A bucólica e aconchegante ‘Pousada Carolina’, ao pé da serra de São Domingos em Congonhal recebeu um reforçada equipe da policia militar ontem ao pé da noite. Mas os policiais não foram descansar da Operação Carnaval, não senhor. Pelo contrario, atendendo denuncia de amigos ocultos da lei, foram completar a Operação Carnaval Sem Drogas.
O anfitrião dos homens da lei foi o ‘doutor’ Adilson Teixeira, de 26 anos, que diz ter curso superior completo. Ele tem um belo currículo. Nascido em Guarulhos-SP, morando no alto da serra em Senador Amaral, Adilson já caiu por furto, roubo a mão armada crimes de transito e estava vazado do velho hotel de Cambuí desde o dia 11 de fevereiro. Além de ser fujão, Adilson, conhecido na Pousada por “Lausane” mantinha com ele no quarto da pousada – esta não foi a primeira vez que um traficante caiu ali – 62 gramas de farinha do capeta e 135 gramas de erva marvada.
Apesar de todas as evidencias, Lausane esperneou e tentou arrancar as grades da viatura e da cela na DP com os pés e com a cabeça, até parecer desmaiar. Acabou no pronto socorro do Regional, mas era tudo ‘chilique’. A simulação de desmaio, segundo a policia militar, foi uma tentativa de relaxar a vigilância, para facilitar um possível resgate por membros do PCC paulista ao qual, suspeita-se que ele pertença. Não teve chance. Com pulseiras de prata nos braços e nas canelas, peiado como um garrote bravo, Adilson “Lausane” Teixeira sentou-se ao piano, assinou um 33 e foi se hospedar desta vez no Hotel – cinco estrelas – do Juquinha.
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‘Caixeira de armazém’ roda com R$ 150 no sutiã
Antigamente – aliás, bem antigamente – quando eu era um pequerrucho lindo e loiro, de cabeça chata, descalço e calça curta lá no meu amado Coutinhos, e ouvia alguém dizer “fulano agora é caixeiro no armazém do sicrano”, eu ficava tentando entender o que era isso. Mais tarde entendi que caixeiro era aquele funcionário de confiança, que cuidava do caixa, do dim-dim do patrão… E o dinheiro era guardado na algibeira da calça larga de brim caqui, azul chumbo ou verde bosta de vaca.
O jovem Tadeu, um mulatinho espigado que se tornaria contador, advogado e comerciante de ‘peso’, foi um destes caixeiros do armazém do Geraldo Correia, na esquina da praça Com. Ferreira de Matos – meu antepassado – em Congonhal. Quanta confiança o patrão tinha no empregado!!! Quanta mudança para os dias atuais. Hoje ‘os’ caixas e ‘as’ caixas de supermercado, com tudo automatizado, trabalham vigiados por câmeras que acompanham todos seus movimentos – Por que será??
Pois é, mas nem toda vigilância evitou que a jovem “caixeira”, N.C.S.Brunorio, 20 anos – hoje chamada de “operadora de caixa” – caísse em tentação… Ela começou trabalhar no Baronesa no mes passado e desde então seu caixa tem apresentado pequenas diferenças… Sempre para menos. Preocupados com este ‘desnível de caixa’ que pode abalar a economia da mina de ouro do patrão, um encarregado fiscal passou a monitorar seus passos, quero dizer suas mãos leves. Ontem, através do famigerado “Big Brother” que somente a ‘caixeira’ não sabia que existia, ele viu quando ela separou duas notas, uma de 50 e outra de 100 e depois de olhar ressabiada de um lado para outro, dobrou e colocou no sutiã. Na hora de fechar o caixa N. foi convidada a tomar uma ‘cafezinho na gerencia’. De lá desceu para a DP, sentou-se ao piano e assinou o 155. Mas não deu o braço a torcer… Disse que o dinheiro era troco de um celular novo que havia comprado, mas que ainda estava na loja. Ainda bem que era cedo da noite e nenhum ‘boi dormiu’….!!!
…Saudade dos tempos do ‘caixeiro de armazém…’
Policia Civil prende Playboy com 2,5 Kg de Cocaina
Quem passou pela BR 459 no trevo de Alfenas, no final da tarde desta quarta teve a oportunidade de assistir ao vivo cenas quentes e mirabolantes de uma inusitada perseguição policial. Parecia cenas de “Maquina Mortífera IV”, protagonizado por Ozanan, Teobaldo, Patrícia, Diego e Elon. Só faltou o capotamento de praxe e a clássica explosão mandando tudo pelos ares. Mas… eram cenas reais.
Para tentar escapar do cerco policial, o motorista da Toyota Hilux prata atravessou o canteiro do trevo, entrou pela contra mão da rodovia federal e continuou a 150 por hora sob uma rajada de balas dos detetives que o seguiam na Blazer pela pista da direita sentido trevo/Baronesa. Na altura do pesqueiro Karibu, com lataria, vidros e pneus furados o fugitivo finalmente entregou os pontos. Tudo isso debaixo de forte chuva que caia naquele momento. Ele tinha bons motivos para tentar furar o cerco e trafegar mais de dois quilômetros pela contra-mão… Dois quilos e meio de farinha do capeta. A droga estava escondida dentro de capas duras de livros diversos e despretensiosos que ele levava na caminhonete de 120 mil reais.
No final da tarde de quarta o delegado de Combate ao Trafico de drogas, Gilson Baldassari recebeu informação da PC de Poços de Caldas, dando conta de que um cidadão boa pinta estaria descendo a BR 459 em direção a Pouso Alegre levando na caminhonete prata boa quantidade de cocaína refinada. Tão logo recebeu a informação o delegado montou duas equipes com os detetives para interceptar o traficante. Uma foi esperá-lo em Congonhal e o seguiu quando ele passou por lá apostando corrida com Felipe Massa imaginário. A outra equipe preparou as boas vindas no trevo dos ‘moteis’ – os hospedes do Hotel do Juquinha que ouviram os pipocos ali perto devem ter morrido de curiosidade – Ao perceber que a casa iria cair, o traficante pisou fundo e não se importou em trafegar no movimentado trecho da BR pela contra-mão. Só parou porque os policiais foram certeiros e seu carro não conseguiu mais andar… Quando o delegado Gilson, chefe da operação chegou com mais policiais já ‘estava tudo dominado’.
Gerson Borges da Silva, 34 anos, preso sem nem um arranhão, é apenas um elo de uma poderosa quadrilha que vive a distribuir drogas caras Brasil afora e até para o exterior. Quadrilha esta que há meses estava na agenda da Policia Civil de Poços de caldas e começou a ser desmantelada nesta quarta feira.
Apesar de ser um escolado playboy, Gerson acredita em forças malignas para garantir sua proteção e impunidade. Entre seus pertences os policiais apreenderam uma tosca oração que mistura o “Pai Nosso” com magia negra e candomblé, em que ele pede proteção à Lúcifer para não ser preso e nem se ferir. O papel amassadinho no fundo da carteira diz; “Capa preta milagrosa vem me ajudá, inimigo não me enxergar. Policia a não me enxergar. Capa preta milagrosa se me ajuda tranca rua das alma nada há de me pegar, faça no meu corpo isso de as balas não me atingi, o inimigo não me enxergar. Com a força de ‘Lucio fé’ São Cipriano ha de me ajudar. Creio no inferno e ‘Lucio fé’ todo poderoso e rei do inferno. Acredito em tudo o que pode me ajudá assim na terra como no inferno” “comprar 1 litro de marafa, 1 maço de vela branca e também meio de colorida” – A redação manual é tosca assim mesmo…
Metade da oração – guardada com cuidado no fundo da carteira, exatamente como transcrito acima – como podemos ver, funcionou; Ele trafegou por mais de dois quilômetros a mais de 150 por hora, na contra-mão de um trecho movimentado de estrada federal, debaixo de ‘duas’ chuvas, uma de água fria e outra de azeitonas quentes… e não sofreu sequer um arranhão!!!
Além da oração pedindo proteção ao “Lucio fé”, o playboy cliente 5 estrelas do Itaú – faz jus ao apelido – levava 1.417 reais, 400 dólares, 100 euros, 20 libras esterlinas, carteira de couro Calvin Klain, relógio Diesel, gel hot sex, perfume Bulgari, pulseira de ouro, celular Sansung Galaxi e outro Nokia e uma passagem aérea para Portugal… O moço, literalmente não é pouca merda não…!!!
Ah, o chaveiro da caminhonete tinha o escudo do Galo…
Gerson playboy ousado macumbeiro kamikaze agora é o 521º hospede do Hotel do Juquinha.
O Misterio do Coisa Ruim da Borda
Olá… Feliz ano novo.
Que a benção de Deus Pai criador caia sobre voce, meu estimado leitor e que seu filho, nosso irmão Jesus, continue a iluminar seu caminho e guiar seus passos. Que Ele te dê força, perseverança e sabedoria para vencer seus desafios com seu trabalho digno e honrado, sem derrotar ninguem. Amém.
Como o leitor deve ter percebido, estou ausente do meu ‘habitat’, longe de casa, alheio aos fatos cotidianos. Mas, mesmo sem novidades no blog, os leitores continuam acessando… Por isso eu também resolvi dar-lhes um presente, que na verdade eu vinha guardando a sete chaves para o meu ‘primeiro livro’… Uma das melhores historias da serie “Meninos que vi crescer”; ‘O Misterio do Coisa Ruim da Borda’, exaustivamente investigada e escrita no final de 2009 e inicio de 2010, com fotografias do ‘palco’ do Chiquinho da Borda tiradas na semana passada.
Boa leitura.
O mistério do Coisa Ruim da Borda
O Morro dos Cães uivantes
E os anjos e demônios nossos de cada dia
Parei meu carro na praça ao lado da jovem Basílica de Nossa Senhora do Carmo – jovem no titulo de Basílica a que foi elevada em 2005, pois a majestosa construção tem varias décadas. Foi concluída em 1954 – as duas e meia da tarde quente de sábado e desci. Entrei na primeira loja que vi aberta. Completamente vazia. Um rapaz e uma moça estavam de frente um para o outro acertando contas, com papeis, dinheiro e anotações sobre o balcão. Cumprimentei-os e antes que eu dissesse mais alguma palavra, do nada surgiu uma vendedora, abriu um sorriso ligeiramente forçado e perguntou delicada; “Posso ajudar”? Com um leve pigarro, esbocei também um sorriso de boca fechada, esperei propositalmente o ponteiro do relógio caminhar alguns segundos e respondi perguntando; “ O que vocês me contam sobre o ‘Coisa Ruim da Borda’”? Uma bomba teria causado menos impacto. Os três olharam ao mesmo tempo para mim, olharam um para o outro, olharam de novo para mim cada um tentando formular uma resposta ou uma pergunta. Eu já havia chamado a atenção necessária, desisti da maldade e acrescentei; “Desculpe… eu sou colunista policial em Pouso Alegre e estou aqui investigando a historia do tal Coisa Ruim da Borda, para publicar em minha coluna e no meu blog”. Soltando a respiração, cada um dos três tentou falar ao mesmo tempo, para dizer que nada sabiam a respeito. Uma das jovens tinha ‘ouvido falar há muito tempo’. A outra disse que seu ‘pai contava uma historia dessas’ mas ela não se interessara ou não se lembrava. O rapaz já refeito do susto disse que ‘talvez o padre ou o sacristão ali do lado soubesse alguma coisa’ e recomeçou a contagem perdida das cédulas sobre o balcão. Eu estava começando desvendar o mistério do Coisa Ruim ou Capeta da Borda.
Ao ver que as portas da Basílica estavam fechadas segui pela mesma calçada da loja em direção à Casa Paroquial. Na esquina havia um senhor septuagenário sentado no portal térreo de um sobradinho aproveitando a sombra da Basílica e eu não fiz cerimônia; pedi licença, sentei-me ao seu lado e puxei prosa. Mas poupei-lhe o susto. Antes de entrar no assunto que me interessava eu disse quem eu era e o que queria. O simpático e desembaraçado velhinho contou-me tudo que sabia – o que não era muito – realidade e folclore. Foi ali, vendo o tempo mudar e uma cortina branca despencando sobre o Distrito do Sertãozinho, se aproximando da cidade, que eu soube que o Coisa Ruim da Borda nunca passou da “Ponte de Pedra” e que se voltasse para a fazenda de onde foi expulso seria chamado de “Coisa Ruim de Tocos do Mogi”. Depois do solícito velhinho, cheguei ao muro da Casa Paroquial, mas o sacristão, zelador, camareiro ou mordomo dos padres não se deu o trabalho de falar pessoalmente comigo. Usou o frio interfone para informar que não havia padres em casa, mas que talvez eu conseguisse receber a benção de um deles no Centro Pastoral ou na igreja, na missa da cinco.
Cheguei com três beatas bem maduras ao Centro Pastoral. Uma delas até quis falar alguma coisa sobre o tal capeta, mas quando a outra mais acanhada e desconfiada descobriu que algumas pessoas já estavam reunidas nos fundos do Centro, elas me deixaram falando sozinho. No ponto de táxi, agora sob os primeiros pingos grossos de uma chuva que se espalhou e não banhou a cidade, devolvendo o sol forte a todo o município em poucos minutos, enriqueci bastante o dossiê do Coisa Ruim e sua saga e levantei nomes de pessoas que poderiam me dar muitos capítulos de sua historia. Com menos de duas horas de investigação na cidade do grande desportista Rogerinho Medeiros, eu já poderia desvendar e escrever quase todo o mistério do Coisa Ruim. Mas, não teria graça nenhuma se não conhecesse o palco de sua exibição e não sentisse seu bafo quente em minha nuca. Por isso só deixei a cidade no apagar das luzes do astro rei, depois de visitar o sombrio casarão do alto da colina, na estrada que vai para Bom Repouso, onde precisei segurar com força minha cruzinha dourada no peito e quase cair numa vala da estrada em obras, para desviar de um fusca velho que se jogou de porta aberta sobre mim numa descida.
Bem, antes de prosseguir com esta historia cheia de controversas, tabus, superlativos, perturbação do sossego, folclore e muito medo, para melhor entendimento do leitor e evitar a incansável repetição do termo Coisa Ruim da Borda – que pode acabar assustando alguma criança – batizemos personagens e locais desta historia arrepiante e até aqui mal contada. O palco das exibições do chifrudo, tinhoso, bode velho, saci ou simplesmente Espírito Brincalhão chamaremos de ‘Colina ou Morro dos Cães Uivantes’ – Não confundir com o clássico “O Morro dos Ventos Uivantes de Emily Bronté – O fazendeiro que fez o pacto com o espírito perturbado será chamado de “Portuga”, homenageando sua origem além-mar, o pá. A jovem noiva prometida chamaremos apenas de “Donzela”. O irmão dela, único remanescente vivo da família, testemunha ocular e auditiva da macabra historia chamaremos pela inicial de seu nome, “R.”. O “dito cujo” já tem nome. Muito além das cercanias da Borda as pessoas que ouviram, mesmo que por alto sua historia, já sabiam que ele se chamava “Chiquinho”. Ele próprio se apresentou ao seu anfitrião com este epíteto carinhoso quando veio buscar sua donzela prometida, em 1953.
Bom, agora que nos tornamos mais íntimos, vamos falar francamente; “…Que atire a primeira pedra….” quem nunca viu o capeta!!! Ora, ora, ora, todos já vimos e cada um de nós o pintamos de acordo com nossa conveniência. Eu já estive cara a cara ou ‘costas à cara’ – Sua principal característica é a traição – com ele inúmeras vezes. Apesar de conhecer ‘an passant’ a historia do Coisa Ruim da Borda, só na capital do pijama esbarrei neles umas quatro vezes.
A primeira vez foi em 1970. Eu estava no forro da casa do Sr. Jairo, no bairro Santa Rita, para continuar lendo essa historia, acesse ‘www.meninosquevicrescer.com.br’!
PM desmonta refinaria de cocaina em Congonhal
Quem conhece a agitada Congonhal, sabe que ali é a terra da batata, da banana, do queijo fresco, do bom e barato bife para churrasco, das madeireiras, dos pesqueiros e das cachoeiras… O que ninguem sabia é que Congonhal era também terra de refinaria de cocaina!!!! Deve ser coisa da tal globalizaçao…
Na verdade alguem sabia sim. E foi este alguem, um amigo oculto da lei que digitou 190 e avisou que um sujeito pilotando um Gol preto estava chegando de viagem ontem à noite com uma valiosa carga de farinha do capeta.
Quando os policiais rodavam pela estrada vicinal do bairro das Almas, cruzaram com o malfadado gol e tentaram abordá-lo. O piloto Antonio Marcos dos Santos, de 34 anos, pisou fundo no acelerador, sumiu da vista dos policiais e foi se esconder no sitio em que mora ha alguns quilometros da abordagem.
Minha saudosa tia Silveria, ruim da vista, costumava dizer que da janela do quarto do velho sobrado em que nascera e morava, só conseguia ver os carros passando na estrada à noite, quando eles acendiam os farois… Que sabedoria!!! Os policiais também. Embora não vissem o gol preto na escuridão, viam a luz dourada dos seus farois incendiando a noite negra do Bairro das Almas. Foi só seguir a luz e um minuto depois chegaram ao sitio onde ela se apagara.
O carro ja estava limpo mas numa ‘casinha de despejo’ no fundo da chacara, havia drogas e aparato de fazer inveja a muitos traficantes da Rocinha ou do Morro do Alemão: Crack, Cocaina, pasta base de cocaina, balança de precisão, gesso de construção e uma prensa completa para refinamento de pasta base de coca, para separar o valioso pó de R$ 10 reais o grama e aproveitar a sobra para fazer o famigerado crack, batizado por nós de ‘pedra bege fedorenta’. Quase vinte quilos de drogas, sendo 15 sacos plasticos com farinha do capeta pura e seis sacos de crack. Havia também no local quatro sacos de gesso, que seriam misturados na cocaina para aumentá-la… Coisa de gente grande. Mas quem caiu nas malhas da lei foi o peixe pequeno Antonio Marcos de Souza. Ele naturalmente usou a prerrogativa constitucional: “Voce tem o direito de permanecer em silencio… tudo que voce disser poderá ser usado contra voce no tribunal”, e não abriu a boca. Mal disse o seu nome. Sua amasia Daniele Cristina Pereira, 25 anos foi mais tagarela, mas pouco disse de concreto. Segundo Daniele, ela viveu alguns anos com Antonio Marcos, separou-se dele no inicio do ano e voltou para seus braços ha dois meses mas não sabia das atividades do amasio. Achava que a casinha de despejo era usada apenas para guardar bicicletas quebradas e coisas velhas. Não sabia que ali se refinava e armazenava milhares de reais em drogas…..!!!
Nada de novo, a mulher é sempre a ultima a saber…
O delegado chefe da Especializada de Combate ao Trafico de Drogas da regional de Pouso Alegre, Gilson Baldassari e seus pupilos querem saber quem tras a coca para refino em Congonhal e quem faz a distribuição do pó misturado com gesso aos nóias.
E é bom que o usuario ‘do pó branco’ veja as fotos – do gesso – para ver a droga de droga que ele anda colocando no nariz e nas veias…..!
Gô… e as cinco toneladas de maconha
MENINOS QUE VI CRESCER
O leitor atento logo vai perceber que esta historia tem dois “Meninos que vi crescer”, cada um seguindo um rumo diferente. Cada um de um lado da lei. Conheço ambos quase desde as fraldas. O primeiro na verdade vi nascer. Estava lá quando ele deu os primeiros passos e quando pronunciou meu nome engolindo o “r” e o “n”. Mostrei-lhe a paixão e ensinei os primeiros toques na bola. No final da adolescência, quando precisou definir-se profissionalmente, de tanto ouvir minhas historias acabou seguindo meus passos. É claro que em tudo me deixou no chinelo…
O segundo nasceu cinco anos mais tarde. Não acompanhei seus passos tão de perto, mas seu avô acompanhou os meus. Vendi milhares de picolés feitos por ele. Tinha o melhor picolé e o melhor frango assado da cidade, além de paciência, educação e bom humor para atender sua eclética e vasta clientela em grande parte formada por policiais. Durante décadas não houve um só policial civil que não encostasse a barriga no balcão do apertado bar do Waguinho ou ‘seu Wagner’ para tomar uma loira gelada ou cangibrina com o tradicional frango assado.
Nascido em 1978, foi neste ambiente que o Gô, cresceu. Na verdade, ainda na primeira infância sofreu uma grande perda que talvez tenha sido o diferencial de sua vida. Ao parar seu caminhão para abastecer a ‘burrica’ numa mina d’água, na beira da Fernão Dias, próximo a Extrema, seu pai, experiente caminhoneiro recebeu quatro tiros à queima roupa nas costas. Morreu no local. Nunca se soube quem fora o autor dos disparos.
A orfandade não impediu Gô de traçar seu próprio destino e seguir seu caminho pautado no exemplo dos tios, primos e avós, todos honrados e bem quistos. Mas, andar na contra-mão parecia ser mais emocionante ou quem sabe mais fácil do que enfrentar os desafios de uma vida profícua e regrada. Gô, ao contrario dos irmãos, era de poucas palavras. Morando no meio do meu trajeto para o trabalho, nos víamos e nos cumprimentávamos todos os dias… apenas com o olhar. Até que ele passou a definir suas companhias, não muito ‘sociáveis’ e se tornou ainda mais arredio e distante.
Embora se conhecessem, tenham estudado no mesmo colégio e fossem quase vizinhos, os caminhos de nossos dois personagens só se cruzaram em 2000. E cruzaram literalmente porque seguiam em direções opostas. Naquele ano foi criada a Delegacia Especializada de Repressão ao trafico de Entorpecentes, chefiada pelo delegado Antonio Camillo. Compunha a equipe os veteranos detetives Tiãozinho, Tomaz, Roberto e o jovem Teobaldo…
As primeiras investigações da nova equipe indicavam que um jovem desfilava sorrateiramente pela avenida Dr. João Beraldo, desde a Duque de Caxias até a Faculdade de Direito, distribuindo a erva marvada. Não tardou para Teobaldo identificar o traficante formiguinha como sendo Gô, neto do Waguinho.
Ja por aquela ocasião, o primeiro personagem desta historia, com quatro anos de policia, apesar de atuar em todas as linhas de investigação, parecia ter escolhido sua preferida; o trafico de drogas. Informações sobre trafico e traficantes sempre caíram de pára-quedas em sua prancheta. Gô passou a freqüentar a primeira pagina. Ele estava fazendo apenas seu trabalho profissional, jurado no ato de posse na carreira policial, mas os desafetos de Gô achavam que eles tinham alguma rusga pessoal por isso as informações choviam de graça e o jovem Gô começou receber visitas inesperadas de policiais em sua casa, autorizadas pelo homem da capa preta com base nos levantamentos policiais de Teobaldo. Uma destas buscas foi realizada simultaneamente em dois endereços. Na residência de Gô onde ele mantinha coisa pouca, apenas para pronta entrega e no ‘mocó’ do João Onça, um velho homicida egresso do velho hotel da Silvestre Ferraz que adquiriu o habito da fumacinha quando lá esteve hospedado.
A residência de João Onça na Rua do Arame era o que havia de mais genuíno esconderijo para drogas. Um casebre de portas e janelas de madeira e paredes caindo aos pedaços e um quintal que bem poderia ser chamado de mini-floresta, com bananeiras, amoreiras, ameixeiras, abacateiros, pés de inhame, batata doce, erva cidreira, comigo-ninguem-pode, espadas de São Jorge e outros bichos. Tudo crescendo e caindo ao deus-dará, sem cuidados, pois o tempo do velho e soturno João Onça, quando não estava abraçado com a velha katia…ça nalgum boteco copo-sujo nas cercanias do mercadão, era destinado a distribuir a erva nas imediações da Tijuca. Seu quintal parecia uma floresta… abandonada. A visita ao pé da manhã pegou João Onça ainda de cuecas samba-canção de brim amarrotado e com o bafo característico. Como ele nunca foi hospitaleiro com os homens da lei, foi necessário chamar o lobo mau para abrir sua porta no bico da botina. Dentro do muquifo – este adjetivo foi criado especialmente para definir o interior da toca do Onça – em meio a roupas sujas jogadas pelo chão, panelas engorduradas, restos de comida embolorados, moveis sujos e quebrados e teias de aranha conseguimos localizar duas barangas de cannabis. Vasculhado o casebre, nos enchemos de coragem e passamos à grande aventura de desbravar a selva que há anos não sentia a lamina fria e afiada de uma enxada, machado ou facão tentando encontrar a droga ‘dada’ pelo informante. Não encontramos sucuris, jibóias, javalis, antas, tigres, onças ou rinocerontes e muito menos os tijolos de maconha que poderiam estar enterrados em qualquer local da vasta selva ha muito intocada até mesmo pelo dono João Onça que tinha medo de desbravá-la.
Na residência de Gô, na João Beraldo, os colegas localizaram sem muito forrobodó uma pequena porção da erva, que o menino que vi crescer logo se apressou em dizer que era para uso próprio. Assinou seu primeiro 16 e foi liberado, mas deixou sua fotografia para posteridade no álbum da policia.
Apesar de escaldado, Gô já estava por demais envolvido com o trafico e não fecharia seu comercio nunca mais. Dias depois da investida em sua casa, um amigo oculto da lei ligou para a DP na hora do almoço informando que naquele momento ele estava indo fazer uma entrega perto das Carmelitas, num Uno Vermelho. Hora de almoço é hora sagrada de funcionário publico almoçar. A menos que seja policial – com ‘p’ maiúsculo – e um crime estejaem andamento. Aoreceber a informação Teobaldo laçou o primeiro colega que encontrou e foram interceptar a entrega da droga. Era uma entrega pequena, mas se encaixava no ‘verbo traficar’, no entanto Gô assinou apenas o 16. E assinaria outros tantos nos anos seguintes até o homem da capa preta resolver tirá-lo de cena, decretando suas férias forçadas no velho hotel da Silvestre Ferraz.
Como a pena era para ser cumprida no Regime Semi-berto, o moço foi direto para a APAC, onde só cumpre pena quem quer zerar seu debito com a justiça. Quem não quer pula o muro sem vigilância e vai embora. O menino que vi crescer me olhando atento e ressabiado, estava crescendo no ramo do trafico. Cuidar de jardins, hortas, plantação de milho, café, feijão, criar porcos, galinhas ou coelhos e a noite ouvir palestras e sermões não era sua praia e atrasaria os promissores negócios de Gô, por isso ele dispensou os conselhos do Padre Mario e demais voluntários da APAC, pulou o muro e caiu na estrada. Se o objetivo do homem da capa preta era tirá-lo de cena, ainda que por linhas tortas, Gô tratou de escrevê-lo. Saiu de cena e baixou as cortinas. Por um bom tempo sua avantajada silhueta não foi mais vista e seu curto nome não foi ouvido. Até que….
Contrariando a lógica do andar da carruagem, as investigações sobre o famigerado trafico de drogas, que aumenta a cada dia, restringiu-se basicamente a uma dupla de campo, um detetive na Inteligência e um delegado que os coordenava. O ‘Hucht’ da dupla manduana Starsky & Hucht era o impetuoso, apaixonado e sempre disponível Fabio Balca. Com ele Teobaldo mandaria muitos distribuidores de erva marvada, pedra bege fedorenta e farinha do capeta para o piano do delegado Gilson Baldassari.
Em 2007 um valioso informante deu uma rica fita. Quase toda droga consumidaem Pouso Alegree região, passava pelas mãos de um traficante, sem nome, do interior paulista. Esta informação levou os pupilos do delegado Gilson a apreender quase 80 quilos de drogas em três operações diferentes em poucos dias. Com o traficante Rodrigo Vieira Mazzoni, o FOCA, foram 4 quilos de maconha e 1 de cocaína, quando ele chegava à rodoviária de Pouso Alegre no ônibus da Gardênia, vindo de Campinas. Aliás, o Foca não se adaptou à secura do velho hotel da Silvestre Ferraz e vazou pelo ‘tatu’. Mas como a maré não estava para foca, ele tornou a cair nas malhas da leiem São Joãoda Boa Vista duas semanas depois e lá se adaptou muito bem… ‘não quis mais sair’. Ainda por conta da mesma informação sobre o ‘poderoso’ e misterioso distribuidor do interior paulista, Teobaldo, Balca e equipe prenderam Junior Cesar do Prado, o BABI, em Congonhal, com 50 quilos da erva. Como um assunto puxa outro, dois dias depois foi a vez de Eliel Moises Romeiro e Benedito Benê entregar a ‘rapadura’… Eles também chegavam de viagem trazendo na mochila 25 quilos de erva e um trezoitão quando receberam as boas vindas dos detetives.
Toda esta droga vinha da mesma fonte, na cidade de Mogi-Guaçu, de um distribuidor até então sem nome e sem rosto. Além de enfrentar as dificuldades de procurar o fio da meada como se procura agulha num palheiro, Teobaldo e Balca tinham que enfrentar a desconfiança dos colegas e da chefia, pois passavam meses sem digitar um relatório. Até que o nome do poderoso traficante que abastecia a região surgiu no fim do túnel: Gô. O velho Gô, da João Beraldo, neto do Waguinho, fujão da Apac. O menino que vi crescer era agora um poderoso traficante. Foi um alento descobrir o nome, mas a localização, o deposito da mer…cadoria ou a rota do transporte continuavam um mistério. Mas…. Deus ajuda quem cedo madruga. No caso de Teobaldo e Balca, o velho ditado era um ‘modus vivendi’ ou ‘modus trabalhandi’. Viviam para trabalhar. Não tinha dia ou hora. Toda informação tinha que ser checada quando chegava, ao meio dia, à meia noite ou às quatro da manha, de segunda, de domingo, de feriado, à pé, de bicicleta ou em carro particular. E o salário, – e o reconhecimento – ó….
A recompensa veio da maneira mais inesperada, numa madrugada morna de novembro. Para contar ao leitor como Teobaldo recebeu a mais bombástica das informações, a informação dos sonhos, é preciso abrir um parêntese na narrativa e voltar no tempo.
Estava eu debruçado sobre um jornal atrás do balcão na recepção da velha delegacia às nove e meia da noite, quando ouvi uma voz tênue de criança dizer:
– Aqui está a bolsa da moça… tá tudo aí dentro!!
Levantei os olhos do jornal e vi sobre o balcão uma bolsa feminina, mas não vi ninguém. Levantei-me lentamente para olhar atrás do balcão de mármore de um metro e vinte de altura, já pensando em assombração e lá estava o dono da tímida voz… Um garotinho franzino, de camiseta, calça larga cortada pela canela e pés no chão. Era mais baixo que o balcão, tinha 9 anos e seu nome era Pépinho ou Pepinha. Ele tornou a falar:
– Pode olhar moço, ‘tá tudo ai dentro…
Sentados no banco de madeira diariamente lustrados por policiais e meliantes na recepção, ao meu lado, o garotinho trocou em miúdos a historia da bolsa com “tudo aí dentro”. Estavam, ele e outros dois colegas mendigando no semáforo da Vicente Simões, quando uma senhora baixou a janela do carro e pegou a tal bolsa para dar-lhes uma moeda. Um dos amigos – da onça – pegou a bolsa e saiu correndo em direção ao Aterrado. Com medo de ser também acusado do assalto, Pepinho saiu correndo atrás e se enfiaram lá por trás do pátio do Freitas onde a policia não tardou a vasculhar. Pepinho, no entanto era apenas um menino de rua, não um ladrão, por isso tomou a bolsa do colega e foi devolvê-la na delegacia. Quando a PM chegou para entregar-me o B.O. sobre o roubo, uma hora mais tarde, a dona da bolsa ja estava indo embora com o caso resolvido.
Pepinho ou Pepinha, no entanto não se resolveu. Devolveu a bolsa que o amigo havia surrupiado, mas nunca mais devolveu as que ele próprio surrupiou. Como tinha apenas 09 anos, tornou-se cliente assíduo do Conselho Tutelar. Numa destas audiências de puxões de orelha, em meados de novembro de 2007, aproveitando um pequeno vacilo, o mini-delinquente passou a mãozinha leve e sujinha no celular da conselheira que o atendia e saiu de fininho. Seria apenas mais um furto corriqueiro de celular como dezenas que ocorrem todo dia na cidade. Este, no entanto pertencia à conselheira Poliana Teobaldo. Depois de ter mandado dezenas de meliantes para o xilindró, Teobaldo não descansaria enquanto não pusesse as mãos no larapio do celular da esposa.
Numa madrugada fresca de sexta feira, perto do raiar do dia, quando estava trabalhando de segurança particular numa danceteria do Esplanada, um dos seus muitos informantes deu a fita: seu aparelhinho fora trocado por uma pedrinha bege fedorenta e estava sendo usado pelo ‘formiguinha’ Darinho, no velho Aterrado. Antes de a ultima estrela da madrugada se deitar nos braços do Cristo no alto do morro do Horto, em meio à penumbra da noite, Teobaldo e Poliana estavam vasculhando o Aterrado atrás do celular – isso eu não ensinei a ele… porque eu não teria coragem de fazer – e aí o outro ditado popular entrou em cena: “pássaro madrugador, pega as melhores minhocas”… O aparelhinho fujão, que havia ficado vários dias em mãos do traficante Darinho, ja havia se acostumado aos assuntos inerentes à atividade do novo dono, de repente tocou!! Pasmem meus estimados leitores, era um traficante trocando informação sobre???? Trafico…!!! E que informação!!! Naquele momento, ainda na maior boca de fumo da região, Teobaldo ficou sabendo que uma tonelada de maconha estava cruzando o sul de minas com destino ao Rio de Janeiro e faria uma escala em Caxambu para deixar uma parte para o traficante… Gô!!! A carreta com placas do Paraná iria descarregar a droga num sitio no Circuito das Aguas.
Quando o sol mostrou os bigodes, depois de ter passado a noite toda em claro, Teobaldo estava na porta da delegacia tentando montar uma equipe para procurar a droga. O primeiro a abraçar a causa foi o fiel escudeiro Balca. Depois vieram o detetive Juleel, que estava saindo do plantão noturno, o escrivão Edgar que ja nasceu talhado para ser policial – e dos bons – também deixando o plantão, o Inspetor Batista que sempre acreditou nos seus comandados e o delegado Gilson Baldassari, chefe da Especializada. Todos tiveram tempo de sobra para se preparar para a mega-operação: cinco minutos. E saíram, seis policiais mal-dormidos e uma ‘bate-pau’, em duas viaturas à procura de uma carreta com placas de uma cidade qualquer do Paraná, que poderia estar levando uma tonelada de maconha. Tinha mais uma pista ouvida no celular cagueta: Um gol branco poderia estar por perto escoltando a carreta. Um grupo entrou pelo Circuito das Aguas, outro foi por Três Corações e entrou pelo circuito das drogas, quero dizer, por São Tome das Letras. Foram se encontrar cansados e borocoxôs em Baependi, sem nem o cheiro da erva maldita.
Mas policial ‘brasileiro não desiste nunca’. Voltando para Caxambu avistaram um gol branco seguindo de perto um caminhãozinho baú. Cada grupo tratou de abordar um deles. Ao emparelhar com o gol, Teobaldo reconheceu ao volante a figura impoluta do seu velho ‘anfitrião de café da manha com drogas’… Ha anos não se viam, mas nenhum deles havia mudado, nem na fisionomia, nem nas atividades. Era o menino Gô. Levava com ele no gol dois passageiros. Depois de alguns metros acelerando e praguejando na mira das pistolas, Gô encostou o veiculo. Era um ardil para ganhar tempo. Quando Balca saltou empunhando a metranca seguido de Juleel, Gô pisou fundo o acelerador, colocou o braço para fora e mandou bala na direção da viatura. Teobaldo que ja abrira a porta e Juleel revidaram e o gol continuou se afastando debaixo de balas. Quando parecia que iria sumir na curva da estrada, de repente passou reto, enfiou-se numa cerca de arame e parou. Chegaram rapidamente ao gol a tempo de segurar um dos passageiros que enroscara no arame farpado tentando fugir e outro fujão ja se enfiando num matagal. Gô estava quieto, imóvel atrás do volante, mudando de cor e de expressão facial. O que lhe restava de voz usou para maldizer seu eterno algoz. A bala, não se sabe de qual arma, se da pistola do Teobaldo ou Juleel, havia estilhaçado o vidro, o estofamento e se alojado na coluna vertebral do menino que vi crescer. Eu não o veria nunca mais. E a outra equipe? E a carreta com a droga? Gilson, Batista e Edgar haviam abordado o bauzinho, mas no momento que o motorista apresentava uma nota fiscal de café, Poliana os chamou pedindo apoio, contando do imbróglio de dois quilômetros adiante. Eles dispensaram o caminhãozinho com a suposta carga de café, sem vistoriá-lo. Podia ser mesmo café. Não ha nada melhor para disfarçar o cheiro da erva…
Estava feita a merda!!! Um traficante foragido da Apac agonizando, baleado nas costas com um 38 ainda quente na mão, dois desconhecidos enroscados no arame farpado e cadê a droga da droga? Nem precisava ser uma tonelada. Um quilinho magrelo da erva maldita seria suficiente para salvar-lhes a pele. Sem a droga os dois policiais que atiraram no gol em fuga, ainda que debaixo de bala, estariam em maus lençóis. O que fazer? Bem, a primeira providencia era não deixar o ar já rarefeito de Gô parar de entrar em seus pulmões, por isso urgia levá-lo para o hospital de Caxambu. Mas tão importante quanto salvar a vida do traficante, era encontrar a carreta com a maldita droga para salvar suas carreiras. A pressa de salvar Gô foi bendita. Quando chegavam ao trevo de Caxambu avistaram uma carreta manobrando lentamente no posto de combustíveis pegando a BR 265, sentido Juiz de Fora. Tinha que ser ela. Abordaram os três ocupantes e foram informados que levavam uma carga de arroz do Paraná para o Rio de Janeiro. Estava tudo documentado. Ah, mas entre centenas de sacas de arroz bem que dava para camuflar algumas de maconha, dava não…? Dava. Dava sim. Ô, se dava, dava mesmo!! Tinha que dar. Teobaldo blefou. Sacou a pistola com os dedos sujos de sangue, encostou o cano ainda quente no bigode do motorista e advertiu com todas as letras:
– Perdeu mano… acabei de encher seu parceiro de balas no golzinho ali atrás. Ele está indo dar os últimos suspiros no hospital. Vai querer fazer companhia para ele….?
O piloto da carreta e seus ‘chapas’ não eram traficantes contumazes. Eram ainda ‘mulas’. Com um bom advogado poderiam pegar apenas quatro anos e depois de um sexto da pena, pouco mais de um ano fechados, poderiam voltar para casa. Preferiram não conferir o blefe.
– … Tá no meio do arroz – disse o motorista tremendo, com a voz quase sumindo.
“Tá no meio do arroz…”. Esta frase singela jamais será esquecida por aquele grupo de policiais famintos, cansados, apavorados naquela beira de estrada no trevo de Caxambu naquele inicio de tarde de 24 de novembro de 2007. Estava mesmo e iria longe. Viajaria até o Polo Norte daquele jeito se os esquimós fossem tão manés e fumassem maconha. À medida que as sacas de arroz iam se afastando os tijolos de cannabis sativa de Lineu iam aparecendo até chegar a um mil, dois mil, tres mil, quatro mil, cinco toneladas de maconha!!! Uma tonelada era a parte que Gô baldearia para o bauzinho de café e levaria para seu sitioem Mogi Guaçu, de onde distribuiria para Pouso Alegre e região. As outras quatro toneladas passariam por Juiz de Fora e iriam abastecer os morros cariocas. Ufa… Estava salva a operação. Faltava agora salvar a vida do traficante. Seria muito mais gratificante e menos complicado e constrangedor vê-lo passar uns quinze anos no hotel do Juquinha… do que não vê-lo nunca mais. Mas não deu. Gô, o menino que vi crescer agonizou na UTI durante seis meses e finalmente fechou os olhos.
A mega operação que se desencadeou no final da madrugada através de um celular furtado da conselheira tutelar pelo franzino Pepinha, de 13 anos, resultou na apreensão de cinco toneladas de erva maldita, uma das maiores do Estado. Foi uma grande vitoria da policia no combate ao trafico de drogas, mas os policiais que sentiram o vento quente das azeitonas roçando suas orelhas antes daquela curva em Caxambu não colheram louros. Ao contrario. Receberam ‘olhares de cotovelos’ de alguns colegas de trabalho e de desconfiança dos parentes do traficante – afinal, parente é parente… – Os mais próximos encetaram uma investigação particular em busca de excessos dos policiais e só sossegaram depois de constatar que o trabuco encontrado ainda quente na mão tremula e moribunda de Gô pertencia a um traficante de Mogi Guaçu, com o qual ele tinha ligações.
A maior apreensão de drogas do Sul de Minas não rendeu sequer uma promoção aos policiais que a realizaram, nem mesmo à dupla Teobaldo e Balca que durante meses vinha tentando desenrolar o fio da meada para chegar ao ‘todo poderoso’ do interior paulista e semana antes prendera vários de seus asseclas. Teobaldo ao menos recebeu uma homenagem da Câmara de Vereadores, o que não é grande coisa quando se trata de indicação política, pois tem policial que não faz mais do tocar corneta e também recebeu tal homenagem…
Antiguidade e merecimento. Estes são os caminhos para um policial ser promovido dentro da carreira e engordar seu contracheque em meia dúzia de reais. No entanto, ‘merece’ promoção quem tem Q.I… Quem não tem padrinho morre pagão e espera dez anos na fila. Enquanto isso vai emendando o dia com a noite, horário de almoço com expediente em supermercados, danceterias e eventos noturnos para complementar o salário. Mas é bom… para o contribuinte. Quem sabe nestas noitadas não surge um Pepinha com um celular roubado… e mais uma tonelada de drogas e seus distribuidores caem nas malhas da lei….?
Professor da ETE é picado por jararaca
O professor de filosofia da ETE, Hilário Coutinho, foi picado por uma cobra venenosa, provavelmente uma jararaca, ao pé da noite de sábado. Ele voltava de uma visita familiar, para seu sitio no bairro dos Coutinhos, em Congonhal, quando, no momento de engrenar a motocicleta, sentiu a picada na perna esquerda, abaixo da panturrilha. A principio pensou que talvez tivesse esbarrado no pedal da moto ou num graveto, mas a dor tornou-se tão intensa que o obrigou a parar alguns metros adiante e constatou que a marca das presas deixadas na lateral da canela, eram de cobra. No escuro da noite não era prudente procurar pela malfeitora para identifica-la e facilitar a injeção do antídoto para o veneno, mas, pela hora do fato, tipo do ferimento, altura do bote e pela vasta experiência do professor que cresceu carpindo mandioca e roça de milho, puxando cascavéis para os pés com a enxada, pode-se deduzir que a sua ‘inimiga’ era uma irritadiça jararaca.
O professor teve muita sorte. Apesar da dor aguda, latejante e da dormência na região atingida e ao longo da perna esquerda, a quantidade do gélido veneno da peçonhenta não foi suficiente para tira-lo de combate. Ele conseguiu chegar ao seu sitio pilotando a moto com o filho imberbe na garupa e meia hora depois foi socorrido no PS do regional Samuel Libanio onde passou a noite em observação e já retornou às suas atividades. A invisível serpente de pouco mais de meio metro, certamente já havia gasto a maior parte do seu veneno abocanhando algum rato nas imediações, ou então, irritada com o compassado tótótótó da Bross, havia distribuído alguns botes a esmo na inocente motocicleta.
Ironicamente, na quinta anterior, o professor havia proferido uma palestra conjunta para cerca de 80 pessoas no auditório da ETE, cujo tema discorrido tratava da “Vida depois da Morte”. Ao final, com sutil bom humor o culto professor concluiu sua fala, do ponto de vista filosófico; “… pelas minhas características genética e estatística, devo viver até os 82 anos… se não surgir no meu caminho nenhum acidente…”. Dois dias depois, o acidente mostrou a cara, quero dizer, as presas….!!!
7 anos de cadeia por roubo de cuecas
Em tempos em que a policia federal – leia-se imprensa, jornalismo investigativo – descobre a cada dia uma nova maracutaia nacional, com milhoes de reais sendo desviados dos cofres do contribuinte para as guaiacas de parentes e amigos dos ‘representantes’ que colocamos em Brasilia – primeiro o Ministerio dos Transportes, depois o da Agricultura e agora o do Turismo… cheios de maçãs podres, o que não é nenhuma novidade, diga-se de passagem – vale lembrar alguns casos de cidadãos simples mortais, que vão parar atras das grades, por furto de galinhas. E são justamente os bipedes galinaceos que começam ilustrando esta simples e curta materia. Em 85, quando cheguei para trabalhar na minha saudosa Silvianopolis, o velho hotel da Julio Correia Beraldo tinha apenas um preso; Carlinhos Lobão. Um negro alto, meio curvado, voz de trovão, com quase dois quilos de beiços. Trabalhava como ‘chapa’, de bermuda e chinelos, na agropecuaria do Heleno durante o dia e à noite ia dormir na cadeia. Assim foi durante um ano e meio. Seu crime? Numa noite quente de outubro invadiu o quintal de um vizinho no bairro do Lava-pés e furtou uma galinha, para fazer uma ‘frangada’ regada a suco de gerereba com os amigos. Carlinhos Lobão não reclamou da justiça, não esperneou, não mordeu ninguem. Pagou de ‘diboinha’ seu debito social e durante um ano e meio não comeu galinha, nem frango, nem franguinha…. não de noite, pelo menos.
Outro dia contei nesta mesma coluna a historia daquela simpatica e bondosa senhora que desfilou pelos corrredores do Baronesa protegida pelo ‘habito’, visitando sorrateiramente as gondolas e na saida foi barrada pelo segurança levando na bolsa a tiracolo refis de barbeadores…. sem pagar. Ela desceu no taxi do contribuinte para a DP e não foi autuada em flagrante e portanto não subiu para o hotel do Juquinha, porque a delegada de plantão foi muito sensata, mas sentou-se ao piano e assinou um 155. Ah, ela é freira….
Na segunda feira do ultimo carnaval, meu conterraneo T. pulou o muro do quintal da casa da senhora D., lá em Congonhal e furtou uma calcinha que estava secando no varal. Ele não explicou o que pretendia fazer com a ‘langerri’ da vizinha, mesmo assim também contou com o bom senso do delegado de plantão para não ter que se travestir de boneca no hotel do Juquainha. Só não escapou do piano e esta sendo processado por furto.
Mas o motivo que me faz tomar seu tempo meu estimado leitor, são as cuecas. Não as minhas Lupos e Bad Boys e nem as suas. Mas as velhas e surradas cuecas de elanca de M.T.V, que também estavam penduradas no varal. Elas foram alvo da cobiça do cidadão C.F.M. na cidade de Alfenas. Na calada da noite o moço de 27 anos galgou o muro da residencia, desceu sorrateiro no quintal e passou a mao leve em tres cuecas e um par de meias e tentou dobrar a serra do cajuru. Foi delatado pelo “Totó” que estava de guarda e caiu nas malhas da lei. Apesar da indignação, o vizinho declarou ao juiz que as peças intimas eram bastante usadas e portanto não tinham valor material e nem mesmo sentimental, por isso o douto homem da capa preta, baseado no principio da insiginificancia da ‘res furtiva’, absolveu o larapio de cuecas. O sempre zeloso Representante do Ministerio Publico discordou e sob a alegação de que o meliante sem roupa de baixo tinha maus antecedentes e tendencias a delinquir, recorreu da descisão. O processo subiu e C.F.M. foi então condenado pelo TJMG a 7 anos de prisão pelo furto das cuecas e meias velhas. A pendenga continua acalorada e parece que não vai esfriar tão cedo, pois o STJ acatou a primeira descisão da Comarca de Alfenas e o absolveu. Novamente o dignissimo MP recorreu e o caso das cuecas furadas – que apesar de lavadas continuam fedendo para C.F.M. – pode parar no Supremo Tribunal Federal. Enquanto isso, nos bastidores – ou seria nos esgotos? – da Esplanada dos Ministérios….
A verdadeira historia do “Beco do Crime”
Nos dias atuais, se fossemos dar nome a cada rua onde ocorreu um crime violento, de repercussão social, certamente sobrariam poucas ruas na cidade para homenagear feitos e figuras relevantes da nossa terra. A média de homicídio em Pouso Alegre estacionou já há algum tempo perto dos 15 ao ano. Mas já tivemos anos mais violentos. O século XXI na verdade começou assustador. Em 2001, entre latrocínios, suicídios e homicídios, começando com roubo de taxista, passando por acertos de contas entre bandidos no velho Aterrado e desacerto por causa de drogas e liderança no velho hotel da Silvestre Ferraz, 29 pessoas voltaram mais cedo para os braços do Criador … Ou pelos menos para o limbo cavernoso do Umbral.
Um crime, no entanto deu nome, ou pelos menos apelido a uma pequena via e a tornou referencia para quem busca se localizar no centro da cidade. “O Beco do Crime”. No velho Aterrado, onde acontece atualmente metade dos homicídios da cidade, certamente ninguém se lembra da esquina da cerca de taquara e da poça de lama onde os irmãos Reanir de Lima mataram o policial Marcos Alves da Silva em novembro de 1983, usando a própria arma do policial que os perseguia. Poucos também se lembrarão do boteco na porta do qual, no mesmo bairro, três jovens meliantes – Flavio Cagão, André Cabinho e Elton Mateus se mataram por motivos passionais e vingança há seis anos e tiveram seus corpos vilipendiados pelos parentes de Elton. O assassinato traiçoeiro e brutal do detetive Marcos Paixão há sete anos, chocou a cidade e comoveu a classe policial, porém, pouca gente sabe onde o funesto crime aconteceu. No dia 13 de novembro de 2003, ao meio dia, três guampudos de 16, 17 e 18 anos assaltaram a Lotérica da Garcia Coutinho e vazaram calma e sorrateiramente à pé pela Bom Jesus. Paixão voltava para casa pela Adolfo Olinto, alheio ao crime, quando viu pelo retrovisor do seu carro, um guampudo ajeitando um revolver na cintura. Ele rapidamente encostou o carro ao meio fio e ao tentar fazer a abordagem foi alvejado na nuca, sem dó e sem piedade, por outro meliante que já estava do outro lado da rua. Antes do final do dia os três latrocidas estavam atrás das grades. No dia seguinte sepultamos o colega, um dos mais intrépidos e atuantes detetives que Pouso Alegre já conheceu. E o fato aconteceu ali, na esquina do beco do crime, que recebera tal batismo meio século antes, num momento completamente diferente da nossa historia. Numa época em que matar era proibido por lei e por princípios. Numa época em que tirar a vida de alguém ainda não era um ato corriqueiro e banal.
Da torre da Catedral Metropolitana ou da janela do Colégio Santa Doroteia, os únicos prédios da época com mais de dois andares, podia-se avistar todos os limites da cidade. Depois do sobrado amarelo com a figura do belíssimo cavalo alazão na parede do alpendre do Sr. Argentino de Paula, na esquina da Com. Jose Garcia com Alfredo Custodio de Paula, o que sobrava era apenas uma arremedo de cidade. Logo ao lado estava o Estádio da Lema desde 1928, em seguida o hospital Samuel Libanio desde 1921, a vila São Vicente de Paula com suas humildes casinhas amarelas e a sorveteria do Gerôncio em frente o cemitério municipal na desmilinguida Taipas. A partir dali apenas estradinhas vermelhas seguiam para o Fátima, o Faisqueira, para a fazenda do Policarpo Campos e para o Cascalho. Desde as costas do ‘sobrado amarelo’ até o Esplanada e da esquina do Pinto Cobra até a Perimetral, tudo era fazenda de gado leiteiro.
Além da fabrica de macarrão do Orlando Chiarini em frente o Estádio da Lema, uma fabrica de manteiga e outra de banha suína somavam suas parcas riquezas à agropecuária, principal atividade econômica do município. Senador Jose Bento já pusera Pouso Alegre no mapa do Estado e do Brasil, mas o progresso econômico somente chegaria duas décadas depois com Simão Pedro Toledo.
Olhando da direita da novíssima e majestosa Catedral inaugurada três anos antes, era perceptível que o 8º Regimento de Artilharia Montada, instalado lá longe, perto do Jardim Yara em 1918, fizera a cidade caminhar mais naquela direção, passando pelo Colégio São Jose que já era um respeitável cinquentão. A “Vendinha” era uma pequena vila com pouco mais de 1.500 moradores – hoje virou bairro São João e tem quase 30 mil habitantes – o jardim Noronha era bairro novo e a Rua David Campista, famosa “Zona Boemia”, há um quarteirão do Santuário, já era um antro de boemia e perdição.
O bairro São Geraldo ainda não recebera este batismo. Era chamado pelo apelido que o originou: “Aterrado” e podia ser visto num relance só, pois tinha apenas a disforme Avenida Vereador Antonio Costa Rios, ora larga, ora estreita. As centenas de ruas e vielas que o tornaria o mais violento bairro distribuidor de drogas da região, abrigava ainda capituvas, pastagens, sangra-dáguas e mata típica de vargem ribeirinha. Depois da curva do Japonês eram só fazendas de gado.
A principal diversão dos jovens de todas as idades consistia em passear no Parque Municipal, na Praça João Pinheiro, onde se instalara há dois anos o Conservatório Estadual de Musica. Os homens menos refinados e mais arrojados se divertiam nadando nos poços do Lava-cavalos atrás do Vasquinho e no límpido e piscoso Rio Mandu, que corria bem mais perto do centro, onde se estende hoje a Avenida Perimetral. Na época das enchentes ficava ainda mais divertido pular de cima da ponte… – alguns anos mais tarde eu também pularia ali. Mas tinha também o Clube literário tal qual é hoje, o Cine Gloria do outro lado da praça e na Dr.Lisboa o imponente Teatro Municipal que serviu de delegacia de Policia. O mercado municipal com outra roupagem e muito mais modesto, mas não menos dinâmico e importante para a economia do município, já estava ali atrás da igreja, cercado de charretes, bagageiras e carros de bois. A principal fonte de energia das cozinhas das donas de casa; a lenha, era distribuída na cidade pelo Zé Fidelis no Jardim Yara e João Brunhara, na Santos Dumont, no quarteirão de cima do Beco do Crime.
Apesar de pequenina, Pouso Alegre já produzira muitos homens públicos que levaram seu nome além das fronteiras do município e do Estado. Mas tinha pouco mais de meia dúzia de médicos; Dr. Alaor Cobra, Dr. Gabriel, Dr. Lisboa, Dr. Omar Barbosa Lima, Dr. Vitor Romeiro, Dr. Jesus Pires… e meia dúzia de advogados, entre eles um que ganharia projeção justamente por defender o assassino do Beco do Crime; Rômulo Coelho. Alexandre Araújo ainda trabalharia mais vinte e poucos anos no DNER antes de se aposentar, mas já começava colecionar fatos, fotos e objetos que iriam contar nossa historia no riquíssimo Museu Tuany Toledo que ele próprio fundaria mais tarde. Juscelino Kubitschek de Oliveira e os ‘candangos’ já se preparavam para rasgar o cerrado do planalto para construir Brasília, mas quem mandava no país ainda era o Sr. Nereu Ramos. O cinquentão Palácio da Liberdade era ocupado por Clovis Salgado da Gama e cá nas terras banhadas pelo piscoso e manso Mandu quem dava as cartas era o bondoso medico Custodio Ribeiro de Miranda. Embora nascido em Congonhal, nosso mais ilustre cidadão na época era o jovem Milton Reis, que aos 26 anos representava Pouso Alegre na Assembléia Legislativa do Estado.
Crimes? Ah, já existiam. Tirando os mais moderninhos, os da internet e os de ‘colarinho branco’ – Brasília ainda estava no papel – quase todos os demais imaginados pelo homo sapiens já grassavam nas terras manduanas. A diferença de hoje ficava na estatística. Passava-se meses, anos e até décadas entre um crime e outro. O velho Hotel da Silvestre Ferraz já existia e era quase cinquentão. Conhecia de tudo, menos superlotação. Nem precisava de muro externo. Seus hospedes podiam passar o dia todo tomando sol, pendurados nas janelas, conversando com as pessoas que passavam na rua. È claro que os transeuntes não se aproximavam muito, pois todo preso naquela época era bandido perigoso, marginal, pária social, perverso e assustador. – O que mudou? – Quem se aproximasse e mantivesse contato com eles poderia se confundido com comparsa de seus hediondos crimes e seria discriminado pela sociedade. Chegar até a janela da cadeia para entregar um maço de Parquer ou Continental sem filtro ou mesmo um cigarrinho de palha recheado com carapiá e uma caixa de fósforos Ipiranga, era um ato de bravura que o transeunte fazia por medo… medo de não atender o pedido do preso e ser ‘marcado’ por ele. O bom mesmo era evitar passar pela Monsenhor Mendonça.
Era época em que os casais namoravam na sala – os mais íntimos iam para a cozinha tomar café quente e cheiroso com broa – sempre na presença dos pais da mocinha virgem, cada um numa ponta do sofá ou da mesa. Se o namoro fosse proibido, o mocinho esperava na esquina da rua de baixo ou na encruzilhada da estrada. Se a mocinha tivesse irmão e fossem amigos tudo era mais fácil. Mas se não se bicassem, o rapaz tinha que primeiro ‘domar’ o futuro cunhado para depois chegar ao pai da moça. Se o homem passasse dos vinte sem casar é porque tinha alguma doença… esterilidade talvez e já deixava de ser um bom partido. A menina se passasse dos 17, ou ia para o convento ou ficava para titia. A pequena frota de automóveis do município tinha apenas quatro carros de ‘praça’ e o único “motor” que rodava na cidade, nos fins de semana, era a Harley Davidson do Sr. Valdemar Moura. Pouso alegre era uma respeitável senhora de 107 anos com cerca de 30 mil alegres e pacatos filhos biológicos ou adotivos que atendia pelo charmoso e honroso epíteto de “Princesa do Sul”. Eu? Era ainda um mero sonho do jovem casal Eva/Daniel Ferreira de Matos. Era o ano da graça de N.S.Jesus Cristo de 1955.
A melhor vista panorâmica da cidade ficava justamente num local – que ironia!!! – onde os moradores já não podiam mais abrir os olhos; o antigo cemitério municipal no Alto das Cruzes. Sentado no seu portão podia-se contemplar o verdadeiro mar em que se transformava o bairro do Aterrado de dezembro a março, na época das chuvas. Atravessando a rua Carijós, da janela da casa do meu tio Joaquim Paula, podia-se ver o trem de ferro surgir lento e manhoso no bairro Belo Horizonte, sobre o rio Sapucaí e segui-lo com os olhos até que ele parasse, vinte minutos depois, fungando que nem cavalo velho e soltando canudos de fumaça branca pelas ventas da Maria Fumaça na estação da Avenida Brasil.
Foi ali mesmo, no Alto das Cruzes, no ‘triangulo geográfico’ formado pelas ruas São Pedro e Tupinambás – a Tupinambás sobe pela direita, passa por trás do Palácio da Carijós, antigo cemitério, depois Cemig e desce do outro lado até a João Vaz de Lima – que nasceu o mais famoso ‘triangulo amoroso’ de que se tem noticia em Pouso Alegre. Ou pelo menos o mais trágico. Na base do vértice morava a jovem donzela Jacira, pouco mais que uma menina, apenas 13 anos de pureza, beleza e sonhos. Na subida da Tupinambás o intrépido jovem Jesus Damasceno.
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Soldado tropeça na ‘’pedra’ bege e cai… mas diz que é inocente
Passavam os policiais militares pela Avenida Mario Silveira no centro de Congonhal, quando avistaram dois guampudos com pinta de somongós se esgueirando pela via e resolveram fazer a abordagem. Os moços, que pelo andar da carruagem, tinham culpa no cartório, deixaram cair um objeto estranho e correram cada um para um lado. Não conseguiram vencer a correnteza e caíram nas malhas da lei. Ao voltarem ao local da tentativa de abordagem os policiais encontraram jogado ao chão um belo patuá com duas pedras beges fedorentas, suficientes para deixar doidões pelos menos 50 nóias. Gilberto Paulino de Vasconcelos, soldado engajado do exercito, 21 e R.A.O., 17 anos, alcunhado Zulu, já velho conhecido da policia por uso e trafico de drogas, juraram de pés juntos que a droga não lhes pertencia. Com cara de anjo ou não desceram no táxi do contribuinte para a delegacia Regional de Pouso Alegre e sentaram ao piano. Ainda jurando pela mãe da vizinha que eram inocentes e que nem se conheciam o soldado e o ‘dimenor’ Zulu assinaram o 33. O garotão, como é inimputável, apesar de ter se hospedado recentemente no Hotel do Juquinha por 90 dias pela pratica nefasta do aviãozinho, foi entregue ao Conselho Tutelar. Ja o soldado Vasconcelos, de família idônea, acima de qualquer suspeita, foi assistido pelo “Oficial de Dia” e levado para o 14 GAC. Se o homem da capa preta não acreditar em sua ladainha, ele poderá ser expulso das fileiras do exercito e responder criminalmente por trafico de drogas como um mortal comum. Será que são mesmo inocentes? Mas porque tentaram dobrar a serra do cajuru?