
Este foi o 60º caixa eletrônico assaltado pelos bandidos na região em 2013. Aconteceu no final da madrugada desta terça, 12, na porta da Univás, defronte o Marques Plaza, único hotel 5 estrelas de Pouso, a menos de 40 metros de um posto da policia militar. Quando os quatro assaltantes explosivos chegaram na caminhonete os vigias da Universidade que estavam na guarita tentaram se enfurnar no ‘campus’ mas foram convidados por eles para assistir o espetáculo.
– Perdeu coroa… Fica na sua aí que a operação vai ser rapidinha.. Não vai doer nada! – Teria dito um dos assaltantes.
Um minuto depois a frente dos caixas foi pelos ares. As costas foram jogadas de costas no campus da escola! – O estrondo das dinamites quase me derrubou da cama há poucos quarteirões dali!
Os quatro assaltantes trocaram de carro no bairro Belo Horizonte, deixando para trás a caminhonete Fiat usada para carregar as gavetas recheadas de dim-dim. – Inclusive os recibos das contas que eu paguei lá ontem à tarde.
Quando eu fazia estas fotos hoje pela manhã, passaram por ali meus amigos Zeca Juru e Ze do Povo. Tivemos uma rápida conversa…
– … Dia seu Chips, tem andado sumido, ôme! Mais qui disgracêra é essa aqui, sô? Inté onti parece que havia um caxa letrônico aqui…!
– Olá Zeca Juru … Voce é quem anda sumido! Dona Zefina não tem te deixado mais sair de casa?
– Pois é seu Chips, lá nu meu sitinho tem carmaria… Na cidade só venho quando tem precisão… O povo tá muito violento, muita droga, muito chofer correndo quinem doido pur aí abraçado c’oa Severina do Popoti…! Mais mi conta, o caxa foi atropelado, é?
Nisso chega outro velho amigo, o Ze do Povo e entra na conversa…

– Não Zeca Juru, os bandidos explodiram mais um caixa eletrônico e levaram todo o dinheiro…
– Mais num é pussive, Ze…! Ali na naquela praca – diz apontando para a placa com o logotipo da Policia Militar – ali num é um posto policiar?
– É sim Zeca Juru, mas não havia nenhum policial ali no momento do roubo. Aliás, ali nunca tem policial! – responde Ze do Povo, com uma pitada de acidez.
– Uai sô, mais intão pra que qui servi o posto policiar, sem policia?
– Serve de enfeite, né – responde Ze do povo, com uma ponta de cinismo.

– Mas intão danô…! Eu vim inté aqui pra sacá uns trocados no caxa, mais si’eli foi pru beleléu…! Vô tê qui i inté o caxa do Baronesa… – diz Zeca Juru, o bom matuto.
– Se eu fosse você não ia, não, Zeca Juru… Só este ano já colocaram “chupa-cabra” nos caixas de lá duas vezes… – emendou Ze do Povo.
– Mai intão ferrô…! Pra que qui servi caxa letrônico si a gente num podi confiá…? Mió fexá tudu duma veiz…!
– O Coronel Dimas, chefe de segurança da Univás, acabou de dizer que vai mandar retirar de vez o caixa daqui da frente da escola, pra evitar danos como este. – Diz Ze do Povo.
– Maispera um poco… Ocêis tão misturano aqui meus ‘tico e teco’ na cabeça… Qué dizê intão qui invêiz di miorá a segurança na cidade p’ra evitá os robô, eis vão mandar tirá us caxa e dexá di presta uma comodidade p’ra população? – emanda Zeca Juru coçando os cabelos cor de prata debaixo do chapeuzinho de palha.
Zé do Povo se limita a abrir os braços e fazer uma careta desconsolada. Zeca Juru continua com sua incredulidade, fazendo a pergunta que não quer calar.

– Meu amigo Airton Chips, meu amigo Ze do Povo, nossa amizade remota lá no nosso tempo de carça curta… Mi escrareça uma coisa! Toda semana eu e a Zefina iscuitamo no radio, na televisão, eu vejo nos jorná, qui Posalegre é ondi o jove tem mais segurança, qui Posalegre istá cada veiz mas rica! Entre as mais rica do Istado! Qui mais arrecada imposto, ondi num tem disimprego, e cada veiz cheganbdo mais indústria…! Mai intão cumé qui a cidade num tem segurança…!!! Pur acaso os jorná istão falano mintira…! Ói qui o nariz podi crescê, quinem Pinochio!

-… Papel aceita tudo, Meu amigo Zeca Juru – responde Zé do Povo, esclarecedor.
– Num é pussive, meus amigos! A minha querida Posalegre banhada pelo véio Mandu, tão bem localizada no mapa di Minas Gerais i inté do Brasir… Uma princesa, que quarqué governo federar qué investir, pur caso do seu progresso qui ninguém põe freio, uma cidade que recebe visita do guvernador do Istado três quatro veis pur ano… Uma cidade que pode servi di ispeio p’ra quarqué diministração… Cumé qui podi fica a mercê da bandidagem!? – desabafa o bom matuto.
Olhamos um para o outro e concluímos.
– Não sabemos responder este questionamento, amigo …
Zeca Juru olha para os destroços do caixa eletrônico espalhados para todo lado – até a lixeira da fundação virou caco! – olha fixamente na direção da placa do posto policial há poucos metros dali, olha para o imponente Marques Plaza, onde se encontram com frequência os homens mais influentes do país, olha para a bela Avenida Tuany Toledo, maior point gastronômico de Pouso Alegre, olha pra nós, meio desacorçoado, estende a mão e diz:

– Seu Chips, Ze do Povo… Foi um prazer incontrá ocêis aqui… Vô vortá p’ro Cajuru. Lá, eu e meu fiel Gigante – seu vira-latas malhadinho, do tamanho de um Chihuahua – e minha velha Maria Trovão – sua espingarda de carregar pela boca! – cuidamos da nossa segurança! Apareçam p’ra biliscá um torresminho… A Zefina fáis gosto. Inté! – e vai embora ajeitando o chapeuzinho de palha no alto de sua sapiência caipira.