Fui conhecer outro dia, o Cristo Redentor… Duas horas de espera na estação, meia hora de subida íngreme para finalmente ter uma das mais belas vistas panorâmicas do mundo. Era um sábado ensolarado, uma da tarde, estava lotado. Aparecer sozinho na foto, impossível!
Estacionamento numa ruela no inicio da linha férrea por 30 reais – para um flanelinha que só vimos na chegada, é claro – 44 reais de passagem mais refrigerante e um salgado; 80 reais por pessoa. Tudo bem! Depois de uma dezena de viagens à Cidade Maravilhosa, agora posso dizer que conheço, ‘in loco’, uma das 7 Maravilhas Modernas do mundo. Valeu a pena!
Em meados do anos 90, não me lembro bem, saí numa manhã de domingo para visitar o Cristo que estava sendo construído na Serra do São João. Cá embaixo, na Rua Três Corações, vimos a imponente estatua, cheia de andaimes, escora, sendo construída. Estava quase pronta. Dois quilômetros adiante, já na estradinha, depois do segundo mata-burro, olhamos para a serra e… surpresa!!! O Cristo não estava mais lá!!!
Aceleramos e chegamos ao cume da serra minutos depois. Lá estava o Cristo, todo esparramado no chão! Havia caído, antes mesmo de ser concluído. Ainda bem que não havíamos chegado lá.
Pouso tempo depois, ao assumir seu segundo mandato como prefeito, Jair Siqueira se propôs e construiu o Cristo do São João. Maior, mais imponente, mais seguro do que o caíra. Foi modelado pelo artista Ceará – ao contrario da media do seus conterrâneos, imenso, quase tão grande quanto a estatua. Depois da grande obra, morou vários anos em Pouso Alegre e jogou no time do João Gordo do Cascalho. Era goleiro dos bons, nos dois sentidos, tanto debaixo do arco quanto atrás de um copo. A ultima vez que joguei contra ele foi no Campo das Cabritas, em 2004. Entre uma defesa e outra, sorvia um generoso gole do suco de gerereba da garrafa ao pé da trave… – atualmente está construindo outro semelhante para um prefeito na sua terra natal. Mas esta é outra estória.
Em 2001 voltei ao pé do Cristo como policial. O proprietário do terreno de acesso à estatua havia proibido a entrada de estranhos em sua terras e conseqüentemente fechado o acesso ao grandioso monumento à fé cristã. Fui investigar os fatos. Logo na entrada da fazenda fui barrado por um funcionário em uma guarita com dois cães Rotweiller. Não sei que desfecho a pendenga teve na justiça, mas o Cristo, cujo aceso já era complicado, foi completamente abandonado.
Quase na mesma ocasião em que conheci o ‘cartão postal numero 1 do Brasil, fui visitar o Cristo “Redentor” da Serra do bairro São João. Fui matar a saudade e conferir os motivos do desabafo do Alexandre Araujo no jornal Folha de Pouso Alegre, meses atrás. Não que eu duvidasse das informações e razoes do fundador e diretor do Museu da cidade, mas eu já estava com saudade de ver a cidade lá de cima. É um local majestoso. Logo abaixo do morro se espalha a grande mata da prefeitura. Centenas de hectares de mata fechada, visitada apenas por meia dúzia de aventureiros – Outro dia o professor Célio e alguns amigos se aventuraram por lá e se perderam! – Às costas do Cristo, mais mata. Olhando ao longe avista-se os municípios de Congonhal, Silvianopolis, se vê a Fernão Dias, Santa Rita do Sapucaí, o município de Estiva, de Borda da Mata e todo o rico Vale do Rio Mandu descendo das Anhumas, Imbuia, Pantano, Cajuru até se misturar com as águas do Sapucaí Mirim, na Airton Sena. Ao pé da mata do Cristo se descortina a bela Pouso Alegre, cidade que vi crescer e se multiplicar. Éramos 39 mil quando cheguei. Hoje somos quase 140 mil pousoalegrenses!
Mas e o Cristo?
Oh , tristeza!!!
Está lá tal qual disse Alexandre Araujo… Completamente abandonado! Nunca mais viu sequer uma mão de tinta. Está triste calado, solitário, perscrutador no alto da serra… Embora zele, com seu olhar paterno e serio, por todos nós, ninguém se lembra dele. Ninguém fala Nele…
Secretaria de Turismo!?
Nem deve saber de sua existência!
Mas porque o Cristo de Pouso Alegre está abandonado?
Porquê o acesso à vista mais privilegiada e bela da região, mais bela do que Poços de caldas ou Caxambu, ou Serra Negra, ou Águas de Lindoia… é tratado com tanto descaso? O que nosso Cristo fez de errado???
Ele teve o azar de nascer filho político…!!!
Já se tornou comum no Brasil, obra política de um, ser desvalorizada, menosprezada, abandonada pelos políticos adversários. Ninguém adota o filho político de outro. Cada administrador quer ter o seu próprio filho e que se dane o filho do adversário, mesmo que ele seja útil ou necessário à população que pagou a sua gestação e nascimento. Cuidar e melhorar uma obra do adversário é admitir que ele fez uma coisa boa. Por isso, nem pensar!
Essa é a mentalidade vigente dos nossos políticos.
Quem construiu a imponente estatua, não concluiu o acesso e nem fez a infraestrutura necessária para receber os turistas! Terminado o mandato do “pai” do Cristo, sem ter concluído seu projeto, veio o pai adotivo que, de 2001 a 2004, se limitou a brigar com o dono das terras para manutenção da estrada como estava, mas não melhorou o acesso e não realizou as obras necessárias para receber os visitantes.
O próprio “pai” do Cristo voltou ao poder em 2005, num mandato tumultuado por cassação e talvez nem mesmo uma visita tenha feito ao “filho” ilustre no alto da serra!
O atual pai adotivo, embora tenha muita intimidade com Cristo, de quem se aproximou no seminário, nada fez pelo monumento ao Cristo do São João. Interveio na reativação do sino e na pintura da Catedral, mas não moveu uma palha pelo filho ‘adotado’ no ponto mais alto do municipio. Os badalos do sino da majestosa Catedral soam muito mais alto que o silencio da estatua no alto da serra. Na atual campanha eleitoral nenhum dos três candidatos a prefeito e nenhum dos 280 candidatos a vereador se lembrou do Cristo…
– Educação e saúde rendem muito mais votos…!
É verdade. A combalida educação e a esfarrapada saúde do município – e do país – embora tenham tido algum progresso, precisam de mais atenção.
Mas, quem sabe um pouco de lazer, um pouco de distração, um pouco de fé não fizessem bem ao espírito das pessoas!!! O orgulho que os cidadãos de Poços de Caldas, de Caxambu, de Serra Negra, de Águas de Lindóia, nossos vizinhos, sentem do seu Cristo redentor de braços abertos abençoando suas cidades com os turistas a seus pés, melhora sua auto-estima, sua saúde, sua educação, sua qualidade de vida…
E olha que nenhuma destas cidades possui uma serra e um Cristo tão majestoso quanto Pouso Alegre!!
Uma estradinha asfaltada, um bondinho ou um teleférico de pouco mais de 300 metros ligando o Parque Natural a seus pés, uma lanchonete ou restaurante, uma loja de souvenir à sua volta, funcionando ao menos nos finais de semana, é coisa de sonhador, não é Cristo? Isso não dá voto, não é mesmo?
O Cristo da serra do São João, apenas 4 metros menor do que o seu ‘homônimo’ famoso na Cidade Maravilhosa, não tem e jamais terá tanto charme, magia e ‘dólares na túnica’. No entanto, a médio prazo, pagará o seu investimento e poderá se tornar referencia turística para Pouso Alegre e região.
Enquanto eu e o Alexandre sonhamos com o mais belo cartão postal de Pouso Alegre, cercado de turistas, de crianças, de jovens, de casais de namorados, admirando uma das mais belas paisagens do Sul de Minas… Enquanto sonhamos que um dia os políticos escolhidos pelo povo, vão governar para o povo e não para seu ego, Você, que cuida de todos nós, continua aí no alto da serra, abandonado, olhando triste p’ra nós… Que também nada fazemos!
Apesar dos políticos, não nos abandone, Cristo. Perdoe-os… Eles não sabem o que fazem!