Olá… Feliz ano novo.
Que a benção de Deus Pai criador caia sobre voce, meu estimado leitor e que seu filho, nosso irmão Jesus, continue a iluminar seu caminho e guiar seus passos. Que Ele te dê força, perseverança e sabedoria para vencer seus desafios com seu trabalho digno e honrado, sem derrotar ninguem. Amém.
Como o leitor deve ter percebido, estou ausente do meu ‘habitat’, longe de casa, alheio aos fatos cotidianos. Mas, mesmo sem novidades no blog, os leitores continuam acessando… Por isso eu também resolvi dar-lhes um presente, que na verdade eu vinha guardando a sete chaves para o meu ‘primeiro livro’… Uma das melhores historias da serie “Meninos que vi crescer”; ‘O Misterio do Coisa Ruim da Borda’, exaustivamente investigada e escrita no final de 2009 e inicio de 2010, com fotografias do ‘palco’ do Chiquinho da Borda tiradas na semana passada.
Boa leitura.
O mistério do Coisa Ruim da Borda
O Morro dos Cães uivantes
E os anjos e demônios nossos de cada dia
Parei meu carro na praça ao lado da jovem Basílica de Nossa Senhora do Carmo – jovem no titulo de Basílica a que foi elevada em 2005, pois a majestosa construção tem varias décadas. Foi concluída em 1954 – as duas e meia da tarde quente de sábado e desci. Entrei na primeira loja que vi aberta. Completamente vazia. Um rapaz e uma moça estavam de frente um para o outro acertando contas, com papeis, dinheiro e anotações sobre o balcão. Cumprimentei-os e antes que eu dissesse mais alguma palavra, do nada surgiu uma vendedora, abriu um sorriso ligeiramente forçado e perguntou delicada; “Posso ajudar”? Com um leve pigarro, esbocei também um sorriso de boca fechada, esperei propositalmente o ponteiro do relógio caminhar alguns segundos e respondi perguntando; “ O que vocês me contam sobre o ‘Coisa Ruim da Borda’”? Uma bomba teria causado menos impacto. Os três olharam ao mesmo tempo para mim, olharam um para o outro, olharam de novo para mim cada um tentando formular uma resposta ou uma pergunta. Eu já havia chamado a atenção necessária, desisti da maldade e acrescentei; “Desculpe… eu sou colunista policial em Pouso Alegre e estou aqui investigando a historia do tal Coisa Ruim da Borda, para publicar em minha coluna e no meu blog”. Soltando a respiração, cada um dos três tentou falar ao mesmo tempo, para dizer que nada sabiam a respeito. Uma das jovens tinha ‘ouvido falar há muito tempo’. A outra disse que seu ‘pai contava uma historia dessas’ mas ela não se interessara ou não se lembrava. O rapaz já refeito do susto disse que ‘talvez o padre ou o sacristão ali do lado soubesse alguma coisa’ e recomeçou a contagem perdida das cédulas sobre o balcão. Eu estava começando desvendar o mistério do Coisa Ruim ou Capeta da Borda.
Ao ver que as portas da Basílica estavam fechadas segui pela mesma calçada da loja em direção à Casa Paroquial. Na esquina havia um senhor septuagenário sentado no portal térreo de um sobradinho aproveitando a sombra da Basílica e eu não fiz cerimônia; pedi licença, sentei-me ao seu lado e puxei prosa. Mas poupei-lhe o susto. Antes de entrar no assunto que me interessava eu disse quem eu era e o que queria. O simpático e desembaraçado velhinho contou-me tudo que sabia – o que não era muito – realidade e folclore. Foi ali, vendo o tempo mudar e uma cortina branca despencando sobre o Distrito do Sertãozinho, se aproximando da cidade, que eu soube que o Coisa Ruim da Borda nunca passou da “Ponte de Pedra” e que se voltasse para a fazenda de onde foi expulso seria chamado de “Coisa Ruim de Tocos do Mogi”. Depois do solícito velhinho, cheguei ao muro da Casa Paroquial, mas o sacristão, zelador, camareiro ou mordomo dos padres não se deu o trabalho de falar pessoalmente comigo. Usou o frio interfone para informar que não havia padres em casa, mas que talvez eu conseguisse receber a benção de um deles no Centro Pastoral ou na igreja, na missa da cinco.
Cheguei com três beatas bem maduras ao Centro Pastoral. Uma delas até quis falar alguma coisa sobre o tal capeta, mas quando a outra mais acanhada e desconfiada descobriu que algumas pessoas já estavam reunidas nos fundos do Centro, elas me deixaram falando sozinho. No ponto de táxi, agora sob os primeiros pingos grossos de uma chuva que se espalhou e não banhou a cidade, devolvendo o sol forte a todo o município em poucos minutos, enriqueci bastante o dossiê do Coisa Ruim e sua saga e levantei nomes de pessoas que poderiam me dar muitos capítulos de sua historia. Com menos de duas horas de investigação na cidade do grande desportista Rogerinho Medeiros, eu já poderia desvendar e escrever quase todo o mistério do Coisa Ruim. Mas, não teria graça nenhuma se não conhecesse o palco de sua exibição e não sentisse seu bafo quente em minha nuca. Por isso só deixei a cidade no apagar das luzes do astro rei, depois de visitar o sombrio casarão do alto da colina, na estrada que vai para Bom Repouso, onde precisei segurar com força minha cruzinha dourada no peito e quase cair numa vala da estrada em obras, para desviar de um fusca velho que se jogou de porta aberta sobre mim numa descida.
Bem, antes de prosseguir com esta historia cheia de controversas, tabus, superlativos, perturbação do sossego, folclore e muito medo, para melhor entendimento do leitor e evitar a incansável repetição do termo Coisa Ruim da Borda – que pode acabar assustando alguma criança – batizemos personagens e locais desta historia arrepiante e até aqui mal contada. O palco das exibições do chifrudo, tinhoso, bode velho, saci ou simplesmente Espírito Brincalhão chamaremos de ‘Colina ou Morro dos Cães Uivantes’ – Não confundir com o clássico “O Morro dos Ventos Uivantes de Emily Bronté – O fazendeiro que fez o pacto com o espírito perturbado será chamado de “Portuga”, homenageando sua origem além-mar, o pá. A jovem noiva prometida chamaremos apenas de “Donzela”. O irmão dela, único remanescente vivo da família, testemunha ocular e auditiva da macabra historia chamaremos pela inicial de seu nome, “R.”. O “dito cujo” já tem nome. Muito além das cercanias da Borda as pessoas que ouviram, mesmo que por alto sua historia, já sabiam que ele se chamava “Chiquinho”. Ele próprio se apresentou ao seu anfitrião com este epíteto carinhoso quando veio buscar sua donzela prometida, em 1953.
Bom, agora que nos tornamos mais íntimos, vamos falar francamente; “…Que atire a primeira pedra….” quem nunca viu o capeta!!! Ora, ora, ora, todos já vimos e cada um de nós o pintamos de acordo com nossa conveniência. Eu já estive cara a cara ou ‘costas à cara’ – Sua principal característica é a traição – com ele inúmeras vezes. Apesar de conhecer ‘an passant’ a historia do Coisa Ruim da Borda, só na capital do pijama esbarrei neles umas quatro vezes.
A primeira vez foi em 1970. Eu estava no forro da casa do Sr. Jairo, no bairro Santa Rita, para continuar lendo essa historia, acesse ‘www.meninosquevicrescer.com.br’!