
O relacionamento humano encerra mistérios muitas vezes incompreensíveis. Podemos encontrar em nosso caminho, em nosso dia-a-dia, por anos a fio, pessoas profícuas com as quais mal trocamos um bom dia, quiçá sabemos seu nome, o que faz e muito menos a data do seu aniversario. Outras vezes conhecemos pessoas que nada somam de pratico ou material em nosso cotidiano, mas que pela simples maneira espontânea de ser, sem que percebamos, passam a fazer parte de nossas vidas. São como “… os lírios do campo…”, sem nenhuma relação de parentesco, de trabalho ou afinidade, mas sentimos bem e nos alegramos com sua presença. Talvez seja pelo fato de elas não nos pedirem nada em troca de sua presença, de sua alegria e espontaneidade – e de pequenos favores – que as torna tão especiais. Achamos que elas são carentes e dependentes, mas na verdade nós é que dependemos delas para desfazer nossas tensões cotidianas e acabamos usando-as para troças e brincadeiras, as quais elas assimilam e retribuem de bom grado, sem maldade.
Carlos Augusto da Costa, o Scooby é uma destas figuras que costumamos rotular de folclóricas, portadoras desta despretensiosa magia que relaxa, colore e alegra nossa vida.
Conheci Scooby na oficina do Teobaldo – pai – na rua do Rosário no final da década de 80. Ele era ainda adolescente mas tinha o mesmo porte físico e jeitão de intelectual misterioso de hoje. Até a voz grave. Só o cabelo mudou de cor e a barba apareceu. Já era alvo de brincadeiras das quais ingenuamente participava serio ou sorrindo se fosse o caso.
Na delegacia de Policia, onde costuma passar horas a fio, não tem quem não conheça Scooby e não tenha uma palavra afetuosa e correspondida. Ele chega de mansinho e espera por alguns segundos o cumprimento. Se o ignoram, ele puxa prosa:
– Oi Batista, tudo bom?
Só para no corredor, na porta ou entra nos gabinetes e estica prosa, se lhe dão atenção. Senão segue em frente… Responde sempre de acordo com a pergunta.
– Tá de plantão hoje, Scooby?
– Tô, vou até amanha cedo…
– Tá de folga hoje, Scooby?
– Tô, saí hoje de manha…
– Ué, Scooby, não tenho te visto! Por onde tem andado?
– Eu tô de férias. O doutor João, o regional, me deu férias até o fim do mês…
Muitas vezes encorajado por colegas, em situações que não oferecem nenhum risco naturalmente, Scooby age como se policial fosse e suas ordens são regiamente acatadas por delinqüentes que não ousam desobedecê-lo. Até mesmo a linguagem, inadequada na verdade, usada por alguns policiais em certos momentos de stress, Scooby repete como se fosse um dos mais temidos policiais e impõe seu pseudo respeito.
– Scooby, dá uma dura naquele folgado lá no fim do corredor!!!
Ele vai até lá, para na frente, faz cara feia – e precisa ? – e sai com esta;
– Escuta aqui seu folgado! Fica quieto aí senão vai ser pior, heim… Vou mandar os tiras te quebrar no pau e te fechar no corró…
… E o sujeito que não conhece Scooby, pensando que se trata de um policial veterano, baixa a cabeça e fica pianinho…
Esta singela homenagem ao amigo Scooby, publiquei no falecido FOLHA em 2004, quando ele completou 34 anos. Na ocasião Seus “colegas de trabalho” fizeram uma vaquinha e lhe deram um belo presente de aniversario. Porém, não tão belo quanto o que Scooby nos dá com sua presença. Desde então, sempre que encontro Scooby – e basta ir à delegacia ou em qualquer lugar da cidade, pois Scooby é onipresente !! – ele fala da matéria;
– Hei Chips, ta chegando meu aniversario de novo. Vai ter festa!! Eu vou sair no jornal?
Vai, vai sim Scooby, você já está no jornal e agora também no Blog do Airton Chips.
Scooby nosso ‘lírio do campo’, completa nesta segunda, 16, mais um ano de simplicidade e alegria. Se haverá festa não sei, mas presente haverá ao menos um:… ele!
Deus te abençoe e te conserve, Carlos Augusto “Scooby” da Costa…!!!
Scooby chegou logo cedo à delegacia nesta segunda, para receber os abraços dos ‘colegas’. O primeiro foi o delegado regional Flavio Tadeu Destro. Em seguida teve bolo de aniversario com recheio de ameixa e guaraná. O aniversariante era só prosa… Fez até discurso!!!

Parabens, Scooby.