Só nesta terça-feira, cinco novos hospedes fizeram ‘check-in’ no majestoso hotel!
No início da década de 1980, Pouso Alegre tinha pouco mais de 50 mil habitantes. Três delegados, três peritos criminais, três escrivães e doze detetives cuidavam da segurança pública na cidade – além de um pelotão da polícia militar, naturalmente!
O velho hotel da Silvestre Ferraz hospedava em média 30 presos.
Todos os meliantes da cidade eram conhecidos.
O cumprimento de mandados de prisão, naquela época, era feito em pequenos ‘mutirões’! Quando o Inspetor via pequenos grupos de detetives jogando conversa fora pelos corredores, na cozinha ou na porta da delegacia, ele pegava a velha ‘pasta az’, retirava dali um pacote de mandados de prisão, nos entregava e dava a ordem curta e grossa:
– Vão pra rua. Vão trabalhar… Não voltem sem pelo menos meia dúzia de presos.
Formávamos então as “duplas de dois” e saíamos pela cidade com os ‘mandamus’ na mão à caça de meliantes. Como não havia viatura para todos, a maioria das duplas ia à pé. E não raro cada dupla voltava para a delegacia ombreada com um meliante. Na maioria das vezes sem as pulseiras de prata, pois também não havia algemas para todos os detetives. Os presos mais ‘lisos’ eram conduzidos pelas ruas até a delegacia numa ‘chave de braço’!
As velhas “pastas az” foram incineradas no Lixão do Altidouro há muitos anos. Eu mesmo ateei fogo em dezenas delas. Elas foram substituídas por computadores. Atualmente um ‘Mandado de Prisão’ está a um clic do policial nas repartições e até no ‘painel multimídia’ das viaturas policiais. Pode estar até na telinha do celular de cada policial.
A evolução dos registros e arquivos facilitou a vida dos policiais. Não precisam mais sair à pé, em dupla pela cidade, sem algemas, caçando bandidos. A evolução, no entanto, não diminuiu a criminalidade.
O Velho Hotel da Silvestre Ferraz, inaugurado em 1932, ficou velho de verdade. Cheio de ‘puxadinhos’ para abrigar três vezes mais a sua população, foi aposentado em 2009 soltando preso pelo padrão!
O novo presidio – batizado por este colunista de “Hotel do Juquinha” – inaugurado em novembro de 2009 com 390 ‘jegas’, hoje abriga 850 hospedes. E, a julgar pelo andar da carruagem, até 2020 os presos terão que fazer rodizio para dormir, pois se houver uma “jega” para cada preso, não haverá espaço para estendê-las todas de uma vez.
O Inspetor de Polícia não faz mais sorteio de mandados de prisão entre seus detetives, por dois motivos: primeiro que não tem detetives! Embora a população da cidade tenha triplicado e a população prisional tenha “vintiplicado” – pulou de 40 para 850 – o efetivo da PC para investigação não chega a dez detetives. Segundo por que, se prender o bandido, não tem onde colocá-lo! Seria necessário mais um Hotel do Juquinha inteirinho para acolher tantos hospedes!
Por conta dessa conjuntura, o cumprimento de mandados de prisão atualmente se dá, na maioria das vezes, casualmente. Alguns são cumpridos nas blitz de transito; outros em abordagens de rotina; alguns quando procuram a UAI para renovar documentos. Há casos até de pessoas que chamam a polícia para registrar BO como vitima, e acabam recebendo as pulseiras de prata porque estão cadastradas no BNMP. Outro dia os pais de uma adolescente, vítima de roubo, foram à Delegacia de Monte Sião representa-la, e receberam aquela velha ordem de ‘gelar’ a espinha’: “Teje preso”. Ao qualificar os pais da vítima, o nome deles apareceu na lista de procurados!
Nesta terça-feira,14, a polícia cumpriu cinco mandados de prisão em Pouso Alegre. Cinco casos diferentes, que ilustram o ‘pequeno’ introito acima!
A primeira prisão do dia aconteceu ao pé da manhã, na UAI. E foi de mão beijada! Ao consultar os dados do cidadão Marcos dos Santos Oliveira, 44, morador do Jardim América, para confecção de segunda via de documentos, lá estava seu nome no ‘sistema’. E Marcos saiu do UAI direto para a DP. Uai, sô!
John Rodrigues Silva, 20, recebeu as pulseiras de prata na casa de sua mãe, na velha Rua Nova na Baixada do Mandú. Neste caso os homens da lei estavam à sua procura.
Marcos Antônio da Silva, 43, foi preso na BR 459, no bairro Córrego Raso, entre Santa Rita do Sapucaí e Pouso Alegre. A prisão foi casual. Durante abordagem de trânsito, os patrulheiros encontraram seu nome na tela do computador de bordo da viatura policial.
Alexandre Henrique Cezário Fonseca, 23, o “Xandinho”, foi preso na prisão. Isso mesmo. Ela já estava preso! A prisão de ontem foi uma mera formalidade. É que ele recebeu mais uma condenação, por um dos seus mais de 30 BOs, entre eles tráfico de drogas na Comarca de Ipuiuna. Xandinho ‘deu o ciente’ e onde estava ficou: atrás das grades!
Fabio Henrique Coutinho, o “Binha”, 27, foi o último cliente da justiça a sentir o frio das pulseiras de prata nesta terça-feira. Ele estava ‘diboinha’ quando os homens da lei passaram pela Oscar Dantas no final da noite e resolveram checar sua capivara. Figurinha fácil, ele estava na lista negra, por fugas. A ultima aconteceu no dia 13 de maio do corrente. Naquela noite, Binha e outros três guampudos cavaram um tatu na parede da cela, saíram no pátio, pularam o alambrado que circunda o presidio e, num carro que os esperava numa quebrada logo abaixo, dobraram a serra do cajuru.
Com as cinco prisões desta terça-feira, vai faltar ‘jegas’ para todos no Hotel do Juquinha!