Pedalar na Lagoa… um aprendizado para a vida!

Quem conseguir não xingar e nem ser xingado… pode pegar a ‘carteirinha’!

     O movimento começa cedo, de manhãzinha, e não tem hora para acabar. Durante todo o dia, até a noite, são centenas de pessoas pedalando em torno da lagoa. Alguns indo para o trabalho – à tarde voltando -, alguns fazendo entregas, muitos treinando para competições e a maioria apenas fazendo turismo ou cuidando da saúde física e mental.

Essa é a Sapucaia, que equivocadamente deu nome a varias cidades e rios do Sul de Minas…

     Durante todo o percurso da Avenida Negrão de Lima, numa extensão de 20 quilômetros, há uma ciclofaixa, lenta, no elevado do canteiro, reservada aos bikers. Mas nem todos pedalam em segurança. Ao longo de todo o percurso há placas de alerta aos motoristas:

“Cuidado: Ciclistas em Treinamento”!

     No entorno da lagoa pedalam homens, mulheres e crianças de todas as idades, dos 7 aos 70 anos. Aliás, há muitos baby-bikers de 4 ou 5 anos pedalando por ali. E tem também senhores com mais de oitenta primaveras!

Impossível não parar para as selfies e ‘conversar’ com JK, Niemeyer, Burle Max e Portinari…

     Nos finais de semanas ensolarados, a faixa de 1,80m fica pequena para tanta gente. É aí que mora o perigo!

É aí que começa o “aprendizado para a vida”… Aprendizado de paciência, de tolerância, de educação, de respeito ao próximo e, principalmente… de controle dos próprios sentimentos e emoções!

Nem todos seguem as normas:

– pedalar sempre à direita da faixa;

– não invadir a esquerda sem olhar;

– não parar na faixa;

– não pedalar em dupla paralelo ao amigo ou à namorada;

Paralela à ciclofaixa há outra faixa pavimentada de igual tamanho… Essa é exclusiva para pedestres, que correm ou que caminham.

– Não pedalar na faixa de pedestres…

E a recíproca é verdadeira:

– Não caminhar na ciclofaixa!

Apesar de tudo isso, tem gente que trafega aqui ou acolá até com as mãos fora do guidom!

A inobservância destas normas de segurança e bem viver, durante a semana, pode provocar expressões do tipo:

– Desculpe… foi mal…

E reações do tipo:

– ‘Belê’… tranquilo…

Já nos finais de semana o caldo engrossa. As expressões mais comuns são:

– ‘Prestenção’ mané… Tem mais gente na pista… Não sabe andar, fica em casa… Jumento… chifrudo… (e tem coisa pior).

Durante a semana, com pouco movimento, os ciclistas, quando se aproximam de um distraído, pedem passagem com um bem humorado cumprimento:

– Bom diiiiia, boa taaarde… – e o distraído responde acanhado:

– desculpe!…

No domingo, com a faixa disputada por centenas de ciclistas, – e pedestres – distraídos, especialmente o turista ou o domingueiro fazendo selfie enquanto pedala, o linguajar perde um pouco do ‘romantismo’! De longe os incomodados já vão vociferando com rispidez:

– Direita, direita, olha a frente, direiiiita… ‘baraaaaalho’!

E quando passam, além da comunicação expressa no rosto e no olhar, se comunicam também com o braço… e não raro também com o ‘dedo médio’!

Praça do Museu de Arte, o ponto mais movimentado da lagoa. Ninguém passa por aqui sem levar muitas… fotografias!

    Enfim… pedalar na lagoa; curtir o ar puro; o frescor das arvores – ali tem uma fileira de Sapucaia, arvore que dá nome a rios e cidades no Sul de Minas – contemplar o visual dos diversos tons da agua, nem sempre limpa; os pescadores que banham minhocas diariamente por ali e de vez em quando fisgam uma tilápia ‘emperreada’, rsrsrsr; as academias ao ar livre; os trechos sombrios e desabitados da avenida; os pontos turísticos tais como a Casa do Baile, a Capela de São Francisco, o Mirante com as estátuas de JK, Niemeyer, Burle Max e Portinari defronte a ‘Casa Kubitschek’,  o Museu de Arte, cenário de infindáveis selfies e vídeos de noivas ou mulheres gravidas; a barragem da Av. Antonio Carlos, ponto final e cenário para mais fotografias, e finalmente a Praça de Yemanjá a Rainha da “Lagoa”, para curtir o por do sol!… É um aprendizado e tanto!

Praça de Yemanjá…  O passeio só fica completo quando se chega aqui. Melhor ainda se for no final da tarde…

 

     Depois de muito treinamento, depois de conviver com essa diversidade de comportamentos, de perfis tão diferentes, cada um se achando no direito disso e daquilo e um pouco dono de tudo… se você conseguir pedalar durante dez dias seguidos pelo orla da lagoa da Pampulha:

– Sem atrapalhar ninguém!

– Sem ser atrapalhado por ninguém!

– Sem dizer um palavrão…

– … e sem ser xingado por ninguém!

Então você aprendeu…  você cresceu…  você evoluiu…

Então você ‘pode passar no escritório’ e pegar sua ‘carteirinha’!

Você está preparado para viver em sociedade!

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