MENINOS QUE VI CRESCER
O leitor atento logo vai perceber que esta historia tem dois “Meninos que vi crescer”, cada um seguindo um rumo diferente. Cada um de um lado da lei. Conheço ambos quase desde as fraldas. O primeiro na verdade vi nascer. Estava lá quando ele deu os primeiros passos e quando pronunciou meu nome engolindo o “r” e o “n”. Mostrei-lhe a paixão e ensinei os primeiros toques na bola. No final da adolescência, quando precisou definir-se profissionalmente, de tanto ouvir minhas historias acabou seguindo meus passos. É claro que em tudo me deixou no chinelo…
O segundo nasceu cinco anos mais tarde. Não acompanhei seus passos tão de perto, mas seu avô acompanhou os meus. Vendi milhares de picolés feitos por ele. Tinha o melhor picolé e o melhor frango assado da cidade, além de paciência, educação e bom humor para atender sua eclética e vasta clientela em grande parte formada por policiais. Durante décadas não houve um só policial civil que não encostasse a barriga no balcão do apertado bar do Waguinho ou ‘seu Wagner’ para tomar uma loira gelada ou cangibrina com o tradicional frango assado.
Nascido em 1978, foi neste ambiente que o Gô, cresceu. Na verdade, ainda na primeira infância sofreu uma grande perda que talvez tenha sido o diferencial de sua vida. Ao parar seu caminhão para abastecer a ‘burrica’ numa mina d’água, na beira da Fernão Dias, próximo a Extrema, seu pai, experiente caminhoneiro recebeu quatro tiros à queima roupa nas costas. Morreu no local. Nunca se soube quem fora o autor dos disparos.
A orfandade não impediu Gô de traçar seu próprio destino e seguir seu caminho pautado no exemplo dos tios, primos e avós, todos honrados e bem quistos. Mas, andar na contra-mão parecia ser mais emocionante ou quem sabe mais fácil do que enfrentar os desafios de uma vida profícua e regrada. Gô, ao contrario dos irmãos, era de poucas palavras. Morando no meio do meu trajeto para o trabalho, nos víamos e nos cumprimentávamos todos os dias… apenas com o olhar. Até que ele passou a definir suas companhias, não muito ‘sociáveis’ e se tornou ainda mais arredio e distante.
Embora se conhecessem, tenham estudado no mesmo colégio e fossem quase vizinhos, os caminhos de nossos dois personagens só se cruzaram em 2000. E cruzaram literalmente porque seguiam em direções opostas. Naquele ano foi criada a Delegacia Especializada de Repressão ao trafico de Entorpecentes, chefiada pelo delegado Antonio Camillo. Compunha a equipe os veteranos detetives Tiãozinho, Tomaz, Roberto e o jovem Teobaldo…
As primeiras investigações da nova equipe indicavam que um jovem desfilava sorrateiramente pela avenida Dr. João Beraldo, desde a Duque de Caxias até a Faculdade de Direito, distribuindo a erva marvada. Não tardou para Teobaldo identificar o traficante formiguinha como sendo Gô, neto do Waguinho.
Ja por aquela ocasião, o primeiro personagem desta historia, com quatro anos de policia, apesar de atuar em todas as linhas de investigação, parecia ter escolhido sua preferida; o trafico de drogas. Informações sobre trafico e traficantes sempre caíram de pára-quedas em sua prancheta. Gô passou a freqüentar a primeira pagina. Ele estava fazendo apenas seu trabalho profissional, jurado no ato de posse na carreira policial, mas os desafetos de Gô achavam que eles tinham alguma rusga pessoal por isso as informações choviam de graça e o jovem Gô começou receber visitas inesperadas de policiais em sua casa, autorizadas pelo homem da capa preta com base nos levantamentos policiais de Teobaldo. Uma destas buscas foi realizada simultaneamente em dois endereços. Na residência de Gô onde ele mantinha coisa pouca, apenas para pronta entrega e no ‘mocó’ do João Onça, um velho homicida egresso do velho hotel da Silvestre Ferraz que adquiriu o habito da fumacinha quando lá esteve hospedado.
A residência de João Onça na Rua do Arame era o que havia de mais genuíno esconderijo para drogas. Um casebre de portas e janelas de madeira e paredes caindo aos pedaços e um quintal que bem poderia ser chamado de mini-floresta, com bananeiras, amoreiras, ameixeiras, abacateiros, pés de inhame, batata doce, erva cidreira, comigo-ninguem-pode, espadas de São Jorge e outros bichos. Tudo crescendo e caindo ao deus-dará, sem cuidados, pois o tempo do velho e soturno João Onça, quando não estava abraçado com a velha katia…ça nalgum boteco copo-sujo nas cercanias do mercadão, era destinado a distribuir a erva nas imediações da Tijuca. Seu quintal parecia uma floresta… abandonada. A visita ao pé da manhã pegou João Onça ainda de cuecas samba-canção de brim amarrotado e com o bafo característico. Como ele nunca foi hospitaleiro com os homens da lei, foi necessário chamar o lobo mau para abrir sua porta no bico da botina. Dentro do muquifo – este adjetivo foi criado especialmente para definir o interior da toca do Onça – em meio a roupas sujas jogadas pelo chão, panelas engorduradas, restos de comida embolorados, moveis sujos e quebrados e teias de aranha conseguimos localizar duas barangas de cannabis. Vasculhado o casebre, nos enchemos de coragem e passamos à grande aventura de desbravar a selva que há anos não sentia a lamina fria e afiada de uma enxada, machado ou facão tentando encontrar a droga ‘dada’ pelo informante. Não encontramos sucuris, jibóias, javalis, antas, tigres, onças ou rinocerontes e muito menos os tijolos de maconha que poderiam estar enterrados em qualquer local da vasta selva ha muito intocada até mesmo pelo dono João Onça que tinha medo de desbravá-la.
Na residência de Gô, na João Beraldo, os colegas localizaram sem muito forrobodó uma pequena porção da erva, que o menino que vi crescer logo se apressou em dizer que era para uso próprio. Assinou seu primeiro 16 e foi liberado, mas deixou sua fotografia para posteridade no álbum da policia.
Apesar de escaldado, Gô já estava por demais envolvido com o trafico e não fecharia seu comercio nunca mais. Dias depois da investida em sua casa, um amigo oculto da lei ligou para a DP na hora do almoço informando que naquele momento ele estava indo fazer uma entrega perto das Carmelitas, num Uno Vermelho. Hora de almoço é hora sagrada de funcionário publico almoçar. A menos que seja policial – com ‘p’ maiúsculo – e um crime estejaem andamento. Aoreceber a informação Teobaldo laçou o primeiro colega que encontrou e foram interceptar a entrega da droga. Era uma entrega pequena, mas se encaixava no ‘verbo traficar’, no entanto Gô assinou apenas o 16. E assinaria outros tantos nos anos seguintes até o homem da capa preta resolver tirá-lo de cena, decretando suas férias forçadas no velho hotel da Silvestre Ferraz.
Como a pena era para ser cumprida no Regime Semi-berto, o moço foi direto para a APAC, onde só cumpre pena quem quer zerar seu debito com a justiça. Quem não quer pula o muro sem vigilância e vai embora. O menino que vi crescer me olhando atento e ressabiado, estava crescendo no ramo do trafico. Cuidar de jardins, hortas, plantação de milho, café, feijão, criar porcos, galinhas ou coelhos e a noite ouvir palestras e sermões não era sua praia e atrasaria os promissores negócios de Gô, por isso ele dispensou os conselhos do Padre Mario e demais voluntários da APAC, pulou o muro e caiu na estrada. Se o objetivo do homem da capa preta era tirá-lo de cena, ainda que por linhas tortas, Gô tratou de escrevê-lo. Saiu de cena e baixou as cortinas. Por um bom tempo sua avantajada silhueta não foi mais vista e seu curto nome não foi ouvido. Até que….
Contrariando a lógica do andar da carruagem, as investigações sobre o famigerado trafico de drogas, que aumenta a cada dia, restringiu-se basicamente a uma dupla de campo, um detetive na Inteligência e um delegado que os coordenava. O ‘Hucht’ da dupla manduana Starsky & Hucht era o impetuoso, apaixonado e sempre disponível Fabio Balca. Com ele Teobaldo mandaria muitos distribuidores de erva marvada, pedra bege fedorenta e farinha do capeta para o piano do delegado Gilson Baldassari.
Em 2007 um valioso informante deu uma rica fita. Quase toda droga consumidaem Pouso Alegree região, passava pelas mãos de um traficante, sem nome, do interior paulista. Esta informação levou os pupilos do delegado Gilson a apreender quase 80 quilos de drogas em três operações diferentes em poucos dias. Com o traficante Rodrigo Vieira Mazzoni, o FOCA, foram 4 quilos de maconha e 1 de cocaína, quando ele chegava à rodoviária de Pouso Alegre no ônibus da Gardênia, vindo de Campinas. Aliás, o Foca não se adaptou à secura do velho hotel da Silvestre Ferraz e vazou pelo ‘tatu’. Mas como a maré não estava para foca, ele tornou a cair nas malhas da leiem São Joãoda Boa Vista duas semanas depois e lá se adaptou muito bem… ‘não quis mais sair’. Ainda por conta da mesma informação sobre o ‘poderoso’ e misterioso distribuidor do interior paulista, Teobaldo, Balca e equipe prenderam Junior Cesar do Prado, o BABI, em Congonhal, com 50 quilos da erva. Como um assunto puxa outro, dois dias depois foi a vez de Eliel Moises Romeiro e Benedito Benê entregar a ‘rapadura’… Eles também chegavam de viagem trazendo na mochila 25 quilos de erva e um trezoitão quando receberam as boas vindas dos detetives.
Toda esta droga vinha da mesma fonte, na cidade de Mogi-Guaçu, de um distribuidor até então sem nome e sem rosto. Além de enfrentar as dificuldades de procurar o fio da meada como se procura agulha num palheiro, Teobaldo e Balca tinham que enfrentar a desconfiança dos colegas e da chefia, pois passavam meses sem digitar um relatório. Até que o nome do poderoso traficante que abastecia a região surgiu no fim do túnel: Gô. O velho Gô, da João Beraldo, neto do Waguinho, fujão da Apac. O menino que vi crescer era agora um poderoso traficante. Foi um alento descobrir o nome, mas a localização, o deposito da mer…cadoria ou a rota do transporte continuavam um mistério. Mas…. Deus ajuda quem cedo madruga. No caso de Teobaldo e Balca, o velho ditado era um ‘modus vivendi’ ou ‘modus trabalhandi’. Viviam para trabalhar. Não tinha dia ou hora. Toda informação tinha que ser checada quando chegava, ao meio dia, à meia noite ou às quatro da manha, de segunda, de domingo, de feriado, à pé, de bicicleta ou em carro particular. E o salário, – e o reconhecimento – ó….
A recompensa veio da maneira mais inesperada, numa madrugada morna de novembro. Para contar ao leitor como Teobaldo recebeu a mais bombástica das informações, a informação dos sonhos, é preciso abrir um parêntese na narrativa e voltar no tempo.
Estava eu debruçado sobre um jornal atrás do balcão na recepção da velha delegacia às nove e meia da noite, quando ouvi uma voz tênue de criança dizer:
– Aqui está a bolsa da moça… tá tudo aí dentro!!
Levantei os olhos do jornal e vi sobre o balcão uma bolsa feminina, mas não vi ninguém. Levantei-me lentamente para olhar atrás do balcão de mármore de um metro e vinte de altura, já pensando em assombração e lá estava o dono da tímida voz… Um garotinho franzino, de camiseta, calça larga cortada pela canela e pés no chão. Era mais baixo que o balcão, tinha 9 anos e seu nome era Pépinho ou Pepinha. Ele tornou a falar:
– Pode olhar moço, ‘tá tudo ai dentro…
Sentados no banco de madeira diariamente lustrados por policiais e meliantes na recepção, ao meu lado, o garotinho trocou em miúdos a historia da bolsa com “tudo aí dentro”. Estavam, ele e outros dois colegas mendigando no semáforo da Vicente Simões, quando uma senhora baixou a janela do carro e pegou a tal bolsa para dar-lhes uma moeda. Um dos amigos – da onça – pegou a bolsa e saiu correndo em direção ao Aterrado. Com medo de ser também acusado do assalto, Pepinho saiu correndo atrás e se enfiaram lá por trás do pátio do Freitas onde a policia não tardou a vasculhar. Pepinho, no entanto era apenas um menino de rua, não um ladrão, por isso tomou a bolsa do colega e foi devolvê-la na delegacia. Quando a PM chegou para entregar-me o B.O. sobre o roubo, uma hora mais tarde, a dona da bolsa ja estava indo embora com o caso resolvido.
Pepinho ou Pepinha, no entanto não se resolveu. Devolveu a bolsa que o amigo havia surrupiado, mas nunca mais devolveu as que ele próprio surrupiou. Como tinha apenas 09 anos, tornou-se cliente assíduo do Conselho Tutelar. Numa destas audiências de puxões de orelha, em meados de novembro de 2007, aproveitando um pequeno vacilo, o mini-delinquente passou a mãozinha leve e sujinha no celular da conselheira que o atendia e saiu de fininho. Seria apenas mais um furto corriqueiro de celular como dezenas que ocorrem todo dia na cidade. Este, no entanto pertencia à conselheira Poliana Teobaldo. Depois de ter mandado dezenas de meliantes para o xilindró, Teobaldo não descansaria enquanto não pusesse as mãos no larapio do celular da esposa.
Numa madrugada fresca de sexta feira, perto do raiar do dia, quando estava trabalhando de segurança particular numa danceteria do Esplanada, um dos seus muitos informantes deu a fita: seu aparelhinho fora trocado por uma pedrinha bege fedorenta e estava sendo usado pelo ‘formiguinha’ Darinho, no velho Aterrado. Antes de a ultima estrela da madrugada se deitar nos braços do Cristo no alto do morro do Horto, em meio à penumbra da noite, Teobaldo e Poliana estavam vasculhando o Aterrado atrás do celular – isso eu não ensinei a ele… porque eu não teria coragem de fazer – e aí o outro ditado popular entrou em cena: “pássaro madrugador, pega as melhores minhocas”… O aparelhinho fujão, que havia ficado vários dias em mãos do traficante Darinho, ja havia se acostumado aos assuntos inerentes à atividade do novo dono, de repente tocou!! Pasmem meus estimados leitores, era um traficante trocando informação sobre???? Trafico…!!! E que informação!!! Naquele momento, ainda na maior boca de fumo da região, Teobaldo ficou sabendo que uma tonelada de maconha estava cruzando o sul de minas com destino ao Rio de Janeiro e faria uma escala em Caxambu para deixar uma parte para o traficante… Gô!!! A carreta com placas do Paraná iria descarregar a droga num sitio no Circuito das Aguas.
Quando o sol mostrou os bigodes, depois de ter passado a noite toda em claro, Teobaldo estava na porta da delegacia tentando montar uma equipe para procurar a droga. O primeiro a abraçar a causa foi o fiel escudeiro Balca. Depois vieram o detetive Juleel, que estava saindo do plantão noturno, o escrivão Edgar que ja nasceu talhado para ser policial – e dos bons – também deixando o plantão, o Inspetor Batista que sempre acreditou nos seus comandados e o delegado Gilson Baldassari, chefe da Especializada. Todos tiveram tempo de sobra para se preparar para a mega-operação: cinco minutos. E saíram, seis policiais mal-dormidos e uma ‘bate-pau’, em duas viaturas à procura de uma carreta com placas de uma cidade qualquer do Paraná, que poderia estar levando uma tonelada de maconha. Tinha mais uma pista ouvida no celular cagueta: Um gol branco poderia estar por perto escoltando a carreta. Um grupo entrou pelo Circuito das Aguas, outro foi por Três Corações e entrou pelo circuito das drogas, quero dizer, por São Tome das Letras. Foram se encontrar cansados e borocoxôs em Baependi, sem nem o cheiro da erva maldita.
Mas policial ‘brasileiro não desiste nunca’. Voltando para Caxambu avistaram um gol branco seguindo de perto um caminhãozinho baú. Cada grupo tratou de abordar um deles. Ao emparelhar com o gol, Teobaldo reconheceu ao volante a figura impoluta do seu velho ‘anfitrião de café da manha com drogas’… Ha anos não se viam, mas nenhum deles havia mudado, nem na fisionomia, nem nas atividades. Era o menino Gô. Levava com ele no gol dois passageiros. Depois de alguns metros acelerando e praguejando na mira das pistolas, Gô encostou o veiculo. Era um ardil para ganhar tempo. Quando Balca saltou empunhando a metranca seguido de Juleel, Gô pisou fundo o acelerador, colocou o braço para fora e mandou bala na direção da viatura. Teobaldo que ja abrira a porta e Juleel revidaram e o gol continuou se afastando debaixo de balas. Quando parecia que iria sumir na curva da estrada, de repente passou reto, enfiou-se numa cerca de arame e parou. Chegaram rapidamente ao gol a tempo de segurar um dos passageiros que enroscara no arame farpado tentando fugir e outro fujão ja se enfiando num matagal. Gô estava quieto, imóvel atrás do volante, mudando de cor e de expressão facial. O que lhe restava de voz usou para maldizer seu eterno algoz. A bala, não se sabe de qual arma, se da pistola do Teobaldo ou Juleel, havia estilhaçado o vidro, o estofamento e se alojado na coluna vertebral do menino que vi crescer. Eu não o veria nunca mais. E a outra equipe? E a carreta com a droga? Gilson, Batista e Edgar haviam abordado o bauzinho, mas no momento que o motorista apresentava uma nota fiscal de café, Poliana os chamou pedindo apoio, contando do imbróglio de dois quilômetros adiante. Eles dispensaram o caminhãozinho com a suposta carga de café, sem vistoriá-lo. Podia ser mesmo café. Não ha nada melhor para disfarçar o cheiro da erva…
Estava feita a merda!!! Um traficante foragido da Apac agonizando, baleado nas costas com um 38 ainda quente na mão, dois desconhecidos enroscados no arame farpado e cadê a droga da droga? Nem precisava ser uma tonelada. Um quilinho magrelo da erva maldita seria suficiente para salvar-lhes a pele. Sem a droga os dois policiais que atiraram no gol em fuga, ainda que debaixo de bala, estariam em maus lençóis. O que fazer? Bem, a primeira providencia era não deixar o ar já rarefeito de Gô parar de entrar em seus pulmões, por isso urgia levá-lo para o hospital de Caxambu. Mas tão importante quanto salvar a vida do traficante, era encontrar a carreta com a maldita droga para salvar suas carreiras. A pressa de salvar Gô foi bendita. Quando chegavam ao trevo de Caxambu avistaram uma carreta manobrando lentamente no posto de combustíveis pegando a BR 265, sentido Juiz de Fora. Tinha que ser ela. Abordaram os três ocupantes e foram informados que levavam uma carga de arroz do Paraná para o Rio de Janeiro. Estava tudo documentado. Ah, mas entre centenas de sacas de arroz bem que dava para camuflar algumas de maconha, dava não…? Dava. Dava sim. Ô, se dava, dava mesmo!! Tinha que dar. Teobaldo blefou. Sacou a pistola com os dedos sujos de sangue, encostou o cano ainda quente no bigode do motorista e advertiu com todas as letras:
– Perdeu mano… acabei de encher seu parceiro de balas no golzinho ali atrás. Ele está indo dar os últimos suspiros no hospital. Vai querer fazer companhia para ele….?
O piloto da carreta e seus ‘chapas’ não eram traficantes contumazes. Eram ainda ‘mulas’. Com um bom advogado poderiam pegar apenas quatro anos e depois de um sexto da pena, pouco mais de um ano fechados, poderiam voltar para casa. Preferiram não conferir o blefe.
– … Tá no meio do arroz – disse o motorista tremendo, com a voz quase sumindo.
“Tá no meio do arroz…”. Esta frase singela jamais será esquecida por aquele grupo de policiais famintos, cansados, apavorados naquela beira de estrada no trevo de Caxambu naquele inicio de tarde de 24 de novembro de 2007. Estava mesmo e iria longe. Viajaria até o Polo Norte daquele jeito se os esquimós fossem tão manés e fumassem maconha. À medida que as sacas de arroz iam se afastando os tijolos de cannabis sativa de Lineu iam aparecendo até chegar a um mil, dois mil, tres mil, quatro mil, cinco toneladas de maconha!!! Uma tonelada era a parte que Gô baldearia para o bauzinho de café e levaria para seu sitioem Mogi Guaçu, de onde distribuiria para Pouso Alegre e região. As outras quatro toneladas passariam por Juiz de Fora e iriam abastecer os morros cariocas. Ufa… Estava salva a operação. Faltava agora salvar a vida do traficante. Seria muito mais gratificante e menos complicado e constrangedor vê-lo passar uns quinze anos no hotel do Juquinha… do que não vê-lo nunca mais. Mas não deu. Gô, o menino que vi crescer agonizou na UTI durante seis meses e finalmente fechou os olhos.
A mega operação que se desencadeou no final da madrugada através de um celular furtado da conselheira tutelar pelo franzino Pepinha, de 13 anos, resultou na apreensão de cinco toneladas de erva maldita, uma das maiores do Estado. Foi uma grande vitoria da policia no combate ao trafico de drogas, mas os policiais que sentiram o vento quente das azeitonas roçando suas orelhas antes daquela curva em Caxambu não colheram louros. Ao contrario. Receberam ‘olhares de cotovelos’ de alguns colegas de trabalho e de desconfiança dos parentes do traficante – afinal, parente é parente… – Os mais próximos encetaram uma investigação particular em busca de excessos dos policiais e só sossegaram depois de constatar que o trabuco encontrado ainda quente na mão tremula e moribunda de Gô pertencia a um traficante de Mogi Guaçu, com o qual ele tinha ligações.
A maior apreensão de drogas do Sul de Minas não rendeu sequer uma promoção aos policiais que a realizaram, nem mesmo à dupla Teobaldo e Balca que durante meses vinha tentando desenrolar o fio da meada para chegar ao ‘todo poderoso’ do interior paulista e semana antes prendera vários de seus asseclas. Teobaldo ao menos recebeu uma homenagem da Câmara de Vereadores, o que não é grande coisa quando se trata de indicação política, pois tem policial que não faz mais do tocar corneta e também recebeu tal homenagem…
Antiguidade e merecimento. Estes são os caminhos para um policial ser promovido dentro da carreira e engordar seu contracheque em meia dúzia de reais. No entanto, ‘merece’ promoção quem tem Q.I… Quem não tem padrinho morre pagão e espera dez anos na fila. Enquanto isso vai emendando o dia com a noite, horário de almoço com expediente em supermercados, danceterias e eventos noturnos para complementar o salário. Mas é bom… para o contribuinte. Quem sabe nestas noitadas não surge um Pepinha com um celular roubado… e mais uma tonelada de drogas e seus distribuidores caem nas malhas da lei….?
Parabens Galera
Airton!
Suas histórias acaba sempre deixando algumas curiosidades. Gostaria, se possível, que vc matasse algumas delas.
História..Pedrinho e Gegê, assim nasce os nóias: O família do Pedrinho, já conseguiu a condicional..ou ele ainda permanece na Nelson Hungria??
História..Max, dormindo com o inimigo: A militar apaixonada, ainda continua na ativa??
História..Coisa ruim da Borda: Seria possível colocar aqui uma foto do casarão onde o \”chiquinho\” marcou presença??
Sdçs!!
Boa tarde, Paulo…
O fato de teer deixado a ativa me fez perder alguns contatos, até porque no Forum é dificilimo conseguir alguma informação. Na Suapi parecem que fazem questão de esconder tudo que se passa ali, por isso não sei dizer que fim levou a dupla Pedrinho e Gegê…
Quanto à Leninha, a Julieta do Romeu Max, continua na ativa sim em Poços de Caldas. Somente não pedeu a carreira porque algum desafeto do meliante acabou com a vida dele perto de Campinas…
Eu fiz uma unica foto do velho casarão, de uma posição privilegiada, fantasmagorica… Mas para sair da casa da \’cunhada do Chiquinho\’, tive que prometer que não publicaria a foto, nãoa por enquanto, pelo menos. No livro que estou preparando com as melhores historias, devo publicá-la.
Abraços.
POLICIA CIVIL DE PORTUGAL
…….???????
so faltou contar como os civis conseguiam as informacoes!!!
qnts viciados foram \”alimentados\” c essas 5 toneladas c a recompensa de ter delatado alguem ??