O Juiz e a Delegada…

       O imbróglio aconteceu por que a delegada de plantão não reconheceu a assinatura do Homem da Capa Preta no Alvará e se recusou a cumprir o ‘mandamus’!

“Quinze minutos depois um cidadão entrou no gabinete da delegada de plantão. Entrou sem bater. Tinha os poucos cabelos brancos em desalinho, usava camiseta verde, surrada, bermudão de moletom claro bastante jongolhó e chinelos tipo croc escuro – traje muito apropriado para sair na varanda no meio da noite para ver a lua cheia! – Parecia que havia acabado de sair da cama! Trazia na mão a mesma folha de papel que o advogado saíra levando minutos antes: era o mesmo ‘Alvará de Soltura’ manuscrito no restaurante nos primeiros minutos da madrugada – só estava, propositalmente, mais amassado!

O velho magistrado, do qual não se tem notícia de que algum dia tenha esboçado algum sorriso a alguém em seu gabinete ou em qualquer relação profissional, era puro siso. Sua carranca natural, agora acentuada pela insatisfação de ver sua ordem questionada obrigando-o a ir à delegacia àquela hora, inundou o gabinete da delegada.

O soldado que estava próximo à porta quase bateu continência! A escrivã, como a maioria dos policiais de baixo clero, que conhecia a figura, no mínimo soturna do Homem da Capa Preta, pareceu encolher atrás da tela do computador.

Até o ‘dimenor’, debochado e desafiador sentado diante da mesa da delegada, se encolheu e baixou os olhos. Sabia que a tempestade estava iminente…

Enfim, todos, se fossem tartarugas teriam se recolhidos em seus cascos. Melhor ainda se fossem tatu-bola… assim poderiam se enrolar no casco e rolar devagarinho para fora do gabinete.

Todos menos a delegada! Ela se manteve altiva e desafiadora!

Embora, de fato, não conhecesse o magistrado cuja assinatura aparecia no rodapé do manuscrito, sabia que estava diante dele!

Contrariando a lógica das lógicas, o juiz não foi à delegacia de polícia no meio da madrugada atestar pessoalmente a veracidade da própria assinatura e determinar a soltura do seu – até poucas horas antes – tutelado… Ele foi questionar a ousadia, digo, a ‘desobediência’ da delegada de plantão.

O diálogo travado nos minutos seguintes entre as duas autoridades, foi inenarrável. Não teve palavras de baixo calão, cacofônicas ou sequer pejorativas… Mas teve cobras, lagartos, lagartixas, aranhas e fel, muito fel! O diálogo não poderia ser mais inamistoso… e belicoso!

“Quem era aquela delegadinha de roça que não conhecia o grande e veterano magistrado e desobedecia a sua ordem? Quem era ela para questionar sua assinatura”?

“Quem era aquele senhor, quase em trajes íntimos, para invadir seu gabinete, durante um estafante e modorrento flagrante de inimputável, para impor sua… arrogância”?

Quem, dos corredores ouviu, curioso, ressabiado ou amedrontado, a conversa, garante ter ouvido ‘alto e bom som’:

– “Quem você pensa que é para invadir meu gabinete a essa hora”?

– “Você sabe com quem está falando?”

-“Posso prendê-la por desacato…” – teria ameaçado o magistrado.

-“… E quem vai cumprir a ordem”? – teria desafiado a delegada.

A troca de farpas & espinhos entre o Juiz e a delegada no gabinete a portas abertas retumbava nos corredores, livre, pesada e solta para quem quisesse ouvir… e se proteger das faíscas!

E a tensão aumentando… Prestes a pegar fogo!

O advogado – que ao ligar para o magistrado havia colocado uma boa dose de pimenta malagueta nos argumentos contra a delegada – mantinha certa distância do fogo cruzado, e já se arrependia do seu ato.

Sim… Nenhum dos dois abria mão de sua autoridade! Ou quem sabe dos seus egos! De suas teimosias…

O velho juiz, a mais alta autoridade judiciária na comarca, acostumado a ver delegados curvados à sua frente, além da sisudez de magistrado, levava na algibeira da bermuda jongolhó um pequeno trabuco.

A delegada tinha duas vantagens… Estava no seu habitat! E tinha uma .40 negra dentro do coldre pendurada na perna direita da calça operacional…

O duelo estava prestes a acontecer…

Quem sacaria primeiro?…

 

Para saber quem sacou primeiro, acesse:

[email protected]  E leia “O Juiz e a Delegada… Quem prende quem”?

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