Pouso Alegre chega ao sexto homicídio no ano

Um telefonema anônimo levou os homens da lei ao velho Aterrado no final da madrugada desta segunda, primeiro dia útil de maio…

– Tem um homem morto no meio da Rua Jose Herculano Costa – dizia a voz do amigo oculto da lei, provavelmente alguém que presenciou o assassinato ou alguém que saiu à janela depois que cessaram os gritos do moribundo.

Lucas Ribeiro Prince...

Lucas Ribeiro Prince: Foto reprodução do Facebook

A veracidade da informação foi constatada pela policia militar, minutos depois. Estendido na rua estava o corpo do jovem Lucas Ribeiro Prince, com escoriações no rosto e diversos ferimentos de arma branca no tórax. Seu carro, o Ford Escort Hobby prata, placas BOU-7101 estava estacionado sobre o passeio, a cinquenta metros do corpo. Apesar dos curiosos que cercaram o sinistro para acompanhar os trabalhos periciais do perito criminal da PC, ninguém prestou qualquer tipo de informação à policia militar acerca da motivação do crime e muito menos da sua autoria.

Filho do famoso “Alemão de Limeira” – morto há poucos anos de morte natural – um dos precursores do trafico de maconha na cidade no tempo em que este blogueiro ainda era grão na policia nos anos 70 e 80, Lucas Ribeiro Prince, que no próximo Dia de São Benedito faria 25 anos, morava no Jardim Noronha. Em maio de 2007 Lucas esteve preso durante uma semana e foi processado por tentativa de furto. Em março deste ano ele voltou o sentar-se ao piano do paladino da lei desta vez por infração de transito.

Além da preocupação em esclarecer o homicídio, a policia está também preocupada com a estatística. A morte de Lucas Prince no quinto dia do quinto mês, é a 6ª em 2014… Nos três anos anteriores a media não passou de 10 homicídios por ano!

Vanuza & Dora capotam defronte o Shopping

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Quem foi ao Serra Sul Shopping ao pé da noite desta sexta, 02, precisou de muita paciência para chegar lá… É que a poucos metros do trevo da Fernão Dias havia uma moto e duas ocupantes estendidas na pista congestionando o transito. Até a chegada dos Bombeiros, cerca de vinte minutos, a fila de veículos que queria cruzar a Fernão Dias chegou à Perimetral. Os próprios ‘anjos do asfalto’ e seu furgão vermelho tiveram dificuldade para chegar ao local do sinistro. Acabou que uma ambulância da Auto Pista chegou primeiro. Tudo aconteceu porque duas amigas, depois de entortarem o caneco, montaram na Honda Biz e foram para casa… Ou pelo menos tentaram!

Vanuza, 46 e Dora, 53 estavam na casa da família desta num sitio no Bairro Ipiranga bebemorando a chegada do final de semana, quando entrou agua na amizade, e elas passaram a discutir. Assim mesmo montaram na motoca de Vanuza e seguiram pra casa dela no bairro Santa Cecilia. Defronte a Via Moondo a pilota Vanuza perdeu o controle da direção e as três – Vanuza, Dora e a Biz – rolaram na pista!

Estávamos no terceiro ou quarto carro depois do acidente por isso conseguimos passar pelo sinistro voltar para nos juntar a outro motoqueiro que tentava manter Vanuza consciente. Dora, apesar de um ferimento feio na perna esquerda, já estava deitada no acostamento. Vanuza, com uma das pernas sobre o guidom da motoca estava estendida na sua própria pista, com a cabeça a meio palmo da pista da esquerda. Sangrava no rosto e mal podia falar. Tudo que disse foi;

Acidente BR 459 - V

– Eu não sei o que aconteceu…!

Mas outras pessoas sabiam… Uma senhora que estava imediatamente atrás presenciou o sinistro;

– As duas estavam brigando em cima da moto e caíram… Quase que eu ‘atropelei elas’! – contou talvez mais assustada do que as próprias moças.

– Quando eu passei pela rotatória ali atrás eu só vi o ‘bololô’ das duas moças e a da moto rolando na pista! Se eu estivesse mais perto teria passado em cima delas! – Contou também assustado o motorista de um caminhão que seguia para senador Amaral.

O hálito de Vanuza e sua mochila inerte na pista morna explicavam porque ela não sabia de nada! Ela estava mamadinha, mamadinha! e ainda levava na bolsa um litro de Natu Nobilis pela metade. Um parente de Dora, que chegou ao local minutos depois chamado por ela, sem saber com quem estava falando, contou que Vanuza havia bebido e ambas estavam brigando…

Se fosse Chivas 12 anos teria quebrado...

Se fosse Chivas 12 anos teria quebrado…

– Nós ficamos preocupados quando elas montaram na moto e foram embora do sitio daquele jeito!

Depois de vinte minutos de conversa pra boi dormir, quero dizer, para evitar que Vanuza dormisse, apesar do sangramento facial e bucal, ela já sabia de ‘quase tudo’ e estava arrependida! Só tinha uma preocupação… Saber se a amiga Dora estava bem!

Enfim, entre mortos & feridos, apenas feridos! O prejuízo maior foi para quem tinha hora marcada no Serra Sul Shopping! Nas próximas semanas Vanuza, Dora e a Honda terão dificuldade para se mover! Mas, se o caminhão de Senador Amaral estivesse três segundos adiantado, poderia ter sido pior…!

O trafico de drogas está baixando… de idade!

Qualquer janelinha dessas pode virar uma "biqueira"...

Qualquer janelinha dessas pode virar uma “biqueira”…

      Há anos o comercio ilegal de drogas no Brasil, quiçá em todo o mundo, assunto diuturnamente mostrado pela imprensa, vem sendo discutido pelas áreas de segurança publica, saúde e pela sociedade. No entanto, tem-se feito pouca coisa de concreto para combatê-lo! E – o que é muito mais importante – para prevenir o uso e consequentemente o trafico do veneno social.

É evidente que a nossa participação ao comentar o assunto – que se não for resolvido ou pelo menos freado, será não apenas um grande ferida, mas o câncer social do século – é apenas uma gota d’água num incêndio. Mas, vamos fazer o heroico e quem sabe não tanto utópico assim, trabalho do passarinho que voa de encontro ao incêndio com a gotinha d’água no bico.

Falar da erva daninha que cresce e se alastra dia a dia requer estatística e embora não a tenhamos em números oficiais, conhecemos a realidade pela vivencia com ela. Há pouco mais dez anos, a cadeia publica de Pouso Alegre, batizada por nós de “Velho Hotel da Silvestre Ferraz”, abrigava cerca de 70 presos. Quando, em 2003 o numero de hospedes bateu na casa dos 100, parecia que o ‘barril de pólvora’ iria soltar ‘preso pelo ladrão’ e explodir. Com a construção precária e provisória de outros oito cubículos abafados, insalubres e malcheirosos, mobiliados apenas com colchonetes espalhados pelo chão, o presídio suportou 350 presos, até o mês de novembro de 2009, quando finalmente foi desativado e seus hospedes transferidos para o novo presídio localizado na confluência dos bairros Ribeirão das Mortes, Nossa Senhora do Pilar e Canta Galo, visto da BR 459 trevo de Silvianópolis. E, no ritmo que vai a ‘procura’ por hospedagem no – batizado por nós de – Hotel do Juquinha, na Copa de 2014 sua população poderá, sozinha lotar a Arena Corinthians – aliás muito sugestivo do ponto vista de ‘zoação’ dos torcedores adversários! – para ver a abertura do mundial. Sim, pois aos quase 350 que se mudaram da Silvestre Ferraz para o Hotel do Juquinha, somaram-se cerca de 80 que voltaram das penitenciarias de Contagem, Três Corações, Unaí e Juiz de Fora onde estavam por motivos de segurança. Sem contar que neste período, em 2008 e 2011, a APAC desafogou o ‘caldeirão’ em mais de 200 condenados que se tornaram “recuperandos”, pupilos de Mario Otoboni. Outros tantos hospedes com longas penas a cumprir ou com contas a ‘ajustar com os companheiros de caminhada’ ou por serem uma pedra no sapato da ‘gerencia do hotel’, ganharam ‘bonde’ para outras penitenciarias do Estado. Sem falar nos Mandados de Prisão que a policia só cumpre quando esbarra casualmente no condenado em blitz de transito! Ou seja; se todos os condenados pela justiça de Pouso Alegre tivessem que dormir uma noite num mesmo prédio, seriam necessárias pelo menos 1.200 ‘jegas’…!

Se toda a população prisional de Pouso Alegre estivesse num só lugar, seria preciso pelo menos três hotéis do Juquinha para abrigá-los...

Se toda a população prisional de Pouso Alegre estivesse num só lugar, seria preciso pelo menos três hotéis do Juquinha para abrigá-los…

Nos afastamos do assunto drogas? Não. Estávamos apenas pintando o quadro… Dos 70 presos em 2000, menos de 30% eram usuários ou traficantes de drogas. Nos últimos dez anos o quadro inverteu! Hoje mais de 70% são traficantes ou furtaram para sustentar o vicio! E não podemos esquecer que neste ínterim, a Lei 11.343/06 descriminalizou o uso de drogas e sepultou a charmosa Lei 6368/76. Desde então usar drogas não leva mais ninguém p’ra cadeia. Chegamos a este ponto, porque, entre outras razões, enquanto o trafico viaja na velocidade de uma pedra de crack no cérebro, a prevenção e combate policial viajam na velocidade de um guaraná tubaína! Há dez anos a Delegacia Regional de Policia Civil de Pouso Alegre, tinha uma equipe de três detetives para investigar apenas trafico de drogas. Hoje tem uma equipe de dois investigadores! Dá para acompanhar o galope?

Com os 'puxadinhos' o Velho Hotel da Silvestre Ferraz hospedou 350 condenados até o fim de 2009...

Com os ‘puxadinhos’, o Velho Hotel da Silvestre Ferraz hospedou 350 condenados até o fim de 2009…

Há dez anos a população de Pouso Alegre somava 108 mil habitantes… Hoje soma mais 140 mil! Ano passado alguns setores da policia civil, acuados com o crescimento da criminalidade no Estado reclamaram da falta de pessoal… O Governo do Estado acenou com um concurso para aumentar o efetivo em 1.800 investigadores. A policia se acalmou, o ano passou, e o aceno do governo ficou só no aceno! Mês passado o governo finalmente abriu Edital de concurso… para 1.000 vagas! Se tudo correr bem os novos investigadores que serão contratados ao final do concurso começarão trabalhar lá para outubro de 2015! – O concurso para médico legista iniciado com a publicação do edital em fevereiro de 2013, formou 122 novos médicos legistas no ultimo dia 23. Como ainda não foram nomeados, eles começarão trabalhar em agosto… De Deus!!!

Na contra mão, tamanha a demanda pelo uso de drogas, os traficantes estão “terceirizando”. Como todos sabemos o garotão que ainda não completou 18 aninhos, é inimputável e não pode ser preso. Mas pode levar de um lado para outro os ‘patuazinhos’ da pedra bege fedorenta, os ‘fininhos’ da erva maldita! – Aliás, maconha está virando um habito restrito aos velhos ‘canabistas’… A droga mais popular dos anos 70,80 já não satisfaz a galerinha de hoje. Eles querem um ‘torque’ mais potente, querem ir de zero a 180kh em poucos segundos! O batismo sinistro agora é feito com crack ou cocaína! – O máximo que a policia pode fazer com ele é levá-lo para a delegacia, enriquecer seu dossiê – que será deletado quando ele completar 18 anos – e entregá-lo ao conselho tutelar se a mãe desacorçoada não puder comparecer à delegacia.

O majestoso Velho Hotel da Silvestre Ferraz... 82 anos de tristes memorias!

O majestoso Velho Hotel da Silvestre Ferraz… 82 anos de tristes memorias!

Dezenas dos hospedes do Hotel do Juquinha, são “meninos que vi crescer”… fazendo aviãozinho de drogas! Especialmente no bairro São Geraldo, o velho Aterrado, São João e outros cantos de Pouso Alegre. Em Passos, a bela Passos, margeada pelo Lago de Furnas, beirando os 110 mil habitantes, distribuição de drogas, furtos e roubos de carros e motos campeiam soltos. De 2010 para 2011 o numero de assassinatos saltou de 14 para 46! Em 2012 mais 32 passenses tiveram os passos interrompidos à bala ou a golpes de faca! O numero quase se repetiu em 2013, 29! Mais de 90% destes assassinatos foram motivados por drogas. Mais de 80% envolvendo “dimenor”, como vitima ou como autor! Para manter a estatística, no segundo domingo de janeiro e 2012, um garoto de 14 anos matou o padrasto com quatro tiros na cabeça e fugiu com outros dois delinquentes juvenis num carro roubado!

A ‘micro empresa’ dos aviõezinhos se expandiu tanto que virou pelo menos, ‘mini empresa’. Agora não estão mais distribuindo na rua. Montaram barracos para distribuir a droga!

Atendendo a denuncias de ‘amigos ocultos da lei’, todos os dias a policia militar sacode um barraco no velho Aterrado ou no São João e apreende pequenas quantidades de crack, maconha e cocaína mocosadas em quintais, no congelador, na espuma do colchão, no cesto de lixo do banheiro, num terreno baldio, ao pé de um poste ou não tão escondida assim! Afinal, os comerciantes da droga encontrados nos muquifos são quase sempre garotos – e garotas – de 14 a 17 anos! Não são alcançados pela lei antidrogas! Portanto recebem apenas um puxão de orelha. No dia seguinte – alguns na mesma madrugada! – voltam para o ‘trabalho’.

Quase não há investigadores para combater o trafico...!

Quase não há investigadores para combater o trafico…!

É… o trafico de drogas está baixando… De faixa etária! E o Estado, se pouco faz no combate, faz menos ainda na prevenção com educação.

Delegados de Pouso Alegre vão cruzar os braços..!

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O cidadão que for à delegacia de Policia de Pouso Alegre ou de qualquer outra do Estado de Minas Gerais nesta quarta feira ultimo dia de abril, vai encontrar todos os delegados lá… E poderá conversar com eles sobre a volta de Levir Culpi ao Galo; sobre a volta por cima do Tricolor Carioca que, salvo do rebaixamento por um golpe baixo do advogado da Portuguesa no ano passado, lidera sozinho o Brasileirão 2014; poderá falar sobre a Dique II que ficou parada cinco meses esperando um figurão do PT para inaugurá-la no dia 5 de maio; sobre o desleixo das pracinhas publicas de Pouso Alegre; sobre a flexibilidade da cauda do jacaré! Enfim, poderá jogar conversa fora o dia inteiro… Menos falar de assuntos policiais! Aliás poderá sim, desde que seja para falar dos assuntos de interesses da policia, não dos seus! É que os delegados estarão em “greve branca”!

Trata-se de um movimento dos delegados da policia civil mineira para chamar a atenção do governo para a valorização de sua classe. Neste movimento que prevê três dias de paralização aumentando gradativamente as horas, os dignos paladinos da lei pedem equiparação salarial com os Defensores Públicos, que ganham o dobro por menos horas de trabalho! E questionam:

“É justo quem prende ganhar a metade do salario de quem solta”?

      A greve branca dos delegados teve inicio na semana passada. Na quarta, 23, os ‘manjuras’ ficaram das 14h00 às 18h00 de braços cruzados. Nesta quarta, 30 ficarão das 10h00 às 18h00. No dia 07 de maio ficarão das 08h00 às 20h00. Neste ultimo dia do movimento, se o governo ainda não tiver dado o ar da graça ou ao menos acenado o lenço branco da paz, os delegados aproveitarão o cafezinho das catorze horas na sede do SINDEPOMINAS para avaliar o ‘interesse’ do governo em melhorar a segurança publica do estado, e, discutir novas estratégias para atingir seus objetivos.

– Queremos com esse ato forçar o governo a abrir “pauta de negociações” com a categoria… – Afirmou um dos veteranos delegados da Regional de Pouso Alegre filiado ao SINDEPOMINAS, coordenador do movimento.

Mas não ficarão de braços cruzados. Embora neste período não despachem, não emitam documentos, não conduzam depoimentos, não ratifiquem prisões e não realizem outras atividades exclusivas de sua competência, os delegados estarão nas delegacias, em seus gabinetes, à disposição do cidadão para falar da importância do trabalhado da categoria junto à população. O cidadão que entrar ao gabinete do delegado neste período poderá, por exemplo, além de tomar um cafezinho já pago pelo estado – de qualidade questionável apesar do inquestionável empenho e capricho das copeiras da MGS – saber que o Defensor Publico, aquele mesmo que está defendendo seu filho preso com meio quilo de farinha do capeta há dois meses, ganhará – com o aumento já aprovado para junho – R$ 16.022,94 para trabalhar seis horas diárias cercado de belas estagiarias da FDSM, num gabinete com ar condicionado. E saberá que ele, delegado de policia, que trabalha oito horas por dia para atender o cidadão muitas vezes com o inconfundível perfume de Severina do Popote ou com o pó branco correndo nas veias; que ele, delegado, que desce à baixada ou sobe a favela e abre portas no bico da botina para pegar o touro à unha, ganha R$ 7.970! Mas por quê? se ambos tem que passar o mesmo tempo no banco da escola e adquirir os mesmos conhecimentos jurídicos e provar isso num concurso publico! – Lembrando que o concurso para delegado exige ainda prova de aptidão física e curso preparatório de 720 horas-aula!DSC03118

Enfim, o cidadão que não tiver seus anseios atendidos nas DPs nestes dias de ‘greve branca’, poderão ao menos conhecer os anseios dos paladinos da lei.

O estupro de Ester

... Essa velha delegacia tem historia...!!!

… Essa velha delegacia tem historia…!!!

Quando descemos da viatura no final da manhã, o inspetor Ângelo esperava por nós na porta da DP. Na verdade esperava pela primeira equipe que retornasse da rua! E foi logo dizendo;

– Temos um estupro em flagrante. Aquela moça – virou ligeiramente a cabeça para indica-la sentada no banco de madeira da recepção ao lado de uma senhora de meia idade… – foi violentada por um negão na Fernão Dias, perto da Serrinha de Bela Vista. Parece que ele trabalha numa olaria ali por perto. A equipe de Crimes contra a vida está empenhada em outra diligencia. Vão até lá e vê se acha o sujeito… O Pomarola vai com vocês. Pegue mais alguma informação com ela…

A delegacia estava vazia naquele momento. Sentada no final do banco duro de madeira, a jovem negra de vinte e poucos anos, miúda, chorosa, permanecia agarrada no braço da senhora de fisionomia serena e bondosa… Conversamos, ou pelo menos tentamos,  ali mesmo no banco encardido e liso da recepção. Afinal, o tempo urgia!  Tínhamos que chegar o quanto antes ao local do crime!

– Como era o sujeito… – Perguntei para começar.

Ao ouvir minha pergunta, a jovem, extremamente tímida se agarrou ainda mais no braço da senhora de ar bondoso e desandou a chorar baixinho, como que tentando se esconder debaixo do seu braço. Foi a senhora de olhar sereno quem respondeu;

 

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“Salão Família” … A sala de visitas do Hotel do Juquinha

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A ultima segunda feira, 14, foi dia de festa no Hotel do Juquinha! É que estava sendo inaugurado o tão sonhado “Salão Família”! Reinvindicação que vinha sendo feita pelos familiares de presos desde sua inauguração em novembro de 2009. Até então quem ia ao presidio a cada quinze dias visitar seus parentes, tinha que esperar horas na fila defronte o ‘majestoso hotel’ entregues às intempéries…

– Não tinha agua para beber, não tinha onde trocar uma fralda e nem onde fazer as necessidades fisiológicas. A gente tinha que fazer xixi no pasto ali em frente – diziam mães e esposas de presos.

O espaço chamado ‘salão familia’ foi construído pelos próprios presos com donativos de ‘parceiros’ – pequenos empresários que prestam serviços direta ou indiretamente ao presidio – e donativos das prefeituras de Pouso Alegre e Congonhal. Durou quase um ano, mas finalmente teve suas portas abertas ao publico na ultima segunda. A solenidade contou a presença do Superintendente da Sape – Superintendência de Atendimento ao Preso – dos colaboradores que receberam Certificado de participação na obra social e de familiares de presos. O ponto alto da solenidade no entanto, foi a execução de musicas pela Banda Fênix formada dentro do Hotel do Juquinha, composta de oito presos.

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– Com isso estamos procurando dar caráter humanitário à prisão – enfatizou o diretor Willian Abrete Pinto, que no próximo dia 25 de abril recebe a festejada “Insígnia Tiradentes”, pelos bons trabalhos realizados à frente do Hotel do Juquinha.

Banda Fênix: Presos ressurgindo das cinzas dentro dentro do Hotel do Juquinha.

“Banda Fênix”: Presos ressurgindo das cinzas dentro do Hotel do Juquinha.

O Salão Família conta com dois banheiros, fraldário, poltronas e bebedouros.

 

Um celular para o Scoobi…

Scoobi sempre bem acompanhado...

Scoobi sempre bem acompanhado…

“O relacionamento humano encerra mistérios muitas vezes incompreensíveis. Podemos encontrar em nosso caminho, em nosso dia-a-dia, por anos a fio, pessoas profícuas com as quais mal trocamos um bom dia, quiçá sabemos seu nome, o que faz e muito menos a data do seu aniversario. Outras vezes conhecemos pessoas que nada somam de pratico ou material em nosso cotidiano, mas que pela simples maneira espontânea de ser, sem que percebamos, passam a fazer parte de nossas vidas. São como “… os lírios do campo…”, sem nenhuma relação de parentesco, de trabalho ou afinidade, mas sentimos bem e nos alegramos com sua presença. Talvez seja pelo fato de elas não nos pedirem nada em troca de sua presença, de sua alegria e espontaneidade – e de pequenos favores – que as torna tão especiais. Achamos que elas são carentes e dependentes, mas na verdade nós é que dependemos delas para desfazer nossas tensões cotidianas e acabamos usando-as para troças e brincadeiras, as quais elas assimilam e retribuem de bom grado, sem maldade.

Carlos Augusto da Costa, o Scooby, é uma destas figuras que costumamos rotular de folclóricas, portadoras desta despretensiosa magia que relaxa, colore e alegra nossa vida.

Conheci Scooby na oficina do Teobaldo – pai – na rua do Rosário no final da década de 80. Ele era ainda adolescente, mas tinha o mesmo porte físico e jeitão de intelectual misterioso de hoje. Até a voz grave. Só o cabelo mudou de cor e a barba apareceu. Já era alvo de brincadeiras das quais ingenuamente participava serio ou sorrindo se fosse o caso.

Na delegacia de Policia, onde costuma passar horas a fio, não tem quem não conheça Scooby e não tenha uma palavra afetuosa e correspondida. Ele chega de mansinho e espera por alguns segundos o cumprimento. Se o ignoram, ele puxa prosa:

– Oi Batista, tudo bom?

Só para no corredor, na porta ou entra nos gabinetes e estica prosa, se lhe dão atenção. Senão segue em frente… Responde sempre de acordo com a pergunta.

– Tá de plantão hoje, Scooby?

– Tô. Vou até amanhã cedo…

– Tá de folga hoje, Scooby?

– Tô. Saí hoje de manhã…

– Ué, Scooby, não tenho te visto! Por onde tem andado?

– Eu tô de férias. O doutor João, o regional, me deu férias até o fim do mês…

Muitas vezes encorajado por colegas, em situações que não oferecem nenhum risco naturalmente, Scooby age como se policial fosse e suas ordens são regiamente acatadas por delinquentes que não ousam desobedecê-lo. Até mesmo a linguagem – inadequada na verdade – usada por alguns policiais em certos momentos de stress, Scooby repete como se fosse um dos mais temidos policiais e impõe seu pseudo respeito.

– Scooby, dá uma dura naquele folgado lá no fim do corredor!!!

Ele vai até lá, para na frente, faz cara feia – e precisa ? – e sai com esta;

– Escuta aqui seu folgado! Fica quieto aí, senão vai ser pior, hein… Vou mandar os tiras te quebrar no pau e te fechar no corró…!

… E o sujeito que não conhece Scooby, pensando que se trata de um policial veterano, baixa a cabeça e fica pianinho…

Esta singela homenagem ao amigo Scooby, publiquei no falecido FOLHA em 2004 quando ele completou 34 anos. Na ocasião Seus “colegas de trabalho” fizeram uma vaquinha e lhe deram um belo presente de aniversario. Porém, não tão belo quanto o que Scooby nos dá com sua presença. Desde então, sempre que encontro Scooby – e basta ir à delegacia ou em qualquer lugar da cidade, pois Scooby é onipresente! – ele fala da matéria;

– Hei Chips, ta chegando meu aniversario de novo. Vai ter festa? Eu vou sair no jornal?

Vai, vai sim, Scooby, você já está no jornal e agora também no Blog do Airton Chips”.

A pergunta de sempre foi repetida novamente nesta segunda,14, na DP. Scoobi, com o sorriso de sempre, avisou que o seu aniversario estava chegando e queria saber se iria aparecer no jornal. No jornal eu não prometi, mas no blog eu garanti! E aproveitei para perguntar o que ele queria ganhar de presente;

– Eu quero um celular, Chips…!

Ano retrasado Scoobi posou para a foto de aniversario ao lado do delegado regional Flavio Destro. Ano passado ele preferiu o abraço da delegada de mulheres, Lucila Vasconcelos. Este ano ele não deixou por menos… Posou para a posteridade abraçado com secretaria do inspetor Balca, Jessica Belli.

– Sua namorada não fica com ciúme de você, Scoobi?

– Eu não tenho namorada.

– Mas por quê, Scoobi?

– Sou muito novo ainda para namorar! – respondeu ele convicto.

Mentalmente deve ser mesmo. Mas biologicamente ele completa 44 anos de simplicidade e alegria nesta quarta,16. “Se haverá festa não sei, mas presente haverá ao menos um: o próprio”!

Deus te abençoe e te conserve, Carlos Augusto “Scooby” da Costa, nosso “lírio do campo”!

Ah, não esqueçam o celular do ‘garoto’…!

 

Lista de presentes da velhinha

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Dona Gigi, 84 anos, entrou na farmácia do Jesus na Comendador Jose Garcia, tirou da bolsa um papelzinho todo enroladinho, desenrolou lentamente, pediu uma caneta emprestada e desfiou o rosário de perguntas enquanto ia colocando um ‘x’ na frente de cada item:

– Vocês tem analgésicos?

– Temos sim, senhora.

– Vocês tem remédio contra reumatismo?

– Temos sim, senhora.

– Vocês tem pomada antirruga?

– Temos sim, senhora.

– Vocês tem bicarbonato?

– Temos sim, senhora.

– Vocês tem antidepressivos?

– Temos sim, senhora.

– Vocês tem remédio para memoria?

– Temos sim, senhora.

– Vocês tem fralda para adultos?

– Temos sim, senhoooora…!

– Vocês tem…

– Minha senhora! Aqui é uma farmácia, nós temos isso tudo. Qual é o seu problema?

– É que eu vou me casar com meu noivo Janjão, de 90 anos… E nós gostaríamos de saber se podemos deixar nossa “listinha de casamento” aqui com vocês…!

 

“Minutos de Sabedoria”…

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“Se você não sabe perdoar sem esquecer, é sinal de que não compreendeu ainda a verdade e o caminho a seguir.

Procure perdoar e esquecer as magoas e ofensas, as intrigas e calunias.

Mantenha-se em tal atitude que nenhuma calunia o possa atingir.

Perdoe e siga seu caminho.

Quando o caluniador abrir os olhos, você estará tão distante dele, que não poderá mais ouvir sua voz cheia de veneno”.

 

Tenham uma iluminada semana…

Neco Paturi, o caloteiro de Monte Sião

Monte Sião

Em minha curta passagem pela capital das malhas – foram apenas três meses antes da ‘primeira’ aposentadoria – colecionei fatos inesquecíveis! Morando de segunda a sexta no alojamento da DP e comendo de restaurante ao lado da igreja comecei ganhar peso e então passei a fazer caminhadas. Ia todos os dias até o bairro dos Francos em Aguas de Lindoia pela estrada vicinal e voltava pela rodovia passando pelo C.T. do Oscar. Como era horário de verão, depois da caminhada pegava a velha Honda ‘Duty’ branca e subia nas montanhas em volta da cidade para curtir o por do sol. O Morro Pelado, com magnifica vista para outras seis cidades ao redor, estava se tornando meu quintal de casa. Em menos de três meses os sete ou oito assaltos a malharias nos fins de semana caíram a zero. Era raro o dia que não mostrava as pulseiras de prata para alguém… Só prisões insignificantes; ladroes pés-de-couve, “dimenor” e devedor de pensão alimentícia.

Mas, como os boatos andam mais do que “égua do chapadão”, logo surgiu a lenda de que havia uma “equipe de fora” trabalhando na cidade em horas mortas, combatendo a criminalidade. Isso assustou os meliantes das cidades vizinhas, especialmente do Estado de São Paulo, que preferiram esperar a poeira baixar! A temível ‘equipe de fora’ era eu e o bate-pau Nilson, funcionário emprestado da Secretaria de Saúde, que conhecia cada ruela da cidade e cada pé de Ipê que margeia as infindáveis e muito bem cascalhadas estradas do município, mas que era incapaz de fechar uma pulseira de prata nos punhos de alguém. Tem até um fato pitoresco que ilustra isso… Semanas antes da minha chegada foram ele e o delegado Watson prender um suspeito. Dito Cabrito resistiu à prisão e entrou em luta corporal com o delegado! Rolaram na poeira e caíram ambos em um barranco na periferia da cidade, mas o delegado mesmo com o pé-quebrado conseguiu segurar Cabrito pelo chifre. Seu filho, com 17 anos na época, fechou as pulseiras de prata nos punhos do prisioneiro. Enquanto tudo isso acontecia, Nilson, o ‘policial ad-hoc’, meu futuro parceiro, permaneceu com o traseiro colado no banco da viatura assistindo passivamente à luta do bandido com o delegado! Watson passou o mês seguinte sem poder prender ninguém… Usando muletas e um grosso gesso no pé…! Às vezes eu levava comigo o professor Clovis, que, a exemplo de Nilson, desviado de função, trabalhava na DP como Vistoriador de Veiculo. Ele também não era muito dado a prisões, mas falava grosso e se impunha! Clovis, culto, bom gosto para musica, respeitado, mostrou-me todos os bons alambiques da redondeza; desde o “Galo Branco” em Socorro, “Engenho do Barreiro” em Lindoia à famosa “Moreninha”, na divisa com Jacutinga! Não que abraçássemos com tanto ardor a sedutora Severina do Popote, mas ‘uma garrafa de boa cachaça abre facilmente qualquer porta em Belo Horizonte’…!

Foi na Capital das Malhas que no final de uma ensolarada manhã eu ouvi uma das frases mais significativas – e mentirosas – da carreira; depois de meia dúzia de prosa com o delegado Watson Vieira Pinho – e ouvir o que não esperava… – o delegado regional que havia me mandado pra lá a toque de caixa sem sequer olhar na minha cara, chamou-me ao gabinete e disse solenemente:

– Vou te levar de volta para Pouso Alegre… “Preciso de você para dar um pouco de dignidade à Policia Civil na cadeia de lá”.

Eu naturalmente agradeci – o falso elogio – e repeti mais ou menos o que dissera em seu gabinete no dia 06 de outubro, após o sepultamento do Inspetor Angelo…

– Sou funcionário do Estado de Minas, chefe… Daqui até Itacarambi está bom p’ra mim! Porém, vou trabalhar mais trinta e cinco dias, sair de férias em janeiro e me aposentar…!

Aposentei, voltei ao trabalho e exato um ano e meio depois, o mesmo delegado regional, depois de me mandar novamente “à toque de caixa” para Santa Rita, teria dito em reunião com a tiragem…,

– Fulano é um safado! Ele estava denegrindo a imagem da policia na cadeia!

Se mereço ou não os epítetos, tanto o elogioso quanto o injurioso, perguntem ao delegado Chefe de Departamento Jose Walter da Mota Matos, responsável pela sindicância! – Que eu fiz questão que fosse instaurada.

Mas essa já é outra historia! O alvo desta breve crônica é o ‘quarteto’ Neco Paturi, inadimplente de pensão alimentícia, seu pai Roberto e o facão Tramontina, o netinho ‘x9’ chorão e meu fiel ajudante Nilson Pé-de-couve…

Ao abrir a porta da delegacia na manha do dia 26 de novembro de 2004, há 35 dias da sonhada aposentadoria, deparei com um rapaz que dizia saber do paradeiro do depositário infiel, com o qual tinha uma pendenga de carro pago com cheque sem fundos. Era preciso levar o depositário às barras da justiça para desembaraçar o imbróglio! Tomamos café e fomos a um sitio no município de Jacutinga. Eu, o interessado na prisão e meu parceiro Nilson “Bate Pau”, policial “ad-hoc” – desculpe o termo cacófono – cagão que só ele! Quando descíamos a MG 459 ele começou choramingar;

– Ô Chips, é melhor a gente pedir apoio ao pessoal de Ouro Fino… O velho é perigoso!

Como seguro morreu de velho, talvez ele tivesse razão! Mas enfrentar toda a burocracia às oito e meia da manhã para mobilizar uma equipe de policiais de outra Comarca para prender um depositário infiel!? Achei meio esdrúxulo. Além do mais, nem tínhamos certeza da precisão da informação. Sem contar que o tempo poderia conspirar contra nós! Quando chegamos ao portão da chácara meu ‘intrépido’ companheiro sugeriu:

– Ele me conhece… Se ele me ver vai querer fugir. É melhor eu ficar aqui na entrada… Se correr para cá ‘eu pego ele’!

Entrei no jardim da bela chácara, ouvi ruídos de esmeril e não demorei avistar meu procurado. Ele estava numa casinha de ferramentas amolando um imenso facão tendo ao seu lado um garotinho de 4 ou 5 anos. Quando levantou os olhos do esmeril, eu e o credor estávamos há dois metros dele. Sabendo do que se tratava, Roberto continuou prolixamente amolando o facão ao som estridente do esmeril que soltava faíscas para todo lado. Quando se deu por satisfeito, desligou o motorzinho e saiu lentamente da casinha com o facão ainda quente em minha direção, testando o corte da lamina…! – Sutil ameaça! – Levantei levemente a barra da calça deixando ver o cabo do trezoitão e falei;

– Facão Tramontina pega fio fácil, né? –

Sem ouvir qualquer resposta ou pergunta, acrescentei:

– Sr. Roberto, estou precisando do senhor lá na delegacia de Monte Sião… – E pedi a ele que colocasse o facão – agora com o corte azulado – sobre uma bancada de madeira, ao mesmo tempo em que estendia-lhe o par de pulseiras de prata. Por uma razão que só vim compreender depois, ele não questionou. Parecia ter pressa de ser preso! Quando eu coloquei-lhe as algemas o garotinho que estava a seu lado desandou a chorar e perguntou;

– Você vai prender meu pai também…?

O “pai” a quem o garotinho se referia, deduzi de imediato, devia ser Neco Paturi, muito mais urgente prender do que o avô Roberto! Neco Paturi era um tremendo caloteiro de Pensão Alimentícia. Se pensão fosse luz! ele dormia no escuro há mais de ano! O jovem de 26 anos vivia fugindo da PM como o vampiro foge da réstia de alho! Para escapar das pulseiras de prata e continuar sem prover a prole, ele não respeitava fronteiras!  Certa vez pulou do terceiro andar do apartamento da mãe atrás do cemitério, numa laje, dali saltou para um quintal e conseguiu dobrar a serra do cajuru – contavam os boateiros de plantão!

Em nenhum momento estivéramos pensando na possibilidade de encontrar por lá o ‘caloteiro de pensão’. No entanto, ao ouvir a pergunta do menino; “prender meu pai também”, a ficha imediatamente caiu. Deixei o velhote de uns sessenta anos, já peado, aos cuidados do credor e pedi ao garotinho que me levasse para a cozinha da casa a pretexto de beber um copo d’água. Ele me acompanhou relutante. Um tanto por sair de perto do avô, outro tanto arrependido da pergunta que fizera! Apesar da tenra idade, já era ‘cobrinha criada’ e percebeu que cometera um vacilo! Apelei para a psicologia…

– Em qual quarto seu pai está…? – Perguntei com fingido desinteresse.

Aos quatro anos, filho de peixe, peixinho é… O garotinho já estava escolado. Continuou rezingando e não disse nem uma palavra que me levasse a seu pai. Mas a pergunta que escapou lá fora na porta da oficina fora suficiente. Vasculhei quase todos os cômodos da casa… Sem sucesso! Quando chequei no ultimo quarto que ficava à oeste, portanto ainda com as sombras da manhã, percebi que debaixo da cama estava mais escuro do que o normal. Mas não identifiquei o fujão. Para evitar sustos e incidentes, afinal Neco Paturi, embora não fosse criminoso, era procurado pela justiça! Ele poderia tentar levantar voo! Ou pior… Poderia usar algum instrumento – talvez um revolver enferrujado calibre 32! – contra mim para evitar a prisão… Cerquei-me de cautela! Durante todo esse tempo meu ‘eficiente’ parceiro continuava na estrada, protegido atrás de uma moita de cipreste! Ele não se dignara a descer à chácara nem para saber se eu ainda estava vivo! Telefonei pra ele! Quando ele chegou, determinei que se posicionasse do lado de fora da janela e acrescentei em tom alto e claro;

– Quando eu levantar o colchão da cama, atire no primeiro ‘objeto’ que se mover!

Eu estava preparado para ver a cara do sujeito surgir debaixo da cama. Mesmo assim o suspense me traiu… Quase disparei o trabuco de susto quando vi aquele baita homem magrelo estirado de costas no canto do quarto! Matamos dois coelhos com uma só cajadada naquela manhã. Prendemos pai e filho. De quebra levamos junto o neto pirralho chorão delator. Tentei pagar pra ele um sorvete em agradecimento por ter entregado de bandeja a cabeça do pai… Mas ele, desde que percebera o vacilo, ficou emburrado e não abriu mais a boca… Exceto para choramingar!

O liso Neco Paturi, que até então eu não conhecia, passou mais de uma semana no X-1, esperando seu advogado selar um acordo com a ex para quitar os débitos alimentícios. Ele era comerciante informal de carros e motos… Precisou desfazer de alguns para pagar a pensão devida há mais de ano!

A bela Monte Sião, cujos ciprestes do jardim central, carinhosamente bem podados e cuidados, imitam capivaras, elefantes, ursos, ‘paturis’  e outros bichos, marcou época…!