“Como é bom viver… sozinho no mundo sem nada pensar, o sol vem raiando eu já vou partindo e quando anoitece estou noutro lugar”.
Apesar de tantos furtos pés-de-couve, Pedro Donizete passa mais tempo sentado ao piano do paladino da lei na DP…
Essa musica tocava no radinho do caminhão Chevrolet bicudo do João Barbudo quando ele fazia nossa mudança da Rua São João para a rua Amadeu de Queiroz, no inicio de uma noite morna de primavera de 1971…! Era uma das músicas mais tocadas na Rádio Clube de Pouso Alegre na época, uma das mais belas gravadas anos antes pela dupla Tonico & Tinoco no auge da carreira. O personagem do música era um aventureiro sem eira & nem beira e sem compromisso, mas era honesto, limpo, altivo e romântico. Viajava a cavalo e por onde passava deixava um coração suspirando e uma donzela com um nó na garganta esperando uma volta que nunca mais aconteceria.
Meio século depois aventureiros sem eira & nem beira continuam entre nós. Mas quanta diferença no seu seu perfil! Que decadência! Que regresso na evolução do ser humano! Tonico e Tinoco se vivos estivessem, prefeririam morrer mais umas quatro vezes do que cantar a saga dos aventureiros sem eira & nem beira do século XXI. Sujos, maltrapilhos, grossos, assustadores e desonestos! Saem pelo mundo em busca de liberdade… e não sabem o que fazer com ela. Por onde passam deixam um rastro de medo… e de pequenos furtos!
… do que hospedado no Hotel do Juquinha!
Esse é mais ou menos o perfil de Pedro Donizete da Silva. Ele nasceu – ora em São José dos Campos, ora em Taubaté, ora em Itajubá – há quase meio século, em 1973. Suas aventuras, à pé pelas estradas, se restringem ao extremo Sul de Minas, mais precisamente no trecho entre Itajubá e Pouso Alegre. E por onde passa deixa um BO.
No dia 23 de junho passado, Pedro entrou no supermercado Pillar, em Itajubá, colocou uma garrafa de suco de gerereba na bermuda e foi saindo de fininho. Saiu até o estacionamento do supermercado, onde o segurança o deteve e o entregou para a policia.
Uma semana depois Pedro voltou a sentir o frio das pulseiras de prata, Desta vez na praça da matriz de Santa Rita do Sapucaí. Ele estava tentando vender um tênis da marca klin, de 190 reais por quinze reais. E podia mesmo vender neste preço, pois para ele não havia custado nem um centavo. O tênis havia sido surrupiado na mão leve, na loja Babylar na Avenida Delfim Moreira.
As câmeras que mostraram Pedro Donizete furtando o par de tênis da loja no dia 30, mostraram outro furto de Pedro um dia antes. No dia 29, ele passou a mão leve em uma escada de alumínio que estava no bagageiro de um veiculo estacionado defronte a loja de calçados, na mesma avenida. E mais… a blusa vermelha que ele usava no momento da prisão, havia sido furtada no Lojão das Fabricas, em Santa Rita, também no dia 29.
Como Jose Dirceu e Paulo Maluf, condenados juntos há mais de 50 anos de cana, não criaram raízes na cadeia, não seria justo que o andante pé-de-couve também criasse!
Por isso três semanas depois Pedro Donizete estava de volta, aliás, de volta não, seguiu em frente e foi parar Pouso Alegre. Parou no Lojão das Fabricas da Praça Senador José Bento para uma ‘fitinha’, para não perder o habito! Parou, ligou os olhos de Somongó, pegou uma calça feminina da marca Bussy, colocou na sacolinha e passou sebo nas canelas. O segurança o alcançou na entrada do Mercado Municipal… E a corruptela de aventureiro da musica de Tonico & Tinoco, sentou ao piano e assinou o 5º 155 em menos de 30 dias!
Será que desta vez Pedro Donizete arma barraca no Hotel do Juquinha?
Ledo engano!
O andante de 44 anos voltou a sentir o frio das pulseiras de prata e teve mais uma vez os passos interrompidos. A prisão aconteceu no meio da tarde desta terça-feira, 24 – três dias depois do furto na Praça Senador Jose Bento – no centro de Pouso Alegre. Pedro havia acabado de furtar uma bicicleta vermelha no inicio da rua Afonso Pena. Além da bicicleta que levou os homens da lei até ele, Pedro levava consigo dois cestos, duas camisas, um frasco de desodorante – esse lhe seria muito útil! -, e três chaveiros; todos dentro das respectivas embalagens e com etiquetas de lojas diversas.
Pela sexta vez em um mês, Pedro Donizete da Silva – o aventureiro que ‘corta estradão’ sem destino, sem eira & nem beira – sentou ao piano e assinou um 155!
Se Tonico e Tinoco estivessem entre nós, certamente enfiariam as violas no saco e cortariam estradão pra bem longe do Sul de Minas, ou parariam de cantar… De desgosto!