Quem seria?
“Três horas depois a estradinha ficou pequena para quem queria seguir para os sítios ao pé da serra ou descer para pegar a estrada principal que levava às cidades vizinhas. Uma faixa quadriculada de amarelo e preto isolava a guarita, agora toda enfumaçada, na beira da estrada. Havia carros dos dois lados da via. Três deles eram da polícia, um da militar, outro da perícia da polícia civil e o terceiro com o letreiro na traseira: “Delegacia de Homicídios”. Os curiosos ocupavam todo o entorno; queriam saber o que acontecera; de quem era o corpo carbonizado; davam palpites…
– Parece que é um andarilho… – dizia um.
– Eu ‘vi ele’ passando lá perto da minha casa ontem de tardinha… – dizia outro.
– Será que foi acidente? – indagava um terceiro.
– Acho que ele foi queimado enquanto dormia…
– Ah, não… com o calor ele teria acordado! – discordou outro.
– … Ou não. Esses andantes bebem muito. Deve ter derramado a garrafa de cachaça no fogo…
– Eu acho que alguém tocou fogo nele!
– Tá doido! Por que alguém faria uma maldade dessas com o pobre coitado?
Enquanto a perita, com carinha doce de colegial – talvez na sua terceira semana de trabalho – fotografava a mesma cena por infinitos ângulos diferentes e anotava tudo em sua prancheta, dois homens, de braços cruzados, cada um ostentando no peito um distintivo de couro com uma estrela reluzente no meio, por cima dos óculos Ray Ban, observavam a tétrica cena. Talvez, esperando que alguma teoria diferente da dos curiosos surgisse de algum lugar. Satisfeita com a infindável sequência de fotos, medidas e anotações, finalmente a jovem perita se aproximou dos dois policiais e disse:
– Por mim o corpo está liberado, doutor…
– Tem algum palpite?… – Indagou o policial mais empertigado, com distintivo dourado e vermelho.
– Nada além do óbvio… há restos de cobertores, latas, trapos… coisas comuns de andarilho, que não foram queimados. Quanto ao corpo, a única certeza é que era de um homem, pelo tamanho dos ossos, adulto.
– Documentos…
– Tudo virou cinza.
– Algum trauma, fratura, projétil?…
– Nada visível. Só o legista, com raio x, poderá achar algo caso haja… Posso autorizar a funerária a remover o corpo para o IML e dispensar a PM?
– Ok. Bom trabalho Cintia. Obrigado. Quer interrogar alguém Alfredo? – disse o delegado, virando-se para o policial de distintivo verde.
– Não. A PM já qualificou e sabatinou a testemunha que encontrou o corpo e outros curiosos. Vai colocar tudo no BO. Eu gostaria de dar uma olhada nas imediações da guarita, ver se acho alguma coisa que os curiosos ainda não destruíram. Vamos manobrar a viatura no final da estrada, para dar tempo de os curiosos se dispersarem… – disse o detetive”.
Esse pequeno trecho é parte integrante do romance policial de Airton Chips:
“UMA VIAGEM QUE NÃO CHEGOU AO FIM”.
O livro está disponível no site da ‘Editora Dialética’ ou, através do WhatsApp 35 9.9802-3113.