Um aviso do além!

O estranho telefonema evitou um acidente fatal!

O acidente aconteceu na ultima curva antes de chegar à Barraca do Sineval…

 

Numa morna tarde de inverno qualquer de 97, estava eu quieto no meu canto sentando uma testemunha ao piano no cartório da Delegacia de Silvianópolis, quando o telefone tocou. O único aparelho da DP ficava na recepção. Interrompi minha oitiva e fui até o balcão mas… perdi a pernada! Era um trote! Era um trote do “além”…

Tão logo grudei o aparelho na orelha a pessoa do outro lado começou a falar de maneira assustadora…

– “Vai acontecer um terrííííível acideeennnnteee”!…

A voz, entre infantil e feminina – e cavernosa – parecia estar vindo do fundo de um túmulo… ou de um filme de terror!

A princípio pensei na minha irmã Lucimar. Ela tinha o hábito de imitar voz macabra. Antes que eu fizesse a tradicional pergunta “quem está falando”? a pessoa – pessoa??? – desligou!…

E fiquei só com o cabo do guarda-chuva na mão! Quero dizer, com o aparelho mudo na mão.

Muito atarefado naquele dia – coisa rara para um policial na pacata Silvianópolis – voltei para o cartório e continuei minhas oitivas. Esqueci completamente o macabro … “recado”!

Por volta de seis e meia, já noite escura, fechei a DP, sentei atrás do volante do Fiat Uno GMG 5815 e peguei a estrada de volta para Pouso Alegre. Tão logo entrei na MG 179, lembrei do telefonema misterioso do início da tarde. Dois anos antes, numa destas viagens de volta para casa, no início da descida logo depois da curva do bananal, eu havia capotado meu escortinho cinza. Uma coisa ligou à outra… Ao lembrar do recado e do acidente com meu carro, tirei o pé do acelerador!

Por alguns quilômetros segui segurando firme no volante e pensando no estranho telefonema de horas antes…

Quem teria feito aquela brincadeira?

Por que a pessoa não continuou falando?

A única resposta que ouvi foi o ronco rouco do motor da surrada viatura policial cortando o silencio da estrada deserta. Esqueci novamente o incidente e voltei a conversar comigo mesmo, pensando apenas “na morte da cabritinha”. Passei pelo Santo Amaro, pela barraca deserta da “Donana”, dobrei a subida da pedra e comecei a descer as três curvas que desaguam na ‘Mina do Sineval’.

Quando me aproximei da última curva antes da mina, o ‘aviso macabro’ da tarde se materializou!!! De repente eu me vi diante do “terrrrriiiiiiveeelll acideeeennnte”!

No meio da curva, uma boiada inteira surgiu na minha frente!!!

Na verdade, uma ‘vacada’! Eram umas dez ou doze novilhas e vacas crioulas pretas e malhadas descendo a trote lento pela contramão da estrada!

Assustadas ou orientadas pelo farol da viatura, exatamente no meio da curva as ruminantes resolveram pegar o atalho! Com o QI próprio dos bovinos, as reses invadiram a pista e atravessaram a trote a pista de rolamento na minha frente…

Gritei, freiei, xinguei, chamei uns seis ou sete santos, dancei na pista, desviei o quanto pude, mas… a última não teve jeito!

Já saindo para o acostamento à minha direita, atropelei a retardada, desculpe, a retardatária!

Com o baque a novilha preta foi atirada no mato do acostamento, deu uma cambalhota, levantou-se, tentou engatar um trote atrás das outras, mas… as pernas bambearam! No terceiro passo desengonçado a pobre res capotou na beira da estrada e ali ficou estirada…

Em situação parecida ficou meu surrado Uno preto & branco, porém sobre as quatro rodas! Consegui evitar um acidente fatal, no entanto a viatura não mais se mexeu. Ficou ali, amassada, embicada, com o radiador furado, sangrando na beira da pista escura.

A viçosa e imprudente novilha crioula, com suas gordas e suculentas picanhas, não teve a mesma sorte. Uma hora depois de cruzar a trote o meu caminho, ela se despediu do mundo cruel. O mesmo guincheiro que rebocou o Uno inerte da PC para a oficina, sangrou a novilha que agonizava na beira da pista. Sangrou, esquartejou e levou para casa. Até onde eu soube, ele comeu churrasco por minha conta durante várias semanas!

Enquanto seguia de carona para Pouso Alegre, o telefonema cavernoso do meio da tarde voltou a bailar na minha memória. Graças ao ‘recado do além’ eu fiquei mais atento, tirei o pé, e consegui evitar o “terrrriiiiivveeelll acideeennnnte”!

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