Jó…

 É uma dessas pessoas que deixaram rastros na minha terra!

 

Jó… quando ainda rachava lenha para ganhar um prato de comida!

Ninguém sabe ao certo quando elas pararam no bairro pela primeira vez! Quando os moradores perceberam, elas estavam acampadas sob uma caneleira na beira da estrada. Dormiam sob arvores e sobre trapos! Quando se deslocavam carregavam as tralhas em sacos nas costas. Pediam o almoço aqui, o jantar ali e tornavam a arranchar sob frondosas arvores nativas. Quando chovia, dormiam na beira de ranchos ao longo da estrada. Ficavam uns dias por ali nessa rotina até que desapareciam. Cavaleiros ou carreiros de boi que levavam mercadorias ou gado de Congonhal para Pouso Alegre diziam tê-las visto caminhando ou arranchadas ao longo do caminho. Alguns meses depois voltavam a arranchar no bairro dos Coutinhos. Vinham sempre pelo bairro dos Macacos, dobravam o morro das onças e chegavam ao centro do bairro. Inicialmente eram duas: Bastiana ‘velha’ e a filha Bastiana ‘nova’. Depois vieram os filhos da Bastiana nova: Dito e Jó.

Jó cresceu andando pelas estradas quase desertas da região, andando lentamente atrás da mãe e da avó. Andava lentamente porque elas, carregando as tralhas ajoujadas nos ombros, não conseguiam andar rapidamente. E não havia pressa. Não tinha uma tarefa para tirar. Não tinha um destino aonde chegar. A única coisa que os esperava no final do caminho era uma sombra de arvore para descansar. E a sombra não ia sair do lugar ou reclamar se eles atrasassem.

A hospitalidade peculiar dos descendentes de João Coutinho Portugal, pôs fim à vida nômade da família da Bastiana. Inicialmente faziam paradas mais longas ali no bairro do que em qualquer outro trecho da região. No seio daquele povo alegre, compassivo e ordeiro – e religioso – era fácil conseguir comida. Depois de anos andando pelas estradas com as tralhas em sacos ajoujados nos ombros, no final dos anos 50, finalmente fixaram residência ali, onde construíram uma choça na beira da estrada. Era uma choça mesmo. Feita de bambus inteiros e coberta com sapé. Apenas o lado interno das paredes era preenchido com barro, para evitar a entrada do vento. Juntando pedras e barro construíram também um fogãozinho no chão na entrada da morada. A utilidade maior do fogão era esquentar água e… esquentar os pés, antes de dormir! A choça foi construída embaixo de uma moita de bambu, entre a BR 459 que seria asfaltada e a estrada Velha que levava quem quisesse para Congonhal. A água corrente ficava há cerca de cem metros abaixo no Ribeirão Santo Antônio que corta em toda extensão o bairro.

Jó era saudável e tinha braços fortes, mas tudo que aprendeu na vida durante suas andanças, era rachar lenha, carpir horta, limpar curral, atividades que não exigiam nenhuma habilidade construtiva, ferramenta especial ou apego à terra. Jamais plantou um pé de milho, jamais tirou uma tarefa de quinze braças, jamais fincou mourões e esticou uma cerca de arame farpado, jamais tangeu ou ordenhou uma vaca Jersey cor de caramelo. Aprendera desde pequeno, com a avó e a mãe, que para conseguir um prato de comida bastava rachar um monte de lenha na casa do ‘patrão’. A cachaça que ele bebia de vez em quando na vendinha do Vilino, essa custava menos. Era só pedir que alguém pagava. – Nas vendas de beira de estrada na roça, nunca faltou alguém que pagasse uma pinga para quem pedisse!

– “Cê pode dá um gole de cachaça pra mim”? – dizia Jó se aproximando do balcão de madeira da vendinha do Vilino.

Assim Jó e as Bastianas viveram no – quase – paraíso chamado bairro dos Coutinhos. Até que tempo e natureza cobraram seu preço pela vida singela e quase primitiva que levavam. O primeiro a desfalcar a família foi o Dito, o mais soturno e calado. Não muito tempo depois Bastiana velha sumiu da porta da choça, da beira do fogãozinho a lenha…

Alguns anos depois foi a vez da Bastiana nova se despedir. Morreu vítima da mesma enfermidade do filho Dito: pneumonia. Trazido para o velório na casa do padrinho, sem saber que era o da própria mãe, quando parou na beira do caixão no centro da sala, Jó tirou o boné da cabeça como era costume entre os cristãos, contemplou o rosto sereno, inerte… e limpo! da mãe, e se limitou a dizer, sem alterar a voz lenta e rasgada:

– Tá boniiiiita!

Da sala se dirigiu para a cozinha, sentou-se num banquinho na taipa do fogão como se fosse sua casa e falou:

– Tem café?

Tão solitário quanto o tamanho do seu nome, ficou Jó. E foi morar numa casinha construída pelo padrinho na beira da estrada no centro do bairro. A casinha de um cômodo só, media três por quatro metros. A mobília se resumia a uma cama e uma mesinha de madeira rústica. Um bambu sustentado por dois pedaços de arame que desciam do teto servia de guarda-roupa. Havia também, dentro da casinha, um pequeno fogão à lenha, pois Jó, como todo homem da roça, cultivava o hábito de esquentar os pés enquanto fumava seu cachimbo antes de dormir. A historia não acaba aqui.

Jó… seus últimos dias no asilo…

Jó nada produziu! Não plantou arvores; não teve filhos; não escreveu livros; mas ainda vive … na memória de alguns. O ‘bugre’ Jó é uma destas pessoas que deixaram rastros, muitos rastros, na minha terra!

 

Policia prende… e paga pra soltar!

     Os policiais estavam cumprindo a ‘lei do desarmamento’…

Passava pouco de três da tarde quando a viatura dos Homens da Lei embicou na entrada do sítio do Nicolau, ao pé da Grota do Monjolo no município de Toledo. O sargento desceu preguiçosamente do Palio, abriu a porteirinha de quatro tábuas, fechou e andou os poucos metros atrás da viatura até a porta da casinha branca de alpendre azul. Depois de acalmar ‘Gigante’, o cãozinho malhado pouco maior do que um Pinscher, o sargento fez o levantamento visual do entorno da casinha branca: um pomar e uma horta à direita, um capão de capim Napier ao lado do curral à esquerda, um pequeno ribeirão encachoeirado ao fundo, um chiqueiro com meia dúzia de porquinhos grudados na barriga de uma porca carioca e algumas galinhas ciscando aqui e ali no terreiro vigiadas de perto por um galo carijó dourado. Do rancho ao lado do curral, Nicolau, que estava apartando uma vaquinha Jersey do bezerro, se apressou para vir receber os homens da lei. Se aproximou sorridente, limpando as mãos na calça e abrindo o diálogo:

– Boa tarde sargento, boa tarde seu cabo! Que bons ventos os trazem?

– Visita de rotina, sr. Nicolau – respondeu o sargento, querendo esticar o assunto.

– Mas então vamos entrar… Vamos tomar um cafezinho – emendou o sitiante.

Os dois PMs fingiram relutância, mas, no minuto seguinte estavam na pequena, porém arejada cozinha da casa de onde exalava um delicioso cheiro de bolo de fubá. Enquanto conversavam amenidades da roça ouvindo o chilrear dos passarinhos no pomar, o café da dona Guilhermina, feito no fogão à lenha, ficou pronto. O Sargento até então nunca havia estado ali. Conhecia Nicolau apenas de vista, mas sabia da sua hospitalidade, comum a todo homem – raiz – da roça. Aliás, ele e o cabo haviam planejado chegar ao sítio exatamente por volta de três e meia da tarde… para garantir a merenda.

Como diz o velho ditado, “barriga cheia, pé na areia”. Após encher o pandu de bolo e café quente, era hora de entrar no assunto que levara a dupla de policiais ao sítio do Nicolau: ‘denúncia de porte de arma de fogo’!

– O senhor tem arma de fogo em casa? – perguntou o cabo à queima roupa.

– Tenho sim, senhor… Mais quem contou procêis?

– Ah, foram alguns amigos ocultos da lei – respondeu o sargento dando pouca importância ao ‘detalhe’. E emendou:

– O sr. pode nos mostrar a arma?

– Posso sim. Guilhermina, pega a espingardinha lá na parede do quarto… – ordenou ele.

No minuto seguinte a prendada dona de casa – aquela mesma que fizera e servira o bolo de fubá ainda morno com café quente – ‘serviu também’ a espingarda na mesa.

– O senhor tem o registro da arma?

– A espingarda tem registro não, sargento. É uma espingarda veinha, veinha…

– De quem o senhor comprou a espingarda?

– Comprei, não… É lembrança do meu saudoso avô Neco. Faz 20 anos que ele morreu. Ô saudade! Eu era o neto preferido dele, por isso ele me deu a espingardinha para guardar de recordação…

– Sinto muito seu Nicolau, mas vamos ter que levar a espingarda para a delegacia… E o senhor também!

– Mas… com que eu vou afugentar os ladrões de madrugada?…  Com que arma eu vou espantar lobos, onças e cachorros do mato que aparecerem para comer galinhas aqui no sítio!? – argumentou o sitiante.

– Sinto muito seu Nicolau, mas … “Dura lex, sed lex…” – disse o cabo gastando seu latim.

– Ô, diacho, então vamos… fazê o que, né? – concordou resignado o simplório velhinho.

Toledo, cidadezinha de 7 mil habitantes encravada nas escarpas da Serra da Mantiqueira, pertinho das nuvens, como a maioria das cidades desse porte em Minas Gerais, não tem um delegado de polícia para chamar de seu. Casos de flagrante de ‘porte de arma’ como esse são levados para a delegacia da Comarca.

E lá foi nosso “Winchester Jack” e sua espingarda de espantar gavião predador de galinhas para a delegacia de polícia de Extrema. Viagem modorrenta, já perto do crepúsculo, pela estradinha estreita e cheia de curvas. Quando chegaram a Extrema a delegacia já estava fechada. Fecha às dezoito. O jeito então foi levar o perigoso caubói do pé da Grota do Monjolo para Pouso Alegre.

Como a Regional atende 35 cidades, seu Nicolau entrou na fila. Noite já alta, ele sentou-se ao piano do paladino da lei, assinou o 14 da 10.826 e teve sua fiança – como prevê a lei – arbitrada em R$ 700. A esta altura do sacolejar da carruagem os dois policiais já estavam redondamente arrependidos de terem prendido o velhinho. Agora ao menos, era só pagar a fiança e poderiam dar-lhe uma carona de volta para casa.

– O senhor tem dinheiro para pagar a fiança? – indagou o sargento.

– Tenho não sinhor… eu nem sabia que ia ser preso!!

– Tem parente aqui que possa emprestar o dinheiro da fiança?

– Conheço ninguém nesta cidade, não senhor…

– Bom, então o senhor liga para sua casa e pede para fazer um deposito…

– Tem telefone em casa, não sinhor…

– … Tem filhos nalgum lugar que possam pagar a fiança…?

– Tenho três filhos. Todos moram na roça, tem telefone, não sinhor…

Com uma tonelada de peso na consciência por terem tirado o velhinho do conforto do seu habitat, os dois PMs se transportaram pra lá. Viram a casinha na sombra das mangueiras e abacateiros; viram as galinhas chitas, os frangos das canelas amarelas e o garboso galo carijó dourado ciscando no terreiro; viram o ribeirão cantando dolente por entre as pedras na grotinha; sentiram o cheiro do bolo de fubá da Guilhermina… Foram além! Viram o bezerro gabiru berrando de fome no cercadinho na manhã seguinte, a vaquinha malhada mugindo no pasto com a úbere cheia… Quem iria ordenhá-la? Tudo por causa de uma espingarda velha!… Tudo por causa da famigerada “lei do desarmamento”!

Andaram para lá, andaram para cá no corredor da delegacia, coçaram a cabeça, e concluíram: “Dura lex, sed lex”. Mas eles não podiam ser tão duros. Eles não podiam deixar o velhinho atrás das grades a cento e cinquenta quilômetros de casa, entregue à própria sorte. Tinham que levar Nicolau de volta para casa.

– Nos dê quinze minutos. Espere aqui que nós vamos buscar o dinheiro da fiança – disseram ao delegado e ao sitiante.

Foram a um caixa eletrônico, sacaram trezentos e cinquenta reais das suas próprias contas, pagaram a fiança do velhinho e o levaram de volta para a casinha branca na beira do ribeirão ao pé da Grota do Monjolo…

Quase tudo voltou ao normal no sítio do Nicolau. Só uma coisa mudou. Agora, se alguma raposa sorrateira abeirar o galinheiro das galinhas chitas, sem a velha espingarda de estimação para afugentá-la, só penas…

Viagem…

      Após a despedida, Luquinha viajou nas lembranças…

– E o corpo dele, vai ficar onde? – quis saber Leonardo.

– O vovô não precisa mais desse corpo. Por isso, depois das homenagens das pessoas queridas, ele será colocado numa caixa e levado ao parque onde ficam todos os corpos das pessoas que viajaram. Ele vai ficar lá até virar pó. Esse é o ciclo da existência. Agora eu quero que vocês voltem ao que estavam fazendo e continuem brincando. Daqui a pouco, quando a mamãe chegar, nós todos vamos voltar para a cidade, preparar as homenagens para o vovô.

Ao ficar sozinho na varanda, Luquinha sentou-se na cadeira ao lado do corpo de Chico Luca… e viajou. Não a viagem metafórica ensinada aos filhos. Mas uma viagem ao passado. Uma viagem que, para ele, começou naquele exato lugar. A casa era diferente … mas era naquele exato lugar que seu pai se sentava no final do dia e início de noite. Eram dali as primeiras imagens que tinha do pai. Tanto tempo depois ele continuava o mesmo… sereno e feliz! Sorrindo maroto com as bochechas… Luquinha sorriu também, com as bochechas, tentando imitar o pai. Não conseguiu. Acabou abrindo a boca e riu baixinho. “Você não tem conserto, meu pai! Consegue me arrancar o riso até depois de morto!”, falou pra si mesmo. Levantou o chapéu de Chico Luca, olhou seu rosto, tocou, mexeu nas suas pernas, nos seus braços. Tinham esfriado um pouco mais e estavam começando enrijecer. Experiente policial, vira muitos corpos sem vida. Na busca de elucidar crimes, trocara informações com médicos legistas muitas vezes, e pôde concluir sem margem de erro: seu pai havia parado de respirar bem próximo de nove da manhã, menos de uma hora antes de sua chegada ao sítio. Um pássaro amarelo pousou na comunheira do paiol e falou:

– “bem te vi”!

Luquinha tornou a cobrir parcialmente o rosto de Chico Luca com o chapéu e continuou sentado ao seu lado, conversando com as lembranças. Eram tantas! Conversava serenamente, como dois amigos, como se o pai estivesse ali, apenas dormindo.

 

 

*** “Chico Luca & Mariana”… – livro ainda em revisão.

J.C. e seu fadário!

O tempo passou … mas “o vento ‘não’ levou”!

Não levou o vício de JC! não levou as aflições – e nem a firmeza de propósito – de mãe de Mariana; não levou a saudade que sentia do marido; e nem trouxe Paulinho de volta. Mas a fome trouxe alguém de volta! Duas semanas depois, ao chegar do trabalho no fim do dia, lá estava novamente J.C. sentado na calçada. Mariana se surpreendeu ao ver o filho sentado no mesmo lugar de antes. A roupa era outra, mas tão maltrapilha quanto a da vez passada. Parou na sua frente e, sem saber o que dizer, ficou esperando que o filho falasse primeiro. Depois de longos segundos olhando nos olhos tristes um do outro, JC finalmente falou.

– Tô aqui de novo… posso entrar dessa vez? – Perguntou com voz mansa, sem se levantar.

Mariana demorou para responder. Talvez porque não tivesse certeza do que responder; talvez porque o tempo tivesse abrandado seu coração; talvez porque esperasse que ele insistisse na pergunta; talvez porque esperasse que ele fizesse uma abordagem diferente! Quando por fim respondeu, foi com outra pergunta:

– Pra que você quer entrar? – Perguntou num tom de desafio.

– Só para comer um prato de comida… não sei quando comi a última vez – disse ele cabisbaixo, com a voz quase sumindo.

Desta vez Mariana respondeu com rispidez. A falta de dignidade do filho causou-lhe irritação e apressou sua resposta.

– Para comer você não precisa entrar. Espere aqui que eu vou preparar a comida… E não vá fazer como da última vez! – completou já trancando o portão por dentro. Seis minutos depois tornou a abri-lo. Desta vez JC continuava lá, sentado no mesmo lugar, na porta da casa da mãe, esperando o prato de comida …

– Entra… senta aqui na escada – disse ela com um gigantesco prato de comida na mão.

JC levantou-se com dificuldade, se apoiando no muro e foi sentar-se no primeiro dos três degraus da escadinha da porta da sala. Mariana sentou-se numa cadeira que trouxera, quase à sua frente, e ficou olhando em silencio o filho comer. Olhava para o filho sujo, magro, ossudo, olhos fundos, barba por fazer … Era difícil assistir àquela cena, olhar para aquele filho tão amado e constatar que tudo que podia fazer era aquilo… Dar-lhe um prato de comida no portão! Como a um mendigo maltrapilho qualquer! Olhava para o jovem mendigo de trinta e poucos anos, mas via outra pessoa. Via um menino moreno, corado, forte, cabelos bem cortados, de uns doze ou treze anos. O que fora feito daquele garoto?

– Tava gostoso, mãe…

A voz fraca de JC trouxe Mariana de volta ao presente. Ele havia acabado de comer e estendia-lhe o prato vazio. Mil palavras ululavam na sua mente, mas Mariana não deixou que elas passassem pela sua garganta. Recolheu o prato vazio e ficou olhando em silencio para o filho. Depois de quase um minuto, também em silencio, JC se levantou e saiu… Saiu pelo mesmo portão que entrara minutos antes, sem dizer uma palavra, mas Mariana não o viu sair. Se ele tivesse feito o inverso, entrado pela porta aberta a poucos passos da escada, ela também não teria visto. Estava por demais absorta em seus pensamentos distantes para ver alguma coisa ao seu redor… As lembranças de tudo que passara nos últimos anos a levara a tomar aquela decisão. Ela não iria passar por aquilo de novo. Mas estava sendo difícil! Muito difícil ver o filho definhando na droga daquele jeito, dar-lhe um prato de comida no portão sem ao menos um abraço, um afago, uma palavra… Isso tocou fundo sua alma! Precisou de forças para não desabar ali mesmo, na frente dele!

– Que isso mãe? Por que o portão está escancarado?… E esse prato na mão… – perguntou a filha assustada, chegando da rua.

Arrancada dos devaneios, Mariana trancou o portão e empurrou a filha para dentro de casa sem responder. Antes, porém, deu uma olhada na rua, mas não viu mais JC. Mal lavou o prato na cozinha correu para o banheiro… E o chuveiro chorou com ela! Difícil saber de onde caiu mais lagrimas! Num misto de raiva, angústia e tristeza, esmurrou as paredes do banheiro. Quando saiu e se vestiu, tentando disfarçar a cor dos olhos, a filha pegou-a pelas duas mãos, fê-la sentar-se diante dela e disse com mansidão:

– Mãe… você ficou quase meia hora no chuveiro, quase quebrou a parede com murros! Eu estou aqui… Posso te ajudar?

Mariana havia ido correndo para o banheiro. Não queria que a filha a visse chorar. Mas não adiantou… Reclinou-se para o ombro da filha e chorou novamente. Chorou baixinho, em silencio… até soluçar!

– Seu irmão esteve aqui. Pela segunda vez eu lhe dei um prato de comida… no portão! – contou Mariana, olhando-a nos olhos, recuperando a altivez. E acrescentou:

“Tá tudo bem, agora. Vai passar…”

E os dias passaram. Os anos passaram…

 

Onde estará JC agora?

 

Lita

“Pessoa que deixou rastros na minha terra”

A dedicação do Lita, aliada à terra fértil, produzia verduras gigantes e saudáveis!

A lembrança mais antiga que tenho do Lita, remonta aos anos 60, quando ele, ainda rapazote, trabalhou com o pai na fazenda do “Seu Zé” Major, onde eu, ainda meninote, ajudava meu pai. Foi naquela ocasião que Chiquinho, ao ver o burrão marrom, matreiro e traiçoeiro, armar um par de coice que poderia feri-lo gravemente, alertou seu estimado e espigado filho dizendo:

– “Liiiiita… não faciliiiiiiita, nãããããooo!”

Pouco anos depois daquela cena e daquela frase histórica pronunciada pelo saudoso Chiquinho, o êxodo rural empurrou minha família para Pouso Alegre. Empurrou, mas não arrancou minhas raízes! No início minhas visitas à minha terra eram mensais. Depois que cresci e pude andar com minhas próprias pernas e comprei o meu ‘poisé’, as visitas se tornaram frequentes, semanais. A primeira casa que eu avistava ao sair do asfalto era a casa do Lita. E quase sempre sua figura muito magra e espigada realizando alguma tarefa em ‘roda da casa’. Por isso nunca perdi o Lita de vista. Vi sua precoce orfandade paterna e não muito tempo depois a materna. Acompanhei sua longa, humilde e honrada trajetória como funcionário da prefeitura de Congonhal. Era muito mais do que um motorista… Era um servidor! Uma pessoa para servir à prefeitura e servir aos munícipes. Lita era daqueles servidores que tinham horário para entrar no serviço… Mas não tinham hora para sair! Era comum vê-lo conduzindo o fusquinha, ou o caminhão basculante levando gente ou terra para algum morador do município quando todos os demais funcionários já estavam de bermuda e chinelão na varanda de casa! Lita não se importava com isso. Aliás, importava sim! Ele gostava de ser útil!

Se Lita serviu à prefeitura de Congonhal e seus munícipes, ele foi ainda mais útil à sua pequena família. Ou seria ‘meia’ família? Com a ausência precoce do pai e não muito tempo depois, a da mãe, ainda lhe restava a tia Águeda. A discreta e bondosa – e às vezes misteriosa tia Águeda – que me acenava da sombra do vão da janela da sua casinha verde, também na beira da estrada, sem nunca encostar no parapeito. Eu via apenas sua silhueta esguia e discreta. Mas me sentia em casa.

Antes mesmo da partida discreta da tia Agueda, a qual ele cuidou com carinho de filho, Lita já havia assumido outra missão: cuidar da irmã de criação e dos sobrinhos, que foram chegando ao longo dos anos… Todos sem pai!

A irmã de criação também se foi precocemente… Mas deixou os meninotes, todos ainda de calça curta, para Lita cuidar.

Já sessentão Lita se aposentou da prefeitura… mas nunca se aposentou dos sobrinhos! Apesar de ter o seu salário e uma pequena chacrinha herdada do pai, que vai da beira da estrada até o ribeirão, Lita nunca parou de trabalhar. Precisava cuidar dos sobrinhos afetivos – Afetivos?!

Mas gostava de trabalhar. De trabalhar a terra, arar ou destocar, semear, cultivar e, finalmente colher o que a sagrada terra bem cuidada oferece em troca. O viço das mini lavouras de cana, de mandioca, de feijão, de milho – pouco mais do que meia quarta de chão – em ‘roda da casa’, enchiam os olhos de quem passava na estrada. Os pendões coloridos e as bonecas perfumadas do milharal chamavam a atenção de quem entrava no bairro. Parecia um jardim!

Dos pequenos e viçosos capões de roça, Lita migrou para a horta. Em pouco tempo o quintal da sua casa virou um tapete multicores… Alface, chicória, almeirão, couve, pimentão, berinjela, jiló, repolho, salsinha, cebolinha… Tudo cuidado com carinho e esmero.

No início de 2016 Lita ficou ainda mais visível pra mim. Durante a reforma da minha casa em Pouso Alegre, fui morar no sítio. Toda vez que eu saia do asfalto e entrava na estrada vicinal dos Coutinhos, eu dava de cara com o Lita. Não havia como não o notar ali na beira da estrada, cuidado com tanta dedicação da sua horta orgânica. Além dos quatro restaurantes do bairro, e outros de  Congonhal, os vizinhos também se tornaram seus fregueses. Durante os três meses que ali morei, eu fui um deles. Como era bom ver o Lita, todo intrépido e bem-humorado, colher a verdura fresca e tenra direto na terra, lavar com água corrente e entregar na porta da horta, enquanto falava do seu cotidiano!

Lita, no entanto, não poderia negar a precocidade da sua família! Ele também se foi cedo… embora por outros motivos que não a saúde!

Lita poderia estar lá, ordenhando suas vaquinhas, tão manas quanto ele, cuidando da sua hortinha, contando suas histórias, mas… Mas havia uma pedra no caminho! Uma pedra de crack…

Eu não gostaria, mas não tem como falar do Lita sem associá-lo a drogas!

A droga encurtou sua vida… a droga o matou!

Droga que ele jamais usou!

O salário de aposentado como motorista na prefeitura de Congonhal, completado com o leite de duas ou três vaquinhas e uma viçosa horta de verduras, permitiria uma vida singela, digna e tranquila à Lita. Mas ele tinha que prover, que orientar e sustentar a ‘sobrinhada’, cinco, de imberbes a barbados!

Alguns deles, apesar da seriedade, dos exemplos e cuidados recebidos do tio, experimentaram a famigerada erva ‘marvada’!  E como todo bom consumidor de erva – uma droga fraca e relaxante – eles procuraram uma droga mais forte… chegaram ao crack! O famigerado crack, a droga “mentirosa”! A droga que promete matar rapidamente, só que não! Ela mata aos poucos, mata quem consome, mata o pai, mata a mãe e, neste caso… matou também o tio!

Nos últimos anos a dependência química dos sobrinhos se acentuou – desandaram de vez! A dependência e o consequente consumo aumentou! E o custo ficou mais caro. O que ganhavam trabalhando – quando trabalhavam – já não era suficiente para satisfazer o vício. Costuma ser assim mesmo com os viciados! E passaram a visitar a carteira do Lita! Se ele escondia a carteira, era ameaçado… e as vezes entrava na manguara!

Ano passado um dos sobrinhos chegou às ‘penúltimas’ consequências. Para tomar o dim-dim do tio, desceu-lhe o borralho! O ingrato sobrinho foi preso no mesmo dia… mas já havia ‘fumado’ o precioso fruto do suor do tio! Na ocasião, Lita humildemente declarou que o episódio estava resolvido e que não aconteceria mais!

Até três semanas atras, não se sabia que atitude Lita tomaria para evitar que voltasse a ser roubado e espancado. Agora sabemos.

Lita desacorçoou!

O telhado tosco e singelo do paiol testemunhou seus últimos segundos de vida… A corda presa ao pescoço comprido, pendurada na linha, interromperam sua respiração. Lita certamente não lutou contra a falta de ar. Ele queria o resultado. Não suportava mais o sofrimento, a ingratidão… ingratidão daqueles que ele cuidou com tanto carinho! Daqueles que ele alimentou com tanto amor. Daqueles pelos quais ele abdicou da própria vida para cuidar.

Não. Não é drama! Lita cuidou dos sobrinhos melhor do que muitos pais cuidam dos seus próprios filhos! Quem o viu no caixão disse que ele tinha um sorriso no rosto…

Deve ser o sorriso da satisfação do dever cumprido!

Lita poderia ter se casado, ter sentido o calor do corpo de uma mulher! Ter o prazer, a alegria de ouvir crianças correndo pelo quintal e o chamarem de “pai”!…

Aposentado, poderia finalmente ter uma vida social normal, sentar-se na varanda da sua casinha para ver o pôr do sol, visitar e receber visitas de amigos e vizinhos, jogar conversa fora com as pessoas do bairro que o viu crescer… Mas não. Lita não podia se ausentar da sua pequena chacrinha na beira da estrada. Ele precisava continuar trabalhando, cuidando da sua horta, para aumentar sua renda e ajudar a sobrinhada. Além do mais, ele não podia se afastar das suas economias debaixo do colchão… senão elas seriam enroladas numa seda ou num cachimbo fedorento qualquer e virar fumaça! – E tem gente que defende a liberação das drogas!

Ah Lita… homens como você estão indo embora. Estão ficando cada vez mais raros! Mas pode ir, Lita. Você tem esse direito.

Segundo os ensinamentos espiritas de Alan Kardec, ninguém pode tirar a própria vida. Quem o fizer terá que voltar em outra encarnação, às vezes no mesmo lugar em que parou, para reparar o erro. No entanto, Deus, certamente vai abrir uma exceção pra você Lita! Deus sabe que você lutou enquanto teve forças.

Por nós, fique tranquilo. Nós sabemos que você fez até mais do que estava ao seu alcance.

Lita não foi uma pessoa ilustre, rica, famosa… Foi pouco mais do que “… lírios do campo”! Teve tão pouco tempo livre para andar pelo bairro que o criou… Mas deixou rastros na minha terra!

O rancho, a chuva… e Deus!

Dormi com o canto alegre e desencontrado das aves…

E acordei com a mais bela sinfonia da natureza: a chuva no telhado!

Viver na roça…

Dormir logo após o primeiro canto do Curiango…

Levantar com o cantar do galo…

Tirar o leite da vaca direto na caneca de café e tingir o bigode de espuma quente do café com leite…

Almoçar no meio da manhã sentado no cabo da enxada na sombra do pé de Cedro no milharal…

Ouvir o dia inteiro o cantar do Sabiá na beira do mato… ou o Bem-te-vi na copa do Sucupira…

Enxugar o suor da testa na manga empoeirada da camisa antes de tomar café frio com bolo de fubá no meio da tarde…

Voltar da roça no primeiro cantar do inhambu antes do sol se esconder no espigão…

Apartar os bezerros, tratar dos porcos, das galinhas, consertar a cerca da horta, e só então sentar-se na varanda para pitar um cigarro de palha, ouvindo os acordes das violas de Tonico & Tinoco no radinho à pilha…

 

Essa era a rotina do meu povo até poucas décadas atras.

Mas essa sintonia com a natureza não era suficiente… Meu Coutinho queria mais!

De vez em quando era necessário fazer um… “pouso no mato”!

Dormir no chão, debaixo de uma arvore, contemplando as chamas vermelhas da fogueira, escutando o crepitar da lenha seca se misturando com o cantar dos grilos, ou com o som indecifrável de outros bichos curiosos na mata escura a poucos metros dali…

Dormir… Só quando o assunto acabar! Ou quando a lua cheia começar a descer do outro lado do céu!

Sentir medo… sentir frio… sentir desconforto…

Mas sentir a coragem de desafiar os perigos e adversidades.

Sentir a força de superar!…

E sobretudo…

Sentir liberdade na alma!

Mais que isso…

Sentir a natureza na pele! Nos ouvidos… Ouvir a natureza no seu próprio habitat.

É masoquismo? É sadismo? É loucura? É cultura?…

Ou simples gosto pela aventura? Ou quem sabe… a preservação do instinto natural dos ancestrais?

Cada leitor é livre para abraçar a resposta que quiser…

 

Meu ‘batismo’ de pouso no mato se deu no dia 05 de setembro de 97. Tinha de ser… e foi, inesquecível!

Sete amigos, todos primos e irmãos. Na serra da Grota Funda, um dos pontos mais altos do bairro dos Coutinhos. Cada detalhe daquele primeiro pouso no mato ainda ulula na minha memória.

A chuva fina no meio da tarde… a subida íngreme da serra carregando a tralha… o fogão feito no cupim… o pé d’agua que caiu no início da noite… a lua gigante e pálida surgindo por entre os galhos das arvores… a figura parda do lobo Guará se aproximando pelo cheiro da comida… até ser escorraçado pelo Campeão, nosso jovem cão malhado! E os raios dourados do sol inundando a restinga de mata na manhã seguinte!

Depois do primeiro pouso outros tantos se seguiram… sempre às noites de lua cheia, em época de seca, entre os meses de maio a agosto!

 

Outro dia, não resistindo a saudade dos nossos “Pousos no Mato”, antecipamos nosso calendário… Fomos no dia 06 de janeiro, Dia de Reis! Dia da Gratidão…

Havia previsão de chuva, por isso fomos a um rancho de gado, ao pé da Serra da Gruta Funda.

Éramos cinco. O inseparável Osvaldinho, meu afilhado Ronaldo, o primo Mario e o sempre alegre e risonho Odair do Ieca.

Apesar de não aparecer, a lua cheia brilhava por cima das nuvens… E a noite, embora sem brilho, estava clara quase como um dia!

Para dormir, cada um estendeu seu colchão num canto, ou uma rede pendurada nas linhas do rancho.

Armei minha cama em cima da mesa de um carro de boi. Colchão, travesseiro e uma coberta fina. Mais confortável impossível. Cansados da labuta do dia e de horas de conversa agradável em volta do fogão improvisado no chão ou sentados na cerca do curral, no início da madrugada nos entregamos às caricias de Morfeu.

Pouco tempo depois fomos acordados com os latidos ferozes do fiel Campeão. Parecia que ele estava tentando nos defender do ataque de uma alcateia!

Ao acender a lanterna constatamos que o inimigo não era tão perigoso! Era apenas um gambazinho atraído pelos restos de comida nas panelas. Na tentativa de fugir dos ataques do nosso guardião, o pobre animalzinho faminto se atrapalhou na cerca de tabua e caiu no capim do lado de fora do rancho. Antes que ele se enfurnasse no mato foi alcançado e agarrado pelo Campeão. A luta foi feroz e desigual. O inteligente cão mateiro cravou as mandíbulas no fedorento e impediu sua fuga. Durante mais de um minuto ficaram ali rolando na grama macia do pasto. Campeão sacudia o gambá até ele parar de espernear e o soltava imóvel, fingindo de morto, no chão. Ao menor movimento, tornava a cravar-lhe as mandíbulas e o sacudia novamente. Até que, ao soltar o fedidinho no chão, ele não se mexeu mais. Por alguns minutos o perfume característico do gambazinho ainda circulou pelo rancho até ser levado pelo vento da madrugada. O silencio voltou a reinar ao pé da fresca Grota Funda.

 

Algumas horas mais tarde um novo ruido interrompeu meu sono. Despertei lentamente, como se estivesse sonhando. O ruido era uma mistura de chiado com farfalhar de folhas ou roupas sendo manuseadas… Agucei os ouvidos, abri lentamente os olhos! Tive receio de que fosse uma cascavel quem sabe se aproximando e se preparando para dar o bote! Havia um vulto se movimentando lenta e silenciosamente dentro do rancho… Esperei que meu olhos se acostumassem com a penumbra. Aos poucos fui identificando o vulto misterioso… Era o Mario! Lentamente ele desfez sua cama… dobrou a rede, a cobertinha, vestiu a blusa, calçou as botinas, jogou a tralha nas costas, ajeitou o chapéu de palha na cabeça e sem acender lanterna, sem acordar ninguém e sem se despedir, deixou o rancho e pegou a trilha batida de volta para casa. Quando o vi sumir na curvinha do córrego abaixo, consultei meu relógio… 04:15h da manhã! Ele tinha menos de uma hora para chegar em casa antes de o dia amanhecer, sem ser visto pelos vizinhos… afinal, era terça-feira, dia de um homem sério da roça, trabalhar! Virei para o canto e voltei para os braços de Morfeu.

 

Raspava sete da manhã quando ouvi bulha dos demais companheiros de pouso no rancho. Eles já estavam de pé, amarrando as tralhas. As brasas do fogãozinho improvisado no chão no início da noite anterior haviam morrido. Agora só cinzas! Olhei em volta do rancho… O céu estava bastante carregado. Uma chuva rala, fina e indecisa caia lentamente na Grota Funda. Grama e arbustos em volta já estavam molhados…

– Vai embora ou vai ficar, Chips? – perguntou um deles.

Olhei para mata fechada, acima, a poucos metros do rancho. Olhei para a capoeira rala do lado de baixo. Olhei para a trilha que logo sumia na curva e constatei que a chuva já estava próxima… Olhei para o telhado rústico acima da cabeça já antevendo o barulhinho da chuva e respondi:

– Vou ficar. Vou curtir um pouco da natureza.

Tão logo vi os companheiros de pouso sumirem na curvinha da trilha, puxei a coberta até o pescoço, virei para o canto e me entreguei às caricias de Morfeu! Adormeci ouvindo bem-te-vis, sabiás, tico-ticos, coleirinhas e pintassilgos em volta do rancho…

 

Dormi com o canto alegre e desencontrado das aves…

E acordei com a mais bela sinfonia da natureza: a chuva no telhado!

Parecia um sonho! Parecia que eu estava no meu colchão de palha, no meu catre na antiga casa de pau-a-pique onde nasci, nos anos 60.

A diferença é que os pingos que passavam pelas gretas das disformes telhas de bicas feitas rudimentarmente à mão, deixavam aquele menino de calças curtas, à vezes, apavorado!

Agora, a chuva mansa que batia no telhado a pouco mais de um metro dos meus ouvidos, soava como uma harpa executada por anjos… Era como balsamo… Me levava ao paraíso!

Abri lentamente os olhos não querendo despertar do sonho…

A orla da mata acima, antes escuras e amedrontadoras, estavam ligeiramente brancas pela chuva fina…

O bananal do Messias, na virada do morro do Sapé, levemente sacudido pelo vento, parecia ensaiar um balé nos braços da chuva que ao longe parecia mais densa…

Não. Não era sonho… Era a mais pura expressão da natureza!

Eu estava só, deitado num singelo colchão sobre uma mesa de carro de boi, dentro de um curral de gado, ao pé da serra, distante vários quilômetros da ‘civilização’…  Eu, Deus e a chuva no telhado… era o paraíso… Ou talvez o céu!

Naquele momento senti um único desejo… que a chuva continuasse!

Só existe uma coisa no mundo melhor do que “acordar” com a música da chuva batendo no telhado…

“Dormir” com a música da chuva batendo no telhado!

Aos poucos fui ficando leve, leve, leve … Logo não senti mais meu corpo. Voei… voei na chuva morna e clara, sem me molhar… sem sair dos arredores da Grota Funda.

Tão suavemente quanto adormeci… despertei, uma hora mais tarde!

A chuva havia diminuído. Era como se a natureza fechasse lentamente um chuveiro…

Eu não havia me molhado… mas estava limpo, leve, renovado, de alma lavada.

Levantei do carro de boi… juntei lentamente minha tralha, joguei nas costas, deixei o rancho e desci o pé de serra.

A água do córrego que cruza a trilha estava com o mesmo volume, tão cristalina como na véspera. Toda a água que caíra com a chuva havia penetrado na terra…

O cheiro de plantas e de terra molhada se espalhava por todo o pequeno vale da Grota Funda… e inebriava minha alma.

Era terça-feira, 07 de janeiro de 2003… Dia do Leitor!

Um amor de criança

      Se a pureza da menina não a levava ao céu… Leo foi levado! Ao menos às nuvens… Que prazer! Que alegria ao vê-la!

(foto ilustrativa)

Era início da tarde de domingo. Leo tomou bênção da avó, esperou alguns minutos até que seu pai entabulasse uma conversa com ela e seu tio, disfarçou, saiu de fininho da cozinha, subiu a tortuosa e apertada escadinha de madeira, atravessou a grande sala fazendo o assoalho de madeira ranger e saiu ao alpendre da “casa da vó”. Dali poderia avistar todo o movimento na estrada poeirenta a pouco mais de cem metros à sua frente, a melhor vista do bairro. Um cavaleiro passava a passo lento na estradinha a caminho da venda do Vilino, lá na curva da estrada perto do ribeirão, ou, quem sabe, a caminho da casa da namorada. Podia também ser alguém indo visitar a avó, como ele estava fazendo, como fazia todos os domingos depois do almoço. Não estava interessado em desvendar o destino do cavaleiro… O que interessava, o que o levara ali ao alpendre da ‘casa da vó’ naquele momento, estava um pouco antes da estrada, à sua direita, na casa de um dos patriarcas do bairro!

“Será que ela virá hoje”? pensava Leo, tentando identificar as pessoas sentadas ou brincando no pastinho em frente a grande casa de janelas enfileiradas.

Na “Arvinha” na beira da estrada já havia meia dúzia de pessoas espalhadas pela grama jogando conversa fora. “Arvinha” era uma pequena restinga de Sassafrás, Caneleiras e Figueiras, quase todas frondosas, que não impediam o alastramento da grama campeira e nem a visão à distância, e fornecia sombra e aconchego às pessoas na beira da estrada. Era o ‘point’ da época. Era ali que os homens do bairro se reuniam nas tardes de domingos para contar causos e atualizar as notícias da semana, tanto da roça quanto da cidade. Era parada obrigatória de quem passava à pé, a cavalo ou de bicicleta. Meia hora conversando ou apenas ouvindo a conversa dos adultos na “Arvinha” era suficiente para se inteirar de tudo que aconteceu nos pequenos sítios ou fazendas do bairro… ou das notícias da cidade.

Leo aguçou a vista tentando identificar o pai da garota entre os contadores de causos. Não. Não estava entre eles. Era cedo ainda… certamente o ‘sogro’ ainda estava conversando com o pai dele na casa grande.

Os pais de Aninha moravam no bairro vizinho, a quatro quilômetros do bairro dos Coutinhos. Todo domingo o pai dela e os irmãos mais velhos iam à missa das nove na igreja matriz de Congonhal. A cada quinze dias seguiam da igreja para a casa dos avós, no bairro dos Coutinhos, onde almoçavam e passavam o dia.

“Ela deve ter vindo, sim”… a semana passada não veio!, concluiu Leo otimista e esperançoso.

Desceu a escadinha de madeira e saiu à cozinha. Os dois tios solteiros estavam sentados no banquinho de madeira encostados na parede. No outro banco, de costas para a janelinha baixa que dava para o pomar, estava seu pai conversando com os irmãos e a mãe. Na taipa branca do fogão à lenha caiado de tabatinga estava vovó Ana, atiçando alguns gravetos no fogo, preparando sem pressa o café ralo e doce de sempre.

– Pai, vou fazer uma visita para a tia Candinha… – falou Leo. E sem esperar qualquer resposta, abriu o portãozinho de madeira da cozinha e saiu. Atravessou lentamente o pastinho, com os olhos grudados na casa do avô de Aninha, – para ver se avistava a pretendida – cruzou a estrada e entrou no terreiro da casa da tia.

Candinha e Antonio eram ‘tios dos dois lados’… Ela era irmã do seu pai. Ele era irmão da sua mãe! Apesar da afinidade que tinha com o casal de tios e do prazer em visitá-los, não criou raízes na casa deles naquele domingo. A visita, como sempre, fora um pretexto para se afastar do pai e se aproximar da Arvinha, de onde poderia ver sua amada. Por sorte seu tio já havia terminado os afazeres em casa, feito a barba domingueira, tratado das galinhas e estava pronto para ir ao ponto de encontro dos homens do bairro. Caminharam juntos os cem metros de estradinha que os levava à Arvinha. O tio, como de hábito, falando sem parar! E Leo, sem ouvir uma palavra, tentando desde longe avistar o ‘sogro’ ou a menina dos seus sonhos entre as tantas que brincavam na ponta da restinga, mais perto do quintal do avô.

Se o tio soubesse da paixão do sobrinho, ou se tivesse olhado para o seu rosto, teria visto o tamanho do sorriso estampado nos olhos dele tão logo se aproximaram da Arvinha. Sim, o sogro estava entre os homens do bairro sentado na grama encostado a uma arvore como os outros, contando e comentando os fatos da semana. Certamente ela viera também, pensou ele eufórico. Esticou os olhos além da Arvinha na direção da casa do avô dela… O coração disparou, os olhos brilharam! Embriagou-se de alegria! Quase babou quando avistou, de longe, sua pretendida jogando peteca com as primas próximo à casa do avô delas. Quê visão! Que doçura! Aninha tinha os longos cabelos pretos e lisos presos por uma Maria Chiquinha. Usava um vestido chita, com florzinhas verdes e rosas, predominando o branco… o que lhe conferia ainda mais pureza, e a deixava ainda mais doce!

(imagem ilustrativa)

Se a pureza da menina não a levava ao céu, ele foi levado! Ao menos às nuvens… Que prazer! Que alegria! Como era bom pousar os olhos na sua amada linda, faceira, esguia, delicada, suave… apaixonante! Como amava aquela garota! Com que ansiedade passava a semana esperando para vê-la nas tardes de domingo! Ah, como estava feliz! Dali a pouco, quando o sol baixasse, crianças e jovens iriam para a estrada namorar, jogar peteca, jogar queimada… Era quando poderia se aproximar da sua Aninha! Quem sabe numa brincadeira ou outra até se tocarem! Um toque furtivo na mão, um esbarrão, que o faria estremecer… e ficaria latente na pele e na memória.

Desfeita a tensão da incerteza e saciada a saudade de pousar os olhos na menina, mesmo que de longe, mesmo que ela não o tenha visto, mesmo que ela não soubesse do seu amor por ela! agora podia brincar com os amigos malungos, de preferência ali por perto. Assim perceberia o momento em que ela e as primas sairiam para as brincadeiras com outras amigas ao longo da estrada. Juntou-se a outros garotos que já estavam brincando nas arvores do “Valo” acima da estrada e ali ficou até o sol baixar.

Quando o sol ganhou ares bucólicos e baixou o suficiente para que as frondosas figueiras, caneleiras e sassafrás estendessem sombra na estrada, foram para lá. Desde o ‘Ponto’ – início da estrada vicinal que nasce na BR 459 – até a encruzilhada do Totó, um quilometro e meio bairro adentro, havia vários pontos de concentração de pessoas. Os homens solteiros passavam boa parte do dia na venda do Vilino. Os casais que namoravam há mais tempo e já haviam conquistado o sogro ou amansado a sogra, ficavam nos alpendres da casa da namorada. Os que ainda estavam começando a ‘se falar’ namoravam na sombra das figueiras e manacás à beira da estrada, à vista de quem passava, sentados nos barranco a pelo menos um metro um do outro. Crianças e adolescentes, que sequer cogitavam namorar, o máximo que podiam se aproximar dos seus pretendentes, era nas brincadeiras de queimada ou peteca no meio da estrada na sombra das arvores. Era assim todo domingo. Assim ficavam na estrada até que os pais, voltando da Arvinha ou da visita à amigos e parentes, passavam pelo local dos jogos a caminho de casa. Os pais não precisavam verbalizar… Os filhos sabiam que o domingo havia acabado, que era hora de voltar para casa. E os seguiam calados. Assim Leo passou mais um festivo domingo bem perto da sua amada.

Aquele foi mesmo um domingo especial para Leo. Jogaram queimada em times adversários. Ele, sempre que tinha a posse da bola, evitava ‘queimar’ Aninha. Ela ao contrário, sem piedade, talvez percebendo que ele facilitaria, jogava a bola na sua direção tentando ‘queimá-lo! Todas as vezes em que ficou no mano-a-mano com ela na disputa final, ele, cavalheiro e apaixonado, a deixou vencer.

Enquanto brincavam na estrada… namoravam! O namoro de Leo & Aninha – e certamente de outros tantos pretendentes  –, não passava de flertes inocentes, olhares languidos e apaixonados, assim, entre o desvio de uma bolada e um tapa ou outro na peteca.

Mas tudo que é bom se acaba!

E o alegre domingo chegou ao fim…

O sol dolente foi aos poucos se encolhendo, se avermelhando e… logo se deitou no alto do Morro das Onças. Ironicamente por onde Aninha passaria dali a alguns minutos, caminhando de volta para casa. Não tardou o pai e dois irmãos rapazotes surgiram na leve curvinha da escolinha do bairro. Os eufóricos gritos juvenis foram cessando, a alegria foi murchando, os sorrisos foram se apagando e… a saudade começando a fazer seu ninho!

Quando o pai e os irmãos passaram, Aninha distribuiu mais dois ou três tchau’s às amigas e os seguiu. Leo procurou seus olhos… achou! Tinha tanto para dizer, mas… só os olhos, brilhantes, falaram.

Pensou em fazer ao menos um aceno, ainda que acanhado… Mas suas mãos não se mexeram. Os olhos acenaram por ele… e disseram apenas: “Vai com Deus, Aninha… vou sentir saudade! Te espero na semana que vem”.

O sogro e os cunhados seguiram rápido a estrada movimentada, cumprimentando os passantes, todos pessoas conhecidas e parentes próximos ou distantes. Moravam no bairro vizinho, cerca de três quilômetros dali. Chegariam em casa já sob o véu negro da noite.

Leo despediu-se em silencio com o coração febril de amor, mas seguiu atras. Acompanharia a amada, como sempre, até a encruzilhada do Mourão Furado. Torcia para que o pai dela parasse para conversar com alguém na estrada, assim ele poderia passar bem pertinho de Aninha e lançar mais uma vez seu olhar apaixonado. E o sogro parou. Parou para conversar com alguém no caminho logo depois da encruzilhada, já era crepúsculo da noite que se avizinhava. A penumbra não permitia que o brilho dos seus olhos cor de mel cruzassem com os olhos castanhos de Aninha. Mas Leo via claramente o vulto da amada, sua silhueta esbelta, esguia, doce e meiga… seus cabelos agora soltos, o vestido chita agora turvo, de uma só cor. A saudade já havia feito seu ninho e começava coçar no peito…

Os próximos dias até o meio da semana seriam longos e sem cor e demorariam para passar. Chegaria a interferir no comportamento do garoto. Leo ficaria calado, taciturno…

“Porque ela tinha que morar noutro bairro, distante…”, reclamaria ele em silencio.

De quinta em diante, quando o domingo começasse a mostrar sua silhueta lá além da curva da semana, o brilho da felicidade surgiria no horizonte… invadiria os campos e ares… chegaria ao seu quintal e bateria  à sua porta! A alegria voltaria, a esperança de rever sua doce e meiga musa, colocaria de novo o sorriso no rosto de Leo. Era sempre assim… desde que descobrira que amava Aninha!

A figura doce e meiga da menina de vestido chita no crepúsculo daquele longínquo domingo de outono é, talvez, a última e mais afetuosa lembrança que o garoto Leo guarda da sempre bela Aninha.

As cenas deste amor puro e inocente… “amor de criança”, aconteceram nos idos de 1960.

Aninha tinha então 12 anos de idade…

O apaixonado Leo tinha dez!…

Airton Chips agora é sex…

… Sexagenário!

      O colunista policial, blogueiro e autor do livro de crônicas policiais  “Meninos que vi crescer”, completou 60 anos.

Asilo Bethania da Providência

        A data marcante foi comemorada neste domingo, 09. Na bela e aconchegante ‘Ilha’, cartão de visitas do Clube de Campo Pouso Alegre, o aniversariante recebeu dezenas de amigos e familiares para um lauto churrasco regado a loiras geladas. Embora discreta, até Severina do Popote esteve presente. Festa simples, como tem sido esses sessenta anos de existência de Airton Chips. Mas alegre e divertida – como deve ser levada a vida!

Clube do Menor

      A exemplo do que vem acontecendo nas ultimas festas sociais, o aniversariante pediu que os amigos não levassem presente, mas que levassem ‘dim-dim’, o qual foi colocado numa caixinha, aberta antes do final da festa. O montante arrecadado foi distribuído à três entidades assistenciais da cidade na manhã desta segunda-feira, 10. 

Asilo Nossa Senhora Auxiliadora

Mais um ‘conto do vigário’ na praça…

       O golpe aplicado na dona Maria nesta quarta-feira, 21, aconteceu no mesmo horário e seguiu o mesmo roteiro do caso da dona Irene. Só mudou o enredo, o local e o valor do golpe! E teve também um ingrediente à mais: uma garrafa d’agua que fez dona Maria ficar grogue!

Segundo dona Maria, os saques foram feitos na agencia do BB da Avenida Doutor Lisboa…

A abordagem aconteceu às onze da manhã nas proximidades do Açougue do Donizete, no Jardim Esplanada em Pouso Alegre. A mulher baixa, morena, de cabelos pretos e longos, ligeiramente obesa e com o ‘infalível’ sotaque caipira para esses casos se aproximou e foi direto ao assunto.

“Dona, eu moro na roça, em Itajubá. Minha casa pegou fogo. Eu tenho aqui um bilhete do seguro, mas preciso de ajuda para receber, pois não tenho conta no banco. Voce pode me ajudar”, disse a senhora morena de meia idade, com cara de ‘pelamordedeus’!

Enquanto a aposentada de 68 anos estendia suas condolências à pobre senhora sem teto, um casal apareceu do nada e ofereceu ajuda.

“Mas eu fiquei com medo do casal dar o golpe na coitada, por isso falei que não ia sair de perto dela”, contou dona Maria.

Diante do altruísmo de dona Maria, o trio então ofereceu a ela R$ 8 mil de recompensa se ela os ajudasse a receber o bilhete do seguro da casa queimada. Em seguida a mulher loira magra ofereceu-lhe uma garrafa d’agua adquirida – segundo ela – numa padaria ali perto.

“Ao beber a agua que ela me deu eu fiquei sonolenta e fui com a mulher loira ao banco do Brasil. Ela pegou meu cartão, sacou mil reais no caixa eletrônico e ao ver o saldo, mandou que eu sacasse mais cinco mil na ‘boca do caixa’ e guardou na bolsa dela”, disse Maria à policia.

“É perigoso andar por aí com esse dinheiro. Voce pode ser assaltada. Deixe que eu guardo pra você na minha bolsa”, teria dito a salafrária loira magricela, segundo relato de Maria.

Apesar de toda sonolência, dona Maria registrou quase todos os detalhes do enredo. Segundo ela, do Banco do Brasil voltaram de taxi para o local do encontro no Jardim Esplanada, onde estavam a ‘pobre coitada’ da casa queimada e o sujeito alto. Neste momento apareceu um terceiro vigarista dizendo que era irmão dela e a levou para casa. O casal, a pretexto de ir ao banheiro, saiu à francesa.

Ao ver-se sozinha na rua, sem lenço, sem documentos e sem R$ 6 mil na conta bancaria, dona Maria foi para casa. Segundo ela, devido à sonolência que ainda sentia por causa da agua – batizada! – deitou-se para descansar e acabou dormindo. Mais tarde, bem mais tarde, por volta de seis e meia, quando o quarteto de vigaristas já ‘teria incendiado’ mais umas duas casas por aí, dona Maria procurou a delegacia de policia para registrar o fato e… pedir providencias!

Segundo o policial, no momento do registro do fato, dona Maria ainda apresentada ‘fala pastosa’… em virtude, segundo ela, da água batizada! Mas ficou só com o cabo do guarda-chuva na mão!

Tatuagens poderão identificar mulher esquartejada em São João da Mata

Policia Civil pede ajuda da população para identificar mulher, cujos membros inferiores foram jogados na beira da estrada. As pernas, aparentemente femininas, cheias de tatuagens, foram encontradas na beira de um cafezal em São João da Mata, a quarenta e dois quilômetros de Pouso Alegre, no final da tarde de ontem.

O 17º Departamento de Policia Civil de Pouso Alegre reuniu a imprensa na tarde desta quarta-feira,07, para esclarecer detalhes sobre o encontro de parte de um corpo e pedir aos moradores e proprietários de terra que margeiam a rodovia que liga Pouso Alegre à Alfenas, que chequem suas propriedades em busca do resto dos membros provavelmente ‘dispensados’ ao longo da estrada. A coletiva foi conduzida pelo delegado regional, Renato Gavião, com a presença dos médicos legistas Eduardo Schlittler e Tatiana T.K. de Matos. Para o delegado regional, a mulher pode ter sido assassinada e esquartejada em qualquer lugar, até mesmo em outro estado, mas, é mais provável que o crime tenha ocorrido na região, entre Pouso Alegre e Alfenas. As pernas encontradas ontem pelo agricultor, estavam numa ribanceira no km 71, a poucos quilômetros de São João da Mata.

“Pedimos aos moradores que verifiquem os arredores de suas propriedades, que observem a presença de urubus, de algum cheiro forte e se encontrarem alguma coisa, entrarem em contato com a polícia”, apelou o delegado.

Ele solicitou também ao comando do Corpo de Bombeiros que ajude com cães farejadores nas buscas.

Para a médica legista Tatiana Telles e Koeler de Matos, que esteve no local do encontro das pernas, urge que o restante do corpo seja encontrado, para facilitar a identificação do corpo e encontrar o assassino.

“É uma corrida contra o relógio. Com esse tempo quente e úmido o processo de decomposição é muito mais rápido, além do que a ação de larvas poderá destruir elementos de identificação”, alerta a legista chefe do PLM de Pouso Alegre.

Segundo ela, pelo estado de decomposição dos membros amputados, o crime ocorreu em torno de 72 horas antes do serem encontrados.

Durante a coletiva o delegado disponibilizou imagens das tatuagens nas pernas da vítima, visando o reconhecimento das mesmas através das redes sociais. Na perna direita há uma tatuagem de fada, e no glúteo, uma tatuagem pequena de duas flores. A perna esquerda tem uma tatuagem de borboleta com rosa.

Paralelamente ao apelo à população, a policia está cruzando registros de desaparecimentos de mulheres recentemente na região. Até o momento desta publicação ninguém havia ligado os membros encontrados na estrada a um possível parente.

A policia civil depende da identificação da vitima para chegar ao assassino.