Policial Civil localiza o Gol que matou o cachorro

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O cachorricida não foi encontrado, e mesmo que fosse, não seria preso, pois cachorros não são protegidos pelo código penal!

As imagens do veiculo VW Gol verde escuro fazendo uma manobra brusca para atropelar propositalmente os dois cães que descansavam inocentemente deitados na beira da rua, correram as redes sociais. Captadas pela câmera de uma residência no bairro Ibirá, a norte de Pouso Alegre, as imagens ‘bombaram’ na redes sociais!! Faces, blogs, WhatsApp foram replicados e em pouco mais de uma hora o “cachorricidio” ‘doloso’ do bairro Ibirá já havia sido visto por mais de 40 mil pessoas!
Com tantas visualizações, com tanta covardia, com tanta maldade, com tanta comoção virtual social, com tanta celeuma, dezenas, centenas, milhares de pessoas pararam tudo que o que faziam na tarde de domingo, 1º de Outubro para tentar chegar ao assassino de cães!
Quem seria o motorista do gol verde assassino?
Quem tem intimidade com a internet conseguiu aproximar as imagens do Gol e conseguiu ver a placa traseira. Mas não viu o suficiente! Viu apenas duas letras e dois números!
Dentre as milhares de pessoas indignadas com a crueldade e covardia com os inocentes cãezinhos, estava uma policial civil, que embora detenha um cargo que 99% das pessoas não associam à investigação policial, é 99% investigativa. E ela recebeu de um internauta, amigo oculto da lei, a informação que faltava: dizia ele: “Conheço um cara assim assado, que tem um carro idêntico ao das imagens. Ele tem o andar jongolhó idêntico ao cachorricida. Seu nome é xyz e já foi meu vizinho”.
Juntando as imagens do carro assassino, parte da placa alfanumérica e o primeiro nome do suspeito… Eureka: a medica legista identificou o carro, o nome e o endereço do cachorricida do Ibirá! E passou o resultado da sua investigação à Policia Militar. Prendê-lo agora é trabalho dos homens da lei. Informações ainda não oficiais dão conta que a PM localizou o carro assassino na garagem da casa do dono, no bairro Faisqueira, conforme havia informado a medica legista, mas o dono do carro, B.L.S. não foi localizado!
Mas não se animem senhores defensores do cães inocentes fracos & oprimidos… Não existe no Código Penal Brasileiro a figura típica do assassinato doloso ou não de cães, que possa mandar o cachorricida para o Hotel do Juquinha. O mais perto que a lei passa do cidadão covarde, bruto, insensível, desequilibrado, que dá uma guinada no volante do seu carro para, propositalmente atropelar um cão é o artigo 32 da Lei 9605/98, que reza o seguinte:”Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa”.
Portanto, seja o assassino de cães preso ou não em flagrante, ele será levado para a DP, sentará ao piano, assinará o famigerado TCO e voltará belo e formoso para casa! E, daqui a cinco ou seis semanas sentará ao piano do Homem da Capa Preta. Não ficará um dia atrás das grades! Sua pena de no máximo um ano será trocada por uma cesta básica, ou algumas semanas limpando o canil municipal! Ou quem sabe, alguns sacos de ração para os cãezinhos do canil…!
… Mas valeu toda a comoção virtual social para localizar o cachorricida! Mostra que o ser humano está mais sensível à vida… Que o ser humano se importa com a vida… Mesma que seja com a vida de um animal!
Ah, o moço que matou o cãozinho no Ibirá, tem várias passagens pela polícia por infrações de transito, por infração à Lei Maria da Penha, ou seja… Está acostumado a agredir mulher!!!

Você viu o Alfredo?

Ele está desaparecido desde sábado!

Você tem um cachorrinho de estimação? Então é fácil para você imaginar a angustia de alguém quando perde seu animalzinho.
Pois é!
A dona do Alfredo está vivendo essa incerteza desde que o Alfredo saiu de casa, no último sábado de manhã. Ele se perdeu no bairro recanto dos Fernandes e ainda não voltou para casa. Alguém disse tê-lo visto próximo à faculdade de Direito, mas a informação não se confirmou!
O Alfredo não tem pedigree. Seu valor é afetivo. Ele tem três anos de idade e é totalmente dócil. Dorme na cama com a dona.

Ajude o Alfredo a voltar para casa.
Se você o encontrar por aí, ou se você o encontrou e recolheu na sua casa, entre em contato com a Aretuza através do WhatsApp 9.9812-2703, ou com este blog.

Faça sua boa ação da semana… Ajude o Alfredo para a sua família!

Vida de cachorro… Uma família inteira morando numa casa de papelão!

Primeiro a jovem alta e esguia, mal saída da puberdade, por algum motivo – ou sem nenhum – foi colocada para fora de casa. Quando o cio chegou, sem ninguém para escolher por ela o melhor parceiro, ela se deitou com o primeiro que apareceu – aliás, atraiu meia dúzia de ‘tarados’ e transou com todos em pé mesmo, como manda a tradição. Há quem diga que o pai da maioria dos filhotes é um Fila caramelo, muito parecido com ela – deve ter sido atração à primeira vista.

Caramelo Focinho Preto: Uma mãe e seis filhos numa esquina qualquer da vida!

Caramelo Focinho Preto: Uma mãe e seis filhos numa esquina qualquer da vida!

Quando a natureza avisou que a prole ia nascer, “Caramelo Focinho Preto” – este é o nome pelo qual batizamos nossa heroína – enfurnou-se num matagal pantanoso no bairro Fátima Velho e deu à luz sozinha, sem os ‘pais’ das crianças. Como a natureza é pródiga, todos os fofuchos, apesar de ‘nati-órfãos’ de pai, passam bem!

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Alguém com pena, por causa das condições insalubres do ninho – mas não com pena suficiente para recolher em seu quintal, ainda que provisoriamente, toda a família – os levou para a rua. No inicio da manha desta sexta 08, Continuar a ler

Tarado invade o quintal e é espancado por dois brutamontes

O portão da garagem já estava baixando quando ele chegou e foi se esgueirando, se esgueirando e entrou no quintal. Quando consegui baixar o vidro do carro para gritar com ele o portão se fechou e ele ficou do lado de dentro. Pensei em tornar a abrir o portão e botá-lo pra correr, mas eu já estava atrasado para o trabalho. Além do mais dona Rita estava lavando a garagem… Ela que expulsasse o invasor. Só esqueci de um detalhe… Pretinho, baixinho, daquele tamanho, invadindo o território alheio, com dois brutamontes  vigiando o quintal, talvez ele fosse massacrado… Foi mesmo!

Quando cheguei na hora do almoço, fiquei sabendo do estrago!

Átila e seus quase oitenta quilos estava Continuar a ler

Cachorros & Cachorradas = O Lobo & o Carneiro… e os carrapatos!

Conheci o Carneiro ainda menino, de calças curtas e pés no chão, no final da rua Mons. Dutra, no bairro Primavera. Do meio de uma renka de irmãos e irmãs, o garotinho branquelinho, de sorriso fácil, deve ter ganho seu apelido por causa dos cabelos loiros cacheados, parecendo o fornecedor de lã… Apesar de nos conhecermos da rua e sermos ‘malungos’, nunca estreitamos relacionamento. Nos aproximamos em 1990, quando eu dirigia a LEPA e ele foi levado pelo Jose Maria Simões, para ser o ‘barateiro’ do ‘carteado’ na sede da liga.

Foi ali que conheci também o Lobo, companheiro inseparável do Carneiro…

Por mais que Carneiro desprezasse e tentasse se ver livre do fiel amigo, ele sempre seguia seus passos e na maioria das vezes, apenas o seu cheiro… E sempre estava à seu lado. Era baixo, forte, troncudo, pêlos grossos e compridos quase se arrastando pelo chão. Pêlos desarrumados e sujos… Acho que nunca viu um chuveiro ou mesmo uma mangueira no quintal. Banho!!! Só quando chovia.

Carneiro almoçava cedo em casa no Santo Antonio e descia a pé até os barzinhos em volta do Mercado Municipal. Podia-se contar nos dedos – da mão esquerda – os dias da vida de Carneiro em que ele não virou um copo de Suco de Gerereba… E o fiel Lobo descia a Getulio Vargas ou Otavio Meyer ao seu lado. Às vezes na frente, às vezes arfante, atrás… O dia que Carneiro estava atrasado para o trabalho e descia de onibus, Lobo vinha correndo no rastro. Minutos depois de sua chegada na Liga, Lobo chegava com a língua de fora. As vezes chegava antes do Carneiro. E se deitava como de habito na varanda da Liga na Mons. Jose Paulino.

Enquanto Carneiro cuidava do carteado, do meio dia até a madrugada, Lobo ficava na varanda do prédio. Dormia de roncar o dia inteiro… De noite fingia dormir, mas estava sempre atento. Se chegava um conhecido na liga, ele apenas abria os olhos sem mexer com a cabeça. Se fosse estranho, imediatamente Lobo se levantava, se empertigava e latia forte para avisar o dono e até impedir a passagem…

Certa tarde de muito calor, notei pequenas pintas marrons na parede bege da Liga. Coisa à toa, não dei importância. No dia seguinte pela manhã as pintas não estavam mais lá. Também não dei importância. Outro dia, por acaso voltei a perceber as mesmas pintas na parede. Passei a observar e vi que as pintas redondas e achatadas, do tamanho de uma tampa de canetas bic, outras maiores, estavam… se mexendo!!! Observei melhor… Eram carrapatos!!! Três, cinco, oito…? Não…!!! Eram 18, 20, 25 carrapatos da cor de chocolate, de variados tamanhos! Eles subiam lentamente pela parede bege propiciando uma bela combinação de tons de cores, até sumir próximo ao telhado… Aquela debandada de parasitas estava abandonando o Lobo. Nem os carrapatos suportaram a falta de higiene do velho, peludo e dócil Lobo!!!

Menos mal que estavam abandonando o corpo peludo do Lobo!  O problema era… Para onde iriam? Dentro do escritório, das salas de jogos, da cozinha nenhum carrapato foi visto. Mas, havia a questão do nojo, da falta de higiene! Era preciso dar um fim nos carrapatos… ou no seu hospedeiro!

Carneiro, era o típico bom carneiro, nunca berrava. Não sei por inteligência ou por natureza, era de falar pouco e escutar muito. Ele não era meu subordinado, mas nosso relacionamento era respeitoso e cordial. No entanto, sempre pareceu que ele tinha medo de mim, embora não tivesse motivo.

Quando pedi a ele para não trazer mais o Lobo – e seus carrapatos – para o trabalho ele não objetou. Mas a separação era praticamente impossível. Nos primeiros dias Lobo atrasou um pouco mais para chegar à Liga… precisou de alguns minutos para roer as cordas que o prendiam e as tabuas do portão, antes de descer calmamente a Otavio Meyer, parar no bar no da Maria, na esquina do mercado e seguir em frente, o cheiro do dono.

No outro dia Carneiro amarrou Lobo a uma corrente. Que problema!!! Ninguém dormiu na vizinhança enquanto Carneiro não chegou. Lobo latiu, chorou e uivou até ouvir a voz do dono… de madrugada!

A única maneira de livrar-se do Lobo era doá-lo a alguém. Mas ninguém queria um cachorro de meia idade, com porte de Beagle e pelagem de Pequinês, encardido, mesmo que não soubessem que ele era o maior taxista de carrapato da cidade! O jeito então era abandoná-lo longe de casa.

Na madrugada seguinte, depois de encerrar a sessão de carteado, Carneiro colocou Lobo no porta malas do carro de um amigo e ele o soltou na entrada do Pantâno. Naquela mesma madrugada, antes do galo cantar, Carneiro precisou se levantar ainda grogue, exalando seu característico cheiro de bagaço de cana, para abrir o portão… O amigo Lobo estava lá arranhando o portão, tentando entrar para proteger a casa do dono!

Carneiro ainda fez mais duas ou três tentativas de despachar Lobo, mas ele sempre voltava para casa… E com ele os carrapatos!  Até que;

– Carneiro, embale o Lobo para viagem. Amanha é dia de ir à Silvianopolis… Vou levar o Lobo e jogá-lo no Rio Cervo. Quero ver ele trazer os carrapatos para cá de novo…!!!

Se pensam que Carneiro se amofinou! Se enganaram carrapatamente!

A uma da tarde do dia seguinte Carneiro estava, como de habito, sorridente na porta da liga me esperando. Dentro do saco de estopa marron, imóvel, alheio ao seu  destino, podia-se ouvir a respiração ofegante de Lobo…

Parei o Escort prata sobre a ponte do Rio Cervo, na divisa dos municípios de Pouso Alegre com Espírito Santo do Dourado. Abri o porta-malas, desatei lentamente a cordinha que amarrava o saco de estopa… Lobo havia se ajeitado na traseira do carro. Estava sentado dentro do saco. A língua de fora… Não disse uma palavra, não fez um movimento. Apenas fitou-me seu par de olhos pidões! Afastei-me um metro da traseira do carro, apoiei as mãos no parapeito da ponte da estrada deserta e olhei para baixo. As águas sujas do pequenino Rio Cervo desciam rápidas lá embaixo, se desviando de pedras e de galhos podres de arvores, seguindo seu inexorável destino em direção ao mar… Nenhum animal sobreviveria àquelas pedras fincadas em pouco mais do que uma lamina de água suja. Esperei um minuto, que pareceu uma eternidade, ali encostado na ponte, torcendo para meu amigo Lobo pular do porta-malas, sair correndo até se enfurnar numa chácara qualquer da beira da estrada… Mas ele permaneceu imóvel dentro do saco. Seus olhos tristes pareciam querer dizer;

– Estou em suas mãos… Faça o que mandar seu coração!

Não esperei que ele repetisse… Mudo como ele, fechei a tampa do carro, entrei, dei partida e fui embora.

Quando o cabo Pinheiro passou ao longo do corredor da cadeia de Silvianopolis no inicio da tarde daquela terça feira, notou que as três celas sempre vazias, desta vez tinha um preso e perguntou;

– Qual o B.O. deste pobre diabo?

– Trafico ilícito de carrapatos…! Respondi

– Quanto tempo ele vai ficar aí?

– Até que alguém pague sua fiança e o leve para uma casa de tratamento e recuperação! Quer tentar?

No dia seguinte, quando Carneiro perguntou do Lobo, respondi curto, grosso e sério;

– Se a correnteza tiver andado bem, seu cãozinho carrapatento já deve estar chegando ao Rio Sapucaí, lá embaixo, nos Vitorinos…

Na quinta feira quando cheguei para trabalhar na Delegacia de Silvianópolis o baixinho cabo Pinheiro, de arrastado sotaque carioca, já estava no Destacamento, contiguo à delegacia e cadeia. Ao seu lado havia um cachorro cochilando. Era baixote, marrudo, imensos pêlos lisos escovados e tosados, cor de mel… Quando ele abriu os olhos preguiçosos para olhar-me de esgueio e mexeu levemente a ponta do longo rabo, lembrei do Lobo. Antes que pergunta chegasse à boca e ganhasse som a conclusão chegou ao cérebro… Vendo minha mudez sem olhar para mim, o cabo ‘carioca’ emendou com uma ponta de ironia e sarcasmo…

– Ele só precisava de banho, tosa e escova… Eu mesmo fiz!

A viagem de volta do Lobo foi bem mais confortável. Ele veio cochilando de rosquinha no tapete, na frente do banco do passageiro. Quando passamos sobre a ponte do Rio Cervo dei uma olhada discreta pela janela e outra para ele… Acho que vi seus olhos se abrir e fechar lentamente! Não sei se ele quis dizer:

– Viu o que você quase fez?

Ou se:

– E aí, valeu a pena?

Ou quem sabe…

– Obrigado por ter me dado uma segunda chance…

Difícil foi agüentar a boca aberta do carneiro nos dias seguintes. Ele, que já era risonho, não parava de sorrir!!! Embasbacou-se no momento em que viu Lobo, lindo, louro belo e faceiro cor de mel – e sem carrapatos – entrando na varanda da Liga.

Meses depois eu deixei a liga e perdi o contato com os dois amigos. Alguns anos mais tarde eu soube que a singela amizade havia chegado ao fim. Carneiro, na casa dos 30 anos, morreu precocemente, como era esperado. Seu fígado não suportou mais o banho diário de álcool. Cirrose hepática!!!

Lobo, que resistira ao ataque diário de dezenas de carrapatos e escapara do vôo cego no Rio Cervo, não resistiu ao inexorável passar dos anos. Já era bem maduro na época destes fatos. Pelo seu porte físico, deve ter vivido mais uns cinco anos, até os treze ou catorze anos…

Será que Lobo & Carneiro se encontraram no outro mundo?

A ultima batalha do Campeão

Conheci o Campeão na loja de motores do Camargo, na Tuany Toledo, em 1995. Na época ele ainda se chamava Pity… Devia ter uns cinco ou seis meses de vida. Pity pertencia à sua caçula Aline, que tinha quase a mesma idade proporcional dele, 5 anos. Ela havia ganhado o bicho mal saído das fraldas e deve ter pensando que ele ficaria eternamente seus treze anos do tamanho de filhote.

À medida que o esperto cãozinho ia crescendo, crescia também a preocupação em desfazer-se dele. O Camargo e a Bete, claro, pois se dependesse da Aline ela estaria com ele até seus bigodes pintarem de russo. Talvez até o levasse para Londres, onde mora hoje!

O bicho tinha um habito curioso e interessante. Adorava passear. A guia ficava sob o balcão da loja. Toda vez que a garotinha o convidava para dar uma volta na avenida, ele corria na frente, pegava a guia trazia até ela, esperava que ela pegasse na outra extremidade e saia segurando a guia com a boca, pela rua, belo e empertigado, puxando a garotinha…

Era um cachorro extremamente fiel, afável e educado, mas… Cresceu. No sobradinho do Camargo não havia espaço para ele, embora tivesse espaço de sobra no coração de Aline.

Levei para o sitio. Levei para agradar o amigo, pois eu tinha a cadela Nala, já madura e o molecão Nero. Além do que, como Camargo e família iam sempre ao sitio, Aline não se separaria do seu Pity.

Aconteceu que naquela semana meu vizinho Osvaldo perdeu seu Lulu… – Meus cães sempre se chamaram Nala, Atila, Nero, Califa, Iscar… Os do Osvaldo sempre eram rebatizados de Lulu, Totó, ou Campeão – Na roça, quem uma vez teve um cão, nunca mais deixa de ter um.

Pity caiu como uma luva na vida do Osvaldo. Saiu muito melhor do que a encomenda. Tornou-se seu amigo inseparável. Onde ele ia o cão ia atrás, quero dizer, na frente… correndo aqui e acolá, cheirando um arbusto, espantando um passarinho, levantando  uma perna ou outra e marcando o território, encarando um rival.

Tão logo chegou à casa do Osvaldo Pity foi rebatizado de Campeão. O nome Pity, servia para um cão da cidade, de uma menina. Agora ele era um cachorro brejeiro, da roça… Vigiava a casa, anunciava quem chegava ao portão e mandava esperar lá fora até o dono chegar. Punha para correr qualquer bicho que ameaçasse a segurança do sitio. Ia todo dia para o trabalho com Osvaldo e seu pai, a pé, dois ou três quilômetros. Enquanto eles trabalhavam na lavoura, Campeão fazia uma varredura no local. Espantava e perseguia lebres, ouriços, cobras, lagartos, onças, lobos e outros bichos. Quando se cansava deitava na sombra de uma planta qualquer e dormia o sono dos justos… e fiéis. Só acordava quando sentia o cheirinho de comida. Mas não avançava. Levantava a cabeça, esticava os olhos, quase lambia os beiços e esperava ser servido, no chão, sem frescura. Na volta para casa no final do dia, chegava sempre na frente dos donos. Se eu estivesse na cozinha de sua casa e campeão chegasse arfante e sorridente e estivéssemos falando mal do Osvaldo ou do tio Antonio, tínhamos que mudar de assunto, pois dentro de dois minutos eles entrariam pela varanda.

Eu mesmo fiz um portãozinho de vai-vem na tela da casa dele. Assim ele poderia sair do quintal para dar seus passeios diários sem precisar do Osvaldo.

Campeão se adaptou maravilhosamente bem à vida do campo, mas não esqueceu suas raízes. Toda vez que a antiga dona ia ao sitio e fazia-lhe uma visita, era recebida sempre com sorrisos, trejeitos e abanos de rabo. Comigo então, era uma festa especial!! Parece que ele passava a semana me esperando. Vinha me receber fora do portão, pulando igual uma gazela. Só parava para receber os cafunés. Deitava no chão, rolava, esperneava. Quando terminava o cafuné eu ordenava:

– Pronto, garoto… agora pode ir!

E ele voltava alegre e satisfeito pela mesma portinha de vai-vem que saíra e ia se deitar feliz na sombra da varanda.

A vida do Campeão era uma vida de campeão!!! Mas… mesmo um campeão tem desafetos. Campeão tinha dois no bairro… Um robusto viralatas ascendente da 15ª geração de pastor alemão do Tião do Candido e outro do mesmo porte, porém de ascendência mais próxima, da mesma raça, do Sr. Aleixo. Quando eles se encontravam na estrada era briga na certa. Do nada pegavam no tapa. Quero dizer, na cara, no peito, no pescoço… Não havia como separá-los. Cabo de vassoura, arbustos, chicote, balde d’agua fria… Nada esfriava a fúria dos dois contendores. Iam rolando na poeira, mordendo aqui, sendo mordido ali, latindo, ganindo e só paravam quando a energia ou o fôlego acabava. Passavam uns três dias acabrunhados pelos cantos, lambendo os ferimentos e logo estavam prontos para outra.

Presenciei uma destas brigas. Estávamos num mutirão de ‘conservação de estrada” quando o cão do Aleixo passou acompanhando seu Del Rey. Foi uma das lutas mais ferozes que já vi. Éramos mais de trinta homens de enxada na mão. Só conseguimos apartar a contenda quando alguém teve a feliz idéia de pegá-los pelas duas pernas traseiras e arrastá-los para mais de cem metros um do outro!!!

Esta valentia ainda lhe custaria a vida…!

Era uma ensolarada manhã de domingo, dia de clássico do campeonato brasileiro de 2002. Osvaldo foi ao pesqueiro do Jairo levar um recado e Campeão naturalmente foi na frente alegremente cantando, espantando borboletas, pássaros e grilos estrada poeirenta afora. Na encruzilhada das Onças, eis que ele encontra seu destino. Ali estavam não só o mestiço do Tião do Candido e o do Aleixo, seus inimigos mortais, bem como uma matilha inteira. O momento não poderia ser mais tenso e perigoso!!! Entre eles havia uma cadela viralatas no cio… Existe três momentos em que todos os cães viram bestas, voltam às origens… O pior é este, quando disputam uma fêmea no cio. Ficam incontroláveis… Campeão, jovem, forte, orgulhoso e viril, não sabia o risco que corria e mesmo que soubesse não recuaria. Naturalmente se apresentou à fêmea para fazer sua corte. Quando os dois inimigos o atacaram com ferocidade, os demais também entraram na briga. Só se via o bolo de cachorros rolando na poeira em meio aos latidos e ganidos. No primeiro ímpeto, Osvaldo pegou um bambu na beira da estrada e tentou intervir. Vã esperança!! Vinte homens com porretes e chicotes não dariam conta de separar as feras. Não se voltariam contra ele, não o atacariam deliberadamente, mas acidentes seriam inevitáveis. Iriam brigar até a morte ou enquanto tivessem energias. Fossem apenas cachorros brigando pela fêmea, talvez a briga não fosse tão longe. No entanto, entre os brigões assanhados estavam os dois mestiços, inimigos mortais de Campeão.

Osvaldo assistiu desconsolado por alguns instantes, mas quando viu seu estimado amigo perder as forças e começar a sangrar, não teve coragem de continuar olhando. Deixou o sangrento campo de guerra, totalmente impotente… Banhado em lagrimas.

Quando cheguei à sua casa, por volta de quatro da tarde, recebi a triste noticia. Campeão havia lutado bravamente como sempre, mas… havia perdido sua ultima batalha. Osvaldo não tivera coragem nem de resgatar seu corpo para os funerais.

O jogo já ia começar. Sentados na sala diante do empolgante Atlético x Coritiba, pareceu-me ver um vulto entre os arbustos perto da Igreja. Talvez fosse um gato se esgueirando ou quem sabe uma galinha…

Continuamos concentrados no jogo… No intervalo do clássico, quando a tensão baixou, ouvimos o balançar da cerca da portinha de vai-vem seguido de um gemido… Levantei no ato. Aquele portão que eu fizera só era usado pelo Campeão!

Era ele! Ou o que restara dele. Na verdade estava inteiro, mas, queijo suíço tinha menos furos…

Campeão levara algumas horas rastejando da encruzilhada das Onças até a casa do dono. Desde que passara na frente da igreja, levara mais de vinte minutos para rastejar os últimos vinte metros até o portão. Tomei-o nos braços e o coloquei no alpendre, no lugar que ele costumava cochilar nas tardes domingueiras enquanto assistíamos o futebol. Não tinha mais sangue. Mesmo que colocássemos, sairia pelos incontáveis furos. Não havia nada que pudéssemos fazer a não ser lamentar. Quando o jogo terminou, Campeão já não respirava mais. Ao menos morrera na casa do dono.

Campeão deixou descendência. Um filho e um neto, mas nenhum se equiparou a ele em educação, coragem, alegria e fidelidade.

Em 98 adquirimos o habito de acampar nas serras de Congonhal, uma vez por ano, em noites de lua cheia. É o que chamamos de ‘pouso no mato’. Distante da civilização, a poucos metros de matas fechadas, estamos sujeitos a visitas de lobos, onças, cachorros do mato, cobras e outros bichos nas geladas madrugadas de lua prateada. Era uma aventura impar, porém arriscada… Não para quem tinha a companhia do mateiro Campeão. Bem alimentado com restos de frango da ceia, Campeão passava a noite toda em volta das brasas da fogueira. Em ‘rosquinha’, fingia dormir, mas estava sempre atento a qualquer ruído ou cheiro que se aproximava. Diversas vezes acordávamos no meio da madrugada com seus latidos e ainda podíamos ver sob a lua branca, o lobo pardo se afastando em disparada em meio ao capinzal, perseguido pelo valente e fiel cão de guarda. Depois que ele morreu, nunca mais tivemos um pouso tão seguro.

Dez anos depois ainda é possível ver o esbelto e faceiro cão malhado levando sua pequena dona pela coleira para passear… Correndo e passando pela portinhola até se deitar à minha frente para receber os cafunés … Ou latindo forte e afugentando os lobos nas serras de Congonhal. As imagens do fiel amigo malhado ficaram gravadas para sempre na memória…

 

Quem quer o Pudinho Preto

Ele só tem 60 dias de vida. Mas sua historia começa no longínquo ano canino de 2008.

A entrada da fazenda Nosso Paraizzo, no bairro Vintém  em Santa Rita do Sapucaí e o bairro dos Coutinhos, em Congonhal, tem algo em comum: ambos são pontos de abandono de cachorros!!!

Certa tarde de 2008 ao chegar à residência do Osvaldo, fui recepcionado por um minúsculo cãozinho viralatas. Ao ver o carro parar defronte o portão ele saiu correndo da varanda e veio latindo em minha direção. Mas, como todo bom viralatas, atravessou o buraco na cerca – aquele que fizera anos atrás para o Campeão – e veio cheirar a barra da minha calça. Tinha corpo e orelhas de pincher, pernas, cor, rabo e comportamento de viralatas. Também era menos ardido que um pincher… Osvaldo disse que viu quando o passageiro de um Uno prata abriu a porta e o soltou ali perto da igreja, dois dias antes. O cãozinho caído de mudança ficou por ali e como Osvaldo lhe deu comida, ele – o pincher espigado – o adotou. Na semana seguinte quando lá cheguei, não recebi as boas vindas do peralta cãozinho amarelo. Nem poderia! Ele estava amarrado…

– O que houve? O cãozinho cometeu algum crime para você prendê-lo?

– Cometeu, sim. Homicídio. Aliás, ‘galinhacidio’… O danadinho matou dois franguinhos e uma galinha. Vou ter que desfazer dele…

Quando cheguei em casa naquela noite, depois do futebol, disse à Tatiana, à queima roupa:

– Venha ver o Pingo. Veja se você gosta dele!

– Que Pingo? Do que você está falando…?

– Venha ver…

Foi paixão à primeira vista!… E uma torrente de perguntas, exclamações e chamegos!

-Oh, que gracinha! Onde você achou? Quem te deu? Como está magrinho! Como ele se chama. Coitado, está com fome… Parece Pincher! Que pêlo bonito! Hum, precisa tomar banho!!! Vamos arrumar uma casinha para ele. Não podemos deixá-lo aqui fora… O tigrão poderá bater nele…

Bateu um ciúme… Quase me arrependi de tê-lo adotado!

Pingo foi o décimo terceiro cachorro a integrar a matilha da fazenda naquele fim de ano. Vivia solto como todos os demais.

Quando Domênica, a única que tinha lugar cativo dentro de casa, entrou no cio, Pingo teve que morar com ela na area de serviço, para não ser estraçalhado por Atila, Tigrão, Rock Boy e outros. Nenhum dos gigantes alcançava a pequenina Yorkshire para copular, mas nenhum deles resistia aos seus ‘encantos de donzela’! Domênica ficou prenha pela primeira vez. Ainda bem. Assim ela poderia garantir a estirpe do Pingo, pois ele…?!

Mesmo sabendo que agora tinha uma casa definitiva para morar, uma bela e dengosa companheira e breve teria uma renca de filhos para criar, Pingo nunca deixou suas aventuras. O inverno de 2009 foi um dos mais rígidos dos últimos anos e chegou muito antes do dia 21. Chegou na primeira semana de junho. Alheio ao frio e suas obrigações, Pingo saiu – provavelmente – no inicio da noite para caçar lebre no cafezal ou quem sabe para pular a cerca com a cadela da vizinha… E nunca mais voltou. Teria ele se desesperado, ante a iminência de ser pai, e fugido de casa? Melhor seria se fosse apenas isso.

Quando tentou voltar para casa o portão estava fechado. Ele tentou entrar pelo vão da tela… mas seu destino estava traçado. Enroscou-se e ficou preso na tela, ao relento, na noite gelada. Na manhã seguinte, notando sua ausência, o caseiro saiu a procurá-lo. Seu pelo curto e dourado estava russo de geada. Pingo nunca mais anunciaria a chegada de alguém na fazenda. Foi sepultado sob o sol morno do meio dia, com as devidas honras, num canto do jardim. Seus três filhos do tamanho de ratos nasceram órfãos de pai semanas depois. O único macho da prole viveu apenas um dia. Uma das meninas foi doada tão logo aprendeu a manejar os talheres, quero dizer… desmamou. A outra, que se parecia mais com o saudoso Pingo, ficou morando na fazenda e foi batizada de Dominick! Uma indecifrável mistura de pincher-viralata com Yorkshire Terrier.

A melhor definição para Dominick talvez seja… “é uma figura”. Sapeca, estridente, corajosa e dócil. Se receber um cafuné ela deita e rola querendo mais. Aventureira… – achou o portão aberto ela vai passear. Já foi roubada duas vezes em Santa Rita e fugiu de casa outras duas em Pouso Alegre. Diferentemente da Lassie, que deita diante do portão, encosta a cabeça no chão fica olhando triste, esperando um aceno para correr atrás da gente, e não sai do lugar a não ser se for chamada, Dominick nem espera o portão eletrônico abrir direito… Quer ser a primeira  sair na rua. E se não tomar uma sonora bronca vai passear cheirando aqui e acolá com suas perninhas curtas parecendo uma maquininha automática.

Estou com uma obra – interminável – em casa. Por isso temos que deixar o portão aberto. Para conter o espírito aventureiro de Dominick, tivemos que mantê-la acorrentada. Conseguimos evitar sua fuga mas não a natureza, não o seu cio… O namorado – talvez ela já tivesse mantido encontros secretos com ele em outras escapadas, não sabemos – veio de longe. Era um Poodle preto. Quero dizer Poodle-Vira, né. O fato de ter encontrado Dominick amarrada não diminuiu o assanhamento do macho. Aliás, deve tê-lo deixado ainda mais excitado, pois em poucos minutos ele fez a corte e… ‘apagou’ o fogo da Dominick! O resultado está aí… Este lindo “Pudinho Preto”, filho de Poodle-Vira com Yorkshire-Pincher-Vira, neto de uma pura donzela Yorkshire com um aventureiro Pincher-Vira…

O Pudinho Preto é fofo demais da conta. É a mais pura miscigenação das raças Pincher-Yorkshire-Poodle. Não deve crescer muito, mesmo assim em nosso quintal não há espaço para ele, sua mãe aventureira e o ‘pequeno’ Átila, filho de um legitimo Pointer Inglês com uma São Bernardo. Por isso ele está procurando uma nova família que queira adotá-lo.

A historia do fofucho “Pudinho Preto”, por enquanto dá menos de uma pagina. Mas você pode fazer dela um livro!!!

Topa? Quer levá-lo para sua casa?

Chop & Susi põe assaltante para correr

Semanas atrás um casal de cães viralatas, apareceu ressabiado num posto de combustíveis em Juiz de Fora. Os frentistas conversaram com os animais, fizeram alguns afagos, deram comida e o casal adotou os frentistas. Agora passam o dia todo no posto. De dia cochilam aqui, cochilam acolá, dão uma voltinha pelas imediações, para colocar a fofoca em dia e à noite vão para o escritório fazer companhia ao frentista de plantão.

Ontem o simpático, folgado e belo casal de cachorros, batizado pelos frentistas de Chopp e Suzi, demonstrou a gratidão aos donos. No inicio da modorrenta e fria madrugada, o frentista cochilava sentado no sofá, diante da televisão, quando um gatuno sorrateiro entrou no escritório brandindo uma faca de cozinha. Antes que ele encostasse a fria e afiada lamina no pescoço do frentista distraído e exigisse o dim-dim, os cães saíram de trás do balcão, avançaram sobre ele, agarraram sua calça e o puseram para correr.

O ataque durou menos de um minuto. Foi o tempo que o gatuno demorou para dobrar a serra do cajuru com os cachorros mordendo seus calcanhares, até a beira da rua. Encorajado pelos fiéis ‘guardas’, o frentista muniu-se de um pedaço de pau e saiu correndo atrás do gatuno. Ele não foi alcançado e não foi preso mas dificilmente voltará ao posto. Pelo menos enquanto Chop & Suzi estiverem por lá…

… E tem gente que ainda faz cachorrada com seus cachorros!!!