Detetive Sidraque é assassinado em Monte Sião – 22 de fevereiro

Olá meus estimados leitores.

     Já estava com saudades de vocês. Espero que tenham se divertido ou descansado muito no carnaval. O meu foi um pouco corrido. No sábado Festa da Uva em Vinhedo, domingo churrasco em família, segunda anfitrionando familiares e à noite o falecimento de uma pessoa querida me levou para o Rio de Janeiro. No final da quarta quando abri o computador recebi um convite irrecusável dos meus filhos para ver o São Paulo fazer um papelão diante do Bragantino… Só agora pude finalmente trazer alguma coisa de novo para vocês. Comecemos com o singelo tributo ao companheiro Sidraque…   

Em 1996 o capixaba Sidraque Correia da Rocha, 36 anos, veio para Minas em busca de sonhos e ingressou na policia civil. Alguns de seus colegas ouviram-no perguntar ainda na Acadepol;
– O que eu estou fazendo aqui? Por que será que entrei para a policia?
E ele mesmo responder…
– Acho que é por causa do meu senso de justiça, de heroísmo…
Esta conjectura introspectiva do jovem policial mostrou em pouco tempo a muita gente quem era Sidraque. Ele foi designado inicialmente para trabalhar em Pouso Alegre. Daqui seguiu para Extrema, de lá voltou para perto da família em Teófilo Otoni e, a pedido, voltou para o Sul de Minas… Para São Gonçalo do Sapucai, depois Careaçu, Silvianópolis e novamente Pouso Alegre.
Apesar de ter trabalhado em poucas cidades em 7 anos, ele se tornou conhecido e lembrado em todo o Estado, através do curso de formação policial que fez com outros 400 detetives de todos os rincões das Minas Gerais, na academia de policia civil. Conhecido justamente por este jeito às vezes introspectivo, outras expansivo, outras espeloteado sem dizer coisa com coisa, mas sempre com autenticidade, generosidade e bom humor.
Contam alguns colegas que, numa de suas tiradas, uma senhora chegou à recepção da delegacia de policia e disse que havia sido roubada, tendo o meliante levado todo seu dinheiro e seus documentos. Sidraque, olhando muito atentamente para ela exclamou;
– Nossa!!! E agora. O que a senhora vai fazer???
No segundo seguinte ele se deu conta de que ela estava ali em busca de respostas e atitudes e não de perguntas e tratou de registrar o B.O. para ela.
O policial de origem libanesa era na verdade um grande artista. Era musico, poliglota – falava razoavelmente sete idiomas – e nas horas de folga trabalhava de pintor de parede, cabeleireiro, dedetizador e dava aulas de grego, aramaico e latim.  Quando chegou a Pouso Alegre em l996, pintou todo prédio da delegacia regional… e não recebeu um centavo por isso!!

O domingo de carnaval, 22 de fevereiro de 2004, amanheceu chovendo em toda região. Durante uma pequena aragem por volta de dez da manha, Sidraque encontrou casualmente com seu destino. Ele voltava da feira trazendo frutas e verduras para a esposa e o casal de filhos imberbes que amava com fervor, quando surgiu à sua frente um cidadão que fora vitima de furto no dia anterior, informando que o suspeito estava num boteco ali perto e pediu providencias.
O policial que estava sempre à disposição de quem quer que o procurasse, se propôs abordar o suspeito sozinho, pois além de não dispor de tempo para buscar reforço, ele era o único investigador da cidade. O mocinho – mocinho mesmo, recém completados 18 anos, franzino – que realmente tinha culpa no cartório, passou sebo nas canelas e dobrou a serra do cajuru. Sidraque saiu nos seus calcanhares. Enfurnaram-se numa extensa área onde se começava um loteamento, em direção ao ribeirão e sumiram da vista da vitima e de dezenas de curiosos que acorreram para a porta do bar. Minutos depois ouviram três tiros vindos lá do ribeirão. Estremeceram tentando imaginar o que estava se passando. Um dos curiosos exclamou;
– Nossa… O Sidraque matou fulano…
Continuaram olhando estupefatos e no minuto seguinte avistaram o larapio – agora assassino – subindo o pasto do outro lado do ribeirão, até sumir de vista, levando a arma do policial. Quando a vitima e curiosos chegaram à beira do ribeirão, lá estava o detetive Sidraque com três tiros no peito, inerte
A chuva que ao que parece dera uma pequena trégua suficiente apenas para o sempre resoluto policial cumprir seu destino, voltou a cair torrencialmente sob o seu corpo e os de dezenas de policiais que varreram cada palmo de Monte Sião naquele domingo de carnaval, à procura do ladrãozinho pé-de-couve. Ele não foi encontrado. Oito meses depois, quando cheguei à bucólica e rica Monte Sião, tentei desenterrar o assassino do policial. Mas, sozinho, como os demais colegas, não obtive êxito.
Nunca soubemos o que aconteceu entre o policial e o meliante naquela beira de ribeirão. Só o que se sabe é que o policial tinha uma pistola carregada na cinta e seguiu a lei ao pé da letra enquanto o meliante, na primeira chance que teve … preferiu matá-lo com sua própria arma. Morreu o policial… morreu um artista, um cidadão admirável. E deixou como herança uma pensão de – descontados assistência medica, contribuição de aposentadoria, intermináveis descontos de empréstimos bancários – R$ 480 reais na época. E deixou também um colchão de casal, dois de solteiro, um fogão, um guarda roupa, um teclado, seus tesouros Mirna de 9 e Misaque de 11 anos… e sonhos, melancolia e saudade.

Vagalume quer apagar caloteiro em Borda da Mata

Numa abordagem de rotina no posto fiscal de Borda da Mata, a Policia Rodoviária Estadual flagrou o cidadão Fabio Augusto Casparino armado até os dentes. Ele levava na mochila um lustroso Taurus calibre 38 com cinco azeitonas no tambor e uma cartela extra com cinco balas da CBC. O técnico em eletrônica mora em Inconfidentes e trabalha numa empresa da capital do pijama. Como perdera o ônibus, viajava de carona com seu supervisor Raimundo Carlos Marcelino de Lima, em uma Parati.
Fabio alegou que comprou a arma há dois meses, de um desconhecido – claro – na cidade São Gonçalo do Sapucaí para se defender de ameaças de morte. Diz ele que saiu fugido de Casa Branca-SP, por causa de uma divida de R$ 30 mil reais e desde então tem recebido ameaças de um matador de aluguel conhecido por Vagalume.
Ainda que fosse ‘Dom Corleone’ que estivesse tentando ‘apagá-lo’, Fabio precisaria ter porte de arma para andar armado. Como não tem, o delegado de plantão providenciou 40 agentes armados de pistolas, escopetas e sub-metralhadoras para cuidar de sua segurança – depois que ele assinou o 14 e 16 da 10.826 – no Hotel do Juquinha…

Criança causa barraco em hotel de Borda da Mata

A jovenzinha Barbara Verônica de Paiva Sena, 18 anos, tem um afair com o cidadão Andre Luiz Lucas, de 35… e também um tenro bebezinho de 1 ano. No final de semana estavam dormindo num quarto do hotel Minas em Borda das Mata, quando Karciane acordou e colocou a boca no trombone. Irritada com a birra da criancinha – ou seria fome, frio, dor de barriga, de ouvido, garganta, fralda cheia? – Barbara Verônica perdeu as estribeiras e começou maltratar o baby. Como bom e sisudo pai, André Luiz chamou a atenção da cara-metade… e aumentou o trololó. Para acalmar os ânimos, André Luiz saiu para a rua madrugada afora. Para esfriar a cabeça ele resolveu dar uns amassos na loira gelada. Quando voltou para o quarto do hotel a briga recomeçou. E desta vez mais intensa. Destra vez não ficou um hospede acordado. André tentou matar a jovem mãe com uma faca de cozinha, mas ela se quebrou. Ele então tentou furar o pescoço de Barbara com um garfo – barbaridade. Só não conseguiu porque Barbara Verônica lutou bravamente e recebeu ajuda dos hospedes vizinhos.
Na DP de Pouso Alegre Andre  Luis sentou-se ao piano e assinou o 129 com tempero de Maria da Penha. A fiança arbitrada pelo delegado foi proporcional ao barraco armado no hotel da terra do Chiquinho… Dois mil reais. Foi dormir de graça no Hotel do Juquinha.
E pensar que tudo começou com um simples choro de um bebê de um ano num quarto de hotel…!!! Daqui a quinze anos quando as drogas baterem à porta, os pais vão perguntar… O que eu fiz de errado…???

Abraçou a Kátia… ça e foi desfilar com o trabuco na cinta

O cidadão Jorge Amâncio do Espírito Santo, 42 anos, morador de Jacutinga anda meio desacorçoado da vida, com o espírito pouco santo… No domingo à tarde ele colocou um trabuco calibre 32 com cinco balas na cinta e saiu para a rua querendo se matar. Para criar coragem, foi até um bar da estação rodoviária e abraçou a Kátia… Um pouco mais relaxado Jorge dispensou ou esqueceu que havia marcado encontro com dona morte e saiu pela rua levando o 32 na cinta. Um amigo oculto da lei, que ouviu a prosa e viu o cabo do reluzente trabuco no boteco da rodoviária, preocupado com o futuro do cidadão desacorçoado, resolveu comunicar o fato à policia. Jorge Amâncio foi abordado a duas quadras dali e acabou fazendo uma viagem forçada até a Delegacia Regional de Pouso Alegre. Ao sentar-se ao piano do delegado de plantão ele explicou que havia achado o trinta e dois num deposito de reciclável em Jacutinga, mas não queria machucar ninguém. Que bom!!!
Depois de assinar o 16 de lei 10.826, Jorge ‘de bem com a vida’ foi se hospedar no Hotel do Juquinha.

Ousadia…!!! Levou meio quilo de maconha para dentro do batalhão e tentou levar para o presidio….

        Semana passada escrevi aqui nesta coluna matéria intitulada: “Liberdade para delinqüir”, abordando a questão do “recuperando” que sai da cadeia para passar datas festivas com a família, visando se ressocializar e aproveita para fazer uma “boquinha” no crime. Pois bem, a dupla “Bruno & Osmar” não me deixa mentir sozinho.

        Na sexta à tarde uma dupla de motoqueiros parou próximo a um latão de lixo na rua Nanuque, atrás do 20ºBPM. Uma mulher saltou da garupa e despretensiosamente depositou seu lixo na lata, falou ao celular por alguns minutos e foi embora. Meia hora depois um cidadão saiu do batalhão pela porta do fundo, recolheu o “lixo” e voltou para o interior do quartel da PM. Nada de mais, afinal tem tanta gente catando reciclável hoje em dia por aí, não é mesmo?

         Não teria nada de mais se o cidadão que foi lá fora não estivesse usando um conjunto vermelho escrito SUAPI nas costas e o lixo dispensado no latão fosse mesmo lixo, mas… eram 400 gramas de maconha, cinco aparelhos celular, quatro carregadores e dois chip’s!!! O mocinho do uniforme vermelho, que cumpre pena por trafico no Hotel do Juquinha e estava prestando serviços numa obra no batalhão, se ressocializando e reduzindo sua pena, voltou para o pátio do quartel, guardou o “lixo” na bolsa e continuou belo e formoso por ali até o fim do expediente.

       Um amigo oculto da lei percebeu o “recolhimento do lixo” e avisou os homens da lei. A esta altura a dupla de “reeducandos” já havia entrado na viatura policial – sem receber revista – e voltava para o Hotel do Juquinha, depois de um proveitoso dia de trabalho. A viatura que conduzia os dois presos e o “Kit presídio” foi alcançada na BR 459 perto do Baronesa, três quilômetros antes de chegar ao seu destino. Pilhado com a mochila recheada de “lixo”, Bruno “pé-de-couve” Oliveira, disse na maior cara dura:

– Eu achei a maconha com os celulares perto do lixo e ia vender no presídio…

         Por causa do pacote de lixo, Bruno Oliveira, que estava quase terminando sua pena, fez uma parada na DP para sentar ao piano e assinar mais um 33 e voltou para trás das grades do hotel do Juquinha, para mais uma temporada de 5 anos e quatro meses.

         A parte hilária desta historia é …??? A testemunha arrolada no flagrante da apreensão da droga, Osmar Plínio Pereira!!! Osmar é o que podemos chamar de ‘p… velha’ no crime. Ele tem 51 anos de idade e foi um dos meus primeiros ‘clientes’ quando ingressei na policia em 1980. Naquela época ele já era figurinha carimbada no ‘fichário’ manual do Inspetor Ângelo, por furtos e desmanches de motos e veículos. Anos atrás, numa busca e apreensão em sua casa no Cidade jardim onde possui vários imoveis, foi necessário fretar um caminhão para transportar tanto “cabrito”… Ele era o parceiro de Bruno no trabalho de ressocialização no 20º BPM. Ao piano do delegado ele alegou que;

– … Eu estava tomando banho, não vi nada…

        Claro que acreditamos que o ‘kit presídio’ pertencia à Bruno Pé-de-couve de 25 anos. Acreditamos também em coelhinho da páscoa… em…

       A propósito de celular, um ‘beija flor’ me disse que o passatempo predileto dos hospedes do Hotel do Juquinha no momento é a disputa para saber quem tem o aparelho celular mais moderno…

         Voltando à parte séria da historia, o embrulho de maconha e celular que entrou no batalhão e seguiu belo e formoso para o presídio, onde entraria sem problemas, pois subentende-se que os presos foram revistados para entrar na viatura policial… Poderia ser um embrulho de 38, .40, ou mesmo uma AK47…

 

“Meninos que vi crescer” – Renê Cabinho… Perdido na curva do rio

Quando o plantonista abriu a porta da delegacia de policia naquela manha gelada de julho de 2001, uma senhora cafuza, de meia idade, ligeiramente obesa entrou levando pelo braço uma adolescente, que a julgar pela cor dos olhos e expressão do rosto, havia passado a noite em claro. Timidamente ela disse que queria registrar queixa de desaparecimento. Julio, seu filho de 17 anos havia saido de casa no domingo à tarde para andar de bicicleta com amigos, segundo ele, e até então não voltara para casa e nem dera noticias.

Ao receber a copia do B.O. com uma fotografia do garoto moreno, robusto e sorridente levei a senhora chorosa para a Inspetoria de Detetives e em poucos minutos eu sabia quase tanto quanto sua mae sobre sua vida. Era bom filho, bom estudante, bom funcionario da bicicletaria do Laercio Amaral no Aterrado, não sofria de nenhum disturbio mental, não era sequestrável, não tinha inimigos, tinha poucos amigos e nenhum deles tinha envolvimento com drogas. Onde estaria Julio?

A mae e a irma do desaparecido foram embora  deixando para tras um completo dossiê, desconsoladas, pois acreditavam que a policia sabia de tudo que acontecia de errado na cidade. Tinham ao menos um alento; Julio não estava preso e nem num leito de hospital ou gaveta fria do IML.

Ligaram no final da tarde, querendo noticias do filho ou sobre o andamento das investigações. No dia seguinte abriram a delegacia novamente. Traziam à tiracolo uma senhora mulata também de meia idade que dizia ser vidente. Mãe e irmã estavam ainda mais chorosas e tristes… por causa das visões e pressagios da vidente. Segundo ela, Julio havia sido assassinado e seu corpo jazia com certeza numa baixada, na beira de um rio, provavelmente atras de uma construção que parecia ser um tosco rancho de pescador.

Aqueles dias, nossa prancheta de O.S. sobre furtos praticados por menores, brigas de marido e mulher, brigas de pés-de-cana, estelionatos e outros crimes sem status, todos pertinentes à nossa ‘equipe de dois’, eu e Fernando Jardim, chefiados pela Delegada Ines Xavier e pelo delegado Edson Vieira, não saiu do armario. Todo nosso tempo de manhã à noite era dedicado ao “Caso Julio”.  Juntou-se a nós o detetive Roberto, que tinha estreita amizade com um amigo da familia do sumido. Se o corpo do jovem adolescente estava na beira de um rio, ribeirão ou corrego, nós os achariamos. Vasculhamos varios trechos das margens do velho Mandu, descemos o Sapucaí da Faisqueira ao Vitorinos, rumanos para o Cervo. Parecíamos Fernão Dias Paes Leme e seus Bandeirantes chapeludos desbravando e mapeando rios… e nada de encontrar Julio. Quanto mais procurávamos sem sucesso, mais a mulata vidente garantia que o bicicleteiro estava morto na beira do rio. Na quinta feira avançamos o horario de almoço checando pistas, informações e visões mediúnicas nas quais nem sempre acreditávamos mas que não podiam ser descartadas e só paramos por volta de quatro da tarde para fazer o relatorio. Cansados, sujos, rasgados, esfomeados, desacorçoados, estavamos desistindo de encontrar o corpo do jovem.

Eram cinco e vinte e cinco da tarde quando o radio da viatura chiou e ouvimos a central chamar;

– Atenção perito de plantão, está em QAP? Encontro de cadaver no aterrado…

Não era preciso ouvir mais nada. Tinhamos certeza… era o nosso morto!!! Chegamos ao local em poucos minutos. Apesar disso, como o dia mais curto do ano se dera como de praxe, no dia 24 de junho, ha menos de duas semanas, tão logo o sol se punha às cinco e doze da tarde, a penumbra começava cair. Seis da tarde no inverno é noite fechada. Muito antes das seis estavamos na margem do velho Mandu, numa faixa de terra de tres ou quatro metros entre o rio o muro do predio do Sesi. Entre os galhos finos e duros de uma daquelas espevitadas arvores ribeirinhas, curvado e com a cara inchada enfiada na mistura de terra com areia de rio, começando juntar formiga, sob a luz tenue da lanterna, estava o corpo do adolescente que tanto procuramos naqueles quatro dias. A vidente estava certa. Ele estava mesmo na beira…

Para continuar lendo essa historia, acesse “www.meninosquevicrescer.com.br”…

 

 

O Misterio do Coisa Ruim da Borda

       Olá… Feliz ano novo.

       Que a benção de Deus Pai criador caia sobre voce, meu estimado leitor e que seu filho, nosso irmão Jesus, continue a iluminar seu caminho e guiar seus passos. Que Ele te dê força, perseverança e sabedoria para vencer seus desafios com seu trabalho digno e honrado, sem derrotar ninguem. Amém.

       Como o leitor deve ter percebido, estou ausente do meu ‘habitat’, longe de casa, alheio aos fatos cotidianos. Mas, mesmo sem novidades no blog, os leitores continuam acessando… Por isso eu também resolvi dar-lhes um presente, que na verdade eu vinha guardando a sete chaves para o meu ‘primeiro livro’… Uma das melhores historias da serie “Meninos que vi crescer”; ‘O Misterio do Coisa Ruim da Borda’, exaustivamente investigada e escrita no final de 2009 e inicio de 2010, com fotografias do ‘palco’ do Chiquinho da Borda tiradas na semana passada.

      Boa leitura.

O mistério do Coisa Ruim da Borda

O Morro dos Cães uivantes

E os anjos e demônios nossos de cada dia

       Parei meu carro na praça ao lado da jovem Basílica de Nossa Senhora do Carmo – jovem no titulo de Basílica a que foi elevada em 2005, pois a majestosa construção tem varias décadas. Foi concluída em 1954 – as duas e meia da tarde quente de sábado e desci. Entrei na primeira loja que vi aberta. Completamente vazia. Um rapaz e uma moça estavam de frente um para o outro acertando contas, com papeis, dinheiro e anotações sobre o balcão. Cumprimentei-os e antes que eu dissesse mais alguma palavra, do nada surgiu uma vendedora, abriu um sorriso ligeiramente forçado e perguntou delicada; “Posso ajudar”? Com um leve pigarro, esbocei também um sorriso de boca fechada, esperei propositalmente o ponteiro do relógio caminhar alguns segundos e respondi perguntando; “ O que vocês me contam sobre o ‘Coisa Ruim da Borda’”? Uma bomba teria causado menos impacto. Os três olharam ao mesmo tempo para mim, olharam um para o outro, olharam de novo para mim cada um tentando formular uma resposta ou uma pergunta. Eu já havia chamado a atenção necessária, desisti da maldade e acrescentei; “Desculpe… eu sou colunista policial em Pouso Alegre e estou aqui investigando a historia do tal Coisa Ruim da Borda, para publicar em minha coluna e no meu blog”. Soltando a respiração, cada um dos três tentou falar ao mesmo tempo, para dizer que nada sabiam a respeito. Uma das jovens tinha ‘ouvido falar há muito tempo’. A outra disse que seu ‘pai contava uma historia dessas’ mas ela não se interessara ou não se lembrava. O rapaz já refeito do susto disse que ‘talvez o padre ou o sacristão ali do lado soubesse alguma coisa’ e recomeçou a contagem perdida das cédulas sobre o balcão. Eu estava começando desvendar o mistério do Coisa Ruim ou Capeta da Borda.

Ao ver que as portas da Basílica estavam fechadas segui pela mesma calçada da loja em direção à Casa Paroquial. Na esquina havia um senhor septuagenário sentado no portal térreo de um sobradinho aproveitando a sombra da Basílica e eu não fiz cerimônia; pedi licença, sentei-me ao seu lado e puxei prosa. Mas poupei-lhe o susto. Antes de entrar no assunto que me interessava eu disse quem eu era e o que queria. O simpático e desembaraçado velhinho contou-me tudo que sabia – o que não era muito – realidade e folclore. Foi ali, vendo o tempo mudar e uma cortina branca despencando sobre o Distrito do Sertãozinho, se aproximando da cidade, que eu soube que o Coisa Ruim da Borda nunca passou da “Ponte de Pedra” e que se voltasse para a fazenda de onde foi expulso seria chamado de “Coisa Ruim de Tocos do Mogi”. Depois do solícito velhinho, cheguei ao muro da Casa Paroquial, mas o sacristão, zelador, camareiro ou mordomo dos padres não se deu o trabalho de falar pessoalmente comigo. Usou o frio interfone para informar que não havia padres em casa, mas que talvez eu conseguisse receber a benção de um deles no Centro Pastoral ou na igreja, na missa da cinco.

Cheguei com três beatas bem maduras ao Centro Pastoral. Uma delas até quis falar alguma coisa sobre o tal capeta, mas quando a outra mais acanhada e desconfiada descobriu que algumas pessoas já estavam reunidas nos fundos do Centro, elas me deixaram falando sozinho. No ponto de táxi, agora sob os primeiros pingos grossos de uma chuva que se espalhou e não banhou a cidade, devolvendo o sol forte a todo o município em poucos minutos, enriqueci bastante o dossiê do Coisa Ruim e sua saga e levantei nomes de pessoas que poderiam me dar muitos capítulos de sua historia. Com menos de duas horas de investigação na cidade do grande desportista Rogerinho Medeiros, eu já poderia desvendar e escrever quase todo o mistério do Coisa Ruim. Mas, não teria graça nenhuma se não conhecesse o palco de sua exibição e não sentisse seu bafo quente em minha nuca. Por isso só deixei a cidade no apagar das luzes do astro rei, depois de visitar o sombrio casarão do alto da colina, na estrada que vai para Bom Repouso, onde precisei segurar com força minha cruzinha dourada no peito e quase cair numa vala da estrada em obras, para desviar de um fusca velho que se jogou de porta aberta sobre mim numa descida.

Bem, antes de prosseguir com esta historia cheia de controversas, tabus, superlativos, perturbação do sossego, folclore e muito medo, para melhor entendimento do leitor e evitar a incansável repetição do termo Coisa Ruim da Borda – que pode acabar assustando alguma criança – batizemos personagens e locais desta historia arrepiante e até aqui mal contada. O palco das exibições do chifrudo, tinhoso, bode velho, saci ou simplesmente Espírito Brincalhão chamaremos de ‘Colina ou Morro dos Cães Uivantes’ – Não confundir com o clássico “O Morro dos Ventos Uivantes de Emily Bronté – O fazendeiro que fez o pacto com o espírito perturbado será chamado de “Portuga”, homenageando sua origem além-mar, o pá. A jovem noiva prometida chamaremos apenas de “Donzela”. O irmão dela, único remanescente vivo da família, testemunha ocular e auditiva da macabra historia chamaremos pela inicial de seu nome,  “R.”. O “dito cujo” já tem nome. Muito além das cercanias da Borda as pessoas que ouviram, mesmo que por alto sua historia, já sabiam que ele se chamava “Chiquinho”. Ele próprio se apresentou ao seu anfitrião com este epíteto carinhoso quando veio buscar sua donzela prometida, em 1953.

Bom, agora que nos tornamos mais íntimos, vamos falar francamente; “…Que atire a primeira pedra….” quem nunca viu o capeta!!! Ora, ora, ora, todos já vimos e cada um de nós o pintamos de acordo com nossa conveniência. Eu já estive cara a cara ou ‘costas à cara’ – Sua principal característica é a traição – com ele inúmeras vezes. Apesar de conhecer ‘an passant’ a historia do Coisa Ruim da Borda, só na capital do pijama esbarrei neles umas quatro vezes.

A primeira vez foi em 1970. Eu estava no forro da casa do Sr. Jairo, no bairro Santa Rita, para continuar lendo essa historia, acesse ‘www.meninosquevicrescer.com.br’!

Jose Lucio… o Rambo de Muzambinho

        Até pouco tempo atras a velha cidadezinha de nome indigena, com pouco mais de 23 mil habitantes, espalhada ao pe da serra de Poços  de Caldas, cercada de cafezais, milharais, pastagens e matas nativas, era conhecida pela tradição e excelencia de suas escolas tecnicas e superiores tais como o Instituto Federal de Educaçao, Ciencia e Tecnologia, Escola Agrotecnica Federal, Escola Superior de Educação Fisica. De uns tempo para cá um novo personagem surgiu reivindicando um capitulo especial na historia da cidade e das instituições, colocando Muzambinho na midia.

       Insatisfeito com uma internação ‘compulsoria’ para tratamento de alcoolismo, o ex-aluno do Curso Tecnico de Agroindustria, Jose Lucio Pereira Filho, 39 anos, prometeu se vingar da escola que o ‘ajudou’ a se tratar da doença cronica. A julgar pelo seu comportamento, se ele se curou do alcool, uma outra parte do cerebro permanece sequelada. Ele começou estudar na escola ha quinze anos e em 2000 surgiram os primeiros problemas com o alcoolismo. Desde então ele tem sido um tormento para a direçao da escola e seus alunos, com ameaças, furtos, danos e vandalismos. Mais recentemente o ex-aluno estava morando numa barraca de camping no meio de um cafezal onde passava os dias e à noite vagava pelo campus da escola, furtiva e sorrateiramente, danificando instalações e amedrontando os estudantes. Armado de faca de caça, vestido de predador como quem vai para as florestas do Camboja ou Vietnan, portando uma besta com flechas, Jose Lucio logo ganhou o apelido de “Rambo” – mais apropriado impossivel.

        Para devolver a segurança e a paz ao campus da conceituada escola e a seus estudantes, a policia armou um esquema especial de captura e foi à caça do Rambo brasileiro. Ao ser abordado no meio da mata nos arredores do Campus na semana passada Rambo disparou uma flecha contra seu captor. Errou o alvo e  antes que aprimorasse a pontaria, o policial atirou em suas pernas. Que azar do Rambo!!! A bala atingiu tendoes e vasos do joelho… ele corre risco de perder a mobilidade da perna atingida.

        Rambo está fora de combate, internado no hospital com dois policiais do lado de fora da porta velando sua recuperação, mas sua saga ainda não acabou. Como acontece toda vez que uma azeitona sai quente do cano de um trabuco, independente da circunstancia, o policial que o baleou está respondendo a processo criminal.

        Quando se recuperar do balaço no joelho, Jose Lucio Rambo será submetido a exame de sanidade mental, para se avaliar até que ponto ele poderá responder pelos seus atos delituosos. Antes que o estimado leitor pergunte;

– Mas e se ele for louco, ele não será preso???

         Bem, quem incorpora e age exatamente como um personagem doentio de ficção e faz da sua ex-escola seu palco e set de filmagem, não está no seu juizo perfeito. O Rambo de Muzambinho deverá ser internado em clinica de tratamento psiquiátrico – manicomio judicial ou hospicio – pelo tempo que durar sua demencia.

      Quem estava pensando em pedir autógrafo ao ‘Stalonne’ de Muzambinho terá que esperar um pouco…

Aconteceu o 36º homicídio em Passos

       Há dias venho pensando em abordar o assunto aqui no blog, mas estava evitando tocar na ferida para evitar o “foi só falar, aconteceu” ou “falou cedo demais” ou ainda: ” Foi só falar no capeta… ele apareceu!!!”

      Na verdade eu esperava que a ‘aragem’ na chuva de assassinatos na cidade de Selton Melo, “o homem invisivel”,  durasse mais tempo, que completasse ao menos 40 dias… não deu. Mas de qualquer forma, foi um recorde no ano. Desde janeiro, quase toda semana a imprensa anunciava um novo assassinato ou tentativa. Desta vez a trégua foi mais longa…  Exatas cinco semanas, 35 dias sem morte ‘matada’ em Passos.

      O ultimo passense a bater às portas de São Pedro fora Tiago Rodrigo, na quinta feira 13 de outubro. A bandeira branca foi jogada por terra na madrugada desta sexta. Curiosamente o novo hospede de São Pedro é um dos mais velhos dentre os passenses mortos a tiros na cidade em 2011. Adão dos Reis tinha 41 anos, já fora processado por homicídio, tentativa de homicídio e roubo. Como a quase totalidade dos mortos à bala este ano, também tinha envolvimento com o submundo das drogas. Adão recebeu a saraivada de balas, no meio da madrugada, no bairro Novo Horizonte, o velho Aterrado de Passos.

      Foi 0 36º homicídio na cidade no que se finda.  No mês passado, antes do assassinato de Tiago na quinta, Edson Rodrigues havia sido morto na quarta e Weverton Fernandes no sábado, ou seja, três crimes numa só semana!!! Será que outros passenses ‘fichas sujas’ serão despachados à bala em Passos ainda esta semana???

Cenas macabras em Toledo!!! Matou a mulher a pauladas e levou o corpo no carrinho de mão para jogar no mato

         Nem mesmo Alfred Hitchcock, o mestre do suspense, faria melhor.

         Noite de lua cheia. Alta madrugada na cidadezinha de Toledo, perdida nas escarpas da serra da Mantiqueira. O vento batia insistentemente na janela e trazia com ele o ranger dolente de um carrinho de mão lá no fim da rua. O som se torna cada vez mais agudo e mais próximo. Moradores abrem discretamente a fresta das janelas para espiar e presenciam o quadro macabro, de arrepiar !!! Aparecido Pedroso de Morais, conhecido pelo comportamento esquizofrênico que carrega desde a infância, vai passando lentamente na rua calçada de bloquetes, empurrando um carrinho de mão. Suas mãos estão sujas de sangue e no carrinho ele leva o corpo inerte de uma mulher toda ensanguentada. Oquadro macabro segue lentamente pela rua sem ser incomodado. Quando se afasta do ultimo poste de iluminação, o “Assassino do carrinho de Mão” despeja o corpo desconjuntado num matagal à beira da estrada e volta lentamente para casa como se tivesse cumprido uma missão.

       Aparecido Pedroso de Morais foi abordado pelos homens da lei já em sua casa e rolou com eles na poeira, mas recebeu pulseiras de prata. A mulher do carrinho de mão de Toledo era Regina Alves da Cunha, sem nenhum vinculo com o assassino. Ela era alcoólatra e morava sozinha na pequena cidade.

      Os motivos do macabro crime não tem explicação fora da psiquiatria. Segundo a psiquiatra e escritora Ana Beatriz Barbosa Silva e a médica de família Tatiana Matos, em suas crises o portador de esquizofrenia tem visões que somente a ele faz sentido. Se  ele achar que um poste é um padre  e ele for católico, vai ter dor de coluna de tanto fazer reverencia e beijar a mão do religioso. No entanto se achar que Madre Teresa de Calcutá é o capeta…. coitadinha da podre santa!!!

       Em seus delírios o esquizofrênico Aparecido deve ter visto a pobre alcoólatra Regina com chifres, com o tridente na mão, soltando fogo pelas ventas… e desceu-lhe o borralho até mata-la.