Falando em mazelas e carências da policia!…

     Conheço esse filme!

Outro dia, vendo uma entrevista com o delegado (aposentado) Altair Machado, no Mandu Cast, falando sobre a escassez de policiais até para escoltar presos, lembrei de alguns casos que eu protagonizei ao longo da carreira!

 

Nos anos 80, a delegacia Regional de Pouso Alegre, uma das maiores do Estado, tinha 4 viaturas oficiais. Uma Veraneio (para rondas noturnas e viagens), um fiat 147 e uma Caravan (para diligências, campanas, investigações…) e outro Fiat 147 à disposição da Perícia. Algemas tinha dois pares – exclusivamente para transporte de presos para a capital ou para outro estado. Revolver? Cada um se virava com o seu. Tinha policial que possuía apenas um Rossi 32. Trabalhei com um carcereiro que impunha sua autoridade com uma faca ‘peixeira’!

 

* Certo dia, descendo a Bueno Brandão voltando do almoço para a Delegacia, esbarrei num conhecido meliante procurado pela polícia. Japão era figurinha fácil no nosso álbum por pequenos furtos e uso de maconha – quando uso de maconha era crime previsto no artigo 16 da lei 6368/76. Eu, jovem policial, empolgado com a carreira que acabara de abraçar, não tive dúvidas! Enquadrei o meliante e disse-lhe a famigerada frase:

– “Teje preso”!!!

Sozinho, a pé, desarmado e sem as “pulseiras de prata”, atravessei a cidade conduzindo o preso numa ‘chave de braço’ até chegar à delegacia de polícia.

 

** Em 93 trabalhava eu na Delegacia de Silvianópolis quando recebi a missão de recambiar um notório condenado para nossa Comarca. O meliante havia cometido um furto anos antes numa fazenda no município de São João da Mata e dobrado a serra do cajuru. Dias depois ele cometeu outro crime e caiu nas malhas da lei  de São João da Boa Vista. Extinta sua pena lá em terras paulistas e à pedido’ cá em terras mineiras, ele foi  “extraditado” até a vizinha Poços de Caldas. O indigitado era “Peixinho”, meu velho conhecido. Velho mesmo. Velho e malvado. Na década de 70, quando eu vendia sorvetes nas ruas de Pouso Alegre, ele, mais velho e mais forte do que eu, costumava encostar no meu carrinho, chupar meia dúzia ou mais de picolés e sair sem pagar! No início da década de 80 eu o havia prendido na cidade de Campinas – Essa história, bem-humorada, está no livro “Meninos que vi crescer”! Mais bem-humorada foi nossa viagem de Poços de Caldas para Silvianópolis. Apenas nós dois na viatura. Eu atrás do volante e ele meio embodocado no porta-malas(destampado) do Uno, imobilizado por um par de pulseiras de prata.

 

*** No final de 2004, prestes a me aposentar, recebi outra missão; recambiar um preso da penitenciaria de Nova Serrana para Monte Sião, onde eu trabalhava. A missão era como tantas outras, mas tinha um ingrediente a mais. O Fiat Elba de Monte Sião não tinha condições de fazer uma viagem tão longa. Achamos a solução. Embarquei no ônibus da Gardênia (naquela época, a Gardênia não deixava ninguém na estrada! Rsrsrs…) e desci na rodoviária de BH. Cheguei de manhazinha, atravessei a famigerada “Guaicurus” ainda com cheiro de perfume barato das mariposas, peguei a Contorno, sai na Avenida dos Andradas, a pé naturalmente, e meia hora depois cheguei ao Departamento de Transportes. Lá peguei um Palio Weekend e fui buscar meu preso na ‘penita’ de Nova Serrana. Chegamos a Monte Sião no final da tarde, eu atras do volante, e meu preso, que atendia pelo epiteto de “Cafarnaum”, no banco de trás com os braços atados por dois pares de algemas na barra de proteção atrás dos bancos.

Nossa viagem de mais de 400 quilômetros foi tranquila. Viemos contando história um para o outro, estreitando laços. Ficamos quase amigos. Tão amigos que um mês depois livrei Cafarnaum de uma enrascada amorosa. Durante os meses que havia morado em Monte Sião, onde cometera diversos crimes, Cafarnaum arrumou uma namorada e foi morar com ela – meliantes são como soldados na guerra! Tem uma facilidade incrível para arrumar namoradas! Mas meu preso não era livre. Ele tinha mulher e filhos na Bahia, sua terra Natal. Tão logo ficou sabendo que o marido havia sido transferido para Monte Sião, a esposa veio visitá-lo – mulher de preso adora visitar marido na cadeia! Tudo bem. Cada um com seu cada um. O problema é que a amasia de Monte Sião não perdia uma visita de quarta-feira. Chegava sempre de mãos cheias, trazendo frutas, comidas, cigarros e chamegos! O encontro entre ‘matriz’ e ‘filial’ poderia resultar em barulho e “quebrar a rotina” do hotel do contribuinte da bucólica Monte Sião. Para evitar que a simplória cadeia e o silencioso cemitério – que ficam defronte um ao outro – aumentassem seus hospedes, caso as duas se encontrassem, barrei a visita da mineira…

– Seu ‘marido’ cometeu um ‘ilícito administrativo’ e está de castigo. Ele só poderá receber visitas na emana que vem – disse eu à jovem amante, quero dizer, amasia!

Como costumam zombar os policiais do próprio fadário, “policial ganha mal, mas as vezes se diverte”!

 

Sou – quase – da época em que os policiais eram “pegos a laço”. No início dos anos 80 era comum o Inspetor entregar três Mandados de Prisão a uma dupla de Detetives e dizer:

– Deem uma volta aí pela cidade… Tragam ao menos um desses três procurados!

– Em qual viatura a gente vai?

– Vejam se tem alguma disponível. Se não tiver, vão a pé mesmo!

 

Muita coisa mudou desde então. Hoje, para ser Detetive, tem que ter curso superior. A maioria dos policiais passam o dia – cumprem expediente – navegando… na ‘proa’ de um computador!

 

Rabo Verde… “nosso louco favorito”!

Ele foi um dos poucos ‘loucos’ que frequentaram o Hospício de Barbacena e voltaram de lá!

O destempero do nosso personagem trouxe, algumas vezes, consequências. Atendendo a reclamações de algumas senhoras mais sensíveis à palavrões, alegando que ele era um perigo e mau exemplo de educação para as crianças e donzelas que iam e voltavam das aulas nos colégios Santa Doroteia, Mons. José Paulino e Colégio Estadual, alguns maridos mais sisudos encaminhavam suas preocupações ao delegado de polícia.

– É preciso tirar o Rabo Verde do convívio com as pessoas! “Ele é louco”, diziam.

E lá ia o Rabo Verde para o hospital psiquiátrico Jorge Vaz em Barbacena. Ia no velho e barulhento trem da Rede Sul Mineira, o mesmo que o trouxera para Pouso Alegre em meados do século. No entanto, o vazio, a falta de assunto que sua presença marcante deixava nas ruas, nos bares, farmácias, durava pouco! Algumas semanas depois ele estava de volta. Não se sabe como ele achava o caminho, mas achava. Vinha no mesmo trem que o levara.

– O que aconteceu que te deixaram sair do manicômio, seu Antônio? – Indagavam alguns folgazões com um copo de cerveja na mão no Empório Goulart ou no Vila Rica, só para ouvi-lo contar do seu jeito simplório e darem risadas…

– Briguei com o doutor…

– Mas por quê?

– O doutor é burro…

– Como assim?

– Ele me entregou um jacá e mandou eu buscar água na bica: eu falei “vai você seu burro! Não tá vendo que o jacá tá furado? Aí ele ficou com raiva e mandou eu embora” …

Rabo Verde era mesmo iluminado. Ou contou com muita sorte! Ele foi uma das poucas pessoas que se tem notícia que foi internada no hospício de Barbacena, aliás várias vezes, e voltou de lá. No livro “Holocausto Brasileiro” a jornalista Daniela Arbex conta histórias de centenas, milhares de pessoas, com muito mais referências, com famílias e raízes, que entraram no malfadado hospício e de lá só saíram uma vez, fizeram uma única viagem… para o cemitério da cidade! Outras centenas e milhares não chegaram a fazer nem uma viagem… Foram enterradas nas cercanias do próprio hospício! Ou foram esquartejadas e dissecadas em faculdades de medicina de Juiz de Fora e do Rio de Janeiro sem que os familiares jamais soubessem ou buscassem informações.

Mas Rabo Verde tinha muitos quintais para carpir, escorpiões para queimar e chuchus para colher em Pouso Alegre. Por isso sempre se recusava a “buscar água no jacá”, e acabava voltando para terras manduanas, para preencher a rotina dos cidadãos de bem, alimentar a caridade das samaritanas e fazer a alegria da garotada com seus xingos e pedradas nas cercanias do centro da cidade.

Dentre todos os ‘desajustados’ que Pouso Alegre abrigou ao longo da sua história, Rabo Verde foi, sem dúvida, “nosso louco favorito”!

 

[email protected] – Quem Matou o Suicida, pags.27e28.

Milagre no Cidade Jardim

      Adolescente engravida sem ter relações sexuais com ninguém!

Fabíola mora com a mãe, o padrasto e uma tia no Cidade Jardim. Ontem pela manhã ela sentiu um mal-estar, por isso foi levada ao hospital regional para um atendimento de emergência. Felizmente não estava doente! O resultado foi uma surpresa! Os exames mostraram que a garotinha de 16 anos… vai ser mamãe!!! E muito em breve! Ela está gravida de oito meses!

 

Seria uma boa notícia para a família, não é?

Mas tem um probleminha… Fabíola é solteira! E pior!!! Ela não manteve relação sexual com ninguém!

A adolescente tem um namorado adulto, mas jura de pés juntos que nunca teve relações sexuais com ele!

 

Mas então a gravidez seria obra do Espírito Santo!?

A garotinha não se lembra de ter recebido a visita do Anjo Gabriel!… Mas lembra vagamente que durante a noite, enquanto dormia, algumas vezes ‘percebeu’ a presença do padrasto em seu quarto!

– “Desde os 13 anos, as vezes eu acordo de um sono pesado e vejo um vulto saindo do meu quarto… Quando acendo a luz ele já foi embora… Acho que é meu padrasto”!

A tia, que também mora na casa e dorme no mesmo quarto da menina, corroborou suas informações…

– “Eu também já acordei três vezes de madrugada e vi o fulano esfregando nela”!

O padrasto não nega que tenha ido ao quarto da enteada…

– “Todas as vezes que eu fui ao quarto, foi para cobri-la, para ela não pegar um resfriado”… – disse o terno padrasto.

Bem, o BO que registrou o fato tem mais detalhes sobre o ‘milagre’… mas convém calar!

 

Quando se fala em estupro, a gente logo imagina uma mulher comum voltando da escola ou do trabalho, caminhando solitária por uma rua escura no meio da noite, quando de repente, de trás de uma arvore, surge um mondrongo mal-encarado, agarra a mulher pelo braço enquanto tapa sua boca com a outra mão e a arrasta para um matagal onde rasga suas roupas intimas e consuma o ato! Esse é o clássico estupro, dos filmes de suspense dos anos 70, 80, 90…

O estupro do século XXI, é bem diferente. Esse acontece sem violência explicita, sem esperneios, sem gritos, dentro de casa! Às vezes até com a anuência de testemunhas que se calam por medo, por conveniência e as vezes até por … ignorância! Acham isso normal!

 

A gravidez obnubilada, misteriosa, – ou santa! da garotinha, é mais comum do que parece!

Ao longo da carreira policial e jornalística, deparamos com dezenas de casos parecidos! E por motivos diferentes. Algumas vezes a adolescente mantém relação com o padrasto, e, para protege-lo, diz que o pai da criança é o namorado!

Outras vezes, para pôr fim ao relacionamento da mãe, ela mantém relação com o namorado e alega que o padrasto é o tarado, provocando assim a discórdia e consequente separação!

 

O caso da garotinha do Cidade Jardim, cuja gravidez, por ora, “ainda é obra do Espírito Santo”, naturalmente foi parar na Delegacia de Mulheres de Pouso Alegre e virou Inquérito Policial. Depois que o bebezinho – que não tem nada a ver com o imbróglio! – nascer, um simples exame de DNA poderá dizer quem ele deverá chamar de “pai”!

 

Isso resolve um problema, mas cria outro! O bebê será criado sem pai… Pois o pai, seja ele quem for, deverá ficar ausente entre 08 e quinze anos… hospedado no Hotel do Juquinha!

Cirilo ‘Bola Sete’ chegou ao fim da caminhada…

Depois de algumas décadas vivendo nos velhos hotéis do contribuinte, o cidadão que retoma a liberdade “não tem mais utilidade nem pra ele e nem para a sociedade”.

Dura realidade!

Tais egressos do sistema prisional, saem moralmente cambaleantes e nunca mais se aprumam. Vivem de favores, muitas vezes em muquifos fétidos, debaixo de pontes e viadutos, nas sarjetas, nos semáforos mendigando moedas para sustentar os pequenos vícios, morrendo aos poucos, até que a morte dê o golpe fatal!

Assim foi com o egresso Cirilo do ‘Bola Sete’!

Começou cedo o caminho torto! Aos 17 anos já era figurinha fácil no álbum da polícia. Entre uma fuga e outra, um crime e outro, uma prisão e outra, Cirilo passou mais de duas décadas vendo o sol nascer quadrado. Os últimos anos foram na APAC – de onde deveria ter saído com uma profissão definida e uma oportunidade concreta de um recomeço na vida.

No entanto, é necessário muito mais do que isso para apagar vinte e tantos anos de ócio e maculas acumuladas ao longo do caminho torto! Cirilo não teve forças para isso!

Nessa foto – que eu fiz em 2010 – apoiado na grande conteira em frente a casa do seu falecido pai no Aterrado, havia poucos meses que ele havia deixado a APAC. Ainda mantinha o viço da vida. Ao contar um pouco das suas aventuras e desventuras no mundo do crime, ele ainda alimentava a esperança do recomeço… mas não conseguiu voltar ao início da juventude para recomeçar!

A outra foto, enviada por uma amiga comum esta manhã, ilustra um pouco do que as drogas – essa mesma que o governo insistiu e o STF liberou a poucos dias – podem fazer com as pessoas.

Segundo nossa amiga, Cirilo morreu dormindo essa madrugada, num muquifo qualquer cedido por outros nóias na baixada do Mandu.

– “Cirilo estava muito debilitado. Eles fizeram um miojo pra ele e deixaram ele ficar. Pelo menos morreu de barriga cheia, numa cama quentinha” – disse a amiga, que diversas vezes tentou, sem sucesso, tirá-lo dos vícios.

As pessoas que defendem a liberação das drogas – da “maconha recreativa” – deveriam conhecer um pouco mais as histórias de “Meninos que vi crescer”. Cirilo do Bola Sete é um dos meninos que vi crescer…

O MENINO NÃO CANTA MAIS …

Na quinta-feira, enquanto dormia, passou de um sonho a outro e lá ficou…

Na verdade, faz muitos anos que ele parou de cantar. Cantava afinado, com a voz fina, doce e aguda… Cantava feliz, fingindo distração enquanto passava graxa nos sapatos dos clientes. Ganhou até o apelido de “Engraxate Cantor”!
Assim era Claudinei no final da adolescência. Cantou até tropeçar numa pedra no caminho… Até tropeçar na famigerada “pedra bege fedorenta”!
Desde então desafinou, tornou-se dependente da pedra. E para conseguir dim-dim para infringir o artigo 28 da lei 11.343, precisou infringir outros artigos do código penal. Isso o levou diversas vezes para o Hotel do Juquinha, depois APAC… Tornou-se um típico “Menino que vi crescer”!
Quitou seu débito com a justiça, mas não conseguiu voltar à encruzilhada e recomeçar sem mácula … Continuou no caminho espinhoso de quem um dia fez a escolha errada. Até que numa madrugada fria, há três anos, envolveu-se numa contenda banal com um desafeto e foi ferido a golpes de tesoura.
Desde então, quase inválido, tornou-se recluso em um quarto cedido por uma sobrinha. Já não engraxava, não cantava…
Semana passada, enquanto dormia, passou de um sonho a outro e lá ficou… não acordou mais!
Na quinta-feira, 20, seu corpo voltou ao pó… do Cemitério Municipal.
Claudinei, o Engraxate Cantor, era um dos “Meninos que vi crescer”!

Pra que serve um vice?

Há quatro meses das eleições municipais, Pouso Alegre tem 05 (cinco) candidatos ao ‘espinhoso’ cargo de alcaide! Até o momento, no entanto, não se vislumbra no horizonte nenhum postulante ao cargo de vice-prefeito.

Mas afinal de contas, para quê serve um vice-prefeito?

Quem responde essa pergunta é o meu amigo “Zé do Povo”, na edição número 15 do FOLHA no dia 18 de junho … há exatos 20 anos!

“Teoricamente o vice serve para substituir o titular na sua ausência ou impedimento. Mas na prática ele tem muitas utilidades.

– Serve para conduzir uma secretaria qualquer para fingir que justifica seu salário…

–  Serve para fazer fofoca ou oposição ao prefeito…

–  Serve para fazer ‘despachos e macumbas’ para o prefeito morrer… e ele assumir seu lugar!

– Serve para ficar quietinho em casa sem fazer nada… para não atrapalhar!

– Serve para articular sua campanha a titular nas próximas eleições!

– Serve para tirar licença nas vésperas de uma viagem do prefeito… para NÃO ter que assumir!

Enfim, um bom vice-prefeito serve para muita coisa.

E poderia servir para muito mais! Por exemplo: poderia servir para auxiliar o prefeito na sua administração …

– Para que ele cometa menos erros;

– Para que ele gaste o dinheiro público com a coisa pública;

– Para que ele beneficie a sociedade… e não os amigos!

– Para que ele possa receber o cidadão contribuinte em seu gabinete sem que o cidadão tenha que esperar dias e horas na fila;

– Para que ele tenha tempo de visitar focos de carências;

– Para que ele possa tomar café na cozinha do eleitor e dar tapinhas em suas costas como fazia na época da campanha!

Além destas utilidades & inutilidades úteis e fúteis, a maior serventia de um vice-prefeito, na verdade, começa antes da eleição. Mais cedo ainda, antes da convenção! É neste período que se percebe, pelo menos nos bastidores, a importância que tem um vice. É nesta hora que ele mostra seu valor. São intermináveis reuniões secretas e negociações envolvendo os interesses dos partidos a nível municipal, estadual e federal. Muitas vezes o campeão de popularidade é preterido em favor de um nome obscuro, para se ficar bem com o governo estadual. É no período pré-convenção que o vice mostra suas garras.

É buscando mostrar esta força que muitos pretendentes a confortável cadeira de vice lançam seus nomes estrategicamente a apreciação popular, postulando um cargo sempre mais alto, para depois soltar a demagoga frase:

“Se é para o bem do partido eu empresto meu nome”!

Ou:

“se o partido achar melhor, vou concorrer ‘apenas’ a vereança”! e outras tiradas mais.

E para isso vale tudo!

– Tem pré-candidato empresário que aparece toda semana nos jornais mostrando as qualidades, avanços e serviços prestados por sua empresa…

– Tem advogados que ganham festa de amigos e vão receber os presentes na televisão!

– Tem engenheiros que não perdem uma boca livre e até viajam para abraçar líderes partidários e aparecer em colunas sociais!

– Tem médicos que torcem para alguém rico ou famoso ficar doente… para ter que visitá-lo e aparecer na mídia!

Enfim, são muitas as artimanhas para chamar a atenção dos convencionais e ganhar a vaga de vice ao lado do candidato favorito.

Talvez seja por isso que até agora não ouvi o nome de nenhum “viçável” querendo sentar-se ao lado do cabeça de chapa!

Comentários e críticas à parte, um vice-prefeito, sem o peso das decisões nas costas, se tiver a nobreza de justificar sua escolha pelo eleitorado, poderá auxiliar e ser ainda mais importante que o prefeito numa administração.

 

*Zé do Povo é mineirinho do Mandu, mora há mais de 30 anos ao pé da serra do cajuru e trabalha como Gari no centro de Pouso Alegre

Vovô morreu…

(Imagem ilustrativa)

– Querida, o papai… desencarnou! – Falou Luquinha e esperou alguns segundos, para que a esposa processasse a informação. Em seguida contou os detalhes.

– Está tudo bem. Foi um desencarne tranquilo. Do jeito que ele deve ter pedido à Deus. Morreu sentado na sua cadeira preferida, na varanda da casa, contemplando o nascer do sol. O sorriso de satisfação continua no seu rosto.

– E as crianças… Como elas reagiram?

– Elas não sabem ainda. Elas acham que ele está dormindo e foram brincar. Vou tomar mais umas providencias e em seguida vou contar a elas.

Quinze minutos depois Luquinha chamou as crianças na varanda. Sentado entre elas no banco de madeira explicou de forma didática e romântica a partida do pai:

– Larissa, Leonardo… Quero falar sobre o vovô Chico Luca…

– Ele ainda está dormindo? – atalhou Larissa.

– Sim, minha filha. Ele está dormindo. Ele está dormindo o ‘sono da viagem’…

– “Sono da Viagem”, aquele que você contou pra nós aquele dia! Quer dizer que ele vai acordar longe daqui, no céu? – perguntou Leonardo franzindo a testa.

– Isso mesmo! O vovô já tinha feito tudo que tinha que fazer aqui na terra. Ele estava muito feliz e foi convidado a fazer aquela viagem para o outro astral. Vovô Chico Luca foi “um bom menino”… Ele trabalhou muito, amou muito, acertou muito, errou algumas vezes, pediu perdão, perdoou… Ele estava com a alma limpa, leve. Chico Luca sempre foi grato por tudo que recebeu. Hoje chegou a hora de fazer a viagem de volta à Casa do Pai – concluiu Luquinha abrindo teatralmente os braços para o alto.

– Ah, que pena! Ele não vai mais me contar histórias… Não vou ver mais aquele sorrisão de bochecha dele! – Reclamou Larissa, fazendo um bico com os lábios.

– Filhinhos… O vovô viajou! Mas ele continua morando no peito de cada um que o amou… de cada um que o ama. Quando quiser ver o vovô, basta olhar para o seu coração. – Falou Luquinha com mansidão… e os olhos brilhando! Brilhando muito…

 

*** Trecho do meu próximo livro…

Tibério… o ‘cão detetive’

O velho cão foi a peça chave para a apuração do assassinato do Pastor!


Eram nove da manhã de um ensolarado domingo de abril quando o telefone tocou na delegacia de policia. Do outro lado da linha uma voz de mulher disse apenas:
– “Tem um homem morto no mato ao lado da Vigor”!
Era meu plantão naquele dia. Como manda o bom senso que norteia a boa investigação, acompanhei o perito Praxedes ao local do crime. A informação anônima era verdadeira. Havia ali um corpo estendido no chão… sem lenço, sem documentos e sem vida! Pior! Sem um rosto que pudesse identificá-lo. O pobre homem de meia idade tinha o rosto completamente desfigurado por golpes de pedras e tijolos. Os toscos objetos do crime com as marcas da violenta agressão estavam espalhados ao lado do corpo no terreno baldio.
O corpo, que aparentava ter cerca de quarenta anos, foi levado para o IML e depois de necropsiado passou o resto do dia ali como indigente. No final daquela mesma tarde recebi uma mulher na DP para registrar um desaparecimento. Quando levantei o fantasmagórico lençol branco no IML, a mulher desandou a chorar. Era quem ela procurava! O morto era F.A.S., conhecido pela alcunha de “PASTOR”, com quem ela havia vivido maritalmente por dois anos na Baixada do Mandu. Segundo a mulher, Pastor, 38 anos, vivia de catar recicláveis e não fazia mal a uma mosca.
Apesar da vida de provações e escassez de dinheiro o rapaz era frequentador do FORRÓ DO PREGUINHO nos finais de semana. Aquela semana havia sido produtiva. Naquela noite de sábado ele estava endinheirado. Levava na algibeira pouco mais de 80 reais. Isso despertou a cobiça de lombrosianos que estavam nas imediações do forró… Foi sua sentença de morte!
As investigações do brutal assassinado nos levaram, como sempre, ao local do crime. No terreno baldio, permeado de mato, vegetação rasteira e entulho havia duas barracas velhas de camping, improvisadas. Uma delas estava vazia. Na outra havia um andarilho sem eira e nem beira. Na iminência de assinar um 121, ele nos contou – quase – tudo que sabia:
– Eu não vi nada, não, mas eu escutei. No meio da madrugada eu acordei com os latidos de um cachorro… Ele latia sem parar… aí o dono dele saiu da barraca e fez ele calar a boca – disse o mondrongo.
As informações eram poucas, mas foram o suficiente para nos levar aos assassinos. Bastava pensar. E pensamos:
– Se o cão vira-latas latiu… é porque presenciou o crime!
– Se o dono saiu da barraca para ralhar com o cão… ele também presenciou o crime!
– Se ele abandonou a barraca logo nos primeiros clarões da manhã… é porque ele não queria dar ‘entrevistas’ aos homens da lei!
As investigações nos mostraram que quem estivera abrigado na tosca e encardida barraquinha no palco do covarde assassinato do Pastor, eram M.T. e sua jovem amásia. O fato de ele ter deixado a barraca ao pezinho da manhã do crime, levando consigo o cão delator, fazia dele o principal suspeito. Por isso, não foi difícil fazer com que ele apontasse os autores… para livrar sua própria cara!
As informações de Miltinho foram confirmadas no passo seguinte. Levantamos que o telefonema recebido na manhã de domingo, partira de um orelhão instalado ao lado da casa dos assassinos!
Em seu mais célebre romance – Crime e Castigo – o grande escritor Fiódor Dostoievski traça, com muita assertiva, o perfil de todo assassino:
“O criminoso não se contenta em cometer o crime… ele quer saber o que a polícia sabe sobre o crime que ele cometeu… e se a policia vai chegar até ele”!
Ou seja: “quando o assassino não volta à cena do crime”, ele deixa pistas…
Desvendado o mistério, com a carta branca do homem da capa preta, apresentamos as pulseiras de prata aos algozes do Pastor. Os dois assassinos, bem como aquela mulher que ligou do orelhão para denunciar o crime, sentaram ao piano do paladino da lei e assinaram o latrocínio – matar para roubar.
O assassinato do Pastor nas margens da Perimetral naquela madrugada fria de abril de 2004, foi um dos casos mais fáceis e rápidos que apuramos. No entanto, toda a investigação resultaria infrutífera se o velho cão não tivesse colocado a boca no trombone, obrigando seu dono a ralhar com ele.
O cão responsável pelo esclarecimento do assassinato do Pastor por causa de 80 reais, era um ilustre desconhecido que perambulava pela cidade na companhia de um casal de moradores de rua. Depois de aparecer nas páginas do jornal FOLHA, como herói, ele ganhou holofotes e visibilidade. Principalmente depois de ser abandonado pelo dono. Miltinho era figurinha carimbada no álbum da policia e cliente antigo do Velho Hotel da Silvestre Ferraz, por uso de drogas, brigas e outros delitos menores. Moradores de rua, Miltinho e a namorada – e o cão adotivo – passavam os dias nas imediações da pracinha atrás da Catedral e dormiam em qualquer lugar que os protegesse do sereno da noite. O relacionamento do ‘casal 20 das ruas’ era, no entanto, estilo tapas & beijos! As brigas constantes do casal rendiam frequentes hospedagens gratuitas a Miltinho no Velho Hotel da Silvestre Ferraz. O pote tanto foi à fonte que o Homem da Capa Preta resolveu separar o casal. Miltinho ganhou uma estadia prolongada no hotel do contribuinte.
Sem o casal de briguentos para lhe dar um centavo de carinho e uma nesga de comida, o cão – auxiliar da lei – voltou a perambular solitário e cabisbaixo pelas ruas.

O ‘cão detetive’ atende pelo nome de TIBÉRIO. É branco encardido, tem entre dez e doze anos de idade e visíveis marcas do tempo e de maus tratos pelo corpo. Numa versão menos romântica do filme “Akita”, cujo cão passa anos esperando seu dono – Richard Gere – na estação, Tibério passou longo tempo tentando reencontrar seu dono. Passa boa parte do dia nas imediações da catedral – onde Miltinho e a namorada costumavam ficar – e à noite ronda o Velho Hotel da Silvestre Ferraz e a delegacia de polícia, onde Miltinho foi visto pela última vez… em busca de carinho e comida!
Sorrateiro, arredio e orgulhoso, não aceita agrado de qualquer um. Foi difícil fazer essa foto quando ele se aproximava para o jantar servido quase diariamente por dona Vera, na porta da sua casa defronte a delegacia. Se devemos respeitar todos os animais, certamente devemos muito mais ao Tibério, o ‘cão detetive’ que ajudou a esclarecer o fútil e bárbaro assassinato do Pastor!

Justiceiro Mascarado

   Pedro Pedreiro foi mais uma vítima do chicote do misterioso “Zorro da Zona Boemia”!

“Início da madrugada de uma quarta feira quase morta. A única rua da cidade que ainda mostrava sinais de vida era a Davi Campista. O outono ainda era um adolescente, mas o frio do inverno naquela época não esperava a estação oficial para bater na porta… e na pele!

Pedro Pedreiro desembarcou de um caminhão de entregas perto do Hotel Cometa e seguiu na direção do infante bairro Jardim América, que não tinha ainda quarenta casas. Ao passar pelo muquifo, quero dizer, boteco do João Natal, no início da Silviano Brandão percebeu, pela tênue luz que escapava pela metade da porta de aço arriada, que o boteco estava aberto. Espiou por baixo da porta e pode ver um sujeito dormindo debruçado sobre uma mesa, certamente embalado por Severina do Popote, e um casal se esfregando no balcão, cada um com um copo e um cigarro na mão enquanto o baixinho e narigudo João Natal cochilava na outra ponta do balcão com um radinho chiando ao pé do ouvido!

Pedro Pedreiro entrou e pediu uma cangibrina, para espantar o frio! Tomou três! E rumou para casa! Agora mais animado!

Qualquer cidadão no seu lugar seguiria pela Silviano Brandão até a Campos do Amaral e aí sim teria que cortar a “Zona”. Pelo menos era um trecho curto. Passar pela Davi Campista em horas mortas não era uma atitude muito sensata. A extensa rua no centro da cidade abrigava a velha “Zona Boemia”, antro de perdição! A confusão morava ali. Só de atravessar aquela rua o sujeito chegaria em casa cheirando a perfume de pomba-gira… e seria confusão na certa!

No entanto, depois de três doses da ‘marvada’ no eterno decadente boteco do João Natal, todos os empecilhos saíram do caminho de Pedro Pedreiro. Além do mais, embora fosse casado, e bem casado, com a baianinha Colombina, rechonchuda e de seios fartos, ele tinha inclinação para aventuras e o hábito de tomar umas biritas por ali, apreciando as belas coxas das morenas de vida fácil.

Atiçado pela estonteante Severina do Popote, Pedro Pedreiro resolveu cortar caminho pelo ‘paraíso do baixo meretrício’. Virou a esquina da rua do Rosário e poucos passos depois entrou na rua famosa Davi Campista, rua do amor barato conquistado no balcão… amor de perdição. Se estivesse sóbrio certamente seguiria em frente, apenas passaria pela rua e viraria sem problemas na Campos do Amaral, mas… resolveu tomar mais uma dose da cangibrina na boate da Margarida Leite! Mesmo sabendo que ali uma dose de ‘rabo-de-galo’ custaria quase meio dia de trabalho de servente!

A vitrola tocava uma música muito sugestiva para o local: “Ebrio de Amor”, seguida de “Dama de Vermelho”! A ‘dama’ Margarida Leite, já no crepúsculo de mulher da vida, era agora mulher de comercio… Era a mais rica cafetina da Davi Campista de então. Como ela fora uma das prostitutas mais cobiçadas do lugar, sua casa era agora a mais movimentada. Outrora seu corpo curvilíneo e cheio era a atração… Agora a atração era sua casa! Quem entrasse na sua boate tinha que ficar um pouco mais… E Pedro Pedreiro foi ficando! Pedro Pedreiro – que na verdade era servente – ficou por ali em meio às luzes vermelhas, aspirando a mistura de Água de Colônia com Dama da Noite, Martini, Cuba Libre e ‘suco de gerereba’, ouvindo Pedro Bento & Zé da Estrada, Celinho e Ramon no acordeom! Quando percebeu que o movimento já raleava olhou para o relógio Seiko de pulso – que trazia no bolso por causa da pulseira quebrada – e viu que passava de três da manhã! Preocupado saiu apressado e rumou para casa pensando com seus botões…

– Hoje a Colombina me tira o couro!..

Sim. Pedro Pedreiro ficou sem o couro…

Mas não foi a esposa – a mulatinha de 29 anos, dez a menos do que ele, bem feita de corpo, talvez muito mais bem feita do que dezenas da mariposas das boates soturnas da Davi Campista – quem tirou! Quando Pedro virou a esquina da Francisco Sales o couro comeu! Do nada surgiu um cavaleiro montando um cavalo preto e desceu-lhe a guasca! Enquanto ele tentava se defender do chicote de couro saltando que nem pipoca na panela para lá e para cá sem entender se era um assalto ou alguma vingança pessoal, indagava:

– Pelamordedeus cabra, o que é isso? O que que eu te fiz?

O cavaleiro, cujo rosto ele não podia ver por causa da penumbra da madrugada e da chuva fina de molhar bobo que insistia em cair, e principalmente pelos movimentos do cavalo que parecia tão assustado quanto ele, dizia apenas:

– Isso é hora de estar na rua!? Você não tem família, não tem mulher em casa, não?”

 

***Pedro Pedreiro foi mais uma vítima do chicote do misterioso “Zorro da Zona Boemia” de Pouso Alegre!

 

Crimes sem castigo

Vitória Marcela

     No final da tarde de domingo, uma senhora de meia idade encostou no balcão de atendimento da delegacia de polícia de Pouso Alegre. Queria saber se, por acaso, a polícia não havia prendido uma menina com nome de VITÓRIA MARCELA.
– Ela saiu de casa ontem à tarde e não voltou até agora. Ela tem 11 anos e costuma dormir na casa das amigas, mas sempre volta para casa de manhã. Hoje ela não voltou. Eu já fui na casa das amigas e elas disseram que ela não dormiu lá – contou a viúva namoradeira e baladeira, moradora do Chapadão, demonstrando pouco interesse em encontrar a filha.
     Apesar de ter casa, ter mãe e três meio-irmãos adolescentes e adultos, a garotinha vivia praticamente na rua, na casa de amigos, em botecos… Era uma “menina sem dono”!… presa fácil para qualquer mente criminosa.
Não. A polícia não havia prendido e nem apreendido nenhuma garotinha de onze anos com esse nome. Mas no IML havia uma garotinha com essa descrição… Era Vitoria Marcela!
     O débil corpinho desnudo, gelado, violado, cheio de ferimentos nas unhas, na cabeça, na região genital, estava na geladeira do IML desde as dez e meia da manhã. Havia sido encontrado casualmente por um lavrador em um matagal ermo na beira da estrada no bairro Limeira.
     Identificado o corpo, a polícia civil entrou imediatamente em cena. Nos meses seguintes dezenas de pessoas sentaram ao piano do paladino da lei. Vários fios da meada foram puxados. Sete suspeitos – inclusive a mãe desnaturada – passaram algumas semanas vendo o sol nascer quadrado, mas… nenhum deles criou raízes no Hotel do Juquinha.
     O crime de tortura, estupro e assassinato da menina Vitória Marcela ficou… sem castigo!