Na região onde rios e cidades levam seu nome, não se tem a localização de um único pé nativo da famosa arvore.
Você que já viajou pelo Sul de Minas, com certeza cruzou cidades e rios com nomes originários na Sapucaia… São Gonçalo do Sapucaí, Santa Rita do Sapucaí, Porto Sapucaí. Se subir até a bela Campos do Jordão você passará por São Bento do Sapucaí, Sapucaí Mirim e poderá beber nas nascentes cristalinas dos rios Sapucaí e Sapucaí Mirim. Todas estas localidades e rios receberam esse batismo em homenagem à famosa Sapucaia, arvore de grandes copadas, supostamente abundante no Sul de Minas, principalmente nas margens baixas dos rios que levam seu nome.
Só que não!
A famosa Sapucaia, conhecida (e explorada) pelos europeus que aqui chegaram, desde o século XVI, originaria da Mata Atlântica, hoje anda pela beira da morte. Não se tem a localização de um único pé nativo no Sul de Minas.
O que o historiador chamou de Sapucaia, era, na verdade, o Óleo Copaíba!
Este sim, nativo e abundante na região onde batizou tanta ‘gente’!
As arvores são de fato parecidas, apenas no porte, porém muito diferentes na florada, na formação da casca (a Sapucaia tem formato de rusgas e fissuras, lembra a casca do cedro). O óleo copaíba tem a casca um pouco mais lisa e seu fruto é pequeno. O fruto da Sapucaia tem o tamanho de uma cabeça de cachorro médio. Se cair do galho a trinta metros de altura sobre um cachorro, pode aleijá-lo! O fruto da Sapucaia (semente) tem grande valor nutricional embora não seja comercializado. O óleo copaíba tem grande valor medicinal. Ambas as arvores, que podem passar de trinta metros de altura, podem forrar o chão da casa que você pisa!
Por engano ou não, o nome ficou. Todos estes lugares que eu citei foram batizados com o nome da Sapucaia. Mesmo não vendo a arvore, toda vez que você passar por ali, vai se lembrar do que acabou de ler!
Anos atrás a prefeitura de Belo Horizonte plantou 125 pés de Sapucaia em suas praças, jardins e logradouros públicos, inclusive na Praça da Liberdade. No entorno da Lagoa da Pampulha, por onde pedalo quase todos os dias, já contei até o momento 35 arvores!
Esta é época mais fácil de ‘percebê-las’… É a época da florada, ou melhor, da ‘folhada’! Sim. A Sapucaia não dá flores… No início da primavera as folhas verdes, novas, mudam de cor e durante cerca de duas semanas tingem suas copas de rosa e lilás. Por isso é fácil percebê-las… e contá-las.
Belo Horizonte é bastante arborizada e florida, especialmente na região da Pampulha. O ano todo sibipirunas, manacás, primaveras, flamboyants, jacarandás rosas, ipês de várias cores, sapucaias, cada um a seu tempo enchem nossos olhos – e corações – de cores! Na ilha da lagoa, no momento, tem três pés floridos que não consigo afirmar qual deles é ipê roxo ou Sapucaia.
Mas, voltando à Sapucaia, a arvore que enganou o historiador e acabou batizando rios e cidades no Sul de Minas, tem sim Sapucaia no Sul do Estado. Graças a um cidadão altruísta que resolveu preservar a espécie tão bela. Em Santa Rita do Sapucaí há dois belos espécimes da famosa arvore. E é muito fácil identificá-los. Quando entrar na cidade pelo acesso sul, pela ponte principal, quando estiver no final da ponte sobre o Rio Sapucaí, olhe para a margem à sua direita à frente. Ali – salvo engano no quintal de uma academia – duas belas arvores com suas copadas lilás irão encher seus olhos!
Agradeço a natureza todos os dias por tão belo espetáculo… E agradeço a Deus a sensibilidade para perceber as belezas que nos cercam e tornam nossa vida mais colorida, mais alegre, mais divertida, mais romântica…