Ralf Molina e os assassinatos dos velhinhos de Cambuí

Ralf Molina Generozo

Ralf Molina Generozo

        A população do bairro Água Comprida, zona rural da pequena Cambuí de 25 mil habitantes nas margens da Fernão Dias, está chocada e assustada. Numa mesma semana, dois casais de velhinhos foram assaltados e assassinados a tiros dentro de casa. As policias civil e militar prenderam dois suspeitos do primeiro crime na terça feira. No domingo seguinte, mais um casal foi morto. Na prisão do terceiro suspeito um detetive foi baleado no abdome e salvo pelo pente da pistola.

       Tudo começou na manhã de segunda feira, dia 28 de junho quando o agricultor Onofre Rangel Santos teve seu sitio arrombado. Os larápios furtaram um revolver Taurus calibre 38, farta munição e uma lata de cerveja. No final do mesmo dia o casal Ernesto Garcia Rodrigues, 59 e Maria de Lourdes da Conceição, 57 anos receberam violentos visitantes em sua casa no bairro Água Comprida. Às cinco e meia da tarde bateram à porta. Ao abrí-la Maria de Lourdes recebeu um tiro de raspão no pescoço. Apavorada correu para o banheiro gritando pelo marido e pelo neto JR, de nove anos. O garoto tentou entregar uma espingarda cartucheira pra o avô e também foi se esconder no banheiro com o telefone na mão através do qual pediu socorro à policia. Enquanto do interior do banheiro pedia socorro seu avô era assassinado na sala com um tiro de revolver e um de sua própria cartucheira que não chegou a disparar. O assaltante nervoso, noiado, deu o primeiro tiro trespassando o tórax do aposentado e com a espingarda deu outro tiro na cabeça, por baixo do queixo.

        Mesmo baleada no pescoço Maria de Lourdes conseguiu chamar a policia. Quando o telefone tocou para confirmar a ligação, foi descoberta pelo assaltante no banheiro, o qual começou chutar a porta. Tentando defender o neto e a neta, que também estava nalgum lugar da casa, Maria de Lourdes entreabriu a porta do banheiro para negociar com o assaltante e recebeu um tiro na boca. Sem saber que o garoto JR estava no banheiro, o assaltante começou revirar a casa em busca de dinheiro. Depois de conseguir alguns trocados dobrou serra do cajuru levando a espingarda do aposentado.

O assassinato dos velhinhos

          Enquanto a policia civil chefiada pelo delegado Renato Ciutti e a militar comandada pelo capitão Franco, agindo em conjunto tentavam reunir as provas contra Sabiá e os irmãos Molina, todos com passagens pela policia por crimes contra o patrimônio, aconteceu o segundo latrocínio, tão violento quanto o  primeiro.

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          A noite mal havia estendido seu negro véu quando a aposentada Angelina Furlan de Figueiredo, 77 anos ouviu chutes na porta da sua cozinha no sitio Paraíso, no bairro Água Comprida.  Ao abrir a porta recebeu um tiro à queima roupa no rosto, caindo desfalecida. Seu marido Gustavo Jose de Figueiredo, 83 anos, que vinha atrás dela tentou se defender entrando em luta corporal com o assassino, mas foi subjugado e recebeu também um tiro na cabeça morrendo no local.

      No mesmo modus operandi do primeiro crime, o latrocida desta vez sem testemunhas, revirou toda a casa dos anciãos roubando apenas dinheiro, quantia indefinida, e dobrou a serra do cajuru.

O drama das crianças

            Preocupado com a irmãzinha de 8 anos, JR saiu do banheiro onde estava a avó sem vida e correu para o quarto, indo se esconder debaixo da cama com a irmã. Ali eles viveram segundos de terror e horas de medo até a manhã seguinte.

        Depois de revirar os outros cômodos o assaltante foi ao quarto e passou a revirá-lo também, empurrando as camas para o canto. À medida que o bandido empurrava as camas, JR e a irmã iam se esgueirando de costas para o canto até chegar ao fundo do quarto. Em dado momento o bandido levantou o colchão, mas entre o estrado e o colchão havia uma proteção de papelão e o bandido não os viu! A proteção de papelão salvou a vida dos irmãozinhos…

        Desvairado o assaltante foi embora levando a cartucheira e migalhas em dinheiro, deixando para trás um rastro de sangue e as crianças tremulas debaixo da cama. E foi lá, no cantinho do quarto, depois da cena de filme de terror, com as roupas de baixo marcadas pelo desespero, que a empregada domestica encontrou o dois irmãozinhos ao chegar para o trabalho na manhã seguinte, mais de doze horas depois do horrendo crime, salvas pelo papelão que algumas pessoas têm o habito de colocar entre o estrado e o colchão. Os avós gélidos, inertes, estavam um na sala e outro no banheiro.

          Quando tentou entregar a espingarda ao avô para se defender do assaltante, o garotinho chegou a ver estacionada na frente da casa uma motocicleta e, embora o assaltante usasse capuz negro para encobrir o rosto, JR reconheceu seu porte físico e sua voz, os quais, segundo ele, seriam de Roger ou de Ralf Molina Generozo, dois irmãos que moram no mesmo bairro há poucos metros de sua casa. A moto, segundo o garoto, pertence a Eder Cassio Dias, o Sabiá, também morador do bairro.

         Diante destas informações, ao fazer o registro do violento crime, a policia militar deteve de imediato os suspeitos Roger e Sabiá na terça pela manhã.

        O delegado Seccional de Cambui, Renato Aufio Ciutti solicitou imediatamente ao Homem da Capa Preta a prisão temporária de ambos e ainda de Ralf. No mesmo dia cumpriu o mandado de busca em sua residência, mas ele havia dobrado – desta vez – a ‘Serra da Cambuava e nada foi encontrado!

Latrocida reage à prisão e balea policial

         Com fortes indícios da participação de Ralf em ambos os crimes e tendo informação de que ele estava mocosado em casa, o delegado reuniu sua equipe, a do capitão Franco e uma equipe de detetives enviada pela delegacia regional de Pouso Alegre e cercaram o mocó do suspeito, há pouco mais de 80 metros da casa dos velhinhos assassinados no domingo. Depois de advertir o assassino para sair desarmado os policiais invadiram a casa e desta vez foram recebidos à bala! O latrocida, além, de vários predicados negativos, foi ousado e sortudo. Seu primeiro tiro se perdeu na parede do quarto em que se refugiou. O segundo atingiu a cintura do detetive Tomaz, que mesmo baleado revidou com uma rajada de metralhadora, acertando – esta é a sorte! – apenas o antebraço do bandido.

Salvo pelo pente da pistola

         A cena faz lembrar o famoso filme de faroeste ambientado na final da Guerra de Secessão Americana “O Dólar Furado”… Por um instante o detetive Mario Lucio Tomaz Lima, 38 anos, catorze na policia civil, se viu na pele do personagem vivido pelo ator Giuliano Gemma, que ao voltar da guerra civil onde combatera os sulistas escravagistas, à procura do irmão, recebe um tiro a traição do próprio irmão induzido pelos bandidos que reinavam no local e é salvo por uma moeda de dólar que trazia no bolso da camisa, amortecendo o impacto do tiro de Colt 45! O tiro disparado pelo assassino Ralf com o revolver 38, o mesmo que fora roubado do sitiante Onofre Rangel Santos no dia 28, acertou o carregador reserva da pistola 9mm e amorteceu o impacto causando apenas um pequeno ferimento.

DSC09496A recepção dos “irmãos de cela”

        Ralf Molina Generozo, 27 anos, ainda não teve ‘condições físicas’ de sentar-se ao piano! Quando puder – literalmente – se sentar, deverá assinar um 155 qualificado, pelo arrombamento do sitio do Onofre e furto do trezoitão, resistência à prisão e tentativa de homicídio do policial.  Enquanto aguarda o resultado do exame de micro comparação balística da arma apreendida em poder de Ralf com os projeteis encontrados nos corpos das vitimas, o delegado Renato Ciutti busca reunir índicos e provas para incriminar tanto Ralf quando seu irmão Roger Molina, 31 e Eder Cássio Sabiá, 30, presos temporariamente na terça feira após o primeiro latrocínio. Pelos levantamentos feitos no bairro, a motocicleta vista pela garoto JR na porta da casa de seus avós no momento do crime, pertence a Sabiá e ele fora visto minutos antes dando carona para o vizinho Roger. Além disso, foi encontrado entre os objetos pessoais de Ralf na casa em que vive com os pais, R$140 reais, embora sua única ocupação seja praticar furtos e amedrontar pessoas no bairro Água Comprida.

        Após ser medicado nos braços, Ralf foi colocado no ‘apartamento’ I do ‘velho Hotel de Cambuí’ onde estavam outros seis hospedes. A recepção foi ‘calorosa’…! Acusado de ter matado covardemente os velhinhos, ele recebeu dos companheiros de caminhada quase o mesmo tratamento dado a um estuprador. A este repórter, diante da câmera, ele disse apenas;

Ralf Molina: Um dia depois de ter sido preso...

Ralf Molina: Um dia depois de ter sido preso…

– Escorreguei no ‘boi’!

Onde estão os assassinos? Será que foram condenados?

           O assassinato dos velhinhos de Cambui aconteceu no inicio de julho de 2004. A pena para os dois duplos latrocínios, tentativa de homicídio do policial e furto qualificado do revolver, poderia render aos meliantes algo em torno de 70 anos de cadeia. Será que o trio está mofando na penitenciaria Nelson Hungria em Contagem, a mais segura do Estado?

         Não obstante as investigações encetadas pela policia civil e de tudo mais que nos autos consta, o desfecho dos hediondos crimes de Cambuí passou longe, muito longe disso!

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         Sabiá e os irmãos Molina juraram de pés juntos que “estavam na capelinha do bairro rezando, fazendo novena para as criançinhas vitimas da fome na Etiópia no momento dos crimes!” As únicas testemunhas oculares do latrocínio dos avós, os irmãos que sobreviveram por milagre debaixo da cama, viram apenas a figura e ouviram sua voz, insuficiente para condenar alguém a 30 anos de prisão! As evidencias juntadas aos autos pela policia civil, ou foram insuficientes para formação da culpa ou não mereceram credito da justiça!

       Roger Molina Generozo e Eder Cássio “Sabiá” Dias foram soltos ao final da prisão temporária de 10 dias e nunca mais comeram um ‘bandeco’ sequer no hotel do contribuinte por conta dos crimes. Ralf Molina, pelo furto do trabuco da casa do Onofre, inegável, pois foi com ele que tentou matar o detetive Tomaz e pela tentativa de mandar o policial para o “andar de baixo”, recebeu 14 anos de prisão. Fugiu, foi recapturado e atualmente cumpre pena na Penitenciária de Formiga-MG.

        Maria de Lourdes Conceição, Ernesto Garcia Rodrigues, Angelina Furlan de Figueiredo e o marido Gustavo Jose de Figueiredo até hoje remexem no tumulo à espera da punição dos seus algozes.

        O detetive Tomaz, um dos investigadores mais atuantes da policia civil na região, há muito perdeu o ‘tesão’ de trabalhar com investigação. Hoje exerce as funções de vistoriador de veículos em Pouso Alegre.

10 thoughts on “Ralf Molina e os assassinatos dos velhinhos de Cambuí

  1. E chips mais uma vez a impunidade da às caras a mais um crime terrível os caras não satisfeitos em apenas roubar ainda assassinaram os pobres idosos talvez seja por isso que os bandidos que mataram o menino boliviano em são paulo foram mortos pelos próprios criminosos por que lá a justiça quando não vem de um lado vem do outro,aguardemos essa semana o último voto do ministro do s.t.f ao “embargos infringentes” só falta os petralhas terem um novo julgamento e saírem livres também,tá tão difícil acreditar na justiça desse país !

  2. Desta história posso tirar minhas conclusões;
    1- A PM não chegou a tempo porque estavam dormindo, igual fazem em Santa Rita
    2 – A Justiça é uma m@@@@@ devido os politicos que elegemos.
    3 – Os irmãos ficaram o resto da vida com esta imagem na cabeça.
    4 – Que pena que moramos em um país coruPTo.
    5 – Deus proteja as crianças.
    6 – Os bandidos pelo crime cruel, que esqueçamos deles na cadeia.
    7 -Os detetives que aprendam com estas abordagens.

  3. Sujeito capaz de um crime tão bárbaro quanto esse merecia ficar preso num calabouço, bebendo urina e comendo a própria merda pra saciar a fome.

  4. A seguinte passagem no texto me chamou a atenção:”Mesmo baleada no pescoço Maria de Lourdes conseguiu chamar a policia. Quando o telefone tocou para confirmar a ligação, foi descoberta pelo assaltante”. Se eu tivesse em uma situação parecida, me escondendo, não gostaria que ninguém ligasse para confirmar a ligação. Mas neste caso em especial, escondida no banheiro, acho que ela seria descoberta de qualquer forma..

    • Na realidade quem matou a senhora foi a policia, que não atendeu a ocorrência, porque tinha que ligar para confirmar o pedido de socorro para não ter que que acorda os policiais que, provavelmente estavam tirando uma “pestana”, sem a gandola e sem o coturno, isto com certeza, e porque após ligarem para “confirmar” não apareceram no local do crime, somente a empregada no dia seguinte foi encontrar os mortos e as crianças, será que dos assassinos não quis confirmar sua identidade secreta, seu CPF ou RG não confirmava com o seu nome, ou porque seu nome estava no SPC-SERASA, por este motivo não puderam realizar serviço de patrulha no local?

  5. POR FAVOR PESSOAL DA ZONA RURAL, MUDEM ESTE COSTUME DE GUARDAR DINHEIRO EM CASA, PRINCIPALMENTE EMBAIXO DO COLCHÃO. GUARDEM O DINHIRO NO BANCO, QUE ASSIM ESTARÁ NO LUGAR ADEQUADO, RENDENDO JUROS E AINDA NÃO ATRAIRÁ NENHUM LADRÃO PARA SUA CASA. E SE TIVER DINHEIRO EM CASA, GUARDE SEGREDOOOOO, NÃO SAIA FALANDO PRA TODO MUNDO. E QUE DEUS NOS PROTEJA DE TANTA MALDADE……

  6. CHIPS , meu comentário não tem nada a ver com a matéria , mas vc não vai postar algo sobre a ACISO ( AÇÃO CÍVICO SOCIAL ) organizada pela PM dia 21/09/2013 que aconteceu esse final de semana passado no Bairro SÃO GERALDO ????????

  7. Quantos anos apos a morte de minha mãe me deparo com esta reportagem e infelizmente atraves dela soube que eles não foram condenados.

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