O Sorriso de Teresa

A garota do semáforo.

Ela faz ponto no cruzamento da Santa Rosa com Antônio Carlos. Vende doces e queijos… para ganhar o pão!

Chega de manhãzinha, por volta da seis, a fim de pegar o maior fluxo de veículos das pessoas indo para o trabalho ou levar crianças pra escola. É como o “pássaro madrugador… pega as melhores minhocas”!

A cada dois minutos e meio ela tem cinquenta segundos para vender suas guloseimas. É o tempo que o sinal vermelho do cruzamento lhe dá para abordar os motoristas que param carrancudos nas quatro filas paralelas. A maioria nem abaixa o vidro escuro do carro para fazer o sinal negativo. Mesmo assim ela agradece com uma discreta deferência… e um sorriso!

Estatura mediana, negra, anca larga, obesa, ela se move lentamente entre os carros e evita ir até a terceira fila… para não ser surpreendida entre os carros e atrapalhar o trânsito quando o sinal se abrir.

E assim segue a manhã distribuindo sorrisos…

Um sorriso que encanta, que quebra o gelo!

Um sorriso que abre a carranca dos motoristas que param com seus carros fechados!

Um sorriso gratuito, que enriquece a manhã das pessoas que se dignam a olhar pra ela!

Assim é Teresa… Sorridente, respeitosa e gentil com todos que olham pra ela nas manhãzinhas no semáforo! Mesmo que não comprem nada… Que apenas olhe pra ela.

Foi assim que conheci Teresa nos primeiros dias de fevereiro do ano passado quando começou o ano letivo.

Foi assim que me acostumei com o sorriso de Teresa… Uma ilustre desconhecida vendedora de doces e queijos no semáforo!

Na volta das férias, em agosto, fui surpreendido com a gritante ausência de Teresa… e seu sorriso!

O que teria acontecido com Teresa?

Teria ganhado na Mega Sena e parado de trabalhar?

Teria mudado de ponto? De cidade?

Estaria doente?

Fiquei muito tempo sem resposta.

Na última semana de novembro, Teresa reapareceu. Voltou a iluminar o semáforo da Santa Rosa com Antônio Carlos!

Quando a vi abri a janela do carro, coloquei a cara para fora e fiz a tradicional pergunta, como se fôssemos velhos amigos:

– Você sumiu! O que aconteceu?

Teresa, com seu cestinho de doces e queijos, abriu ainda mais o costumeiro sorriso, sorriu com a boca e com os olhos, e deu a clássica resposta:

– É uma longa história!

Disse isso, mas olhou para o semáforo, se deu conta de que a luz havia acabado de ficar vermelha, notou que eu era o segundo da fila e que, portanto, ela tinha quase cinquenta segundos e começou contar sua história.

– Eu estava cuidando da minha mãe… Ela teve câncer, no útero, e acabou morrendo.

Mal abri a boca para me solidarizar, ela emendou:

– Logo depois da minha mãe, meu irmão também ficou doente… De repente ficou muito mal e descobriu que estava com câncer, no fígado… Ele bebia muito. Quando descobriu já era tarde. Acabou morrendo…

Triste por ela, deixei escapar algumas palavras de alento e … o sinal verdejou!

Antes que os carros se movessem na pista morna, Teresa se moveu para calçada fria e emendou resignada:

– É vida que segue …

Enquanto soltava o freio para me mover, pude ver seu aceno de mão e ouvir sua bênção, com o tradicional sotaque belorizontino:

– “… ‘cum’ Deus” – disse Teresa, exibindo seu melhor sorriso.

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