Dedé, “O inocente” cai em Ouro Fino

     Ele é procurado pela policia de Itapira, foi preso com 50 pedras de crack prontas para venda, com 4 notas de 50 com o mesmo numero de serie e com uma motocicleta com chassi adulterado… Mas diz que é inocente, que a policia ‘armou pra ele”!

 

Dedé: É tudo 'armação' da policia...!

Dedé: É tudo ‘armação’ da policia…!

       As denuncias de amigos ocultos da lei eram tantas que a policia militar resolveu montar um posto móvel de policiamento no bairro Centenário em Ouro Fino para melhor observar a movimentação delituosa. No final da tarde desta segunda resolveram dar o bote no meliante até então conhecido pela alcunha de Dedé. Ao se aproximar do moço, na calçada defronte sua casa, ele tentou dispensar um pequeno embrulho enquanto botava a boca no trombone para chamar a atenção das vizinhança;

– Socorro!!! Eles estão me prendendo à toa… Vão ‘plantar’ drogas em minha casa…!

Depois de rolar com o traficante na poeira e usar a força física para colocar-lhe as pulseiras de prata, os homens da lei recolheram o embrulho no chão. Eram seis pedras beges fedorentas presas a uma fita adesiva. Arrolados os ‘galos’ que estavam na vizinhança, entraram no muquifo do moço e encontraram mais 42 pedras de crack nas mesmas condições da seis primeiras, dentro de um tênis velho. No outro tênis havia uma pedra maior, do tamanho de uma caixa de fósforo, ainda sem fracionar. Entre seus pertences os policiais encontraram também 4 notas de 50 com a mesma numeração de serie. No quintal havia três motos todas de procedência duvidosa. Uma delas, com placa de Aracaju-SE, tinha a numeração do chassi raspada. Para completar, André de Oliveira Ferreira, 24 anos, o “Dedé” tinha contra ele um mandado de prisão oriundo da vizinha cidade de Itapira-SP. Mesmo assim o jovem meliante não deu o braço a torcer;

– Eu sou inocente, doutor!

– Mas e o Mandado de Prisão?

– Isso aí é por causa de uma arma que os ‘zomi’ pegaram comigo lá em Itapira. Eu nem sabia que tinha mandado…!

– E a moto com chassi remarcado?

– Não sei não, eu fiz rolo com o Giorjanis, vendedor de queijo. Já peguei a moto assim…!

– E as notas falsas…?

– Esse dinheiro não é meu – Esta frase ele deve ter copiado do Maluf!

– E a droga encontrada em sua casa?

– … Essa droga não é minha!!!

– E como foi parar em sua casa?

– Os zomi ‘plantaram’ lá doutor…!

– Mas porque?

– Isso é ‘rixa antiga’, perseguição. Eu estava ficando com a namorada do policia!

– Só por isso?

– É que na semana passada eu consegui fugir da policia rodoviária. Ontem eu fugi de novo…!

O delegado de plantão quase chorou de pena, mas teve que fritar o pobrezinho injustiçado nos crimes de trafico de drogas, moeda falsa e receptação de produto de furto. Dedé, “o inocente”, seguiu no final da manhã desta terça para seu novo lar… O velho hotel “Menino da Porteira”!

Óh céus… Óh vida!

Ameaçou o tio… ficou sem a garrucha do avô

O primeiro domingo de “horário velho” na cidade do Menino da Porteira, protegida por São Francisco de Paula, começou com barulho na Rua Treze. O cidadão Luis Roberto Carvalho Rodrigues, 21 discutiu com o tio Jose Sobreiro por causa do volume do som da TV e para finalizar, ameaçou;

– Vou te matar!

Ameaças deste tipo são muito comuns no cotidiano. Policiais então ouvem essa balela o tempo todo. Não há muito com que se preocupar. Em todo caso, como seguro morreu de velho, não custa nada prevenir! Se Luis Paulo estava ameaçando matar, vai ver tinha mesmo uma arma…!

Garruchinha 38 : Herança do vovô!

Garruchinha 38 : Herança do vovô!

O tio resolveu comunicar o fato à policia.

Quando os homens da lei chegaram Luiz Paulo franqueou Continuar a ler

Apanha do marido desde a noite de núpcias…!

O casamento de Selma Aparecida Vaz Ferreira, 35 e Benedito dos Santos Barreto, 42 era um casamento à toda prova. Era…!

Eles estão casados há 16 anos, mas entre eles existe uma rival traiçoeira e malvada. È a sedutora e estonteante Severina do Popote. Sóbrio Benedito é um bom marido, abraçado com a kátia…ça, ele é um brucutu!

Ao pé da noite de ontem Selma foi visitar uma amiga vizinha, no bairro do Alto em Ouro Fino. Deixou Benedito cochilando no sofá da sala. Quando voltou ele já estava nos braços da rival… mamadiiiinho, mamadiiiinho.

– Mas marido, você bebeu de novo!!! – Questionou ela desacorçoada.

E ele respondeu… com socos, pontapés e injurias do tipo “vagabunda”, “maconheira”…

– Não sei por que ele me xinga. Eu jamais usei drogas e sou uma mulher correta e trabalhadeira… Ele me bate desde a noite de núpcias!!! – choramingou Selma pedindo providencias contra o marido.

Com ‘ajuda’ de Maria da Penha, a delegada de plantão enquadrou o brucutu no artigo 129 e arbitrou fiança de R$700 reais.

Hoje pela manhã Benedito Barreto voltou para Ouro Fino… Levando nas munhecas um par de pulseiras de prata…!

Renove sua carteira ‘fria’ por 300 reais…

      Durante blitz de rotina na MG 290 proximo a Ouro Fino, os patrulheiros abordaram o caminhão Mercedes Benz GQZ-7155 conduzido por Jose Roberto Treva, 45 anos, morador de Baependi… Com o mercedão e a carga não havia nada de rrado. O problema era com a CNH do piloto!        O documento apresentava todas as características de uma carteira… Falsa.

O computador de bordo dos patrulheiros informou que Jose Roberto era habilitado mas a licença está vencida desde fevereiro do ano passado. Indagado sobre o imbróglio ele confessou que renovou a carteira com o cidadão Cesar Aquino, na cidade de Caxambu, por R$ 300 reais. Segundo ele, Cesar trabalha com uma Van e faz viagens periódicas para a cidade Poá-SP, levando a clientela para comprar carteira de motorista…

Depois de assinbar o 304, o caminhoneiro conterraneo da beata Nhá Chica, ficou no meio do caminho… No velho Hotel Menino da Porteira!

 

 

Policia prende o homem da pistola de prata em Monte Sião

Amigos ocultos da lei levaram a policia militar à residência do cidadão Bruno Fonseca de Souza, 24 anos, no inicio da tarde deste sábado, na capital das malhas. Segundo informações Bruno mantinha em sua casa uma reluzente pistola de prata automática…

Bruno estava ausente mas sua mãe franqueou a entrada aos policiais… E eles encontraram a pistola reluzente! Mas era de plástico!!!

À luz da lei, não é crime possuir ou mesmo portar pistolas de plástico, pois elas são ineficientes para impingir ‘grave ameaça’ à alguém. No entanto, qualquer pessoa pode ser ‘assaltada’ por uma dessas. Ninguém, em sã consciência, na mira do assaltante, vai se arriscar a fazer o teste de eficiência…

Além do simulacro de pistola, os policiais encontraram entre os pertences de Bruno, considerável quantidade de drogas e centenas de cápsulas vazias, para embalagem e comercio de ‘farinha do capeta’.

O traficante estava belo e formoso no supermercado onde trabalha – honestamente – quando os policiais chegaram, fizeram cara feia e disseram a classe frase de gelar a espinha:

– “Teje preso”

Bruno Fonseca, o homem da pistola de plástico, assinou o 33 e mudou de endereço! Agora mora no velho Hotel Menino da Porteira, em Ouro Fino.

 

Aventuras e desventuras de Cirilo Bola Sete…

MENINOS QUE VI CRESCER

 

      Andando hoje pela manhã no charmoso calçadão do Leblon, Ipanena e Arpoador, lembrei – vejam só? – do Cirilo Bola Sete!!! Há dois anos, quando eu o entrevistei debaixo da conteira, defronte sua casa no velho Aterrado, ele contou que desfilou belo e faceiro por aqui…

O leitor que entrar no Aterrado, virar para ir ao Sesi e logo em seguida virar a esquerda, caminhar cerca de 150 metros em frente vai chegar a uma tripla encruzilhada. À da esquerda vai para o rancho da família do Marcilio Alves, a do centro leva à casa do desportista João Cavalo, a da direita leva a esquina fatídica, onde no dia 27 de novembro de 83 os irmãos Reanir de Lima mataram o detetive Marcos “Cabeçada” Alves da Silva com seu próprio revolver, após surpreende-lo de trás de uma cerca de taquara. Na encruzilhada da direita tem uma casa de blocos sem pintura, atrás de duas frondosas Conteiras ou Santa Bárbara. Uma cerca de alambrado mantêm fechada uma granja de patos, marrecos e galinhas mestiças. A casa antiga era mais aconchegante ou glamourosa. Tinha alpendre de frente para a encruzilhada, e durante toda sua existência teve duas cores: ora verde oliva, ora amarelo mostarda. A casa atual tem outra arquitetura, outra cor – blocos sem reboco – é cercada de alambrado, mas ocupa o mesmo espaço. Agora é preciso sentar-se no banco de concreto debaixo das conteiras do lado de fora do alambrado para observar o intenso movimento do trecho que se afunila na rua Cordeiro Olimpio. Foi ali que Cirilo nasceu e viveu quase metade de sua vida. A outra metade viveu nas cadeias e penitenciarias de Minas e de São Paulo ou nas ‘quebradas’, fugindo dos homens da lei.

Conheci o pai muito antes de conhecer o filho delinqüente. Luiz Pereira, o Bola Sete era um mulato claro de 1,68, ligeiramente obeso, pele lisa, rosto e quase todo o resto arredondado. Tinha prosa boa e sorriso fácil. Trabalhava de passador na alfaiataria do Keide na Dr. Lisboa, ao lado da joalheria do Piula, três pontos comerciais acima da sorveteria do Tião Bananeira. O apelido Bola Sete eu não sei de onde veio. Certamente se deve à predileção pela bola sete do bilhar que jogava muito bem no Bar Recreio. O fato é que o passador gorduchinho alegre e simpático, em 1976,77 já esboçava os primeiros sorrisos amargos. É que seu filhote Cirilo começava ensaiar os primeiros passos no crime, dando trombadas em garotos ou tomando na cara dura seus bonés ou objetos que eles levavam nas mãos. Bem mais tarde, já na década de 80, quando conheci o trombadinha, pude constatar que Bola Sete morria de vergonha toda vez que ficava sabendo de mais um delito cometido pelo filho. E já não eram mais trombadas. Aos dezessete anos Cirilo tinha quase o mesmo porte físico de hoje, porém muito mais ágil e forte. Furtos sorrateiros e roubos nas quebradas, atrás de uma faca tipo peixeira – naquele tempo não existia essa boiolagem de roubar com faca de cozinha, usava-se a famosa ‘lapiana’ numero nove tipo peixeira que impunha respeito – ou um revolverzinho 22 ou garruchinha velha de dois canos. Pistolas automáticas, Magnum 357 ou mesmo Taurus trezoitão só nas capitais paulista e carioca ou então se conseguisse arrombar a B.Pacheco e Cia.

Apesar de ter passado praticamente toda sua vida útil, de maneira inútil, por conta da justiça ou tentando fugir dela – só atrás das grades foram 19 anos – podemos dizer que Cirilo “se deu bem”. Sua algibeira nunca viu mais do que quatro ou cinco notas de 50, juntas, mas conseguiu sobreviver na prisão, pagar seu debito com a sociedade e hoje está limpo. Será…?

Tendo trabalhado fora de Pouso Alegre alguns anos e Cirilo pago cadeia em outras paragens, perdi de vista parte de suas façanhas e foi o próprio que as contou sentado no banco de concreto debaixo das Conteiras na encruzilhada da Cordeiro Olimpio, defronte sua casa no velho Aterrado. Mas voltemos aos anos 80, quando a nova safra de detetives chegou a Pouso Alegre. Adair, Pingüim, Barbosinha, Valim, Dorigatti, que ‘eram da terra’ e Romeuzinho, Luiz Neves, Munhoz, Paixão, Beijinho, Lobão, depois Pradinho, Tiãosinho, Batista, Faria, que fincaram raízes na terra do Mandu e outros que deixando marcas ou não foram embora. Não são apenas nomes, são policiais que destacaram Pouso Alegre no mapa do combate à criminalidade, desvendando crimes e prendendo meliantes destas e de outras plagas que aqui aportavam.

Até o final daquela década o “modus operandi” da policia civil era bem diferente. A policia conhecia todos os meliantes da cidade e sabia o que cada um andava aprontando. Meliante fichado na policia circulando nas madrugadas desertas…

Para continuar a ler essa historia, adquira o livro “Meninos que vi crescer”.

 

Preso por oferecer propina ao policial

O velho motorista Severino Joaquim dos Santos, 62 anos, foi preso ao pé da noite desta quarta em Ouro Fino, por oferecer propina a um patrulheiro rodoviário.

Ao abordar o caminhão 1113 na MG 290, os patrulheiros notaram que um dos faróis estava quebrado e os pneus do bruto estavam mais pelados do que bumbum de bebê recém nascido.

Antes que o patrulheiro emitisse as multas, o experiente caminhoneiro de Itapevi-SP, chamou o servidor num canto e fez a proposta indecorosa!

– Ajuda aí seu guarda… Esquece as multas. Eu te dou 50…

Não deu jogo. Severino Joaquim trocou a boleia do mercedão pelo taxi do contribuinte e foi sentar-se ao piano do delegado de plantão de Pouso Alegre. O artigo 333 do C.P. que trata de “Corrupção Ativa”, diz: “Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa”.

Hoje pela manhã, usando pulseiras de prata, Severino voltou para Ouro Fino… Para o “Hotel Menino da Porteira”…

As multas teriam ficado muito mais barato…!

Engatilhou a arma e pôs mulher e filhos p’ra correr…


O cidadão Celso Antonio Monticelli, 48 anos, morador do Sitio dos Pinheiros, zona rural de Ouro Fino, ordeiro & trabalhador, como todo cidadão, precisa receber seus créditos para quitar seus debitos.

Nesta segunda ele pediu ao filho de 19 anos para cobrar uma divida. Ao pé da noite, ao saber que o dim-dim não entrara no caixa, ele entrou em desespero. Depois de esbravejar, pegou um revolver calibre 38, saiu para o quintal e começou puxar o gatilho.

Que sorte! Depois de vários tectectectec, nenhuma azeitona saiu quente pelo cano do trabuco. Com isso a mulher A.O.P. 39, o filho D.P. 19 e as crianças conseguiram sair correndo de perto dele e se refugiar no mato.

Quando os homens da lei chegaram, chamados por vizinhos, Celso Antonio também tentou se embrenhar no mato, mas enroscou-se nas malhas da lei e caiu com o revolver e tudo. Rolou na poeira com os policiais, mas não teve jeito. Recebeu as pulseiras de prata e desceu no taxi do contribuinte para a delegacia Regional de Pouso Alegre, levando também uma bela cartucheira 32 que estava mocosada atrás do sofá.

A mulher e o filho maior perdoaram. Não quiseram representar contra o marido e pai por ameaças e ele seria solto. No entanto, a Lei 10.826 não perdoou. Celso Antonio, o homem que puxa o gatilho e as balas não saem, assinou o 15 e o 16 da famigerada lei. Já de madrugada ele voltou para casa, desarmado e calmo… Depois de desembolsar R$ 3 mil reais de fiança…

 

Ameaçou cortar o pescoço da amasia de 15 anos no C. Jardim

Eliziel Viana de Souza tinha 21 anos quando juntou os cobertores com J.F.de S. Ela já havia passado dos 40. Viveram entre tapas e beijos durante 15 anos… sem descontar o tempo que ele viveu por conta do contribuinte no velho hotel de Franco da Rocha-SP.

Aproveitando que o moço estava atrás das grades, J.F. – que não é abreviatura do adocicado guaraná produzido em Ouro Fino –  mudou-se para Pouso Alegre e foi se esconder do valentão no Cidade Jardim.

Mas o danado achou seu esconderijo. Aproveitando a “Saidinha da Páscoa” do presídio de Franco da Rocha, Eliziel veio visitar o saco de pancadas, quero dizer, a cara-metade e reassumiu seu famigerado ‘habituê’ com a velha companheira.

Na madrugada de segunda ele chegou em casa, segundo J.F., pisando alto, com o tremendo bafo de jibóia, querendo comida quente & chamego e desceu-lhe o borralho. Depois de elogiar a cara metade com os adjetivos de p… b… e v… o brucutu ameaçou cortar seu pescoço com uma lapiana numero nove e foi pra rua. Voltou para o boteco. De manhazinha enroscou-se nas malhas da lei.

Ao sentar-se ao piano da delegada Lucila Vasconcelos, incansável defensora das mulheres indefesas e assinar o 147 com tempero de Maria da Penha, o valentão voltou para as grades… Desta vez do Hotel do Juquinha, pois não tinha R$1,2 mil reais para pagar a fiança.

Vai papudo!!!

 

Cachorros & Cachorradas = O Lobo & o Carneiro… e os carrapatos!

Conheci o Carneiro ainda menino, de calças curtas e pés no chão, no final da rua Mons. Dutra, no bairro Primavera. Do meio de uma renka de irmãos e irmãs, o garotinho branquelinho, de sorriso fácil, deve ter ganho seu apelido por causa dos cabelos loiros cacheados, parecendo o fornecedor de lã… Apesar de nos conhecermos da rua e sermos ‘malungos’, nunca estreitamos relacionamento. Nos aproximamos em 1990, quando eu dirigia a LEPA e ele foi levado pelo Jose Maria Simões, para ser o ‘barateiro’ do ‘carteado’ na sede da liga.

Foi ali que conheci também o Lobo, companheiro inseparável do Carneiro…

Por mais que Carneiro desprezasse e tentasse se ver livre do fiel amigo, ele sempre seguia seus passos e na maioria das vezes, apenas o seu cheiro… E sempre estava à seu lado. Era baixo, forte, troncudo, pêlos grossos e compridos quase se arrastando pelo chão. Pêlos desarrumados e sujos… Acho que nunca viu um chuveiro ou mesmo uma mangueira no quintal. Banho!!! Só quando chovia.

Carneiro almoçava cedo em casa no Santo Antonio e descia a pé até os barzinhos em volta do Mercado Municipal. Podia-se contar nos dedos – da mão esquerda – os dias da vida de Carneiro em que ele não virou um copo de Suco de Gerereba… E o fiel Lobo descia a Getulio Vargas ou Otavio Meyer ao seu lado. Às vezes na frente, às vezes arfante, atrás… O dia que Carneiro estava atrasado para o trabalho e descia de onibus, Lobo vinha correndo no rastro. Minutos depois de sua chegada na Liga, Lobo chegava com a língua de fora. As vezes chegava antes do Carneiro. E se deitava como de habito na varanda da Liga na Mons. Jose Paulino.

Enquanto Carneiro cuidava do carteado, do meio dia até a madrugada, Lobo ficava na varanda do prédio. Dormia de roncar o dia inteiro… De noite fingia dormir, mas estava sempre atento. Se chegava um conhecido na liga, ele apenas abria os olhos sem mexer com a cabeça. Se fosse estranho, imediatamente Lobo se levantava, se empertigava e latia forte para avisar o dono e até impedir a passagem…

Certa tarde de muito calor, notei pequenas pintas marrons na parede bege da Liga. Coisa à toa, não dei importância. No dia seguinte pela manhã as pintas não estavam mais lá. Também não dei importância. Outro dia, por acaso voltei a perceber as mesmas pintas na parede. Passei a observar e vi que as pintas redondas e achatadas, do tamanho de uma tampa de canetas bic, outras maiores, estavam… se mexendo!!! Observei melhor… Eram carrapatos!!! Três, cinco, oito…? Não…!!! Eram 18, 20, 25 carrapatos da cor de chocolate, de variados tamanhos! Eles subiam lentamente pela parede bege propiciando uma bela combinação de tons de cores, até sumir próximo ao telhado… Aquela debandada de parasitas estava abandonando o Lobo. Nem os carrapatos suportaram a falta de higiene do velho, peludo e dócil Lobo!!!

Menos mal que estavam abandonando o corpo peludo do Lobo!  O problema era… Para onde iriam? Dentro do escritório, das salas de jogos, da cozinha nenhum carrapato foi visto. Mas, havia a questão do nojo, da falta de higiene! Era preciso dar um fim nos carrapatos… ou no seu hospedeiro!

Carneiro, era o típico bom carneiro, nunca berrava. Não sei por inteligência ou por natureza, era de falar pouco e escutar muito. Ele não era meu subordinado, mas nosso relacionamento era respeitoso e cordial. No entanto, sempre pareceu que ele tinha medo de mim, embora não tivesse motivo.

Quando pedi a ele para não trazer mais o Lobo – e seus carrapatos – para o trabalho ele não objetou. Mas a separação era praticamente impossível. Nos primeiros dias Lobo atrasou um pouco mais para chegar à Liga… precisou de alguns minutos para roer as cordas que o prendiam e as tabuas do portão, antes de descer calmamente a Otavio Meyer, parar no bar no da Maria, na esquina do mercado e seguir em frente, o cheiro do dono.

No outro dia Carneiro amarrou Lobo a uma corrente. Que problema!!! Ninguém dormiu na vizinhança enquanto Carneiro não chegou. Lobo latiu, chorou e uivou até ouvir a voz do dono… de madrugada!

A única maneira de livrar-se do Lobo era doá-lo a alguém. Mas ninguém queria um cachorro de meia idade, com porte de Beagle e pelagem de Pequinês, encardido, mesmo que não soubessem que ele era o maior taxista de carrapato da cidade! O jeito então era abandoná-lo longe de casa.

Na madrugada seguinte, depois de encerrar a sessão de carteado, Carneiro colocou Lobo no porta malas do carro de um amigo e ele o soltou na entrada do Pantâno. Naquela mesma madrugada, antes do galo cantar, Carneiro precisou se levantar ainda grogue, exalando seu característico cheiro de bagaço de cana, para abrir o portão… O amigo Lobo estava lá arranhando o portão, tentando entrar para proteger a casa do dono!

Carneiro ainda fez mais duas ou três tentativas de despachar Lobo, mas ele sempre voltava para casa… E com ele os carrapatos!  Até que;

– Carneiro, embale o Lobo para viagem. Amanha é dia de ir à Silvianopolis… Vou levar o Lobo e jogá-lo no Rio Cervo. Quero ver ele trazer os carrapatos para cá de novo…!!!

Se pensam que Carneiro se amofinou! Se enganaram carrapatamente!

A uma da tarde do dia seguinte Carneiro estava, como de habito, sorridente na porta da liga me esperando. Dentro do saco de estopa marron, imóvel, alheio ao seu  destino, podia-se ouvir a respiração ofegante de Lobo…

Parei o Escort prata sobre a ponte do Rio Cervo, na divisa dos municípios de Pouso Alegre com Espírito Santo do Dourado. Abri o porta-malas, desatei lentamente a cordinha que amarrava o saco de estopa… Lobo havia se ajeitado na traseira do carro. Estava sentado dentro do saco. A língua de fora… Não disse uma palavra, não fez um movimento. Apenas fitou-me seu par de olhos pidões! Afastei-me um metro da traseira do carro, apoiei as mãos no parapeito da ponte da estrada deserta e olhei para baixo. As águas sujas do pequenino Rio Cervo desciam rápidas lá embaixo, se desviando de pedras e de galhos podres de arvores, seguindo seu inexorável destino em direção ao mar… Nenhum animal sobreviveria àquelas pedras fincadas em pouco mais do que uma lamina de água suja. Esperei um minuto, que pareceu uma eternidade, ali encostado na ponte, torcendo para meu amigo Lobo pular do porta-malas, sair correndo até se enfurnar numa chácara qualquer da beira da estrada… Mas ele permaneceu imóvel dentro do saco. Seus olhos tristes pareciam querer dizer;

– Estou em suas mãos… Faça o que mandar seu coração!

Não esperei que ele repetisse… Mudo como ele, fechei a tampa do carro, entrei, dei partida e fui embora.

Quando o cabo Pinheiro passou ao longo do corredor da cadeia de Silvianopolis no inicio da tarde daquela terça feira, notou que as três celas sempre vazias, desta vez tinha um preso e perguntou;

– Qual o B.O. deste pobre diabo?

– Trafico ilícito de carrapatos…! Respondi

– Quanto tempo ele vai ficar aí?

– Até que alguém pague sua fiança e o leve para uma casa de tratamento e recuperação! Quer tentar?

No dia seguinte, quando Carneiro perguntou do Lobo, respondi curto, grosso e sério;

– Se a correnteza tiver andado bem, seu cãozinho carrapatento já deve estar chegando ao Rio Sapucaí, lá embaixo, nos Vitorinos…

Na quinta feira quando cheguei para trabalhar na Delegacia de Silvianópolis o baixinho cabo Pinheiro, de arrastado sotaque carioca, já estava no Destacamento, contiguo à delegacia e cadeia. Ao seu lado havia um cachorro cochilando. Era baixote, marrudo, imensos pêlos lisos escovados e tosados, cor de mel… Quando ele abriu os olhos preguiçosos para olhar-me de esgueio e mexeu levemente a ponta do longo rabo, lembrei do Lobo. Antes que pergunta chegasse à boca e ganhasse som a conclusão chegou ao cérebro… Vendo minha mudez sem olhar para mim, o cabo ‘carioca’ emendou com uma ponta de ironia e sarcasmo…

– Ele só precisava de banho, tosa e escova… Eu mesmo fiz!

A viagem de volta do Lobo foi bem mais confortável. Ele veio cochilando de rosquinha no tapete, na frente do banco do passageiro. Quando passamos sobre a ponte do Rio Cervo dei uma olhada discreta pela janela e outra para ele… Acho que vi seus olhos se abrir e fechar lentamente! Não sei se ele quis dizer:

– Viu o que você quase fez?

Ou se:

– E aí, valeu a pena?

Ou quem sabe…

– Obrigado por ter me dado uma segunda chance…

Difícil foi agüentar a boca aberta do carneiro nos dias seguintes. Ele, que já era risonho, não parava de sorrir!!! Embasbacou-se no momento em que viu Lobo, lindo, louro belo e faceiro cor de mel – e sem carrapatos – entrando na varanda da Liga.

Meses depois eu deixei a liga e perdi o contato com os dois amigos. Alguns anos mais tarde eu soube que a singela amizade havia chegado ao fim. Carneiro, na casa dos 30 anos, morreu precocemente, como era esperado. Seu fígado não suportou mais o banho diário de álcool. Cirrose hepática!!!

Lobo, que resistira ao ataque diário de dezenas de carrapatos e escapara do vôo cego no Rio Cervo, não resistiu ao inexorável passar dos anos. Já era bem maduro na época destes fatos. Pelo seu porte físico, deve ter vivido mais uns cinco anos, até os treze ou catorze anos…

Será que Lobo & Carneiro se encontraram no outro mundo?