenas de crimes violentos. No dia 26 de abril ele invadiu uma casa no Distrito Federal e depois de trancar o morador e seu filho no quarto, arrastou a esposa dele para o mato e a estuprou. No dia 17 de maio, ainda na região do Sol Nascente, ele invadiu outra casa e fez toda a família de refém. Atrás de um trezoitão e de uma lapiana ele obrigou os homens a ficarem nus e os trancou no quarto, onde ficaram desde às sete da noite até a meia noite… enquanto as mulheres foram obrigadas a irem para cozinha fazer o jantar para ele!

 

O perfil do “Maníaco do Cerrado” tem algumas semelhanças com o do famigerado “Fernando da Gata”, notório bandido que aterrorizou Pouso Alegre em 1982. O cearense de Russas, era mais discreto, mais silencioso, mais objetivo com seus crimes. Ele agia sempre na penumbra da noite, para roubar joias e, de quebra, estuprava suas vítimas na presença de seus maridos! Caçado por dezenas de policiais mineiros, civis e militares, três dias depois da infeliz decisão de voltar à Pouso Alegre, o ‘baixinho’ cearense respirou pela última vez numa capoeira nas margens do Rio Sapucaí. A azeitona quente – apenas uma – disparada pelo então Sargento Campos, que estava sozinho naquela beira de rio no crepúsculo do dia 02 de setembro, entrou pelo lado direito do peito do bandido, encerrando sua trajetória de crimes em três Estados da federação.

O “maníaco do Cerrado”, mais barulhento, mais violento, mais desnorteado, mas… de “bom comportamento”! segundo o atestado carcerário do velho hotel da Papuda, superou o recorde de caçada. Nesta sexta-feira já são dez dias embrenhado nas matas e cerrados de Goiás… Mas a batata está assando pra ele!

 

* “Os últimos dias de Fernando da Gata” são contados no livro “Meninos que vi crescer”!

A Despedida do Chiquinho…

Depois de três meses ouvindo rezas e ritos do padre Cintra na fazenda do Portuga, o Coisa Ruim da Borda decidiu ir embora! Mas prometeu que quando o ‘padre chato’ morresse, ele voltaria para buscar sua prometida!

A historia completa do “Coisa Ruim da Borda” e outras 49 cronicas investigadas pelo detetive estão neste livro.

Eram menos de dez da manhã de meados do mês de fevereiro quando o fazendeiro recolheu algumas rezes no curral, chamou a filha mais velha e disse-lhe:

– Mocinha, sua mãe vai me ajudar a curar bernes do gado… Vá você para a cozinha preparar o almoço!

A bela garota de 13 anos, prendada e obediente como todas de sua idade naquela época, simplesmente anuiu e foi cumprir a ordem do pai. Ao entrar na cozinha do casarão assobradado, na encosta de um pasto no alto da colina, estacou assustada diante do que viu e voltou correndo para chamar o pai…

– Ué, pai… o sr. me mandou fazer o almoço, mas o almoço está pronto! Está quentinho pronto para ser servido! Vem ver!

Sem entender o que a menina estava falando e sem tempo para discussão, Portuga soltou a corda que havia acabado de passar no pescoço de uma bezerra e foi para dentro de casa, acompanhado da esposa. Ao entrar na cozinha teve a mesma surpresa da filha… na taipa do fogão à lenha, panelas com feijão, arroz, abobrinha, torresmo ainda soltavam fumaça…

– Mas que diabos! Quem fez esta comida?

Neste instante um vulto quase invisível passou correndo em ziguezague pela cozinha em direção ao quintal deixando no ar um cheiro de enxofre e uma risada esganiçada e zombeteira. Ainda surpreso com a aparição da comida pronta, e com os pelos todos do corpo arrepiados, Portuga se aproximou das panelas e verificou que a comida estava tão cheirosa e saborosa quanto a que a esposa fazia todos os dias.

Esse foi o primeiro sinal da presença do Chiquinho na fazenda!

Mais tarde, cavalgando pelo pasto na lida com o gado, Portuga sentiu que seu cavalo arriou nas patas traseiras, como se alguém tivesse montado na garupa.

Por volta de nove da noite, quando tudo se aquietou na fazenda, os cachorros começaram a latir como se estivessem tentando afugentar uma alcateia. E depois passaram a uivar em lúgubre agonia. E assim vararam a madrugada.

Na manhã seguinte, ainda com cara de quem não dormiu, Portuga arreou o alazão e, embora não fosse fervoroso cristão, foi à cidade procurar o padre.

Desde então, durante várias semanas, o jovem pároco da cidade subiu a serra da Ponte de Pedra com sua batina preta cobrindo as ancas do pangaré castanho para benzer no casarão do Portuga. O benzimento passou a exorcismo e nas semanas seguintes outros padres mais velhos e mais experientes da região, como o padre Oriolo, de Pouso Alegre, o padre Alderige, de Santa Rita de Caldas, padres Capuchinhos de Ouro Fino vieram tentar expulsar o espírito brincalhão da fazenda do portuga…

Com os padres vieram também os repórteres… de todos os cantos do Brasil! A revista “O Cruzeiro”, a maior da época, estampou a história do Coisa Ruim da Borda na sua capa e nas suas páginas. Mas nada disso afugentou o Chiquinho. Cansados de subir a serra para as sessões de exorcismo, os padre mais experientes voltaram para sua paroquias… E o Coisa Ruim da Borda ficou só por conta do jovem padre Cintra.

Apesar da pouca experiência, o jovem e intrépido padre Pedro não abandonou seu rebanho. Toda tarde ele arriava seu cavalo e subia a serra da Ponte de Pedra para rezar no casarão do Portuga e tentar convencer Chiquinho a ir embora. Até que uma noite, depois de muitas Aves Marias e outros rituais católicos ‘exorcizantes’, finalmente Chiquinho se cansou, perdeu as estribeiras e disse com voz enfadada:

– Vou-me embora desta casa! Não aguento mais a reza desse padre!

E a paz voltou a reinar na fazenda do morro da Ponte de Pedra. O Coisa Ruim da Borda havia sido exorcizado.

Jornalistas e curiosos se plantão juram de pés juntos, que antes de partir, Chiquinho teria acrescentado:

– “Mas depois que esse padre chato morrer, eu voltarei para buscar o que é meu”!

A última aparição do Coisa Ruim da Borda aconteceu – isso é fato, está registrado no ‘Livro do Tombo’ da Matriz de Nossa Senhora do Carmo em Borda da Mata – no dia 23 de abril de 1953, há 68 anos!

O Padre Pedro Cintra morreu em 2003!

Será que Chiquinho voltou mesmo para buscar sua prometida?

O Mistério do Coisa Ruim da Borda – desvendado – está no livro “Meninos que vi crescer!

Pessoas que deixaram rastros na minha terra!

Filomena…

Segunda casa da Filomena no bairro dos Coutinhos… também de pau-a-pique, (Foto de 1990, cedida por Hilário Coutinho).

Filomena morava com os irmãos ‘Zelino’ e Messias… Nenhum dos três se casou. Eram muito queridos e respeitados no bairro, mas eram de pouca prosa. O mais comunicativo era o caçula Messias… ele era surdo-mudo! Toda vez que se aproximava de alguém na estrada, emitia sons, gesticulava e sorria. Nunca consegui entender um gesto ou palavra sequer… mas eu tinha certeza que ele estava feliz em conversar com alguém.

Sua casa foi a última de pau-a-pique e ser demolida no bairro. Era amarela, grande, baixa, rente ao chão, cheia de janelas de madeira, coberta de telhas de bica como todas as casas da roça. Em seu lugar foi construída outra, também de pau-a-pique… Agora branca. Tinha um pequeno terreiro em volta. Algumas flores nativas. Logo em seguida começavam as plantações, uns dois hectares de terra roxa, plana. As vezes plantavam mandioca, outras vezes milho, feijão… Certa vez plantaram batata-doce, roxa. Quando plantavam milho a casa de pau-a-pique desaparecia atras do milharal. Como não usavam adubo, de vez em quando precisavam descansar a terra… aí simplesmente não plantavam nada e deixavam a soqueira de milho virar pasto, para arrendo. Animais na casa e no seu entorno, além de tatus e pacas que viviam do outro lado do ribeirão e frequentemente vinham comer milho no quintal, apenas galinhas e um gato preguiçoso. Ah, tinha também alguns lagartos do tamanho de jacarés, que vinham comer tenros pintinhos amarelinhos ainda em penugem na beira do terreiro! É dela uma frase que era contada em toda roda de contadores de causos do bairro… Nos seus afazeres domésticos um gato gordo e preguiçoso vivia se esfregando na barra do seu vestido, enquanto pedia comida. No mesmo ritmo enfadonho do gato ela teria dito:

– Chiiiiiiipa gaaaato, ôh amolaaaaannnnntttteeee…

Filomena tinha dois hábitos marcantes… Um, era não ir às casa das pessoas. Não que fosse antissocial, pois conversava muito bem com as pessoas quando as encontrava na estrada. E também recebia com cortesia as que a visitavam. Falava do tempo, reclamava da poeira, da falta de chuva, da falta de sol, da colheita que estava próxima… O outro hábito era ir à missa na igreja matriz de Congonhal, religiosamente, nos dois sentidos, todo domingo. Na capelinha do bairro ela ia uma vez por mês, pois o padre só vinha pastorear seu rebanho uma vez na ultima semana de cada mês! Chegava cedo. Se a missa era às sete da noite, muito antes de o sol recolher os bigodes ela já estava sentada num dos bancos ou na frente da capelinha na beira da estrada, no centro do bairro dos Coutinhos. Vinha devagar, caminhando ao lado do inquieto Messias – quando a capelinha ficou pronta, Zelino já havia partido – Se sabia que estava adiantada para a missa, vinha ainda mais devagar.

O passar dos anos promoveu muitas mudanças, muitas transformações sociais no país. Inclusive no bairro dos Coutinhos. Uma das mudanças diz respeito ao número de veículos existentes no bairro. A outra reporta ao hábito de oferecer carona. Há poucas décadas, ninguém passava de carro pela estrada sem oferecer carona para quem estivesse caminhando, fosse conhecido ou não. Porém, décadas atrás havia pouquíssimos veículos circulando ali. Durante muito tempo o único veículo, além da bicicleta, do cavalo ou do carro de boi, que levantou poeira na estrada do bairro dos Coutinhos, foi o Jipe com capota e janelas de lona do Abrão Venâncio! Hoje dezenas de carros, de todas as marcas e modelos, trafegam quase dia e noite! Mas ninguém oferece carona a ninguém! Até porque, ninguém conhece ninguém!

Essa transformação, da qual os irmãos “Lino” assistiram boa parte, não mudou uma vírgula as suas vidas. Os seis quilômetros que separavam sua casa de pau-a-pique amarela na Vargem do Coqueiro, da igreja Matriz de São José em Congonhal para a missa dominical, continuaram sendo percorridos com o mesmo motor… à pé! Iam sempre à ‘missa de cedo’, a das oito da manhã. Depois da missa faziam o mercado semanal no armazém do ‘Zé Véio’, distribuíam em três sacos de sal, jogavam nas costas e voltavam passo-a-passo para casa. Quem fosse à ‘missa do dia’, às dez da manhã, podia cruzar com os três irmãos ao longo da rodovia… Zelino, Filomena e Messias, em fila indiana, sempre nessa ordem, voltando lentamente para casa. Ela, na maioria das vezes, debaixo de um guarda sol preto.

A casa de pau-a-pique da Filomena era a mais próxima da minha, menos de duzentos metros, na direção da ‘civilização’. Bastava sair à janela da sala da nossa casa alta para avistar o telhado da casa dela. No entanto só fui lá uma vez, salvo engano, em 1987, velar o octogenário corpo do Zelino. A ausência do irmão mais velho mudou uma única coisa na vida de Filomena… Agora ela era vista na estrada do bairro, a caminho da missa em Congonhal, na companhia ‘apenas’ do irmão surdo-mudo e sorridente!

Seis anos mais tarde, aos 78 anos, o sorridente Messias calou de vez sua voz, tirou seus passos da estradinha poeirenta do bairro, e foi morar com o irmão no andar de cima!

A ausência do irmão caçula e silencioso, mais uma vez não alterou os hábitos de Filomena. Uma vez por mês ela beijava a ponta dos dedos e depositava o beijo na imagem do Menino Jesus de Praga, padroeiro da capelinha do bairro dos Coutinhos. A ‘missa de cedo’ aos domingos, continuou levando Filomena à igreja matriz de Congonhal… agora sozinha!

Certa manhã de domingo, em meados dos anos 90, depois da missa de cedo, demorei-me alguns minutos num mercadinho. Quando peguei a estrada alcancei Filomena. Sua figura era inconfundível, desde longe. Debaixo do velho chapéu de sol preto, ela seguia, como sempre passo a passo à margem da rodovia. Usava a costumeira saia grande quase arrastando pelo chão, uma discreta blusinha clara, um crucifixo de madeira pendurado no peito e o lenço bege cobrindo o coque de cabelos cinzas. Parei meu Escort prata alguns metros à sua frente e quando ela passou, ofereci carona!

– Não… Eu vou à pé mesmo! – respondeu ela, quase no mesmo ritmo em que falava com seu gato… e continuou andando.

Mais tarde comentei o fato na cozinha enfumaçada do meu tio …

– Ela escuta pouco e tem a vista ruim… Decerto ela não reconheceu você! – respondeu o ‘filósofo’ Antonio Paula.

O relógio de Filomena e dos irmãos sempre fora o sol, a lua e… o galo! Quando o sol se deitava, era hora de dormir. Quando o galo cantava, era hora de se levantar. Agora, octogenária, sem os irmãos para cuidar, sem o gato modorrento e amolaaaaaaannnnteeee se esfregando na barra da sua saia cinza na cozinha da sua casa -agora branca -, com a vista cansada e os ouvidos menos apurados, Filomena começou a confundir as horas do dia… e da noite! Como conservava o hábito de ir à missa na capelinha do bairro e à missa de cedo – e como mineiro, ainda mais Coutinho! não perde a hora – Filomena chegava sempre muito adiantada às solenidades religiosas. Se o ‘Pequeno Príncipe’ de Saint Exupery já estava à postos meia hora antes do encontro, Filomena se preparava muito melhor… Se a missa no bairro era às seis e meia da tarde, ela chegava com o sol alto… antes das cinco! Essa falta de noção das horas não acarretava prejuízo a ninguém… mas causava cenas ao menos curiosas! Bem curiosas…

Já debilitada pela idade e precisando de mais tempo para percorrer os seis quilômetros de estrada que a levariam à tradicional missa de cedo em Congonhal, Filomena saia de casa muuuuuito cedo… antes de o galo cantar! E muitas vezes chegava à igreja muitas horas antes de o educado e cortês sacristão Zé Olimpio abrir as portas. Tornou-se comum ver a velhinha solitária, sentada ao pé da pilastra da torre da matriz, ainda de madrugada, esperando o dia amanhecer! Se essa cena era comum, inusitado era cruzar com ela usando uma blusinha parda sobre o indefectível vestido cinza – o de ir à missa! – com a barra roçando a ponta da guanxuma, caminhando lentamente à margem da rodovia deserta, sob o plácido luar da lua cheia, no meio da madrugada!

Esta cena me remete à “Maria… 90 anos de solidão”, história da velhinha também octogenária que saiu para catar gravetos no pasto perto da sua casa à meia noite de lua cheia! A historia de Maria está no livro “Quem Matou o Suicida”!

Quem presenciou esta cena – uma velhinha caminhando solitária pela estrada de madrugada, iluminada pela lua cheia – com certeza, não parou para oferecer carona!

Se estivesse entre nós, hoje, em dias de Covid, Filomena não teria dificuldade de distanciamento. Era totalmente avessa a aglomerações. Alguns diziam que ela também não gostava de ser fotografada. Filmada então, nem pensar! Certa tarde fresca de meados dos anos 90, consegui filmar Filomena há cerca de cinquenta metros. Era um sábado, dia de missa na capelinha do bairro…

Filomena vinha lentamente pela estrada poeirenta, sem pressa de chegar. Quando eu a vi, a pretexto de filmar a casa da Catarina, posicionei a filmadora e fui captando uma panorâmica, lentamente, passando pela estrada por onde ela vinha. Demorei um pouco mais na figura octogenária, aproximei a imagem e segui filmando até a torre da igreja. Alguém que me viu filmando sutilmente a velhinha com fama de pouca prosa, falou:

– Se ela souber que você a filmou, ela vai te xingar!

… Acho que, de fato, ao menos de longe, Filomena não tinha vista muito boa!… rsrsrsrs.

Essa foi a última vez que vi Filomena caminhando. Em 2001, já sob os cuidados e o carinho dos funcionários do Asilo de Congonhal, Filomena foi se juntar aos irmãos Zelino e Messias… e, quem sabe, ao seu gato amolannnnte.

‘Filomena do Lino’ foi uma destas pessoas que exigiam pouco da vida… das pessoas, mas teve presença marcante na vida de várias gerações do bairro dos Coutinhos! Lembra um pouco, ao menos o título, do clássico de Erico Veríssimo inspirado nos ensinamentos bíblicos… “Olhai os Lírios do Campo”…

Poucas pessoas deixaram tantos rastros, – literalmente –, como Filomena, na minha terra!

 

*** Um velho hospede do Hotel do Juquinha acaba de tropeçar e cair nas malhas da lei.

Breve você vai saber, aqui no blog, quem é ele e os detalhes da sua prisão.

Uma dica: ele tem nome de cantor!

Pouso Alegre x Uberlândia… jogo sobre pressão!

Quem perder ficará na zona maldita!

Fabinho Alves… A mais recente contratação do PAFC para campeonato mineiro, pode dar a primeira vitória hoje ao Dragão.

Após quase um terço do campeonato disputado, sem nenhuma vitória, a situação do PAFC no certame mineiro ainda não é preocupante… Mas passará a ser, caso a vitória não aconteça nesta quarta rodada! Com uma derrota e dois empates na competição, se perder o Dragão entrará na zona de rebaixamento!

O jogo contra o Uberlândia nesta segunda, 15, pode ser um divisor de águas. Até aqui o Pousão, todo animado com a volta à Primeira Divisão depois de 28 anos, disputou três partidas e obteve resultados, se não esperados, aceitáveis. Não vencer o Coimbra no seu primeiro jogo em casa, sem torcida, não é assustador. Não vencer o Boa na casa dele, time que há anos tem vaga garantida na elite do Mineiro e larga experiência na Série B do Brasileirão, também não preocupa. Perder por um gol de diferença para o América do Lisca Doido, o time mais constante e vice-campeão da Série B do Brasileirão no ano passado e semifinalista da Copa do Brasil, longe de ser preocupante! No entanto, passar da quarta rodada na zona de rebaixamento… aí sim é preocupante. Por dois motivos:

Primeiro, porque reduz muito a chance de ficar entre os cinco primeiros do campeonato e conquistar uma vaga na Copa do Brasil ou Serie D do Brasileirão, que é o segundo objetivo da diretoria do clube; e ameaça a manutenção na primeira divisão, que é o primeiro objetivo.

Segundo, porque tem alguma coisa errada:

– Ou a orientação técnica não está sendo suficiente para ‘empolgar’ os jogadores!

– Ou o elenco não tem capacidade técnica de manter-se na posição intermediaria da tabela de classificação e muito menos de brigar pelas primeiras posições…

No primeiro caso é preciso dar uma ‘chacoalhada’ na comissão técnica, desde o ‘professor’ Emerson Ávila até o 25º jogador do plantel.

No segundo caso, alguma coisa precisa ser feita em termos de reforços! O que não é simples, pois jogadores custam dinheiro, e dinheiro, mesmo que fosse verde, não dá em arvores!

Enfim… a opção do momento é: empenho geral, desde o roupeiro até o camisa 09! Ah, uma pitada de sorte também ajuda…

Uma vitória sobre o tradicional clube do Triangulo Mineiro hoje a partir das quatro da tarde, pode colocar panos quentes sobre toda essa conjectura e afastar a preocupação. O time chegaria a 05 pontos e dividiria a sexta colocação com o Tombense, clube que desde que ascendeu à elite do futebol mineiro mantém-se entre os primeiros e no ano passado levantou o caneco de vice-campeão mineiro! É nessa posição da tabela que o Dragão do Mandú deve ‘soltar fogo pelas ventas’, seguir chamuscando seus adversários e garantir uma vaga a nível nacional!

Embora não possa sacudir o time na arquibancada, torcida ao Dragão não falta! A vitória sobre o Uberlândia hoje, além de aliviar a pressão sobre o treinador e jogadores, irá tirar a pulga de trás da orelha do apaixonado torcedor do Pousão.

 

Assalto ao Baronesa…

… E o dilema do detetive endividado!

Ferreira era um daqueles raros policiais que viviam exclusivamente do salário recebido do Estado. A maioria dos seus colegas tinham uma atividade paralela: uns faziam ‘bicos’ como segurança, outros tinham um comercio, alguns tinham rendas digamos…‘não declaráveis’!

Ferreira bem que tentou descolar uma renda extra. Iniciou uma granja de codornas, tentou criar galinhas entrou no ramo de mascate de roupas, foi cobrador de dívidas, foi cartola de futebol amador, enveredou-se pelo jornalismo e pelas ondas do rádio… mas nada disso rendia dim-dim! Há anos vivia no vermelho. Nos últimos anos, quando os dois filhos foram para a faculdade a situação… piorou! Pagava a faculdade dos garotos uma vez por ano, sempre em janeiro… Senão não renovava a matrícula!

Certa madrugada o detetive Ferreira teve a oportunidade de colocar as finanças em dia…

Primeiros minutos de uma madrugada fresca de segunda feira. O plantão na velha delegacia de polícia da Silvestre Ferraz estava um marasmo só. Os aviõezinhos e formiguinhas haviam distribuído toda a ‘farinha’ da cidade na madrugada anterior; os pés de cana já haviam ido dormir; os guampudos que, por qualquer motivo, costumam descer o borralho na cara-metade, também já estavam nos braços de Morfeu…  E a DP estava entregue às moscas. Até que, um telefonema da PM solicitou a presença do Perito Criminal a um local de roubo! Uma quadrilha havia feito uma limpeza no cofre do Baronesa!

Não é comum o detetive de plantão acompanhar o perito a locais de crime. Menos ainda o Ferreira, pois ele trabalhava na DH e, além de gostar, tinha mais experiência na investigação de homicídios. No entanto, quando o perito passou pelo hall com sua maleta e o convidou para acompanhá-lo ao local do roubo, ele topou. Afinal, além de quebrar a rotina, dois policiais teriam mais chances de encontrar as pistas que levariam aos assaltantes. Mal sabia o detetive que aquela seria uma das madrugadas mais “conflituosas” da sua carreira!

Os bandidos haviam entrado pelos fundos do hipermercado e após render o segurança, foram direto para o escritório. Embora tivessem completo domínio da situação e um pouquinho de perspicácia… Para evitar chamar a atenção de outros seguranças e da vizinhança no início da madrugada, eles não acenderam as luzes. Usaram lanternas para iluminar o caminho e o local do ‘pote de ouro’. Mas tinham pressa, muita pressa… e pouca habilidade e delicadeza! Após encheram os malotes com tudo que podiam carregar saíram correndo no escuro… E foram deixando os vestígios do crime pelo caminho.

Comunicado o roubo, a PM naturalmente foi a primeira a chegar ao local do sinistro… e não tocou nos ‘vestígios’!

Quando o detetive Ferreira e o perito chegaram ao local, depararam com uma cena inusitada! Ao longo da rampa de acesso ao escritório havia dezenas de pacotes de dinheiro amarradinhos com elásticos, espalhados pelo chão! Foi aí que começou o dilema do detetive Ferreira!

Com a aposentadoria quase batendo à porta, e as contas vencidas quase chegando ao pescoço, de repente ele viu a oportunidade de sair do atoleiro de dívidas. A solução estava a seus pés! Literalmente a seus pés! Bastava abaixar-se e pegar um pacotinho. Um mísero pacotinho resolveria todos seus problemas. Não precisava ficar rico. Bastava apenas pagar as contas.

Todos os pacotinhos de dinheiro espalhados, desde o escritório até ao longo da rampa, continham cem notas. As de R$ 50 somavam, portanto, cinco mil reais. As de R$100 somavam dez mil. Um pacotinho daqueles de notas de cinquenta daria para pagar todas as dívidas da faculdade dos meninos e talvez sobrasse para comer uma pizza no Pier! Se pegasse um pacotinho de notas de cem, daria para colocar e manter suas contas no verde por muito tempo. Quem sabe até passar um final de semana num hotelzinho duas estrelas em São Lourenço ou Caxambu! Precisava ser rápido e sutil! Lá atrás o gerente, ou talvez o dono do hipermercado, conversava com o oficial da PM. O perito ao seu lado estava absorto tirando fotos. Não podia escolher… Tinha que abaixar-se rapidamente e pegar o pacotinho que estivesse ao alcance da mão.

Pegar ou não pegar o pacotinho de dinheiro? This is the question!

Enquanto desciam lentamente a rampa registrando cada detalhe que pudesse identificar os assaltantes, Ferreira travou sua mais notória batalha entre o bem e o mal. Precisava pegar aquele dinheiro para pagar suas contas… Mas não podia fazê-lo! Era contra seus princípios! Além do mais, embora vivesse sempre no vermelho… andava de cabeça erguida!

“Você viveu até aqui sem pegar o que é dos outros. Esse não é seu. Não é certo”, dizia um anjinho de braços cruzados, com uma coroa dourada sobre a cabeça, à sua direita.

“Deixa de se tolo! Não tem ninguém vendo! Vai ficar na conta dos assaltantes mesmo”, dizia um chifrudinho sacudindo um tridente em brasa!

O dilema vivido pelo velho detetive naquela madrugada lembra a piada do Papa Paulo VI quando da visita de Sofia Loren – dona do mais belo par de seios de meados do século passado, ao Vaticano. Dizem que quando ela se inclinou para beijar-lhe a mão, os voluptuosos e rosados seios quase saltaram para fora do decote! Diante de tão sublime visão, o santo papa engoliu em seco e não conseguiu desviar os olhos. Ao perceber o ligeiro devaneio do papa, o anjinho à sua direita teria exclamado com os olhos arregalados:

“Papa Paaaaauuuulo”!!!

Já o ‘chifrudinho’ da esquerda teria encorajado o santo – assanhado – papa, mudando apenas a interjeição…

“‘papa’, Paulo, ‘papa’…”

 

Mas o detetive Ferreira não ‘papou’!

Seu anjinho de aureola dourada venceu a batalha!

Os pacotinhos de notas de cinquenta e de cem continuaram espalhados na rampa do escritório do Baronesa à disposição do seu dono.

De volta à delegacia Ferreira gastou o resto da madrugada para fazer o relatório do caso e de outros em investigação. De manhã, quando chegou em casa, dormiu o sono dos justos. À mesa do almoço contou o fato à família. Os filhos ouviram em silencio. Se limitaram a pousar cada um a mão no seu ombro. Um breve afago… um afago que não tem pacotes de notas de cem que pague!

Nos anos seguintes, com a promoção por antiguidade e o consequente aumento de salário, e o término da faculdade do filho mais velho, Ferreira começou equilibrar as finanças. Três anos mais tarde, ao aposentar-se, finalmente zerou as contas. Apesar de ter vivido muitos anos no vermelho, Ferreira sempre teve sinal verde por onde passou… e sempre pode encostar a cabeça no travesseiro e entregar-se imediatamente às caricias de Morfeu!

Anos atrás, durante um encontro casual com o perito, Ferreira relembrou o fato e disse que estava pensando em contar nas redes sociais o dilema vivido naquela madrugada.

“Eu não faria isso… Pode parecer demagogia”! – disse o cético perito.

Hoje Ferreira finalmente resolveu contar o dilema daquela noite.

“Julguem como quiserem” – disse ele.

“Como cuidar de um familiar com Covid em casa!”

Mensagens da Internet – Utilidade Publica

(Imagem ilustrativa)

“Vejo muitos “posts” aterrorizando as pessoas sobre o número de MORTES… mas não vejo autoridades orientando familiares e amigos das pessoas contaminadas pelo CORONAVÍRUS.

 

Repassando orientações aos leitores!

 

1) não tenha “medo” da pessoa que você vai cuidar, ela precisa da sua ajuda.

 

2) ela precisa ficar “isolada”, então, deixe-a num quarto, numa sala, numa área de pouca passagem para as outras pessoas.

 

3) se você tiver um banheiro separado, tipo um “quarto de hóspedes” é lá que essa pessoa deve ficar, sem sair…se você não tem um lugar assim, deixe a pessoa numa sala arejada, ela deve estar todo o tempo de máscara, deve higienizar as mãos sempre e, não sair daquele local… (só sai pra tomar banho e usar o banheiro).

 

4) se o banheiro for de uso comum, tudo bem… não se desespere… após a pessoa tomar banho, fazer necessidades, ela mesma pode pegar um pano com álcool a 70% ou solução de água sanitária 50 ml + 950 ml de água e passar na tampa do vaso sanitário, no chão do banheiro, nas torneiras, na pia, na maçaneta da porta… se a pessoa for idosa, você coloca luvas, máscaras, prende seu cabelo e vai lá passar essa solução em tudo!

 

5) em todas as portas da casa você deve colocar um pano úmido com água sanitária especialmente naquele ambiente em que a pessoa está.

 

6) se você puder comprar copos, garfos, facas e colheres descartáveis será melhor…, mas… se não puder, deixe uma bacia com água e água sanitária para a pessoa colocar os talheres, copos e pratos “de molho” nesta mistura… e você pegará essa bacia 1x por dia, com luvas e lavará os objetos 1x por dia… a pessoa infectada não vai tocar na bacia… vai apenas depositar os objetos na solução. Marque os talheres com esmalte para unha(vermelho)… assim você tem certeza de que não vai misturá-los… Marque os copos e pratos, também com as iniciais do nome da pessoa.

 

7) cobertores, lençóis, fronhas, cobertas, travesseiros devem ficar isolados, até que a pessoa se recupere… não lave-os junto com as roupas da casa… (se for lavar e reutilizar, use uma mistura com água e um pouco de água sanitária pra deixar de molho antes de lavar!)

 

8) Ofereça os remédios sempre em copos descartáveis…ou num guardanapo de papel.

 

9) você, que é “cuidador” e seus familiares, que estão na casa, devem manter distância dessa pessoa e devem USAR MÁSCARAS TAMBÉM.

 

10) Devem manter distância mas… “cobri-la” com AMOR e RESPEITO!

 

Lembre-se… MANTENHA A CALMA!

Essa pessoa precisará muito mais de você do que você jamais precisou de alguém!

 

Se achou essa postagem muito importante copie e cole na sua linha do tempo. Isto é UTILIDADE PÚBLICA! Pratique o bem! Ele, no final, sempre vence!! Seja generoso, empático e respeitoso. Logo… logo, pousaremos em solo seguro com nossas mentes mais maduras e coração mais amoroso! #empatiaaoproximo

Pedalar na Lagoa… um aprendizado para a vida!

Quem conseguir não xingar e nem ser xingado… pode pegar a ‘carteirinha’!

     O movimento começa cedo, de manhãzinha, e não tem hora para acabar. Durante todo o dia, até a noite, são centenas de pessoas pedalando em torno da lagoa. Alguns indo para o trabalho – à tarde voltando -, alguns fazendo entregas, muitos treinando para competições e a maioria apenas fazendo turismo ou cuidando da saúde física e mental.

Essa é a Sapucaia, que equivocadamente deu nome a varias cidades e rios do Sul de Minas…

     Durante todo o percurso da Avenida Negrão de Lima, numa extensão de 20 quilômetros, há uma ciclofaixa, lenta, no elevado do canteiro, reservada aos bikers. Mas nem todos pedalam em segurança. Ao longo de todo o percurso há placas de alerta aos motoristas:

“Cuidado: Ciclistas em Treinamento”!

     No entorno da lagoa pedalam homens, mulheres e crianças de todas as idades, dos 7 aos 70 anos. Aliás, há muitos baby-bikers de 4 ou 5 anos pedalando por ali. E tem também senhores com mais de oitenta primaveras!

Impossível não parar para as selfies e ‘conversar’ com JK, Niemeyer, Burle Max e Portinari…

     Nos finais de semanas ensolarados, a faixa de 1,80m fica pequena para tanta gente. É aí que mora o perigo!

É aí que começa o “aprendizado para a vida”… Aprendizado de paciência, de tolerância, de educação, de respeito ao próximo e, principalmente… de controle dos próprios sentimentos e emoções!

Nem todos seguem as normas:

– pedalar sempre à direita da faixa;

– não invadir a esquerda sem olhar;

– não parar na faixa;

– não pedalar em dupla paralelo ao amigo ou à namorada;

Paralela à ciclofaixa há outra faixa pavimentada de igual tamanho… Essa é exclusiva para pedestres, que correm ou que caminham.

– Não pedalar na faixa de pedestres…

E a recíproca é verdadeira:

– Não caminhar na ciclofaixa!

Apesar de tudo isso, tem gente que trafega aqui ou acolá até com as mãos fora do guidom!

A inobservância destas normas de segurança e bem viver, durante a semana, pode provocar expressões do tipo:

– Desculpe… foi mal…

E reações do tipo:

– ‘Belê’… tranquilo…

Já nos finais de semana o caldo engrossa. As expressões mais comuns são:

– ‘Prestenção’ mané… Tem mais gente na pista… Não sabe andar, fica em casa… Jumento… chifrudo… (e tem coisa pior).

Durante a semana, com pouco movimento, os ciclistas, quando se aproximam de um distraído, pedem passagem com um bem humorado cumprimento:

– Bom diiiiia, boa taaarde… – e o distraído responde acanhado:

– desculpe!…

No domingo, com a faixa disputada por centenas de ciclistas, – e pedestres – distraídos, especialmente o turista ou o domingueiro fazendo selfie enquanto pedala, o linguajar perde um pouco do ‘romantismo’! De longe os incomodados já vão vociferando com rispidez:

– Direita, direita, olha a frente, direiiiita… ‘baraaaaalho’!

E quando passam, além da comunicação expressa no rosto e no olhar, se comunicam também com o braço… e não raro também com o ‘dedo médio’!

Praça do Museu de Arte, o ponto mais movimentado da lagoa. Ninguém passa por aqui sem levar muitas… fotografias!

    Enfim… pedalar na lagoa; curtir o ar puro; o frescor das arvores – ali tem uma fileira de Sapucaia, arvore que dá nome a rios e cidades no Sul de Minas – contemplar o visual dos diversos tons da agua, nem sempre limpa; os pescadores que banham minhocas diariamente por ali e de vez em quando fisgam uma tilápia ‘emperreada’, rsrsrsr; as academias ao ar livre; os trechos sombrios e desabitados da avenida; os pontos turísticos tais como a Casa do Baile, a Capela de São Francisco, o Mirante com as estátuas de JK, Niemeyer, Burle Max e Portinari defronte a ‘Casa Kubitschek’,  o Museu de Arte, cenário de infindáveis selfies e vídeos de noivas ou mulheres gravidas; a barragem da Av. Antonio Carlos, ponto final e cenário para mais fotografias, e finalmente a Praça de Yemanjá a Rainha da “Lagoa”, para curtir o por do sol!… É um aprendizado e tanto!

Praça de Yemanjá…  O passeio só fica completo quando se chega aqui. Melhor ainda se for no final da tarde…

 

     Depois de muito treinamento, depois de conviver com essa diversidade de comportamentos, de perfis tão diferentes, cada um se achando no direito disso e daquilo e um pouco dono de tudo… se você conseguir pedalar durante dez dias seguidos pelo orla da lagoa da Pampulha:

– Sem atrapalhar ninguém!

– Sem ser atrapalhado por ninguém!

– Sem dizer um palavrão…

– … e sem ser xingado por ninguém!

Então você aprendeu…  você cresceu…  você evoluiu…

Então você ‘pode passar no escritório’ e pegar sua ‘carteirinha’!

Você está preparado para viver em sociedade!