Em 2003 o jovem Carlos Alberto da Silva, então com 22 anos e um parceiro, planejaram um assalto na região de Jaguaribe, no Ceará. No momento da execução alguma coisa saiu fora do script e eles mandaram bala nos guardas. Mataram dois. A policia foi chamada, saiu em perseguição e na troca de tiros acabou matando o parceiro de Carlos Alberto. Ele conseguiu fugir para o seu estado natal, Rio Grande do Norte.

Carlos Alberto da Silva ainda jovem, quando resolveu chamar-se Marcio Brito de Lima no Pará

       Para escapar das garras afiadas da lei que vinham no seu encalço, resolveu mudar… De cidade, de Estado, de nome! Só faltou mudar de rosto. Mas foi o suficiente. No Pará passou a chamar-se Marcio Brito de Lima. Amasiou-se e resolveu descer para o rico sudeste do Brasil. Entrou em Minas e foi descendo até chegar à Pouso Alegre. Fixou residência no Jardim Califórnia, no mesmo prédio em que mora um policial civil da Aisp 110. Nunca mais foi incomodado por um agente da lei. Marcio Brito, o novo nome estava limpo! Comprou até um carro financiado no nome fictício.

      Mês passado o tal veiculo envolveu num acidente banal de transito. Coisa pequena, sem vitimas, mas foi necessário registrar o B.O.  A partir daí o castelo de ilusões do matador de Jaguaribe começou desmoronar. Não se sabe como e nem de onde, um amigo oculto da lei avisou o detetive Jose Benedito, da Delegacia Regional de Pouso Alegre;

– Este Marcio Brito de Lima não é Marcio Brito de Lima… Ele é na verdade Carlos Alberto da Silva! Procurado da justiça no Ceará e Rio Grande do Norte!!!

Jose “Neném” Benedito passou a informação aos colegas Fabio Balca e Teobaldo e eles foram à luta. Em poucos dias o ‘mandamus’ judicial da Comarca de Jaguaribe chegou… Carlos Alberto era mesmo procurado naquelas paragens. Foi condenado à revelia no Estado cearense a 54 anos de reclusão por duplo latrocínio.

No ultimo sábado pela manhã os policiais Teobaldo, Balca e Neném prenderam o latrocida do vale do Jaguaribe. Não foi difícil conduzí-lo para a delegacia de policia… O difícil foi convencer Carlos Alberto de que ele é o Carlos Alberto! O moço fincou os pés nos chão e jurou até pela alma da vizinha do governador Cid Gomes que nunca esteve no Ceará! Diz que é órfão de pai e mãe, não tem parentes e nem sabe onde fica o Rio Grande do Norte. Um numero de telefone celular amarelado entre seus documentos, ele disse não saber de quem era.

Sábado, embora não houvesse expediente, o trio de policiais passou o dia todo na DP tentando identificar o assaltante assassino. Depois de muitos telefonemas para o norte e nordeste do país, finalmente chegou uma fotografia do bandido, enviada pela delegacia de Jaguaribe…

Carlinhos ainda jovem: Esta foto não ajudou em nada a investigação

Quando ele era ainda um adolescente engatinhando no crime. E a investigação voltou à estaca zero.

Já no final da tarde, quase desistindo de recolher o condenado ao xadrez, Teobaldo teve uma idéia; ligou para o numero de celular amarelado da carteira… Uma voz de mulher idosa atendeu;

– Alô, pois não…

– Com quem falo?

– O senhor quer falar com quem?

– Eu preciso falar com a mãe do Carlos Alberto, com urgência!

Silencio total do outro lado da linha! Até que a voz idosa perguntou?

– Porque? O que o senhor é dele?

– Aconteceu um acidente de transito com o Carlos Alberto… Ele está desacordado. Só havia este numero de telefone com ele, pensamos que fosse da mulher dele…

Pronto! Ao ouvir falar do filho acidentado, a muda senhora soltou a voz. Ficou tagarela! Queria saber tudo sobre o filho. Queria até dar bronca…

– Ai, meu Deus! O que aconteceu com o Carlinhos! Eu falei para ele não ir para tão longe…!

– A senhora é a mãe dele? Qual o nome da senhora? De onde a senhora está falando?

– Meu nome é Roselina Hortelina da Conceição, moro no Ceará…

– Eu estou no hospital de Pouso Alegre com o seu filho… parece que ele está acordando. Daqui a pouco eu volto a falar com a senhora…

Bem, pelo que vimos, Carlos Alberto urdiu um plano quase perfeito… Mas esqueceu de combiná-lo com a velha mãezinha! Nada como um amoroso e ingênuo coração de mãe para entregar de bandeja a identidade do filho.

Tudo resolvido? Podia enfim trancafiar o condenado por conta da justiça? Não! Faltava ainda convencer Carlinhos de que sua mascara havia caído. Ele continuava renitente. Mais uma vez a luzinha “eureka” estalou sobre a cabeça do policial; voltou a ligar para dona Roselinta Hortelina e colocou Carlinhos para falar com ela. Diante da voz chorosa da mãe que não vê há anos, o frio assassino se traiu;

– Mãe, estou em Pouso Alegre, vai ficar tudo bem…

Castelo desfeito, Marcio Brito de Lima, que foi denunciado por um amigo oculto da lei e traído – sem querer – pela emocionada mãezinha a três mil quilômetros de distancia, voltou a ser Carlos Alberto da Silva, o assaltante que há dez anos matou duas pessoas durante um assalto em Jaguaribe e tem 54 anos de xadrez esperando por ele.

O latrocida está hospedado temporariamente no Hotel do Juquinha, aguardando escolta para o Ceará. Há suspeitas de que ele seja um pistoleiro profissional daquelas bandas…! Quem sabe um amigo oculto da lei não acende uma ‘luzinha’…!