Criança causa barraco em hotel de Borda da Mata

A jovenzinha Barbara Verônica de Paiva Sena, 18 anos, tem um afair com o cidadão Andre Luiz Lucas, de 35… e também um tenro bebezinho de 1 ano. No final de semana estavam dormindo num quarto do hotel Minas em Borda das Mata, quando Karciane acordou e colocou a boca no trombone. Irritada com a birra da criancinha – ou seria fome, frio, dor de barriga, de ouvido, garganta, fralda cheia? – Barbara Verônica perdeu as estribeiras e começou maltratar o baby. Como bom e sisudo pai, André Luiz chamou a atenção da cara-metade… e aumentou o trololó. Para acalmar os ânimos, André Luiz saiu para a rua madrugada afora. Para esfriar a cabeça ele resolveu dar uns amassos na loira gelada. Quando voltou para o quarto do hotel a briga recomeçou. E desta vez mais intensa. Destra vez não ficou um hospede acordado. André tentou matar a jovem mãe com uma faca de cozinha, mas ela se quebrou. Ele então tentou furar o pescoço de Barbara com um garfo – barbaridade. Só não conseguiu porque Barbara Verônica lutou bravamente e recebeu ajuda dos hospedes vizinhos.
Na DP de Pouso Alegre Andre  Luis sentou-se ao piano e assinou o 129 com tempero de Maria da Penha. A fiança arbitrada pelo delegado foi proporcional ao barraco armado no hotel da terra do Chiquinho… Dois mil reais. Foi dormir de graça no Hotel do Juquinha.
E pensar que tudo começou com um simples choro de um bebê de um ano num quarto de hotel…!!! Daqui a quinze anos quando as drogas baterem à porta, os pais vão perguntar… O que eu fiz de errado…???

Abraçou a Kátia… ça e foi desfilar com o trabuco na cinta

O cidadão Jorge Amâncio do Espírito Santo, 42 anos, morador de Jacutinga anda meio desacorçoado da vida, com o espírito pouco santo… No domingo à tarde ele colocou um trabuco calibre 32 com cinco balas na cinta e saiu para a rua querendo se matar. Para criar coragem, foi até um bar da estação rodoviária e abraçou a Kátia… Um pouco mais relaxado Jorge dispensou ou esqueceu que havia marcado encontro com dona morte e saiu pela rua levando o 32 na cinta. Um amigo oculto da lei, que ouviu a prosa e viu o cabo do reluzente trabuco no boteco da rodoviária, preocupado com o futuro do cidadão desacorçoado, resolveu comunicar o fato à policia. Jorge Amâncio foi abordado a duas quadras dali e acabou fazendo uma viagem forçada até a Delegacia Regional de Pouso Alegre. Ao sentar-se ao piano do delegado de plantão ele explicou que havia achado o trinta e dois num deposito de reciclável em Jacutinga, mas não queria machucar ninguém. Que bom!!!
Depois de assinar o 16 de lei 10.826, Jorge ‘de bem com a vida’ foi se hospedar no Hotel do Juquinha.

Ousadia…!!! Levou meio quilo de maconha para dentro do batalhão e tentou levar para o presidio….

        Semana passada escrevi aqui nesta coluna matéria intitulada: “Liberdade para delinqüir”, abordando a questão do “recuperando” que sai da cadeia para passar datas festivas com a família, visando se ressocializar e aproveita para fazer uma “boquinha” no crime. Pois bem, a dupla “Bruno & Osmar” não me deixa mentir sozinho.

        Na sexta à tarde uma dupla de motoqueiros parou próximo a um latão de lixo na rua Nanuque, atrás do 20ºBPM. Uma mulher saltou da garupa e despretensiosamente depositou seu lixo na lata, falou ao celular por alguns minutos e foi embora. Meia hora depois um cidadão saiu do batalhão pela porta do fundo, recolheu o “lixo” e voltou para o interior do quartel da PM. Nada de mais, afinal tem tanta gente catando reciclável hoje em dia por aí, não é mesmo?

         Não teria nada de mais se o cidadão que foi lá fora não estivesse usando um conjunto vermelho escrito SUAPI nas costas e o lixo dispensado no latão fosse mesmo lixo, mas… eram 400 gramas de maconha, cinco aparelhos celular, quatro carregadores e dois chip’s!!! O mocinho do uniforme vermelho, que cumpre pena por trafico no Hotel do Juquinha e estava prestando serviços numa obra no batalhão, se ressocializando e reduzindo sua pena, voltou para o pátio do quartel, guardou o “lixo” na bolsa e continuou belo e formoso por ali até o fim do expediente.

       Um amigo oculto da lei percebeu o “recolhimento do lixo” e avisou os homens da lei. A esta altura a dupla de “reeducandos” já havia entrado na viatura policial – sem receber revista – e voltava para o Hotel do Juquinha, depois de um proveitoso dia de trabalho. A viatura que conduzia os dois presos e o “Kit presídio” foi alcançada na BR 459 perto do Baronesa, três quilômetros antes de chegar ao seu destino. Pilhado com a mochila recheada de “lixo”, Bruno “pé-de-couve” Oliveira, disse na maior cara dura:

– Eu achei a maconha com os celulares perto do lixo e ia vender no presídio…

         Por causa do pacote de lixo, Bruno Oliveira, que estava quase terminando sua pena, fez uma parada na DP para sentar ao piano e assinar mais um 33 e voltou para trás das grades do hotel do Juquinha, para mais uma temporada de 5 anos e quatro meses.

         A parte hilária desta historia é …??? A testemunha arrolada no flagrante da apreensão da droga, Osmar Plínio Pereira!!! Osmar é o que podemos chamar de ‘p… velha’ no crime. Ele tem 51 anos de idade e foi um dos meus primeiros ‘clientes’ quando ingressei na policia em 1980. Naquela época ele já era figurinha carimbada no ‘fichário’ manual do Inspetor Ângelo, por furtos e desmanches de motos e veículos. Anos atrás, numa busca e apreensão em sua casa no Cidade jardim onde possui vários imoveis, foi necessário fretar um caminhão para transportar tanto “cabrito”… Ele era o parceiro de Bruno no trabalho de ressocialização no 20º BPM. Ao piano do delegado ele alegou que;

– … Eu estava tomando banho, não vi nada…    

        Claro que acreditamos que o ‘kit presídio’ pertencia à Bruno Pé-de-couve de 25 anos. Acreditamos também em coelhinho da páscoa… em…

       A propósito de celular, um ‘beija flor’ me disse que o passatempo predileto dos hospedes do Hotel do Juquinha no momento é a disputa para saber quem tem o aparelho celular mais moderno…

         Voltando à parte séria da historia, o embrulho de maconha e celular que entrou no batalhão e seguiu belo e formoso para o presídio, onde entraria sem problemas, pois subentende-se que os presos foram revistados para entrar na viatura policial… Poderia ser um embrulho de 38, .40, ou mesmo uma AK47…

 

“Meninos que vi crescer” – Renê Cabinho… Perdido na curva do rio

Quando o plantonista abriu a porta da delegacia de policia naquela manha gelada de julho de 2001, uma senhora cafuza, de meia idade, ligeiramente obesa entrou levando pelo braço uma adolescente, que a julgar pela cor dos olhos e expressão do rosto, havia passado a noite em claro. Timidamente ela disse que queria registrar queixa de desaparecimento. Julio, seu filho de 17 anos havia saido de casa no domingo à tarde para andar de bicicleta com amigos, segundo ele, e até então não voltara para casa e nem dera noticias.

Ao receber a copia do B.O. com uma fotografia do garoto moreno, robusto e sorridente levei a senhora chorosa para a Inspetoria de Detetives e em poucos minutos eu sabia quase tanto quanto sua mae sobre sua vida. Era bom filho, bom estudante, bom funcionario da bicicletaria do Laercio Amaral no Aterrado, não sofria de nenhum disturbio mental, não era sequestrável, não tinha inimigos, tinha poucos amigos e nenhum deles tinha envolvimento com drogas. Onde estaria Julio?

A mae e a irma do desaparecido foram embora  deixando para tras um completo dossiê, desconsoladas, pois acreditavam que a policia sabia de tudo que acontecia de errado na cidade. Tinham ao menos um alento; Julio não estava preso e nem num leito de hospital ou gaveta fria do IML.

Ligaram no final da tarde, querendo noticias do filho ou sobre o andamento das investigações. No dia seguinte abriram a delegacia novamente. Traziam à tiracolo uma senhora mulata também de meia idade que dizia ser vidente. Mãe e irmã estavam ainda mais chorosas e tristes… por causa das visões e pressagios da vidente. Segundo ela, Julio havia sido assassinado e seu corpo jazia com certeza numa baixada, na beira de um rio, provavelmente atras de uma construção que parecia ser um tosco rancho de pescador.

Aqueles dias, nossa prancheta de O.S. sobre furtos praticados por menores, brigas de marido e mulher, brigas de pés-de-cana, estelionatos e outros crimes sem status, todos pertinentes à nossa ‘equipe de dois’, eu e Fernando Jardim, chefiados pela Delegada Ines Xavier e pelo delegado Edson Vieira, não saiu do armario. Todo nosso tempo de manhã à noite era dedicado ao “Caso Julio”.  Juntou-se a nós o detetive Roberto, que tinha estreita amizade com um amigo da familia do sumido. Se o corpo do jovem adolescente estava na beira de um rio, ribeirão ou corrego, nós os achariamos. Vasculhamos varios trechos das margens do velho Mandu, descemos o Sapucaí da Faisqueira ao Vitorinos, rumanos para o Cervo. Parecíamos Fernão Dias Paes Leme e seus Bandeirantes chapeludos desbravando e mapeando rios… e nada de encontrar Julio. Quanto mais procurávamos sem sucesso, mais a mulata vidente garantia que o bicicleteiro estava morto na beira do rio. Na quinta feira avançamos o horario de almoço checando pistas, informações e visões mediúnicas nas quais nem sempre acreditávamos mas que não podiam ser descartadas e só paramos por volta de quatro da tarde para fazer o relatorio. Cansados, sujos, rasgados, esfomeados, desacorçoados, estavamos desistindo de encontrar o corpo do jovem.

Eram cinco e vinte e cinco da tarde quando o radio da viatura chiou e ouvimos a central chamar;

– Atenção perito de plantão, está em QAP? Encontro de cadaver no aterrado…

Não era preciso ouvir mais nada. Tinhamos certeza… era o nosso morto!!! Chegamos ao local em poucos minutos. Apesar disso, como o dia mais curto do ano se dera como de praxe, no dia 24 de junho, ha menos de duas semanas, tão logo o sol se punha às cinco e doze da tarde, a penumbra começava cair. Seis da tarde no inverno é noite fechada. Muito antes das seis estavamos na margem do velho Mandu, numa faixa de terra de tres ou quatro metros entre o rio o muro do predio do Sesi. Entre os galhos finos e duros de uma daquelas espevitadas arvores ribeirinhas, curvado e com a cara inchada enfiada na mistura de terra com areia de rio, começando juntar formiga, sob a luz tenue da lanterna, estava o corpo do adolescente que tanto procuramos naqueles quatro dias. A vidente estava certa. Ele estava mesmo na beira…

Para continuar lendo essa historia, acesse “www.meninosquevicrescer.com.br”…

 

 

O Misterio do Coisa Ruim da Borda

       Olá… Feliz ano novo.

       Que a benção de Deus Pai criador caia sobre voce, meu estimado leitor e que seu filho, nosso irmão Jesus, continue a iluminar seu caminho e guiar seus passos. Que Ele te dê força, perseverança e sabedoria para vencer seus desafios com seu trabalho digno e honrado, sem derrotar ninguem. Amém.

       Como o leitor deve ter percebido, estou ausente do meu ‘habitat’, longe de casa, alheio aos fatos cotidianos. Mas, mesmo sem novidades no blog, os leitores continuam acessando… Por isso eu também resolvi dar-lhes um presente, que na verdade eu vinha guardando a sete chaves para o meu ‘primeiro livro’… Uma das melhores historias da serie “Meninos que vi crescer”; ‘O Misterio do Coisa Ruim da Borda’, exaustivamente investigada e escrita no final de 2009 e inicio de 2010, com fotografias do ‘palco’ do Chiquinho da Borda tiradas na semana passada.

      Boa leitura.

O mistério do Coisa Ruim da Borda

O Morro dos Cães uivantes

E os anjos e demônios nossos de cada dia

       Parei meu carro na praça ao lado da jovem Basílica de Nossa Senhora do Carmo – jovem no titulo de Basílica a que foi elevada em 2005, pois a majestosa construção tem varias décadas. Foi concluída em 1954 – as duas e meia da tarde quente de sábado e desci. Entrei na primeira loja que vi aberta. Completamente vazia. Um rapaz e uma moça estavam de frente um para o outro acertando contas, com papeis, dinheiro e anotações sobre o balcão. Cumprimentei-os e antes que eu dissesse mais alguma palavra, do nada surgiu uma vendedora, abriu um sorriso ligeiramente forçado e perguntou delicada; “Posso ajudar”? Com um leve pigarro, esbocei também um sorriso de boca fechada, esperei propositalmente o ponteiro do relógio caminhar alguns segundos e respondi perguntando; “ O que vocês me contam sobre o ‘Coisa Ruim da Borda’”? Uma bomba teria causado menos impacto. Os três olharam ao mesmo tempo para mim, olharam um para o outro, olharam de novo para mim cada um tentando formular uma resposta ou uma pergunta. Eu já havia chamado a atenção necessária, desisti da maldade e acrescentei; “Desculpe… eu sou colunista policial em Pouso Alegre e estou aqui investigando a historia do tal Coisa Ruim da Borda, para publicar em minha coluna e no meu blog”. Soltando a respiração, cada um dos três tentou falar ao mesmo tempo, para dizer que nada sabiam a respeito. Uma das jovens tinha ‘ouvido falar há muito tempo’. A outra disse que seu ‘pai contava uma historia dessas’ mas ela não se interessara ou não se lembrava. O rapaz já refeito do susto disse que ‘talvez o padre ou o sacristão ali do lado soubesse alguma coisa’ e recomeçou a contagem perdida das cédulas sobre o balcão. Eu estava começando desvendar o mistério do Coisa Ruim ou Capeta da Borda.

Ao ver que as portas da Basílica estavam fechadas segui pela mesma calçada da loja em direção à Casa Paroquial. Na esquina havia um senhor septuagenário sentado no portal térreo de um sobradinho aproveitando a sombra da Basílica e eu não fiz cerimônia; pedi licença, sentei-me ao seu lado e puxei prosa. Mas poupei-lhe o susto. Antes de entrar no assunto que me interessava eu disse quem eu era e o que queria. O simpático e desembaraçado velhinho contou-me tudo que sabia – o que não era muito – realidade e folclore. Foi ali, vendo o tempo mudar e uma cortina branca despencando sobre o Distrito do Sertãozinho, se aproximando da cidade, que eu soube que o Coisa Ruim da Borda nunca passou da “Ponte de Pedra” e que se voltasse para a fazenda de onde foi expulso seria chamado de “Coisa Ruim de Tocos do Mogi”. Depois do solícito velhinho, cheguei ao muro da Casa Paroquial, mas o sacristão, zelador, camareiro ou mordomo dos padres não se deu o trabalho de falar pessoalmente comigo. Usou o frio interfone para informar que não havia padres em casa, mas que talvez eu conseguisse receber a benção de um deles no Centro Pastoral ou na igreja, na missa da cinco.

Cheguei com três beatas bem maduras ao Centro Pastoral. Uma delas até quis falar alguma coisa sobre o tal capeta, mas quando a outra mais acanhada e desconfiada descobriu que algumas pessoas já estavam reunidas nos fundos do Centro, elas me deixaram falando sozinho. No ponto de táxi, agora sob os primeiros pingos grossos de uma chuva que se espalhou e não banhou a cidade, devolvendo o sol forte a todo o município em poucos minutos, enriqueci bastante o dossiê do Coisa Ruim e sua saga e levantei nomes de pessoas que poderiam me dar muitos capítulos de sua historia. Com menos de duas horas de investigação na cidade do grande desportista Rogerinho Medeiros, eu já poderia desvendar e escrever quase todo o mistério do Coisa Ruim. Mas, não teria graça nenhuma se não conhecesse o palco de sua exibição e não sentisse seu bafo quente em minha nuca. Por isso só deixei a cidade no apagar das luzes do astro rei, depois de visitar o sombrio casarão do alto da colina, na estrada que vai para Bom Repouso, onde precisei segurar com força minha cruzinha dourada no peito e quase cair numa vala da estrada em obras, para desviar de um fusca velho que se jogou de porta aberta sobre mim numa descida.

Bem, antes de prosseguir com esta historia cheia de controversas, tabus, superlativos, perturbação do sossego, folclore e muito medo, para melhor entendimento do leitor e evitar a incansável repetição do termo Coisa Ruim da Borda – que pode acabar assustando alguma criança – batizemos personagens e locais desta historia arrepiante e até aqui mal contada. O palco das exibições do chifrudo, tinhoso, bode velho, saci ou simplesmente Espírito Brincalhão chamaremos de ‘Colina ou Morro dos Cães Uivantes’ – Não confundir com o clássico “O Morro dos Ventos Uivantes de Emily Bronté – O fazendeiro que fez o pacto com o espírito perturbado será chamado de “Portuga”, homenageando sua origem além-mar, o pá. A jovem noiva prometida chamaremos apenas de “Donzela”. O irmão dela, único remanescente vivo da família, testemunha ocular e auditiva da macabra historia chamaremos pela inicial de seu nome,  “R.”. O “dito cujo” já tem nome. Muito além das cercanias da Borda as pessoas que ouviram, mesmo que por alto sua historia, já sabiam que ele se chamava “Chiquinho”. Ele próprio se apresentou ao seu anfitrião com este epíteto carinhoso quando veio buscar sua donzela prometida, em 1953.

Bom, agora que nos tornamos mais íntimos, vamos falar francamente; “…Que atire a primeira pedra….” quem nunca viu o capeta!!! Ora, ora, ora, todos já vimos e cada um de nós o pintamos de acordo com nossa conveniência. Eu já estive cara a cara ou ‘costas à cara’ – Sua principal característica é a traição – com ele inúmeras vezes. Apesar de conhecer ‘an passant’ a historia do Coisa Ruim da Borda, só na capital do pijama esbarrei neles umas quatro vezes.

A primeira vez foi em 1970. Eu estava no forro da casa do Sr. Jairo, no bairro Santa Rita, para continuar lendo essa historia, acesse ‘www.meninosquevicrescer.com.br’!

Jose Lucio… o Rambo de Muzambinho

        Até pouco tempo atras a velha cidadezinha de nome indigena, com pouco mais de 23 mil habitantes, espalhada ao pe da serra de Poços  de Caldas, cercada de cafezais, milharais, pastagens e matas nativas, era conhecida pela tradição e excelencia de suas escolas tecnicas e superiores tais como o Instituto Federal de Educaçao, Ciencia e Tecnologia, Escola Agrotecnica Federal, Escola Superior de Educação Fisica. De uns tempo para cá um novo personagem surgiu reivindicando um capitulo especial na historia da cidade e das instituições, colocando Muzambinho na midia.

       Insatisfeito com uma internação ‘compulsoria’ para tratamento de alcoolismo, o ex-aluno do Curso Tecnico de Agroindustria, Jose Lucio Pereira Filho, 39 anos, prometeu se vingar da escola que o ‘ajudou’ a se tratar da doença cronica. A julgar pelo seu comportamento, se ele se curou do alcool, uma outra parte do cerebro permanece sequelada. Ele começou estudar na escola ha quinze anos e em 2000 surgiram os primeiros problemas com o alcoolismo. Desde então ele tem sido um tormento para a direçao da escola e seus alunos, com ameaças, furtos, danos e vandalismos. Mais recentemente o ex-aluno estava morando numa barraca de camping no meio de um cafezal onde passava os dias e à noite vagava pelo campus da escola, furtiva e sorrateiramente, danificando instalações e amedrontando os estudantes. Armado de faca de caça, vestido de predador como quem vai para as florestas do Camboja ou Vietnan, portando uma besta com flechas, Jose Lucio logo ganhou o apelido de “Rambo” – mais apropriado impossivel.

        Para devolver a segurança e a paz ao campus da conceituada escola e a seus estudantes, a policia armou um esquema especial de captura e foi à caça do Rambo brasileiro. Ao ser abordado no meio da mata nos arredores do Campus na semana passada Rambo disparou uma flecha contra seu captor. Errou o alvo e  antes que aprimorasse a pontaria, o policial atirou em suas pernas. Que azar do Rambo!!! A bala atingiu tendoes e vasos do joelho… ele corre risco de perder a mobilidade da perna atingida.   

        Rambo está fora de combate, internado no hospital com dois policiais do lado de fora da porta velando sua recuperação, mas sua saga ainda não acabou. Como acontece toda vez que uma azeitona sai quente do cano de um trabuco, independente da circunstancia, o policial que o baleou está respondendo a processo criminal.

        Quando se recuperar do balaço no joelho, Jose Lucio Rambo será submetido a exame de sanidade mental, para se avaliar até que ponto ele poderá responder pelos seus atos delituosos. Antes que o estimado leitor pergunte;

– Mas e se ele for louco, ele não será preso???

         Bem, quem incorpora e age exatamente como um personagem doentio de ficção e faz da sua ex-escola seu palco e set de filmagem, não está no seu juizo perfeito. O Rambo de Muzambinho deverá ser internado em clinica de tratamento psiquiátrico – manicomio judicial ou hospicio – pelo tempo que durar sua demencia.

      Quem estava pensando em pedir autógrafo ao ‘Stalonne’ de Muzambinho terá que esperar um pouco…

Aconteceu o 36º homicídio em Passos

       Há dias venho pensando em abordar o assunto aqui no blog, mas estava evitando tocar na ferida para evitar o “foi só falar, aconteceu” ou “falou cedo demais” ou ainda: ” Foi só falar no capeta… ele apareceu!!!”     

      Na verdade eu esperava que a ‘aragem’ na chuva de assassinatos na cidade de Selton Melo, “o homem invisivel”,  durasse mais tempo, que completasse ao menos 40 dias… não deu. Mas de qualquer forma, foi um recorde no ano. Desde janeiro, quase toda semana a imprensa anunciava um novo assassinato ou tentativa. Desta vez a trégua foi mais longa…  Exatas cinco semanas, 35 dias sem morte ‘matada’ em Passos.

      O ultimo passense a bater às portas de São Pedro fora Tiago Rodrigo, na quinta feira 13 de outubro. A bandeira branca foi jogada por terra na madrugada desta sexta. Curiosamente o novo hospede de São Pedro é um dos mais velhos dentre os passenses mortos a tiros na cidade em 2011. Adão dos Reis tinha 41 anos, já fora processado por homicídio, tentativa de homicídio e roubo. Como a quase totalidade dos mortos à bala este ano, também tinha envolvimento com o submundo das drogas. Adão recebeu a saraivada de balas, no meio da madrugada, no bairro Novo Horizonte, o velho Aterrado de Passos.

      Foi 0 36º homicídio na cidade no que se finda.  No mês passado, antes do assassinato de Tiago na quinta, Edson Rodrigues havia sido morto na quarta e Weverton Fernandes no sábado, ou seja, três crimes numa só semana!!! Será que outros passenses ‘fichas sujas’ serão despachados à bala em Passos ainda esta semana???

Cenas macabras em Toledo!!! Matou a mulher a pauladas e levou o corpo no carrinho de mão para jogar no mato

         Nem mesmo Alfred Hitchcock, o mestre do suspense, faria melhor.

         Noite de lua cheia. Alta madrugada na cidadezinha de Toledo, perdida nas escarpas da serra da Mantiqueira. O vento batia insistentemente na janela e trazia com ele o ranger dolente de um carrinho de mão lá no fim da rua. O som se torna cada vez mais agudo e mais próximo. Moradores abrem discretamente a fresta das janelas para espiar e presenciam o quadro macabro, de arrepiar !!! Aparecido Pedroso de Morais, conhecido pelo comportamento esquizofrênico que carrega desde a infância, vai passando lentamente na rua calçada de bloquetes, empurrando um carrinho de mão. Suas mãos estão sujas de sangue e no carrinho ele leva o corpo inerte de uma mulher toda ensanguentada. Oquadro macabro segue lentamente pela rua sem ser incomodado. Quando se afasta do ultimo poste de iluminação, o “Assassino do carrinho de Mão” despeja o corpo desconjuntado num matagal à beira da estrada e volta lentamente para casa como se tivesse cumprido uma missão.

       Aparecido Pedroso de Morais foi abordado pelos homens da lei já em sua casa e rolou com eles na poeira, mas recebeu pulseiras de prata. A mulher do carrinho de mão de Toledo era Regina Alves da Cunha, sem nenhum vinculo com o assassino. Ela era alcoólatra e morava sozinha na pequena cidade.

      Os motivos do macabro crime não tem explicação fora da psiquiatria. Segundo a psiquiatra e escritora Ana Beatriz Barbosa Silva e a médica de família Tatiana Matos, em suas crises o portador de esquizofrenia tem visões que somente a ele faz sentido. Se  ele achar que um poste é um padre  e ele for católico, vai ter dor de coluna de tanto fazer reverencia e beijar a mão do religioso. No entanto se achar que Madre Teresa de Calcutá é o capeta…. coitadinha da podre santa!!!

       Em seus delírios o esquizofrênico Aparecido deve ter visto a pobre alcoólatra Regina com chifres, com o tridente na mão, soltando fogo pelas ventas… e desceu-lhe o borralho até mata-la.

Gô… e as cinco toneladas de maconha

                          

                                               MENINOS QUE VI CRESCER

       O leitor atento logo vai perceber que esta historia tem dois “Meninos que vi crescer”, cada um seguindo um rumo diferente. Cada um de um lado da lei. Conheço ambos quase desde as fraldas. O primeiro na verdade vi nascer. Estava lá quando ele deu os primeiros passos e quando pronunciou meu nome engolindo o “r” e o “n”. Mostrei-lhe a paixão e ensinei os primeiros toques na bola. No final da adolescência, quando precisou definir-se profissionalmente, de tanto ouvir minhas historias acabou seguindo meus passos. É claro que em tudo me deixou no chinelo…

       O segundo nasceu cinco anos mais tarde. Não acompanhei seus passos tão de perto, mas seu avô acompanhou os meus. Vendi milhares de picolés feitos por ele. Tinha o melhor picolé e o melhor frango assado da cidade, além de paciência, educação e bom humor para atender sua eclética e vasta clientela em grande parte formada por policiais. Durante décadas não houve um só policial civil que não encostasse a barriga no balcão do apertado bar do Waguinho ou ‘seu Wagner’ para tomar uma loira gelada ou cangibrina com o tradicional frango assado.

      Nascido em 1978, foi neste ambiente que o Gô, cresceu. Na verdade, ainda na primeira infância sofreu uma grande perda que talvez tenha sido o diferencial de sua vida. Ao parar seu caminhão para abastecer a ‘burrica’ numa mina d’água, na beira da Fernão Dias, próximo a Extrema, seu pai, experiente caminhoneiro recebeu quatro tiros à queima roupa nas costas. Morreu no local. Nunca se soube quem fora o autor dos disparos.

       A orfandade não impediu Gô de traçar seu próprio destino e seguir seu caminho pautado no exemplo dos tios, primos e avós, todos honrados e bem quistos. Mas, andar na contra-mão parecia ser mais emocionante ou quem sabe mais fácil do que enfrentar os desafios de uma vida profícua e regrada. Gô, ao contrario dos irmãos, era de poucas palavras. Morando no meio do meu trajeto para o trabalho, nos víamos e nos cumprimentávamos todos os dias… apenas com o olhar. Até que ele passou a definir suas companhias, não muito ‘sociáveis’ e se tornou ainda mais arredio e distante.

         Embora se conhecessem, tenham estudado no mesmo colégio e fossem quase vizinhos, os caminhos de nossos dois personagens só se cruzaram em 2000. E cruzaram literalmente porque seguiam em direções opostas. Naquele ano foi criada a Delegacia Especializada de Repressão ao trafico de Entorpecentes, chefiada pelo delegado Antonio Camillo. Compunha a equipe os veteranos detetives Tiãozinho, Tomaz, Roberto e o jovem Teobaldo…

    As primeiras investigações da nova equipe indicavam que um jovem desfilava sorrateiramente pela avenida Dr. João Beraldo, desde a Duque de Caxias até a Faculdade de Direito, distribuindo a erva marvada. Não tardou para Teobaldo identificar o traficante formiguinha como sendo Gô, neto do Waguinho.

      Ja por aquela ocasião, o primeiro personagem desta historia, com quatro anos de policia, apesar de atuar em todas as linhas de investigação, parecia ter escolhido sua preferida; o trafico de drogas. Informações sobre trafico e traficantes sempre caíram de pára-quedas em sua prancheta. Gô passou a freqüentar a primeira pagina. Ele estava fazendo apenas seu trabalho profissional, jurado no ato de posse na carreira policial, mas os desafetos de Gô achavam que eles tinham alguma rusga pessoal por isso as informações choviam de graça e o jovem Gô começou receber visitas inesperadas de policiais em sua casa, autorizadas pelo homem da capa preta com base nos levantamentos policiais de Teobaldo. Uma destas buscas foi realizada simultaneamente em dois endereços. Na residência de Gô onde ele mantinha coisa pouca, apenas para pronta entrega e no ‘mocó’ do João Onça, um velho homicida egresso do velho hotel da Silvestre Ferraz que adquiriu o habito da fumacinha quando lá esteve hospedado.

       A residência de João Onça na Rua do Arame era o que havia de mais genuíno esconderijo para drogas. Um casebre de portas e janelas de madeira e paredes caindo aos pedaços e um quintal que bem poderia ser chamado de mini-floresta, com bananeiras, amoreiras, ameixeiras, abacateiros, pés de inhame, batata doce, erva cidreira, comigo-ninguem-pode, espadas de São Jorge e outros bichos. Tudo crescendo e caindo ao deus-dará, sem cuidados, pois o tempo do velho e soturno João Onça, quando não estava abraçado com a velha katia…ça nalgum boteco copo-sujo nas cercanias do mercadão, era destinado a distribuir a erva nas imediações da Tijuca. Seu quintal parecia uma floresta… abandonada. A visita ao pé da manhã pegou João Onça ainda de cuecas samba-canção de brim amarrotado e com o bafo característico. Como ele nunca foi hospitaleiro com os homens da lei, foi necessário chamar o lobo mau para abrir sua porta no bico da botina. Dentro do muquifo – este adjetivo foi criado especialmente para definir o interior da toca do Onça – em meio a roupas sujas jogadas pelo chão, panelas engorduradas, restos de comida embolorados, moveis sujos e quebrados e teias de aranha conseguimos localizar duas barangas de cannabis. Vasculhado o casebre, nos enchemos de coragem e passamos à grande aventura de desbravar a selva que há anos não sentia a lamina fria e afiada de uma enxada, machado ou facão tentando encontrar a droga ‘dada’ pelo informante. Não encontramos sucuris, jibóias, javalis, antas, tigres, onças ou rinocerontes e muito menos os tijolos de maconha que poderiam estar enterrados em qualquer local da vasta selva ha muito intocada até mesmo pelo dono João Onça que tinha medo de desbravá-la.

       Na residência de Gô, na João Beraldo, os colegas localizaram sem muito forrobodó uma pequena porção da erva, que o menino que vi crescer logo se apressou em dizer que era para uso próprio. Assinou seu primeiro 16 e foi liberado, mas deixou sua fotografia para posteridade no álbum da policia.

       Apesar de escaldado, Gô já estava por demais envolvido com o trafico e não fecharia seu comercio nunca mais. Dias depois da investida em sua casa, um amigo oculto da lei ligou para a DP na hora do almoço informando que naquele momento ele estava indo fazer uma entrega perto das Carmelitas, num Uno Vermelho. Hora de almoço é hora sagrada de funcionário publico almoçar. A menos que seja policial – com ‘p’ maiúsculo – e um crime estejaem andamento. Aoreceber a informação Teobaldo laçou o primeiro colega que encontrou e foram interceptar a entrega da droga. Era uma entrega pequena, mas se encaixava no ‘verbo traficar’, no entanto Gô assinou apenas o 16. E assinaria outros tantos nos anos seguintes até o homem da capa preta resolver tirá-lo de cena, decretando suas férias forçadas no velho hotel da Silvestre Ferraz.

        Como a pena era para ser cumprida no Regime Semi-berto, o moço foi direto para a APAC, onde só cumpre pena quem quer zerar seu debito com a justiça. Quem não quer pula o muro sem vigilância e vai embora. O menino que vi crescer me olhando atento e ressabiado, estava crescendo no ramo do trafico. Cuidar de jardins, hortas, plantação de milho, café, feijão, criar porcos, galinhas ou coelhos e a noite ouvir palestras e sermões não era sua praia e atrasaria os promissores negócios de Gô, por isso ele dispensou os conselhos do Padre Mario e demais voluntários da APAC, pulou o muro e caiu na estrada. Se o objetivo do homem da capa preta era tirá-lo de cena, ainda que por linhas tortas, Gô tratou de escrevê-lo. Saiu de cena e baixou as cortinas. Por um bom tempo sua avantajada silhueta não foi mais vista e seu curto nome não foi ouvido. Até que….

        Contrariando a lógica do andar da carruagem, as investigações sobre o famigerado trafico de drogas, que aumenta a cada dia, restringiu-se basicamente a uma dupla de campo, um detetive na Inteligência e um delegado que os coordenava. O ‘Hucht’ da dupla manduana Starsky & Hucht era o impetuoso, apaixonado e sempre disponível Fabio Balca. Com ele Teobaldo mandaria muitos distribuidores de erva marvada, pedra bege fedorenta e farinha do capeta para o piano do delegado Gilson Baldassari.

      Em 2007 um valioso informante deu uma rica fita. Quase toda droga consumidaem Pouso Alegree região, passava pelas mãos de um traficante, sem nome, do interior paulista. Esta informação levou os pupilos do delegado Gilson a apreender quase 80 quilos de drogas em três operações diferentes em poucos dias. Com o traficante Rodrigo Vieira Mazzoni, o FOCA, foram 4 quilos de maconha e 1 de cocaína, quando ele chegava à rodoviária de Pouso Alegre no ônibus da Gardênia, vindo de Campinas. Aliás, o Foca não se adaptou à secura do velho hotel da Silvestre Ferraz e vazou pelo ‘tatu’. Mas como a maré não estava para foca, ele tornou a cair nas malhas da leiem São Joãoda Boa Vista duas semanas depois e lá se adaptou muito bem… ‘não quis mais sair’. Ainda por conta da mesma informação sobre o ‘poderoso’ e misterioso distribuidor do interior paulista, Teobaldo, Balca e equipe prenderam Junior Cesar do Prado, o BABI, em Congonhal, com 50 quilos da erva. Como um assunto puxa outro, dois dias depois foi a vez de Eliel Moises Romeiro e Benedito Benê entregar a ‘rapadura’… Eles também chegavam de viagem trazendo na mochila 25 quilos de erva e um trezoitão quando receberam as boas vindas dos detetives.

        Toda esta droga vinha da mesma fonte, na cidade de Mogi-Guaçu, de um distribuidor até então sem nome e sem rosto.  Além de enfrentar as dificuldades de procurar o fio da meada como se procura agulha num palheiro, Teobaldo e Balca tinham que enfrentar a desconfiança dos colegas e da chefia, pois passavam meses sem digitar um relatório. Até que o nome do poderoso traficante que abastecia a região surgiu no fim do túnel: Gô. O velho Gô, da João Beraldo, neto do Waguinho, fujão da Apac. O menino que vi crescer era agora um poderoso traficante. Foi um alento descobrir o nome, mas a localização, o deposito da mer…cadoria ou a rota do transporte continuavam um mistério. Mas…. Deus ajuda quem cedo madruga. No caso de Teobaldo e Balca, o velho ditado era um ‘modus vivendi’ ou ‘modus trabalhandi’. Viviam para trabalhar. Não tinha dia ou hora. Toda informação tinha que ser checada quando chegava, ao meio dia, à meia noite ou às quatro da manha, de segunda, de domingo, de feriado, à pé, de bicicleta ou em carro particular. E o salário, – e o reconhecimento – ó…. 

       A recompensa veio da maneira mais inesperada, numa madrugada morna de novembro. Para contar ao leitor como Teobaldo recebeu a mais bombástica das informações, a informação dos sonhos, é preciso abrir um parêntese na narrativa e voltar no tempo.

      Estava eu debruçado sobre um jornal atrás do balcão na recepção da velha delegacia às nove e meia da noite, quando ouvi uma voz tênue de criança dizer:

– Aqui está a bolsa da moça… tá tudo aí dentro!!

      Levantei os olhos do jornal e vi sobre o balcão uma bolsa feminina, mas não vi ninguém. Levantei-me lentamente para olhar atrás do balcão de mármore de um metro e vinte de altura, já pensando em assombração e lá estava o dono da tímida voz… Um garotinho franzino, de camiseta, calça larga cortada pela canela e pés no chão. Era mais baixo que o balcão, tinha 9 anos e seu nome era Pépinho ou Pepinha. Ele tornou a falar:

– Pode olhar moço, ‘tá tudo ai dentro…  

      Sentados no banco de madeira diariamente lustrados por policiais e meliantes na recepção, ao meu lado, o garotinho trocou em miúdos a historia da bolsa com “tudo aí dentro”. Estavam, ele e outros dois colegas mendigando no semáforo da Vicente Simões, quando uma senhora baixou a janela do carro e pegou a tal bolsa para dar-lhes uma moeda. Um dos amigos – da onça – pegou a bolsa e saiu correndo em direção ao Aterrado. Com medo de ser também acusado do assalto, Pepinho saiu correndo atrás e se enfiaram lá por trás do pátio do Freitas onde a policia não tardou a vasculhar. Pepinho, no entanto era apenas um menino de rua, não um ladrão, por isso tomou a bolsa do colega e foi devolvê-la na delegacia. Quando a PM chegou para entregar-me o B.O. sobre o roubo, uma hora mais tarde, a dona da bolsa ja estava indo embora com o caso resolvido.

       Pepinho ou Pepinha, no entanto não se resolveu. Devolveu a bolsa que o amigo havia surrupiado, mas nunca mais devolveu as que ele próprio surrupiou. Como tinha apenas 09 anos, tornou-se cliente assíduo do Conselho Tutelar. Numa destas audiências de puxões de orelha, em meados de novembro de 2007, aproveitando um pequeno vacilo, o mini-delinquente passou a mãozinha leve e sujinha no celular da conselheira que o atendia e saiu de fininho. Seria apenas mais um furto corriqueiro de celular como dezenas que ocorrem todo dia na cidade. Este, no entanto pertencia à conselheira Poliana Teobaldo. Depois de ter mandado dezenas de meliantes para o xilindró, Teobaldo não descansaria enquanto não pusesse as mãos no larapio do celular da esposa.

      Numa madrugada fresca de sexta feira, perto do raiar do dia, quando estava trabalhando de segurança particular numa danceteria do Esplanada, um dos seus muitos informantes deu a fita: seu aparelhinho fora trocado por uma pedrinha bege fedorenta e estava sendo usado pelo ‘formiguinha’ Darinho, no velho Aterrado. Antes de a ultima estrela da madrugada se deitar nos braços do Cristo no alto do morro do Horto, em meio à penumbra da noite, Teobaldo e Poliana estavam vasculhando o Aterrado atrás do celular – isso eu não ensinei a ele… porque eu não teria coragem de fazer –  e aí o outro ditado popular entrou em cena: “pássaro madrugador, pega as melhores minhocas”… O aparelhinho fujão, que havia ficado vários dias em mãos do traficante Darinho, ja havia se acostumado aos assuntos inerentes à atividade do novo dono, de repente tocou!! Pasmem meus estimados leitores, era um traficante trocando informação sobre???? Trafico…!!! E que informação!!! Naquele momento, ainda na maior boca de fumo da região, Teobaldo ficou sabendo que uma tonelada de maconha estava cruzando o sul de minas com destino ao Rio de Janeiro e faria uma escala em Caxambu para deixar uma parte para o traficante… Gô!!! A carreta com placas do Paraná iria descarregar a droga num sitio no Circuito das Aguas.

        Quando o sol mostrou os bigodes, depois de ter passado a noite toda em claro, Teobaldo estava na porta da delegacia tentando montar uma equipe para procurar a droga. O primeiro a abraçar a causa foi o fiel escudeiro Balca. Depois vieram o detetive Juleel, que estava saindo do plantão noturno, o escrivão Edgar que ja nasceu talhado para ser policial – e dos bons – também deixando o plantão, o Inspetor Batista que sempre acreditou nos seus comandados e o delegado Gilson Baldassari, chefe da Especializada. Todos tiveram tempo de sobra para se preparar para a mega-operação: cinco minutos. E saíram, seis policiais mal-dormidos e uma ‘bate-pau’, em duas viaturas à procura de uma carreta com placas de uma cidade qualquer do Paraná, que poderia estar levando uma tonelada de maconha. Tinha mais uma pista ouvida no celular cagueta: Um gol branco poderia estar por perto escoltando a carreta. Um grupo entrou pelo Circuito das Aguas, outro foi por Três Corações e entrou pelo circuito das drogas, quero dizer, por São Tome das Letras. Foram se encontrar cansados e borocoxôs em Baependi, sem nem o cheiro da erva maldita.

        Mas policial ‘brasileiro não desiste nunca’. Voltando para Caxambu avistaram um gol branco seguindo de perto um caminhãozinho baú. Cada grupo tratou de abordar um deles. Ao emparelhar com o gol, Teobaldo reconheceu ao volante a figura impoluta do seu velho ‘anfitrião de café da manha com drogas’…  Ha anos não se viam, mas nenhum deles havia mudado, nem na fisionomia, nem nas atividades. Era o menino Gô. Levava com ele no gol dois passageiros. Depois de alguns metros acelerando e praguejando na mira das pistolas, Gô encostou o veiculo. Era um ardil para ganhar tempo. Quando Balca saltou empunhando a metranca seguido de Juleel, Gô pisou fundo o acelerador, colocou o braço para fora e mandou bala na direção da viatura. Teobaldo que ja abrira a porta e Juleel revidaram e o gol continuou se afastando debaixo de balas. Quando parecia que iria sumir na curva da estrada, de repente passou reto, enfiou-se numa cerca de arame e parou. Chegaram rapidamente ao gol a tempo de segurar um dos passageiros que enroscara no arame farpado tentando fugir e outro fujão ja se enfiando num matagal. Gô estava quieto, imóvel atrás do volante, mudando de cor e de expressão facial. O que lhe restava de voz usou para maldizer seu eterno algoz. A bala, não se sabe de qual arma, se da pistola do Teobaldo ou Juleel, havia estilhaçado o vidro, o estofamento e se alojado na coluna vertebral do menino que vi crescer. Eu não o veria nunca mais. E a outra equipe? E a carreta com a droga? Gilson, Batista e Edgar haviam abordado o bauzinho, mas no momento que o motorista apresentava uma nota fiscal de café, Poliana os chamou pedindo apoio, contando do imbróglio de dois quilômetros adiante. Eles dispensaram o caminhãozinho com a suposta carga de café, sem vistoriá-lo. Podia ser mesmo café. Não ha nada melhor para disfarçar o cheiro da erva…

          Estava feita a merda!!! Um traficante foragido da Apac agonizando, baleado nas costas com um 38 ainda quente na mão, dois desconhecidos enroscados no arame farpado e cadê a droga da droga? Nem precisava ser uma tonelada. Um quilinho magrelo da erva maldita seria suficiente para salvar-lhes a pele. Sem a droga os dois policiais que atiraram no gol em fuga, ainda que debaixo de bala, estariam em maus lençóis. O que fazer? Bem, a primeira providencia era não deixar o ar já rarefeito de Gô parar de entrar em seus pulmões, por isso urgia levá-lo para o hospital de Caxambu. Mas tão importante quanto salvar a vida do traficante, era encontrar a carreta com a maldita droga para salvar suas carreiras. A pressa de salvar Gô foi bendita. Quando chegavam ao trevo de Caxambu avistaram uma carreta manobrando lentamente no posto de combustíveis pegando a BR 265, sentido Juiz de Fora. Tinha que ser ela. Abordaram os três ocupantes e foram informados que levavam uma carga de arroz do Paraná para o Rio de Janeiro. Estava tudo documentado. Ah, mas entre centenas de sacas de arroz bem que dava para camuflar algumas de maconha, dava não…? Dava. Dava sim. Ô, se dava, dava mesmo!! Tinha que dar. Teobaldo blefou. Sacou a pistola com os dedos sujos de sangue, encostou o cano ainda quente no bigode do motorista e advertiu com todas as letras:

– Perdeu mano… acabei de encher seu parceiro de balas no golzinho ali atrás. Ele está indo dar os últimos suspiros no hospital. Vai querer fazer companhia para ele….?

      O piloto da carreta e seus ‘chapas’ não eram traficantes contumazes. Eram ainda ‘mulas’. Com um bom advogado poderiam pegar apenas quatro anos e depois de um sexto da pena, pouco mais de um ano fechados, poderiam voltar para casa. Preferiram não conferir o blefe.

– … Tá no meio do arroz – disse o motorista tremendo, com a voz quase sumindo.

         “Tá no meio do arroz…”. Esta frase singela jamais será esquecida por aquele grupo de policiais famintos, cansados, apavorados naquela beira de estrada no trevo de Caxambu naquele inicio de tarde de 24 de novembro de 2007. Estava mesmo e iria longe. Viajaria até o Polo Norte daquele jeito se os esquimós fossem tão manés e fumassem maconha. À medida que as sacas de arroz iam se afastando os tijolos de cannabis sativa de Lineu iam aparecendo até chegar a um mil, dois mil, tres mil, quatro mil, cinco toneladas de maconha!!! Uma tonelada era a parte que Gô baldearia para o bauzinho de café e levaria para seu sitioem Mogi Guaçu, de onde distribuiria para Pouso Alegre e região. As outras quatro toneladas passariam por Juiz de Fora e iriam abastecer os morros cariocas. Ufa… Estava salva a operação. Faltava agora salvar a vida do traficante. Seria muito mais gratificante e menos complicado e constrangedor vê-lo passar uns quinze anos no hotel do Juquinha… do que não vê-lo nunca mais. Mas não deu. Gô, o menino que vi crescer agonizou na UTI durante seis meses e finalmente fechou os olhos.

     A mega operação que se desencadeou no final da madrugada através de um celular furtado da conselheira tutelar pelo franzino Pepinha, de 13 anos, resultou na apreensão de cinco toneladas de erva maldita, uma das maiores do Estado. Foi uma grande vitoria da policia no combate ao trafico de drogas, mas os policiais que sentiram o vento quente das azeitonas roçando suas orelhas antes daquela curva em Caxambu não colheram louros. Ao contrario. Receberam ‘olhares de cotovelos’ de alguns colegas de trabalho e de desconfiança dos parentes do traficante – afinal, parente é parente… – Os mais próximos encetaram uma investigação particular em busca de excessos dos policiais e só sossegaram depois de constatar que o trabuco encontrado ainda quente na mão tremula e moribunda de Gô pertencia a um traficante de Mogi Guaçu, com o qual ele tinha ligações.

       A maior apreensão de drogas do Sul de Minas não rendeu sequer uma promoção aos policiais que a realizaram, nem mesmo à dupla Teobaldo e Balca que durante meses vinha tentando desenrolar o fio da meada para chegar ao ‘todo poderoso’ do interior paulista e semana antes prendera vários de seus asseclas. Teobaldo ao menos recebeu uma homenagem da Câmara de Vereadores, o que não é grande coisa quando se trata de indicação política, pois tem policial que não faz mais do tocar corneta e também recebeu tal homenagem…

       Antiguidade e merecimento. Estes são os caminhos para um policial ser promovido dentro da carreira e engordar seu contracheque em meia dúzia de reais. No entanto, ‘merece’ promoção quem tem Q.I… Quem não tem padrinho morre pagão e espera dez anos na fila. Enquanto isso vai emendando o dia com a noite, horário de almoço com expediente em supermercados, danceterias e eventos noturnos para complementar o salário. Mas é bom… para o contribuinte. Quem sabe nestas noitadas não surge um Pepinha com um celular roubado… e mais uma tonelada de drogas e seus distribuidores caem nas malhas da lei….?

 

Suco de gerereba e Pão com mortadela

      Ao pé da noite de sabado o cidadão João Batista Dechichi, 56 anos morador de Borda da Mata, capital do pijama e terra do ‘Chiquinho’, foi de carro buscar a esposa na rodoviária de Pouso Alegre e voltou de ônibus com ela; É que antes de sair de casa ele fez um lanchinho de pão com mortadela e de ‘mata-bicho’ tomou uma dose de suco de gerereba – ele jurou de pés juntos que foi uma dose só.

       Quando trafegava pela MG 290 foi barrado numa blitz da PRE e convidado a beijar o bafômetro. O aparelhinho devia estar estragado, pois um copinho só do famigerado suco acusou 11 decigramas de álcool no seu sangue, cinco a mais do que o permitido pelo CTB.    

       Como lhe foi tomado o carro e a CNH, os policiais deram carona para ele até a DP onde sentou-se ao piano e assinou o 306. Pagou R$ 545 reais de fiança e voltou para casa, mas voltou de carona com a esposa, no ônibus da Gardênia… Bom, pelo menos deu um passeio e fez companhia para a cara-metade.