Sua esposa confessou o macabro crime!
Sentada confortavelmente na sua cadeira de couro com encosto alto, com ambas as mãos apoiadas nos braços da cadeira, a promotora quase precisou segurar o queixo para que ele não caísse com o que acabara de ouvir. Diante dela, no final do expediente de terça-feira, a polêmica advogada defensora dos direitos humanos, não viera defender um cliente… viera fazer uma confissão!
– Minha filha matou meu marido! Eu a ajudei a enterrá-lo. – disse ela sem alarde, como se estivesse falado de uma receita de bolo de maracujá!
A mui digna representante do Ministério Público, afundou-se na poltrona, como se quisesse afastar da mesa, da confidente… Com os olhos bem abertos pregados na causídica, emparelhou os neurônios, fez força para manter o maxilar quieto e disparou:
– Como é que é? A Sra. pode repetir o que disse, por favor!
– Então doutora… A sra. conhece meu marido. Ele toma remédio controlado. Ele estava muito agitado. Quando eu tentei lhe dar o remédio, ele ficou agressivo e começou me agredir. Como minha filha tentou me defender ele passou a agredi-la também! Chegou a dar-lhe um golpe com uma pá. A ferramenta atingiu a perna dela. Para nos defender minha filha teve que segurá-lo pelo pescoço, tipo ‘mata-leão’.
A promotora escutava atônita.
– Foi muito tenso – continuou a advogada. Ele tentando se soltar para nos agredir, ela tentando segurá-lo pelo pescoço, até que ele finalmente ficou sem forças, caiu no chão e ficou imóvel. Nós ficamos com muito medo. Ele não se mexeu mais, foi ficando roxo, frio. Quando a gente viu… ele estava morto!
A guardiã da lei engoliu em seco, retirou as mãos dos braços da poltrona recoberta de couro, apoiou-as sobre a mesa inundada de papeis, livros e processos, e quando articulou o queixo para fazer outra pergunta, a advogada prosseguiu:
– Nós fizemos uma cova no quintal ao lado da casa e enterramos meu marido lá…
Perplexa, a promotora precisou de alguns segundos para recuperar o fôlego antes de perguntar:
– Mas… por que vocês não chamaram a polícia, não chamaram a ambulância, não pediram socorro…
– Não adiantava mais chamar o Samu… ele já estava morto! Quando minha filha viu o pai morto ali no chão, ela entrou em pânico! Ela disse que se eu chamasse a polícia ela se mataria!
Ainda sem ter certeza se acreditava ou não naquela macabra história, a promotora perguntou.
– E por que não me procurou antes?…
– Eu estava cuidando da minha filha, doutora. Ela ficou muito abalada. Primeiro eu tinha que cuidar de quem estava vivo, depois fui cuidar do morto! – Respondeu como se estivesse seguindo um rito processual.
– E onde ela está sua filha agora? Por que ela não veio com a Sra.?
– Eu a internei doutora. Minha filha está se tratando numa clínica psiquiátrica no Vale do Paraíba.
– Meu Deus!!! E quando foi que isso aconteceu, criatura! – indagou a promotora
– Foi no final do mês passado… faz uns dez dias.
– E onde está o corpo do seu marido agora?
– Está lá, doutora… enterrado numa cova rasa no quintal, perto da janela…
Este caso, verídico, aconteceu na histórica e pacata São Gonçalo do Sapucaí. O restante da história está no livro “Quem Matou o Suicida”.