Os ultimos dias de Fernando da Gata

       Fernando Soares Pereira nasceu em 1961 na pequena Russas-CE e aos 21 anos, depois de meteórica carreira na capital paulista e em Pouso Alegre, tornou-se a pessoa mais temida e mais popular do Brasil. Sua fama começou na própria Russas onde mais tarde ele voltaria de avião fretado pelo governo do Estado e, sob o ruflar de tambores seria….. enterrado, como herói e mártir. Suas estripulias, brincadeiras com a policia e abusos sexuais começaram ainda na adolescência e aos vinte anos Fernando já era o mais ilustre ladrão e estuprador da cidade… e o maior fujão do velho hotel de Russas. Prende-lo até que não era tão difícil. Bastava chantagea-lo. O difícil era mantê-lo na cadeia. Diziam que ele tinha parte com o demônio, praticava magia negra ou algo assim, pois simplesmente desaparecia da cadeia na hora que queria. Quando os policiais não conseguiam prende-lo, diante da pressão da população, prendiam algum de seus familiares e então ele se entregava e o chefe da policia o exibia na sacada da delegacia para acalmar a população. Esta ultima parte até que pode ter acontecido, pois naqueles tempos, antes do advento da Carta Magna do jurássico Ulisses Guimarães, nos mais distantes rincões do nosso brasilsão verde-amarelo, especialmente nas pequenas cidades, políticos e policia faziam as leis de acordo com suas conveniências – Faziam….?

      Mas o baixinho que na lá no Ceará gostava mesmo de meninas novas de família, cansou-se da farra, da rotina e da pobreza do nordeste e resolveu descer para o rico sudeste. Fixou residência na periferia de São Paulo e se tornou Manoel Rufino da Silva, trabalhador da construção civil. Casou-se com Maria de Fátima, mas logo recomeçou a vida de crimes contra o patrimônio e contra os costumes. Seis meses depois estava em todos os noticiários impressos, radiofônicos e televisivos do país. Agora, o Fantástico Show da Vida já o apresentava ao Brasil como o misterioso “Fernando da Gata”. Em São Paulo ele pulava muros e quintais usando apenas um calção, dominava cães ferozes com um simples estalar de dedos, entrava nas ricas mansões de revolver em punho, estuprava a dona da casa no seu quarto com o marido trancado no banheiro ao lado ou na presença dele mesmo, comia refeições frias ou quentes preparadas pela dona da casa. As vezes fazia xixi – e o ‘dois’ também – nos pratos e panelas e ia embora levando somente objetos que pudesse carregar nas mãos ou numa sacolinha presa à cintura; joias.

     Herói, bandido, demônio, mito, folclore. Não sabemos o que é fato e o que é boato, mas foi com este perfil que Fernando da Gata chegou a Pouso Alegre em meados de agosto de 82. Aqui começa a historia que podemos atestar sobre o maior bandido que conhecemos, o qual passou como um furacão por Pouso Alegre e morreu na margem direita do rio Sapucaí, no bairro Pouso do Campo, em Santa Rita do Sapucaí. Morreu tão solitário quanto sua vida criminosa, duas semanas depois de adentrar o Estado mais eficiente do Brasil no combate ao crime.

       Um pouco de sua fama era verdadeira, pois os mais famosos policiais de São Paulo vieram para Pouso Alegre tão logo souberam de sua presença… para espantá-lo.

Quando um próspero comerciante da cidade recebeu a visita sorrateira de um baixinho seminu, na calada da noite, sem ser incomodado pelos dobermans, o cão de guarda da época, a policia se lembrou da principal reportagem do Fantástico na noite anterior e ligou os fatos ao bandido. Mas somente depois…

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Sargento Campos e Airton Chips em novembro de 2009

 

 

Como foram os últimos dias de “Fernando da Gata”

Você já ouviu falar de Fernando da Gata?

O meliante solitário dominava cães ferozes nos quintais, nas quebradas da noite, invadia mansões de ricos empresários, roubava suas jóias, estuprava suas esposas e filhas e desaparecia durante o dia.

Seus crimes colocaram dezenas de policiais em sua sombra. Depois de fugir do cerco da policia em Pouso Alegre, o maior bandido que já pisou o ‘sul das geraes’, foi morto com um tiro no peito, nas margens do Rio Sapucaí, na fazenda do Huet Motreira, antes de chegar à cidade de Santa Rita.

Mesmo depois de morto ele continuou dando trabalho à policia. Foi velado na delegacia e exibido como trofeu.

Três semanas depois de sua morte, ele fez sua primeira e única viagem de avião… da morte, para ser sepultado, sem os dedos, sob aplausos da população do Vale do Jaguaribe, no Ceará, onde se tornou herói.

A partir desta segunda você vai conhecer a historia do bandido que passou como um vendaval por Pouso Alegre, aterrorizando ricaços,  levando sua jóias, sua honra e uma tenra vida. Quando rumou-se para Santa Rita, colocou até os bandidos para dormirem mais cedo, debaixo da cama, até ser baleado por um policial que o encarou sozinho, ao pé da noite, num matagal.

Na serie “Meninos que vi Crescer”, em três capítulos, você vai saber como foram “OS ULTIMOS DIAS DE FERNANDO DA GATA” no Sul de Minas.

Zinho & Fonfon… nascidos para morrer

      Moravam numa casa simples no meio da subida da rua 09. Não havia muros na frente e nem nos fundos. Nas laterais os muros dos vizinhos serviam de divisa. A primeira vez que fui à casa deles levar-lhes uma intimação, mesmo que fosse necessário entregar-lhe pessoalmente, teria que entregar à sua avó, pois antes de descer da viatura ouvi o ranger de um sofá velho e o tropel de alguém correndo em direção ao quintal. Dona Bê ligeiramente confusa e aborrecida atendeu a porta e perguntou em tom desacorçoado; “Pra quem é desta vez?”. O ‘convite’ da Delegacia de Orientação a Menores, para esclarecer mais um furto na vizinhança, era para Zinho e Fonfon, pois a vitima não tinha certeza qual era qual.

       Foi assim que conheci W. e E.R. Pereira, os irmãos de vida desregrada e curta, no charmoso bairro conhecido por “Nem”… nem Pouso Alegre, nem santa Rita. Construído nos anos 90 com toda infra-estrutura, com ruas largas, asfaltadas, bem iluminadas, bem arborizado, escola municipal, moderna, igrejas, à margem de uma rodovia federal, agora com moderno trevo de acesso – falta apenas um campo de futebol e um ginásio poliesportivo – supermercados e muitos botecos, o bairro Cidade Jardim tem tudo a ver com o nome e faz inveja a dezenas de cidades do Estado de Minas em qualidade de vida e bem estar social. Com centenas de famílias honradas, honestas, ordeiras e cumpridoras dos seus deveres, que vieram realizar seus sonhos da casa própria e ter um cantinho para descansar após o labor, vieram também os desocupados, dissimulados, gatunos sorrateiros, larápios, traficantes, aviõezinhos e  nóias para atormentar a vida dos pacatos cidadãos.   

        Em 2004, dois deles conheceram o fim trágico da maioria dos adolescentes que enveredam pelas sendas do crime, e escreveram uma página negra na jovem história do Cidade Jardim. Os garotos, na flor da idade, provaram do próprio veneno que espalharam pelas ruas do bairro desde a puberdade. Zinho, 18 e Fonfon, 19 anos, eram figurinhas carimbadas na Delegacia de Orientação a Menores da 13ª DRSP. Furtos, roubos, brigas, ameaças, uso de drogas, tiros em via publica e até estupro faziam parte de seus currículos desde os treze anos. Embora sem estabilidade financeira, sempre gostaram de enxada de cabo longo… para ficarem longe do trabalho. Suas ocupações eram a cama, sempre nas quebradas da noite depois que as ruas ficavam desertas, sopas em pratos fundos, sombra e água fresca, comida quente e chamego, e “o que é seu é meu… e sai de baixo senão leva porrada”. Os irmãos viviam sob a tutela da avó, de expressão ranzinza e amarga e de um tio quarentão que parecia ter mais o que fazer do que cuidar de sobrinhos mal educados. Vieram de São Paulo. Os pais, nunca soubemos ao certo que destino levaram. Más línguas diziam que eram separados, outros diziam que haviam morrido no crime na capital paulista e outros afirmavam que tanto o pai quanto a mãe estavam hospedados em hotéis do contribuinteem São Paulo, por roubos e trafico de drogas. A avó que sempre acompanhava os pequenos meliantes nas audiências no gabinete da delegada Maria Inês Xavier, se limitava a dizer – com poucas palavras – que o filho e a nora estavam trabalhandoem São Paulo.Aliás, assistimos a metamorfose do humor e comportamento de dona Bê. No inicio ela comparecia às audiências, recebia os puxões de orelha dos netos, tentava explicar, justificar… prometia mais rigor e vigilância na educação dos pupilos e quase pedia desculpas pelos mesmos. Foi se transformando. Mais adiante entrava muda e saia calada do gabinete da delegada. Limitava-se ouvir e concordar com acenos de cabeça. Já estava desacorçoada com os netos delinqüentes e desistira de fazer qualquer coisa para muda-los. Para transformá-los em homens de bem. Toda semana  um novo B.O. era registrado pela PM contra os irmãos Zinho e Fonfon. Se não conseguira torcer os netinhos enquanto ainda eram pepinos, agora não torceria mais. Alguém os quebraria…..

       No dia 12 de julho Zinho completaria 18 anos. Idade crucial para os meliantes. A partir daí, se caísse de novo nas malhas da lei, não teria choro nem vela e nem fita amarela, seria cana. Depois dos 18 não tem mais ‘procedimento especial de menores’, não tem mais audiência com o promotor da infância e da juventude, nem com o juiz apenas para receber um ‘sabão’ e ‘passar a mão na cabeça’. A partir dos dezoito todo cidadão brasileiro é imputável, responde criminalmente pelos seus crimes – em tese, pelos menos. Talvez por isso Zinho tenha sumido. Desde o dia 10 ele não aparecia em casa para as atividades habituais de comer, beber, dormir… e dizer palavrões, grosserias e ameaças a quem quer que lhe fizesse alguma ‘cobrança’, a começar pela avó. No principio a família sentiu certo alivio. Não tinha policia e nem vizinhos aborrecidos batendo à sua porta. Até porque o pequeno meliante não tinha compromisso com nada e ausentar-se de casa por dois ou três dias sem dar satisfação era rotina. Mas com o passar dos dias os familiares, especialmente o parceiro de feiúra, Fonfon, que sabia muito bem o mato em que lenhava, começou a preocupar-se. Teria Zinho sido preso? Será que algum dos seus muitos desafetos teria ‘acertado seus passos’? Teria ele entrado em conflito existencial devido a maioridade ou se arrependido dos seus crimes e se pendurado na ponta de uma corda num galho de uma arvore? Quem sabe tivesse arrumado um emprego como um cidadão mortal comum, temente a Deus e quisesse fazer uma surpresa para a velha avó, aparecendo em grande estilo no final do mês, com o salário no bolso e um abraço no rosto para dizer; “Vó, criei juízo. Agora sou um homem de verdade e vou te dar um pouco de alegria e conforto”!!! Será??? Ou quem sabe uma mulatinha qualquer tivesse se enrabichado com ele e o chamado na chincha…? Dizem que a mulher poe o homem nos trilhos…  Como as ultimas conjecturas eram pouco prováveis, o melhor mesmo era procurá-lo, ainda que sua ausência fizesse pouca faltaem casa. Afinal, se ele não se importava com ninguém, havia quem se importasse com ele. Passaram a procurá-lo. Delegacia de Policia, hospitais, casa de pseudo-amigos, de inimigos, IML…

        Eu estava licenciado do trabalho policial e por isso não sabia do desaparecimento do garoto que vira crescer. Da janela do escritório do jornal ao lado da delegacia vi o perito Luiz Cláudio manobrando a viatura, saindo para cumprir mais uma missão. “Encontraram um corpo boiando no Rio Sapucaí, perto da Alpargatas”, disse ele. Aquela era a noticia mais quente do dia. Parei tudo e peguei carona na viatura. Ao passar por uma curva do rio, numa ilha, um canoeiro havia avistado um corpo em posição de gorila enroscado numa galhada. No barco do pescador fomos até o cadáver que boiava plácido, só de bermuda e já bastante decomposto nas águas sujas do rio. Viramo-lo apenas para as fotografias, pois era quase impossível reconhece-lo e a única lesão que pudemos constatar antes do estomago sair pela boca, foi um pequeno orifício no meio da testa. Mais tarde o legista Vitor Romeiro confirmou que a causa ‘mortis’ fora o único tiro à queima roupa, típico de execução, cuja marca vimos ainda no rio. Noticia ruim viaja no lombo do vento na velocidade da luz e poucas horas depois os familiares de Zinho chegaram ao IML para ver se o corpo do rio era dele. Era.

       As investigações dos colegas da Homicídios esclareceram rapidamente o crime do rio. Mas isso somente aconteceu depois do enterro de Fonfon.  Excetuando a avó e os tios, e aquelas pessoas que tentavam incutir alguma coisa de frutífera na cabeça e no coração dos irmãos Zinho e Fonfon, todas as demais pessoas do seu convívio eram do submundo do crime. Fonfon, o meliante mais velho, 19 anos, não tardou a descobrir o assassino do seu irmão. Mas Bandido que é bandido não entrega o algoz para policia… ele mesmo cobra a divida. Mal enterrou o irmão no sábado, Fonfom tratou de ir à forra. Passou a ameaçar o suposto assassino, por telefone e foi pessoalmente à sua casa ali mesmo no bairro. Não morreu no dia do enterro do irmão porque não o encontrouem casa. Namanha seguinte, um domingo ensolarado, foi esperar o algoz do irmão na esquina da rua 10 com 24. Quando Lagartixa e Eraldo passaram pilotando uma Brasília em direção ao campo do Chaves, pulou à sua frente e começou o discurso. Quando quis sacar a arma já era tarde. Foi lento. Recebeu um tiro nas axilas e caiu no asfalto ainda fresco da manhã. Para ter certeza de que não teria aborrecimentos, Lagartixa desceu da Brasília, se aproximou do corpo agonizante e atirou na cabeça, mesmo ‘modus matandi’ do irmão dele uma semana antes. Zinho sepultado no sábado, Fonfon morto no domingo e sepultado na segunda.

      O assassinato do menino no rio fora mais covarde e glamouroso. Enquanto o bairro crescia em população e noticias policiais, os irmãos órfãos cresciam em malfeitorias e maldades. Aos 18 e 19 anos Zinho e Fonfon eram os lideres do crime no Cidade Jardim. Liderança é uma posição sempre cobiçada. No caso do crime, para assumi-la, basta eliminar o líder. Além disso, os franzinos irmãos, o que tinham de truculência verbal, lhes faltavaem inteligência. Eramburrinhos, desonestos e presunçosos demais. Davam bandeira e podiam comprometer a honra dos criminosos do bairro. O melhor era eliminá-los. Isso seria brincadeira de bandido. E foi brincando que Zinho morreu uma semana antes do irmão. Foi com um grupo de amigos – da onça – nadar no rio Sapucaí, há duzentos metros abaixo da BR que corta o bairro, sem saber que sua morte já estava arranjada. Em dado momento, quando saiu da água, o desafeto o esperava no barranco e o mandou de volta. Quando ele ficou de pé, a meio metro dele Lagartixa apontou a 9mm e puxou o gatilho. Nem precisou jogá-lo ao rio. O impacto da bala fez o serviço. Enquanto o grupo de meliantes voltava para o bairro, de corpo e alma lavada, sem peso na consciência, o corpo franzino e desnudo do jovem Zinho ‘que vi crescer dando-lhe conselhos nunca ouvidos’, descia lentamente as águas barrentas do velho Sapucaí até enroscar-se numa galhada na curva perto da Alpargatas. Seu aniversario de 18 anos não teve bolo e nem o tradicional parabéns. Foi comemorado em silencio, por lambaris, piabas e mandis, ali naquela curva deserta de rio, margeando uma pequena ilha. Semelhantemente à historia dos irmãos Mazinho, assassinados por Max Peter em 2000 no Chapadão, a paz voltou ao Cidade jardim. Depois da morte precoce dos irmãos R.Pereira, o jovem bairro sumiu das paginas policiais. Dona Bê também pode reencontrar a paz…

Estuprador rouba moto com revolver de brinquedo

      Este é o tipo de meliante que chamamos no meio policial de “apetitoso”. Roubou uma moto 125, tentou roubar uma caminhonete e foi para outra cidade tentar roubar uma moto mais potente… com um revolver de plástico.

    Quando o motoboy D.S. chegou para entregar um lanche na rua Abrilino Vieira Rios, no Jardim Olímpico em Pouso Alegre, às dez e meia da noite de quinta, o cliente o esperava no portão. Ao invez de puxar a carteira, o soturno cliente vestindo calça escura e blusa de moleton, puxou o capuz na cara e sacou um trezoitão. O endereço era só para atrair a vitima. Escudado no trabuco, o assaltante tomou a pochete com R$ 180 reais e documentos, o capacete, a motocicleta Honda Fan e de quebra levou também o x-bacon para fazer uma boquinha na viagem. E misturou-se ao burburinho da fresca noite.  

      Antes de pegar a estrada, o meliante parou ao lado de uma caminhonete Mitsubishi L200 que manobrava na porta de casa no bairro São Carlos, apontou o trabuco e exigiu o dim-dim. Não levou porque o motorista I.S. já estava com o motor ligado e arrancou com a possante deixando o assaltante na poeira.

      Uma hora mais tarde o mesmo assaltante apetitoso encostou a motoca roubada numa outra Honda Twister na Rua da Pedra em Santa Ritado Sapucaí, mostrou o mesmo revolver e pediu a moto mais potente. Diante da ameaça, o pintor R.P. 25 anos, que levava um garupeiro, desceu para entregar a moto e neste momento percebeu que a trezoitão era… de plástico. Que desaforo!!! Encorajado o pintor tentou dominar o assaltante da arma de brinquedo e quase se deu mal. Ele tinha uma carta na manga, na verdade uma faca na cinta e rolaram na poeira da Rua da Pedra, no inicio da madrugada. Vizinhos que perceberam o guaiú chamaram os homens da lei e o assaltante de motoqueiros foi parar na DP onde disse chamar-se Leonardo Alves. Na delegacia de plantão de Pouso Alegre onde é velho conhecido, constatou-se que o meliante era na verdade Emerson Luiz Barbosa, o Dequinha, 28 anos, atualmente foragido do Hotel do Juquinha, onde cumpria pena por estupro…E para lá voltou para mais uma temporada.

      Emerson Dequinha tem historia pra contar.. ou pelo eu tenho dele. Órfão de pai assassinado ainda na infância, aos 13 anos ele apaixonou-se pela erva marvada. Para os braços da pedra bege fedorenta foi um pulinho. Para sustentar o vicio, fez o que todo nóia faz; entrou no mundo dos furtos e roubos. No inicio de uma fresca madrugada de setembro de 2000 vizinhos da marcenaria do Fernando no Jardim Olímpico, perceberam uma estranha movimentação e chamaram os homens da lei. Dequinha então com 17 anos foi pilhado com a boca na botija no interior da marcenaria e levado para a DP. Depois de assinar um Procedimento Especial de Menores, como não consegui contactar nenhum conselheiro tutelar, pequei a viatura e levei o meliante até sua casa na travessa Cordeiro Olimpio no Velho Aterrado e o entreguei à sua mãe. Tão Logo virei a esquina da casa do Cirilo Bola Sete, Dequinha saiu de casa, atravessou todo o Aterrado à pé e voltou à marcenaria do Fernando. Quando a policia o prendeu horas antes, ele já havia enchido um daqueles coletores de lixo laranja com ferramentas da marcenaria e deixado do lado de fora e ninguem se deu ao luxo de olhar no carrinho. Ao voltar ao local do crime, já no final da madrugada, o único trabalho foi empurrar o carrinho cheio de ferramentas até as imediações da sua casa. Antes do sol se levantar Dequinha já havia trocado plainas, enchós, sipios, serrotes e motosseras por meia dúzia de pedras beges fedorentas com o traficante Zelão. E para completar sua façanha, jurou de pés juntos que havia vendido as ferramentas para o comerciante Pierre Jambasse. Me lembro de ver o desespero e as lagrimas no rosto do velho comerciante, que, por ter o feio habito de intrujar objetos furtados, acabou sendo processado por receptação.

      Dois anos depois desta façanha, Emerson Dequinha, já com uma capivara quilométrica, ao passar pela Rua João de Barros no Foch II, encostou um trabuco na costela da jovem D.S.L. 20 anos, que voltava da escola, arrastou-a para aquele terreno baldio que separa o Foch do Aterrado e ali estuprou a estudante durante meia hora, com o revolver encostado na sua cabeça. Será que não era de plástico? Se era ou não, Dequinha está pagando pelo crime até hoje…

A verdadeira historia do “Beco do Crime”

Nos dias atuais, se fossemos dar nome a cada rua onde ocorreu um crime violento, de repercussão social, certamente sobrariam poucas ruas na cidade para homenagear feitos e figuras relevantes da nossa terra. A média de homicídio em Pouso Alegre estacionou já há algum tempo perto dos 15 ao ano. Mas já tivemos anos mais violentos. O século XXI na verdade começou assustador. Em 2001, entre latrocínios, suicídios e homicídios, começando com roubo de taxista, passando por acertos de contas entre bandidos no velho Aterrado e desacerto por causa de drogas e liderança no velho hotel da Silvestre Ferraz, 29 pessoas voltaram mais cedo para os braços do Criador … Ou pelos menos para o limbo cavernoso do Umbral.

Um crime, no entanto deu nome, ou pelos menos apelido a uma pequena via e a tornou referencia para quem busca se localizar no centro da cidade. “O Beco do Crime”. No velho Aterrado, onde acontece atualmente metade dos homicídios da cidade, certamente ninguém se lembra da esquina da cerca de taquara e da poça de lama onde os irmãos Reanir de Lima mataram o policial Marcos Alves da Silva em novembro de 1983, usando a própria arma do policial que os perseguia. Poucos também se lembrarão do boteco na porta do qual, no mesmo bairro, três jovens meliantes – Flavio Cagão, André Cabinho e Elton Mateus se mataram por motivos passionais e vingança há seis anos e tiveram seus corpos vilipendiados pelos parentes de Elton. O assassinato traiçoeiro e brutal do detetive Marcos Paixão há sete anos, chocou a cidade e comoveu a classe policial, porém, pouca gente sabe onde o funesto crime aconteceu. No dia 13 de novembro de 2003, ao meio dia, três guampudos de 16, 17 e 18 anos assaltaram a Lotérica da Garcia Coutinho e vazaram calma e sorrateiramente à pé pela Bom Jesus. Paixão voltava para casa pela Adolfo Olinto, alheio ao crime, quando viu pelo retrovisor do seu carro, um guampudo ajeitando um revolver na cintura. Ele rapidamente encostou o carro ao meio fio e ao tentar fazer a abordagem foi alvejado na nuca, sem dó e sem piedade, por outro meliante que já estava do outro lado da rua. Antes do final do dia os três latrocidas estavam atrás das grades. No dia seguinte sepultamos o colega, um dos mais intrépidos e atuantes detetives que Pouso Alegre já conheceu. E o fato aconteceu ali, na esquina do beco do crime, que recebera tal batismo meio século antes, num momento completamente diferente da nossa historia. Numa época em que matar era proibido por lei e por princípios. Numa época em que tirar a vida de alguém ainda não era um ato corriqueiro e banal.

Da torre da Catedral Metropolitana ou da janela do Colégio Santa Doroteia, os únicos prédios da época com mais de dois andares, podia-se avistar todos os limites da cidade. Depois do sobrado amarelo com a figura do belíssimo cavalo alazão na parede do alpendre do Sr. Argentino de Paula, na esquina da Com. Jose Garcia com Alfredo Custodio de Paula, o que sobrava era apenas uma arremedo de cidade. Logo ao lado estava o Estádio da Lema desde 1928, em seguida o hospital Samuel Libanio desde 1921, a vila São Vicente de Paula com suas humildes casinhas amarelas e a sorveteria do Gerôncio em frente o cemitério municipal na desmilinguida Taipas. A partir dali apenas estradinhas vermelhas seguiam para o Fátima, o Faisqueira, para a fazenda do Policarpo Campos e para o Cascalho. Desde as costas do ‘sobrado amarelo’ até o Esplanada e da esquina do Pinto Cobra até a Perimetral, tudo era fazenda de gado leiteiro.

Além da fabrica de macarrão do Orlando Chiarini em frente o Estádio da Lema, uma fabrica de manteiga e outra de banha suína somavam suas parcas riquezas à agropecuária, principal atividade econômica do município. Senador Jose Bento já pusera Pouso Alegre no mapa do Estado e do Brasil, mas o progresso econômico somente chegaria duas décadas depois com Simão Pedro Toledo.

Olhando da direita da novíssima e majestosa Catedral inaugurada três anos antes, era perceptível que o 8º Regimento de Artilharia Montada, instalado lá longe, perto do Jardim Yara em 1918, fizera a cidade caminhar mais naquela direção, passando pelo Colégio São Jose que já era um respeitável cinquentão. A “Vendinha” era uma pequena vila com pouco mais de 1.500 moradores – hoje virou bairro São João e tem quase 30 mil habitantes – o jardim Noronha era bairro novo e a Rua David Campista, famosa “Zona Boemia”, há um quarteirão do Santuário, já era um antro de boemia e perdição.

O bairro São Geraldo ainda não recebera este batismo. Era chamado pelo apelido que o originou: “Aterrado” e podia ser visto num relance só, pois tinha apenas a disforme Avenida Vereador Antonio Costa Rios, ora larga, ora estreita. As centenas de ruas e vielas que o tornaria o mais violento bairro distribuidor de drogas da região, abrigava ainda capituvas, pastagens, sangra-dáguas e mata típica de vargem ribeirinha. Depois da curva do Japonês eram só fazendas de gado.

A principal diversão dos jovens de todas as idades consistia em passear no Parque Municipal, na Praça João Pinheiro, onde se instalara há dois anos o Conservatório Estadual de Musica. Os homens menos refinados e mais arrojados se divertiam nadando nos poços do Lava-cavalos atrás do Vasquinho e no límpido e piscoso Rio Mandu, que corria bem mais perto do centro, onde se estende hoje a Avenida Perimetral. Na época das enchentes ficava ainda mais divertido pular de cima da ponte… – alguns anos mais tarde eu também pularia ali. Mas tinha também o Clube literário tal qual é hoje, o Cine Gloria do outro lado da praça e na Dr.Lisboa o imponente Teatro Municipal que serviu de delegacia de Policia. O mercado municipal com outra roupagem e muito mais modesto, mas não menos dinâmico e importante para a economia do município, já estava ali atrás da igreja, cercado de charretes, bagageiras e carros de bois. A principal fonte de energia das cozinhas das donas de casa; a lenha, era distribuída na cidade pelo Zé Fidelis no Jardim Yara e João Brunhara, na Santos Dumont, no quarteirão de cima do Beco do Crime.

Apesar de pequenina, Pouso Alegre já produzira muitos homens públicos que levaram seu nome além das fronteiras do município e do Estado. Mas tinha pouco mais de meia dúzia de médicos; Dr. Alaor Cobra, Dr. Gabriel, Dr. Lisboa, Dr. Omar Barbosa Lima, Dr. Vitor Romeiro, Dr. Jesus Pires… e meia dúzia de advogados, entre eles um que ganharia projeção justamente por defender o assassino do Beco do Crime; Rômulo Coelho. Alexandre Araújo ainda trabalharia mais vinte e poucos anos no DNER antes de se aposentar, mas já começava colecionar fatos, fotos e objetos que iriam contar nossa historia no riquíssimo Museu Tuany Toledo que ele próprio fundaria mais tarde.  Juscelino Kubitschek de Oliveira e os ‘candangos’ já se preparavam para rasgar o cerrado do planalto para construir Brasília, mas quem mandava no país ainda era o Sr. Nereu Ramos. O cinquentão Palácio da Liberdade era ocupado por Clovis Salgado da Gama e cá nas terras banhadas pelo piscoso e manso Mandu quem dava as cartas era o bondoso medico Custodio Ribeiro de Miranda. Embora nascido em Congonhal, nosso mais ilustre cidadão na época era o jovem Milton Reis, que aos 26 anos representava Pouso Alegre na Assembléia Legislativa do Estado.

Crimes? Ah, já existiam. Tirando os mais moderninhos, os da internet e os de ‘colarinho branco’ – Brasília ainda estava no papel – quase todos os demais imaginados pelo homo sapiens já grassavam nas terras manduanas. A diferença de hoje ficava na estatística. Passava-se meses, anos e até décadas entre um crime e outro. O velho Hotel da Silvestre Ferraz já existia e era quase cinquentão. Conhecia de tudo, menos superlotação. Nem precisava de muro externo. Seus hospedes podiam passar o dia todo tomando sol, pendurados nas janelas, conversando com as pessoas que passavam na rua. È claro que os transeuntes não se aproximavam muito, pois todo preso naquela época era bandido perigoso, marginal, pária social, perverso e assustador. – O que mudou? – Quem se aproximasse e mantivesse contato com eles poderia se confundido com comparsa de seus hediondos crimes e seria discriminado pela sociedade. Chegar até a janela da cadeia para entregar um maço de Parquer ou Continental sem filtro ou mesmo um cigarrinho de palha recheado com carapiá e uma caixa de fósforos Ipiranga, era um ato de bravura que o transeunte fazia por medo… medo de não atender o pedido do preso e ser ‘marcado’ por ele. O bom mesmo era evitar passar pela Monsenhor Mendonça.

Era época em que os casais namoravam na sala – os mais íntimos iam para a cozinha tomar café quente e cheiroso com broa – sempre na presença dos pais da mocinha virgem, cada um numa ponta do sofá ou da mesa. Se o namoro fosse proibido, o mocinho esperava na esquina da rua de baixo ou na encruzilhada da estrada. Se a mocinha tivesse irmão e fossem amigos tudo era mais fácil. Mas se não se bicassem, o rapaz tinha que primeiro ‘domar’ o futuro cunhado para depois chegar ao pai da moça. Se o homem passasse dos vinte sem casar é porque tinha alguma doença… esterilidade talvez e já deixava de ser um bom partido. A menina se passasse dos 17, ou ia para o convento ou ficava para titia. A pequena frota de automóveis do município tinha apenas quatro carros de ‘praça’ e o único “motor” que rodava na cidade, nos fins de semana, era a Harley Davidson do Sr. Valdemar Moura. Pouso alegre era uma respeitável senhora de 107 anos com cerca de 30 mil alegres e pacatos filhos biológicos ou adotivos que atendia pelo charmoso e honroso epíteto de “Princesa do Sul”. Eu? Era ainda um mero sonho do jovem casal Eva/Daniel Ferreira de Matos. Era o ano da graça de N.S.Jesus Cristo de 1955.

A melhor vista panorâmica da cidade ficava justamente num local – que ironia!!! – onde os moradores já não podiam mais abrir os olhos; o antigo cemitério municipal no Alto das Cruzes. Sentado no seu portão podia-se contemplar o verdadeiro mar em que se transformava o bairro do Aterrado de dezembro a março, na época das chuvas. Atravessando a rua Carijós, da janela da casa do meu tio Joaquim Paula, podia-se ver o trem de ferro surgir lento e manhoso no bairro Belo Horizonte, sobre o rio Sapucaí e segui-lo com os olhos até que ele parasse, vinte minutos depois, fungando que nem cavalo velho e soltando canudos de fumaça branca pelas ventas da Maria Fumaça na estação da Avenida Brasil.

Foi ali mesmo, no Alto das Cruzes, no ‘triangulo geográfico’ formado pelas ruas São Pedro e Tupinambás – a Tupinambás sobe pela direita, passa por trás do Palácio da Carijós, antigo cemitério, depois Cemig e desce do outro lado até a João Vaz de Lima – que nasceu o mais famoso ‘triangulo amoroso’ de que se tem noticia em Pouso Alegre. Ou pelo menos o mais trágico. Na base do vértice morava a jovem donzela Jacira, pouco mais que uma menina, apenas 13 anos de pureza, beleza e sonhos. Na subida da Tupinambás o intrépido jovem Jesus Damasceno.

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2ª Corrida da FDSM acontece neste sábado, 3

A 2ª Corrida da Faculdade de Direito do Sul de Minas promete repetir o sucesso da primeira edição do evento.  A competição foi criada em 2009, em comemoração aos 50 anos da Faculdade, e reuniu atletas das cidades do Sul de Minas e interior de São Paulo: Pouso Alegre, Itajubá, Congonhal, Itatiba, Paraisópolis, Poços de Caldas, Santa Rita do Sapucaí, São Bento do Sapucaí, Três Corações e Sapucaí Mirim.

A Corrida 2011 seguirá o alto nível de organização de 2009, oferecendo total estrutura e apoio aos participantes – chip para registro oficial do percurso, serviço médico para eventuais emergências, acesso livre à quadra poliesportiva da FDSM para descanso e troca de roupas, água, frutas e segurança durante a prova. O diferencial deste ano será as duas modalidades de prova – trajetos de 5 km e 10 km – e o horário de realização, às 18h. Haverá premiação para as categorias Masculino, Feminino e Equipes (troféu) e medalhas para todos os participantes que cumprirem a prova. As vagas são limitadas – 300 participantes. Regulamento no site www.fdsm.edu.br

A 2ª Corrida da FDSM conta com o patrocínio da CAIXA, Academia MEGA Fitness, Colégio Integral, Body Fitness, Click Confecção, Prefeitura, Câmara Municipal de Pouso Alegre, Integral Médica e Bemais Distribuidora de Bebidas Ltda. Inscrições podem ser realizadas na FDSM – 8h às 11h30, 13h às 17h30 e 19h às 22h30. Informações, www.fdsm.edu.br e 3449-8122.

FESTA MOVEMENT

Todos os participantes da 2ª Corrida da FDSM ganharão convite para a Festa MOVEMENT, a ser realizada no mesmo dia da competição no Salão Nobre da Faculdade. As atrações serão U2 Cover Brasil, E-Cox Live e DJ Jr. Pee. Ingressos à venda na Livromania, Tok Som, Psicodélica, Oficina do Acrílico, Império do Açaí, Mestiço Bar e FDSM.