Dimenor tenta matar o amigo em Extrema…

Eram pouco mais de nove da noite quando os dois amigos se encontraram no Restaurante Fronteira em Extrema. Bebericaram uma birita qualquer para tirar a poeira da garganta, jogaram meia dúzia de conversa fora até que o garotão L.A. Pinto, 17 anos, convidou:

– Vamos à minha casa fumar um baseado? Comprei uma paradinha da boa em Bragança ontem à tarde!!

– Ô, tô dendro…

… E saíram pela estrada afora em direção à casa do menor. Tão logo saíram da claridade do entorno do restaurante, L.A. se atrasou uns passos, tirou três projetís da algibeira, tirou um trabuco que trazia na cinta, colocou as três balas no tambor, alcançou o ‘amigo’, apontou o revolver para ele, disse um impropério qualquer e puxou o gatilho…

Tec, tec, tec… Bang, Bang, bang…

Sem entender muito bem o que se passava, no segundo ‘tec’ do cão, Antonio Marcos do Santos, 20 anos saiu em disparada, correndo em zig-zag. Quando os três ‘bangs’ eclodiram ele já estava longe da mira do trabuco do amigo ‘urso’!

Sem conseguir matar o ‘convidado’ à bala, o ‘dimenor’ tentou matá-lo no muque… Correu atrás dele. Entraram  pelos fundos do restaurante no pega-não-pega, com o revolver vazio na mão, colocando em polvorosa as cozinheiras até que pegaram no tapa.

Um policial paulista que estava por acaso no restaurante com a família entrou em cena e dominou o pequeno homicida, pondo fim ao fuzuê!

Na delegacia regional de Pouso Alegre, instado pelo delegado de plantão sobre os motivos da tentativa se homicídio, o “dimenor” justificou:

– Ele – Antonio Marcos – falou que ia me dar uma surra…!

Antonio Marcos, que escapou da morte graças à posição das balas colocadas no tambor do Taurus 38, também explicou a ameaça:

– Ele – L.A.Pinto – andou espalhand0o pela cidade que eu tô roubando…!

O “dimenor” contou ainda que tão logo soube da ameaça de surra, foi até a vizinha Bragança Paulistas e comprou o trabuco por 300 reais para matar o ‘amigo-desafeto’.

O nervosinho vingativo, que foi enquadrado no artigo 16 da Lei 10.826, foi encaminhado para um tete-a-tete com o Representante do Ministério Publico da Comarca de Extrema. Se ele já tivesse completado 18 aninhos, poderia pegar de 3 a 6 anos de cana…

Aventuras e desventuras de Cirilo Bola Sete…

MENINOS QUE VI CRESCER

 

      Andando hoje pela manhã no charmoso calçadão do Leblon, Ipanena e Arpoador, lembrei – vejam só? – do Cirilo Bola Sete!!! Há dois anos, quando eu o entrevistei debaixo da conteira, defronte sua casa no velho Aterrado, ele contou que desfilou belo e faceiro por aqui…

O leitor que entrar no Aterrado, virar para ir ao Sesi e logo em seguida virar a esquerda, caminhar cerca de 150 metros em frente vai chegar a uma tripla encruzilhada. À da esquerda vai para o rancho da família do Marcilio Alves, a do centro leva à casa do desportista João Cavalo, a da direita leva a esquina fatídica, onde no dia 27 de novembro de 83 os irmãos Reanir de Lima mataram o detetive Marcos “Cabeçada” Alves da Silva com seu próprio revolver, após surpreende-lo de trás de uma cerca de taquara. Na encruzilhada da direita tem uma casa de blocos sem pintura, atrás de duas frondosas Conteiras ou Santa Bárbara. Uma cerca de alambrado mantêm fechada uma granja de patos, marrecos e galinhas mestiças. A casa antiga era mais aconchegante ou glamourosa. Tinha alpendre de frente para a encruzilhada, e durante toda sua existência teve duas cores: ora verde oliva, ora amarelo mostarda. A casa atual tem outra arquitetura, outra cor – blocos sem reboco – é cercada de alambrado, mas ocupa o mesmo espaço. Agora é preciso sentar-se no banco de concreto debaixo das conteiras do lado de fora do alambrado para observar o intenso movimento do trecho que se afunila na rua Cordeiro Olimpio. Foi ali que Cirilo nasceu e viveu quase metade de sua vida. A outra metade viveu nas cadeias e penitenciarias de Minas e de São Paulo ou nas ‘quebradas’, fugindo dos homens da lei.

Conheci o pai muito antes de conhecer o filho delinqüente. Luiz Pereira, o Bola Sete era um mulato claro de 1,68, ligeiramente obeso, pele lisa, rosto e quase todo o resto arredondado. Tinha prosa boa e sorriso fácil. Trabalhava de passador na alfaiataria do Keide na Dr. Lisboa, ao lado da joalheria do Piula, três pontos comerciais acima da sorveteria do Tião Bananeira. O apelido Bola Sete eu não sei de onde veio. Certamente se deve à predileção pela bola sete do bilhar que jogava muito bem no Bar Recreio. O fato é que o passador gorduchinho alegre e simpático, em 1976,77 já esboçava os primeiros sorrisos amargos. É que seu filhote Cirilo começava ensaiar os primeiros passos no crime, dando trombadas em garotos ou tomando na cara dura seus bonés ou objetos que eles levavam nas mãos. Bem mais tarde, já na década de 80, quando conheci o trombadinha, pude constatar que Bola Sete morria de vergonha toda vez que ficava sabendo de mais um delito cometido pelo filho. E já não eram mais trombadas. Aos dezessete anos Cirilo tinha quase o mesmo porte físico de hoje, porém muito mais ágil e forte. Furtos sorrateiros e roubos nas quebradas, atrás de uma faca tipo peixeira – naquele tempo não existia essa boiolagem de roubar com faca de cozinha, usava-se a famosa ‘lapiana’ numero nove tipo peixeira que impunha respeito – ou um revolverzinho 22 ou garruchinha velha de dois canos. Pistolas automáticas, Magnum 357 ou mesmo Taurus trezoitão só nas capitais paulista e carioca ou então se conseguisse arrombar a B.Pacheco e Cia.

Apesar de ter passado praticamente toda sua vida útil, de maneira inútil, por conta da justiça ou tentando fugir dela – só atrás das grades foram 19 anos – podemos dizer que Cirilo “se deu bem”. Sua algibeira nunca viu mais do que quatro ou cinco notas de 50, juntas, mas conseguiu sobreviver na prisão, pagar seu debito com a sociedade e hoje está limpo. Será…?

Tendo trabalhado fora de Pouso Alegre alguns anos e Cirilo pago cadeia em outras paragens, perdi de vista parte de suas façanhas e foi o próprio que as contou sentado no banco de concreto debaixo das Conteiras na encruzilhada da Cordeiro Olimpio, defronte sua casa no velho Aterrado. Mas voltemos aos anos 80, quando a nova safra de detetives chegou a Pouso Alegre. Adair, Pingüim, Barbosinha, Valim, Dorigatti, que ‘eram da terra’ e Romeuzinho, Luiz Neves, Munhoz, Paixão, Beijinho, Lobão, depois Pradinho, Tiãosinho, Batista, Faria, que fincaram raízes na terra do Mandu e outros que deixando marcas ou não foram embora. Não são apenas nomes, são policiais que destacaram Pouso Alegre no mapa do combate à criminalidade, desvendando crimes e prendendo meliantes destas e de outras plagas que aqui aportavam.

Até o final daquela década o “modus operandi” da policia civil era bem diferente. A policia conhecia todos os meliantes da cidade e sabia o que cada um andava aprontando. Meliante fichado na policia circulando nas madrugadas desertas…

Para continuar a ler essa historia, adquira o livro “Meninos que vi crescer”.

 

Do ‘Crem’ para o Hotel do Juquinha

Sebastião Alves Maia, motorista da ‘Trans Tassi’, de Poços de Caldas, passava por Pouso Alegre, com seu caminhão carregado de oxigênio, quando resolveu parar para descansar. Procurou um lugar seguro. Estacionou o bruto ao lado do terminal rodoviário, onde há movimentação de pessoas, veículos e policiais durante toda a noite e entregou-se às caricias de Morfeu em um hotel ali perto. Acordou às sete e meia da manha com batidas na porta do quarto. Era a policia…!

Apesar da sisudez do trabalho e da hora ainda tão pequena do dia, os policiais gastaram o bom humor…

– O senhor é o motorista do caminhão de “Air Liquide” que está estacionado lá fora? – Perguntaram.

-Sim. Aconteceu alguma coisa…?

– Temos duas noticias… Uma boa e uma ruim! Qual você quer primeiro?

Com olhar perscrutador, tentando adivinhar o que acontecera, Sebastião balbuciou…;

– A ruim primeiro, né!

– Arrombaram seu caminhão e furtaram seus pertences!

– … E ainda tem noticia boa? – Emendou Sebastião.

-… Já prendemos o ladrão e recuperamos os objetos roubados !

O furto acontecera às 05:40h da manhã. Enquanto Sebastião Alves dormia, o garotão Jeferson Luiz Maciel arrombou o caminhão e furtou do seu interior uma impressora com coletor para emissão de nota fiscal, uma caixa de ferramentas, equipamentos de segurança e uma mala de roupas.

Não se importando com os olhares dos passantes à meia luz da aurora, Jeferson se afastou de fininho do caminhão, mas não foi longe. Um dos ‘olhares’ indignados digitou 190 e ele caiu nas malhas da lei dois quarteirões adiante, antes que a res furtiva virasse ‘brita’ numa boca qualquer do velho aterrado.

Antonio A. Maia, 47 anos, morador da bela Passos, a cidade mais violenta do Estado, recuperou seus objetos antes de saber que eles haviam sido furtados e pôde seguir viagem… atrasado!

E o larapio Jeferson Luiz???

Bem, toda moeda tem dois lados…

Quando eu lhe perguntei seu endereço, encostado no canto da cela correcional, Jeferson baixou a cabeça e só depois de uma eternidade respondeu, reticente, já com voz tremula;

– Moro na rua…

– Você não tem família, casa…?

– Tenho mãe, mas não tem jeito, não… Eu fui abandonado quando tinha dois anos, eu e meu irmão maior fomos deixados no CREM… Minha mãe foi expulsa da cidade…

– Expulsa? Porquê?

– Tentativa de homicídio… Eu cresci no CREM até os 15 anos. Aí fui pra rua. Conheci as drogas, furto… Fui internado na clinica em Itamonte. Chequei a ser monitor do grupo, líder de albergue… Mas não podia ficar lá mais de um ano… Voltei p’ra rua e ‘inferpei’ no crack. Roubei o caminhão do ‘coroa’ p’ra trocar por pedra…

Quando perguntei do irmão, o garotão que minutos atrás tinha cara de mau, deixou cair a mascara de vez, desandou a chorar… viajou no tempo!

– O meu irmão..? Eu queria ter a sorte dele! Ele foi adotado, casou, tem emprego, tem mulher, casa, filho…

– Mas sua mãe não aceita você de volta?

– Ela mora na rua Projetada, no Aterrado. Faz poucos meses que ela saiu da cadeia… trafico de drogas. Conheci ela quando tinha 16 anos… Sem chance!

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… Depois de assinar seu primeiro 155 – segundo ele – Jeferson Luiz Maciel – que diz ser filho de Sandra Maciel dos Santos – recebeu amparo social… Vai morar no Hotel do Juquinha!

Passos chega a 24 homicídios em 2012… Metade do ano passado!

Dos 48 assassinatos ocorridos na bela Passos no ano passado, metade das vitimas era do bairro Novo Horizonte, quase todos envolvidos com trafico de drogas e outros crimes. Os homicídios agora estão acontecendo no bairro da Penha… O ultimo aconteceu na virada da noite de domingo, depois de uma trégua de apenas 5 dias.

Valter Alves do Santos conheceu seus algozes na rua em que morava e correu para casa tentando salvar a pele, mas não conseguiu escapar. Os executores permitiram apenas que ele chegasse até a porta de casa, para não atingir nenhum inocente. Quando ele colocou o pé na soleira da porta, recebeu a descarga de duas “ponto 40”… Foram mais de vinte disparos das armas de grosso calibre, de uso restrito das formas armadas. Só o legista poderá afirmar com precisão quantas azeitonas se cravaram no corpo do jovem de 20 anos.

O crime da antiga Rua do Valinho – segundo da semana – foi uma típica execução ordenada por desafetos da vida do crime. A ordem partiu de dentro da cadeia, de onde Valter saíra em março do ano passado. O motivo, segundo levantamentos iniciais, é que Valter teria agredido uma senhora na rua, mãe de um preso, crime de pena capital entre bandidos.

O assassinato de Valter Alves dos Santos Mendes, no domingo, foi o 24º do ano em Passos. Em Pouso Alegre 8 cidadãos foram assassinados até o momento. Apenas 2 tinham envolvimento com crimes!

Daniel Alexsandro inaugura “paredão” do Bretas…

Outro dia ouvi uma pessoa dizer que todo estabelecimento comercial de grande porte contabiliza 5% do seu faturamento como “perdas & danos”… pequenos furtos praticados por larápios sorrateiros que levam pequenos objetos na bolsa ou na cueca sem pagar. Será?

O recém inaugurado Supermercado Bretas, na Perimetral inaugurou seu departamento de perdas e danos na ultima sexta à tarde.

 

Daniel Alexsandro Mello Firmiano, 19 anos, morador do velho Aterrado, desfilou belo e sorrateiro pelo novíssimo supermercado – que de novo só tem mesmo as instalações, pois os preços são velhos como os demais da cidade – e em dado momento escolheu o produto que ia levar… mas pretendia levar na conta do ‘abreu’… se ele não pagar, nem eu!!!

Enquanto desfilava pelos corredores namorando as gôndolas, seus passos eram atentamente seguidos pelo chefe da segurança. Para evitar constrangimentos, o funcionário foi esperar Alexsandro lá fora, no estacionamento. Quando o jovem big brother saiu, recebeu o clássico convite;

– Queira acompanhar-me até a gerencia, por favor?

Querer Alexsandro não queria, mas como recusar um convite tão gentil!!!

Ainda bem que o segurança estava atento e evitou o furto pois o prejuízo seria grande!!! Alexsandro levava na cueca um aparelho Prestobarba Bozano e cinco lâminas!!! Quase R$ 9 reais…!

Isso lhe custou R$ 622 reais de fiança. Como não tinha tanto dinheiro assim na algibeira, foi se hospedar por conta do contribuinte no Hotel do Juquinha.

Está inaugurado o ‘paredão’ do Bretas…!

O 23º homicídio em Passos…

Na terra do ator Selton Melo, que pode concorrer ao Oscar em Hollywood em janeiro próximo, com seu “Palhaço”, a criminalidade continua sendo coisa séria!!!

O penúltimo passense à bater às portas de São Pedro foi o cidadão Talmo Rosa de Paula, na madrugada de 30 de setembro. Fora um recorde! Quarenta e dois dias contados sem homicídios.

A nova contagem ia bem até esta terça 09 de outubro. Thiago Maciel de Oliveira, o Beicinho, 19 anos interrompeu a contagem no final da tarde… contra sua vontade, é claro. Ele estava deitado dentro do quarto de sua casa na antiga Rua do Valinho, no bairro da Penha, quando recebeu os balaços. Um sujeito quebrou os vidros da janela e descarregou o trabuco antes que ele pudesse esboçar qualquer reação. Os seis tiros acertaram na boca, nos braços e nas costas. Crime típico de execução por envolvimento com drogas.

Na noite de segunda, uma tentativa já ocorrera na rua Sebastião Teófilo no bairro Santo Antonio. Um dos três ocupantes de um carro que passava pela rua descarregou o revolver na direção de um adolescente de 17 anos. Apesar de receber as azeitonas quentes na barriga, no glúteo e nas pernas, a execução não se concretizou. O jovem foi socorrido ao hospital e não corre risco de morrer em decorrência dos ferimentos.

Thiago Beicinho morreu dentro do quarto onde recebeu os tiros. Ele foi o 23º passense a bater à porta de São Pedro pedindo hospedagem eterna em 2012!

Cachorros & Cachorradas = O Lobo & o Carneiro… e os carrapatos!

Conheci o Carneiro ainda menino, de calças curtas e pés no chão, no final da rua Mons. Dutra, no bairro Primavera. Do meio de uma renka de irmãos e irmãs, o garotinho branquelinho, de sorriso fácil, deve ter ganho seu apelido por causa dos cabelos loiros cacheados, parecendo o fornecedor de lã… Apesar de nos conhecermos da rua e sermos ‘malungos’, nunca estreitamos relacionamento. Nos aproximamos em 1990, quando eu dirigia a LEPA e ele foi levado pelo Jose Maria Simões, para ser o ‘barateiro’ do ‘carteado’ na sede da liga.

Foi ali que conheci também o Lobo, companheiro inseparável do Carneiro…

Por mais que Carneiro desprezasse e tentasse se ver livre do fiel amigo, ele sempre seguia seus passos e na maioria das vezes, apenas o seu cheiro… E sempre estava à seu lado. Era baixo, forte, troncudo, pêlos grossos e compridos quase se arrastando pelo chão. Pêlos desarrumados e sujos… Acho que nunca viu um chuveiro ou mesmo uma mangueira no quintal. Banho!!! Só quando chovia.

Carneiro almoçava cedo em casa no Santo Antonio e descia a pé até os barzinhos em volta do Mercado Municipal. Podia-se contar nos dedos – da mão esquerda – os dias da vida de Carneiro em que ele não virou um copo de Suco de Gerereba… E o fiel Lobo descia a Getulio Vargas ou Otavio Meyer ao seu lado. Às vezes na frente, às vezes arfante, atrás… O dia que Carneiro estava atrasado para o trabalho e descia de onibus, Lobo vinha correndo no rastro. Minutos depois de sua chegada na Liga, Lobo chegava com a língua de fora. As vezes chegava antes do Carneiro. E se deitava como de habito na varanda da Liga na Mons. Jose Paulino.

Enquanto Carneiro cuidava do carteado, do meio dia até a madrugada, Lobo ficava na varanda do prédio. Dormia de roncar o dia inteiro… De noite fingia dormir, mas estava sempre atento. Se chegava um conhecido na liga, ele apenas abria os olhos sem mexer com a cabeça. Se fosse estranho, imediatamente Lobo se levantava, se empertigava e latia forte para avisar o dono e até impedir a passagem…

Certa tarde de muito calor, notei pequenas pintas marrons na parede bege da Liga. Coisa à toa, não dei importância. No dia seguinte pela manhã as pintas não estavam mais lá. Também não dei importância. Outro dia, por acaso voltei a perceber as mesmas pintas na parede. Passei a observar e vi que as pintas redondas e achatadas, do tamanho de uma tampa de canetas bic, outras maiores, estavam… se mexendo!!! Observei melhor… Eram carrapatos!!! Três, cinco, oito…? Não…!!! Eram 18, 20, 25 carrapatos da cor de chocolate, de variados tamanhos! Eles subiam lentamente pela parede bege propiciando uma bela combinação de tons de cores, até sumir próximo ao telhado… Aquela debandada de parasitas estava abandonando o Lobo. Nem os carrapatos suportaram a falta de higiene do velho, peludo e dócil Lobo!!!

Menos mal que estavam abandonando o corpo peludo do Lobo!  O problema era… Para onde iriam? Dentro do escritório, das salas de jogos, da cozinha nenhum carrapato foi visto. Mas, havia a questão do nojo, da falta de higiene! Era preciso dar um fim nos carrapatos… ou no seu hospedeiro!

Carneiro, era o típico bom carneiro, nunca berrava. Não sei por inteligência ou por natureza, era de falar pouco e escutar muito. Ele não era meu subordinado, mas nosso relacionamento era respeitoso e cordial. No entanto, sempre pareceu que ele tinha medo de mim, embora não tivesse motivo.

Quando pedi a ele para não trazer mais o Lobo – e seus carrapatos – para o trabalho ele não objetou. Mas a separação era praticamente impossível. Nos primeiros dias Lobo atrasou um pouco mais para chegar à Liga… precisou de alguns minutos para roer as cordas que o prendiam e as tabuas do portão, antes de descer calmamente a Otavio Meyer, parar no bar no da Maria, na esquina do mercado e seguir em frente, o cheiro do dono.

No outro dia Carneiro amarrou Lobo a uma corrente. Que problema!!! Ninguém dormiu na vizinhança enquanto Carneiro não chegou. Lobo latiu, chorou e uivou até ouvir a voz do dono… de madrugada!

A única maneira de livrar-se do Lobo era doá-lo a alguém. Mas ninguém queria um cachorro de meia idade, com porte de Beagle e pelagem de Pequinês, encardido, mesmo que não soubessem que ele era o maior taxista de carrapato da cidade! O jeito então era abandoná-lo longe de casa.

Na madrugada seguinte, depois de encerrar a sessão de carteado, Carneiro colocou Lobo no porta malas do carro de um amigo e ele o soltou na entrada do Pantâno. Naquela mesma madrugada, antes do galo cantar, Carneiro precisou se levantar ainda grogue, exalando seu característico cheiro de bagaço de cana, para abrir o portão… O amigo Lobo estava lá arranhando o portão, tentando entrar para proteger a casa do dono!

Carneiro ainda fez mais duas ou três tentativas de despachar Lobo, mas ele sempre voltava para casa… E com ele os carrapatos!  Até que;

– Carneiro, embale o Lobo para viagem. Amanha é dia de ir à Silvianopolis… Vou levar o Lobo e jogá-lo no Rio Cervo. Quero ver ele trazer os carrapatos para cá de novo…!!!

Se pensam que Carneiro se amofinou! Se enganaram carrapatamente!

A uma da tarde do dia seguinte Carneiro estava, como de habito, sorridente na porta da liga me esperando. Dentro do saco de estopa marron, imóvel, alheio ao seu  destino, podia-se ouvir a respiração ofegante de Lobo…

Parei o Escort prata sobre a ponte do Rio Cervo, na divisa dos municípios de Pouso Alegre com Espírito Santo do Dourado. Abri o porta-malas, desatei lentamente a cordinha que amarrava o saco de estopa… Lobo havia se ajeitado na traseira do carro. Estava sentado dentro do saco. A língua de fora… Não disse uma palavra, não fez um movimento. Apenas fitou-me seu par de olhos pidões! Afastei-me um metro da traseira do carro, apoiei as mãos no parapeito da ponte da estrada deserta e olhei para baixo. As águas sujas do pequenino Rio Cervo desciam rápidas lá embaixo, se desviando de pedras e de galhos podres de arvores, seguindo seu inexorável destino em direção ao mar… Nenhum animal sobreviveria àquelas pedras fincadas em pouco mais do que uma lamina de água suja. Esperei um minuto, que pareceu uma eternidade, ali encostado na ponte, torcendo para meu amigo Lobo pular do porta-malas, sair correndo até se enfurnar numa chácara qualquer da beira da estrada… Mas ele permaneceu imóvel dentro do saco. Seus olhos tristes pareciam querer dizer;

– Estou em suas mãos… Faça o que mandar seu coração!

Não esperei que ele repetisse… Mudo como ele, fechei a tampa do carro, entrei, dei partida e fui embora.

Quando o cabo Pinheiro passou ao longo do corredor da cadeia de Silvianopolis no inicio da tarde daquela terça feira, notou que as três celas sempre vazias, desta vez tinha um preso e perguntou;

– Qual o B.O. deste pobre diabo?

– Trafico ilícito de carrapatos…! Respondi

– Quanto tempo ele vai ficar aí?

– Até que alguém pague sua fiança e o leve para uma casa de tratamento e recuperação! Quer tentar?

No dia seguinte, quando Carneiro perguntou do Lobo, respondi curto, grosso e sério;

– Se a correnteza tiver andado bem, seu cãozinho carrapatento já deve estar chegando ao Rio Sapucaí, lá embaixo, nos Vitorinos…

Na quinta feira quando cheguei para trabalhar na Delegacia de Silvianópolis o baixinho cabo Pinheiro, de arrastado sotaque carioca, já estava no Destacamento, contiguo à delegacia e cadeia. Ao seu lado havia um cachorro cochilando. Era baixote, marrudo, imensos pêlos lisos escovados e tosados, cor de mel… Quando ele abriu os olhos preguiçosos para olhar-me de esgueio e mexeu levemente a ponta do longo rabo, lembrei do Lobo. Antes que pergunta chegasse à boca e ganhasse som a conclusão chegou ao cérebro… Vendo minha mudez sem olhar para mim, o cabo ‘carioca’ emendou com uma ponta de ironia e sarcasmo…

– Ele só precisava de banho, tosa e escova… Eu mesmo fiz!

A viagem de volta do Lobo foi bem mais confortável. Ele veio cochilando de rosquinha no tapete, na frente do banco do passageiro. Quando passamos sobre a ponte do Rio Cervo dei uma olhada discreta pela janela e outra para ele… Acho que vi seus olhos se abrir e fechar lentamente! Não sei se ele quis dizer:

– Viu o que você quase fez?

Ou se:

– E aí, valeu a pena?

Ou quem sabe…

– Obrigado por ter me dado uma segunda chance…

Difícil foi agüentar a boca aberta do carneiro nos dias seguintes. Ele, que já era risonho, não parava de sorrir!!! Embasbacou-se no momento em que viu Lobo, lindo, louro belo e faceiro cor de mel – e sem carrapatos – entrando na varanda da Liga.

Meses depois eu deixei a liga e perdi o contato com os dois amigos. Alguns anos mais tarde eu soube que a singela amizade havia chegado ao fim. Carneiro, na casa dos 30 anos, morreu precocemente, como era esperado. Seu fígado não suportou mais o banho diário de álcool. Cirrose hepática!!!

Lobo, que resistira ao ataque diário de dezenas de carrapatos e escapara do vôo cego no Rio Cervo, não resistiu ao inexorável passar dos anos. Já era bem maduro na época destes fatos. Pelo seu porte físico, deve ter vivido mais uns cinco anos, até os treze ou catorze anos…

Será que Lobo & Carneiro se encontraram no outro mundo?

Final da trégua em Passos… Mataram mais um!

Foi a trégua mais longa na guerra entre nóias e traficantes que vinham assolando a bela Passos desde janeiro do ano passado. Quarenta e dois dias sem assassinato. O ultimo ocorrera na Praça da Igrejinha da Penha, no dia 18 de julho p.p.

Foto: Passos News

Mas a bandeira branca foi desarvorada… Na madrugada de domingo 30, mais um passense bateu à porta de São Pedro pedindo hospedagem eterna. A bola da vez foi o cidadão Talmo Rosa de Paula. Para variar, mais uma vitima de homicídio envolvida com o crime. Tálmo cumpria pena na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados, pela pratica de 147, 155 e 33. Ele estava de saidinha temporária e não retornara para a APAC quando foi assassinado pelas costas. Segundo sua mulher…

– A gente estava num barzinho até as quatro da manhã tomando cerveja. Aí ele pegou a bicicleta e foi comprar cigarro numa padaria aqui perto e não voltou mais…

Quando saiu para procurar o marido, ela o encontrou caído ao lado da bicicleta, na rua Ceará, no bairro Bela Vista.

Segundo a policia militar que registrou o fato às 05:40h da manhã, Talmo foi alvejado enquanto pedalava sua bicicleta, com 4 tiros nas costas, com arma de pequeno calibre.

Talmo Rosa de Paula, 28 anos, morador do bairro Casarão, é o 22º conterrâneo de Selton Melo a se mudar para a chácara do padre em 2012. No mesmo período do ano passado, foram 30 homicídios!

Praticamente na mesma hora em que o fugitivo da APAC morria no bairro Bela Vista, outro cidadão era baleado pelas costas no bairro Califórnia. Ele foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e não corre risco de – perder a – vida.

A guerra entre bandidos na bela Passos, continua…!    

Policia prende suspeito de assaltar policial

Parar o carro em certos locais da cidade na penumbra da noite, para namorar, curtir um som, ver a lua cheia ou mesmo para fazer ‘campana’, pode ser arriscado até para a policia…!!!

A noite de segunda ainda era criança quando três detetives da DP de Santa Rita do Sapucaí estacionou  uma viatura “fria” numas das ruas do bairro Arco Iris, para observar o ‘movimento’!

Não demorou muito encostou uma dupla de motoqueiros, um deles sacou um trabuco e tentou assaltá-los! Ao perceber que eram policiais, os  motoqueiros dobraram a serra do cajuru, mas na fuga fizeram alguns disparos na  ditreção dos policiais para retardar a perseguição. Ninguém se feriu.

A operação no entanto desencadeou o cumprimento de uma serie de Mandados de Busca e Apreensão nesta quarta feira no bairro Arco Iris e adjacencias.

Durante as buscas, os detetives apreenderam  dois revolveres calibres 38, munição de 38 e 32 e quase meio quilo de farinha do capeta, pedra bege fedorenta e erva marvada, balança de precisão e capacetes. Um dos trabucos 38 estava no muquifo do menor M.H.T.G., 17 anos, o “Zoio” ‘pedido’ pela justiça para internação.

A operação Café da Manha da PC rendeu a prisão de Anderson Barroso Silva, 22 anos, o Barrosinho – menino que vi crescer de chinelos de dedo e bermuda nas ruas da Vila Operaria, seguindo os passos do tio João Paulo Barroso, cliente do Hotel Recanto das Margaridas.

Anderson Barrozinho estava com a prisão preventiva decretada a pedido da delegada Stella Reis, como suspeito numero um do assassinato – encomendado – do traficante Jorge Costa Porto, o Corintiano… Ele fora executado no interior de uma lanchonete na noite do dia 08 de setembro,  com 9 tiros. Barrosinho, segundo os levantamentos dos detetives, era um dos motoqueiros que descarregou o trabuco no interior da lanchonete.

E pode ser também um dos motoqueiros que tentou assaltar os policiais na noite de segunda…

Eliminado no paredão do Center Box… Por causa de chocolate Garoto!!!

Policiais militares que passavam pela Isidoro Silva Cobra ao pé da noite desta quarta viraam uma cena pouco comum… Um sujeito com a língua de fora, correndo o quanto podia e outro bem vestido correndo atrás!

Seria uma maratona?

Seria um teste Cooper?

Nada disso! Era um segurança de supermercado correndo atrás de um larapio…

Quando Ticiano Felipe Ferreira Silva entrou no recinto do supermercado Center Box e começou desfilar sorrateiro pelos corredores, o segurança R. K. E., através do famigerado “big brother”, passou a seguir seus passos… e sua mão boba. Em dado momento ele enfiou dois tabletes de chocolate branco Garoto debaixo da camiseta e foi saindo de fininho. Quando passou pelos caixas sem pagar a guloseima, o segurança tentou abordá-lo e teve inicio a perseguição. Foram três quarteirões de teste Cooper. Saíram da Avenida Jose Alfredo de Paula, viraram na Com. Jose Garcia, entraram pela João Parente, viraram na Izidoro Cobra e somente pararam ofegantes porque cruzaram casualmente com os homens da lei… Tudo por causa de duas barras de chocolate branco da Garoto!!!

Aliás, chocolatezinho caro esse, viu!!!  R$ 622 reais!!! Foi este o valor da fiança arbitrada pela delegada de plantão Lucila Vasconcelos.

Mas esta não foi a primeira vez que Ticiano Felipe, 34 anos, sentiu a mão pesada da lei. Ele já assinou 129, 16 da 6368 e um 157. Esteve vivendo por conta do contribuinte nos últimos três anos. Deixou o Hotel do Juquinha no dia 10 de junho de 2011.

No final da tarde desta quinta, depois que a esposa de Ticiano pagar a fiança, ele poderá voltar para casa…