De tanto acenar para os políticos cá embaixo, pedindo um pouco de cuidados para o seu entorno, a mão da estátua começa a despencar … A ponta do dedo polegar esquerdo já caiu!
Você já esteve aos pés do Cristo Redentor de Pouso Alegre? Sim? Então você é mais feliz do que a média das pessoas! Você teve o prazer inigualável de curtir uma das mais belas vistas do Sul de Minas. Dos pés do Cristo na Serra de São João, você pode ver quase todo o município de Pouso Alegre. Praticamente toda a área urbana, a começar pelo Ribeirão das Mortes à sua esquerda, passando pelo Esplanada, Faisqueira, Belo Horizonte, Cidade Jardim, Chapadão ao longe, até chegar à velha ‘Vendinha’, atual bairro São João bastando olhar para baixo! Também olhando para baixo se vê o bairro Colinas de Santa Barbara e o centro da cidade como se você estivesse ‘ali’! O vale do rio Mandú descendo preguiçosamente desde a divisa de Borda da Mata, passando pelos bairros Anhumas, Imbuia, Pantâno, Cajuru, até entrar à cidade, proporciona uma sensação de grandeza! Às costas do Cristo a mata da Represa, quase intocada, divisando com o município de Congonhal, nos oferece mistério! Lá longe, de frente, se avista campos e serras de Estiva, Itaim, Santa Rita, Bela Vista, Silvianópolis e, de frente ao longe, se a vista for boa e o tempo estiver limpo, dá para ver o Observatório Astrofísico de Brazópolis e a famosa Pedra do Baú na divisa de Santo Antonio do Pinhal com Campos do Jordão… Tudo isso a olho ‘despido’!
Vivi muitas aventuras aos pés do Cristo da Serra de São João antes mesmo de o Cristo ter pés, corpo, braços e cabeça! Certa vez fui dormir ali mas, começou chover e tive que desistir da aventura no meio da noite e voltar para casa à pé… eu e minhas crises de existência! Na manhã de domingo do dia 30 de outubro de 1999 eu e familiares estávamos à caminho de lá, ainda no bairro São João, quando de repente olhei para a primeira estátua ainda em construção e, diante dos meus olhos… ela despencou! Se tivéssemos chegado quinze minutos antes ‘o’ Cristo teria caído aos nossos pés!
O Cristo de Pouso Alegre, terceiro maior do Brasil, com 33 metros – perde apenas para o do Rio de Janeiro e o de Eloi Mendes – foi levantado pelo meu amigo Genésio Moura, o “Ceará”, quase tão gigante quanto a própria estátua que construiu com sabedoria empírica! Além da paixão pelas estátuas sacras gigantescas, Ceará tinha pelo menos outras duas paixões: Futebol e Severina do Popote. Imenso, de bigode e vasta cabeleira black power, lembrava o folclórico goleiro colombiano Higuita. Enquanto defendia o gol do Flamengo do Cascalho nos jogos amistosos nos finais de semana, mantinha uma garrafa de suco de gerereba aos pés da trave… ‘para não deixar a garganta juntar poeira’, dizia ele! Moço bom.
O ‘porão’ do Cristo ja serviu de cativeiro para pai e filho, vitimas de sequestro.
O Cristo de Pouso ficou pronto no final da segunda gestão do prefeito Jair Siqueira, em dezembro de 2000. Não era para ser uma obra política, mas acabou ganhando essa pecha. Portanto, nada mais se fez no entorno da estátua nas administrações posteriores, pois é da mentalidade dos políticos, não adotar ‘filhos’ alheios!
Mão do Cristo sem o polegar: Foto do leitor Diego Santos
Do alto da serra de 1200 metros, ‘nosso’ Cristo de olhar manso e silencioso e gigantescos braços abertos, já assistiu quatro acirradas campanhas políticas nos últimos 18 anos. Em todas elas ouviu discursos ufanistas de todos os candidatos prometendo “revitalizá-lo”. “Vamos construir lanchonetes, sanitários, rampa para voo livre, melhorar a estrada, construir um teleférico… vamos fazer daquele majestoso local o principal ponto turístico de Pouso Alegre”, disseram nos palanques e debates dezenas de candidatos nas eleições municipais. Nenhuma promessa, no entanto, sobreviveu um dia depois do “05 de outubro”! Ao contrario de cidades como Poços de Caldas, Caxambu, Aguas de Lindoia, Serra Negra – só para ficar nas vizinhas à Pouso Alegre – abraçadas do alto pelo Filho do Pai e que se preocupam com o turismo, a velha estradinha sinuosa de 8 quilômetros, cheia de mata-burros, que muito antes do Cristo já me levava aos pés da torre de tv, nunca recebeu nenhuma atenção das ‘secretarias de turismo’.
Ponta do Polegar do Cristo caído ao chão: Foto do leitor Diego Santos.
Depois de anos de descaso e solidão, no ponto mais alto do município, o Cristo parece ter perdido as esperanças de ser notado! De tanto acenar para os políticos cá embaixo, a mão do Cristo está caindo! A ponta do dedo polegar esquerdo já despencou. E preocupa minguados turistas que, apesar dos pesares, ainda se aventuram a visitar o local, como Diego Santos, o primeiro a constatar a derrocada do Cristo nesta terça,10.
“… estive no Cristo hoje à tarde e achei uns pedaços da mão dele no chão, que estão se desprendendo.. achei um perigo pois pode cair na cabeça de algum visitante” – diz ele.
Será que o Cristo Redentor de Pouso Alegre um dia se tornará um ponto turístico?
Ou engrossará a estatística daquela velha frase: “…foi sem nunca ter sido”!?