Aqui outrora foi um campo de futebol. Nas noites de quarta feira e nas tardes domingueiras craques de todo o estado desfilavam sua ginga e arrancavam apupos ou vaias da galera. A média de publico era condizente com o espaço, em torno de dois mil apaixonados torcedores embalados pelo ritmo da famosa ‘charanga’ da tijuca que sacudia a acanhada arquibancada com jogadas de Paulo da Pinta, Humberto, Miguelão, Betão, Chiquinho, Nonato, Hermínio, Carlão, Amarildo, Heleno e tantos outros boleiros da terra e de fora, que defendiam as cores Rubro-negras e colocaram o Dragão do Sul de Minas entre os melhores do futebol mineiro. Quando o visitante era Atlético ou Cruzeiro, o dobro das pessoas se espremia para ver Nelinho, Luisinho, Eder Aleixo, Sergio Araújo, Nunes e outros craques nacionais. Clubes de outros estados como Flamengo, Corinthians, Guarani e Ponte Preta também desfilaram e sacudiram a galera por aqui. Saudosos tempos.
Doado pela família do Pinto Cobra em 1928, o pasto que margeava a cidade tornou-se um garboso estádio de futebol, que mais tarde em 48, com a criação da liga esportiva municipal de amadores, passou a ser conhecido como Estadio da Lema.
O octogenario estádio que há mais de trinta anos mora no centro da cidade, tem muita historia recheada de glorias e alguns percalços para contar. Resumi-las aqui seria desmerecê-lo. Vamos contá-la aos poucos. O golpe mais duro, o berço do futebol da cidade, sofreu na virada do século. Foi vendido a preço de banana para a FUVS que tratou logo de demoli-lo, dando-lhe as feições atuais. Foi salvo no ‘tapetão’ mas nunca mais se reergueu, semelhante ao clube rubro negro que tanta gloria lhe deu e que há quase duas décadas parece estar vegetando no hospital regional ao lado… na UTI.
São muitos os motivos para a decadencia do futebol profissional nas cidades do interior. Um deles com certeza é a falta de credibilidade dos cartolas que estão preocupados apenas com resultados de momento, visando aparecer no cenário político. Outro motivo também diz respeito aos cartolas que quer apenas se locupletar com o ‘passe’ dos jogadores.
A causa principal da derrocada de qualquer clube profissional, no entanto, é justamente a falta de profissionalismo no trato com as categorias de base. O clube que não valorizar e não investir nos “pratas da casa”, jamais terá um plantel para o futuro e estará, portanto fadado ao fracasso. É o exemplo típico do PAFC que por diversas vezes recebeu de bandeja um time completo de atletas juniores, mas não se interessou e não investiu na sua formação e manutenção. Foi assim com o E.C.Americano do Agostinho, com as equipes do Carpinetti, com as o Hailton Custodio e com o grupo vitorioso do Oswaldo ‘Lerdo’ que vemos na foto abaixo, todos na década de 80, quando o Dragão estava bem na fotografia ao lado dos grandes do estado, Atlético, Cruzeiro e America.
Por falta de apoio e seriedade no trato com a promissora garotada de base, a fonte de bons jogadores secou. Hoje o garboso Estádio do Mandu, um dos melhores do Estado de Minas, está entregue à baratas, servindo para shows, para abrigar mendigos e desalojados das enchentes e para gerar polemicas. O octogenário e saudoso estadinho da Lema só serve para criar braquiaria, assa-peixe, ratos e aranhas no coração da cidade, ao lado do remendado hospital regional.
As pessoas que detem o poder sobre o patrimônio do glorioso “Rubro Negro do Mandu”, mas não tem competência, interesse ou credibilidade para geri-lo, deveriam fazer um favor a si mesmas e aos apaixonados por futebol da cidade e entregar pacificamente a direção do clube a quem possa ressucitá-lo. Com certeza não faltarão pessoas para abraçar e colocar o clube e a cidade no seu devido e merecido lugar no cenário regional e estadual.
Pensem nisso senhores…