O fato aconteceu no final da noite desta segunda,15, na delegacia regional de Pouso Alegre. Mas a liberdade durou apenas três horas!
Numa noite fresca de 1982 sentimos pela primeira vez o dissabor de ver um preso escapar pelo vão dos dedos. A sensação é parecida com chupar cabo de guarda-chuva velho! Interrogávamos um suspeito de pelos menos meia dúzia de furtos a residências em Pouso Alegre. Sabíamos quem eram os ladrões… faltavam as provas! A confissão era uma delas! Quando ele começou a abrir o livro, fui à Inspetoria da velha delegacia da Silvestre Ferraz, duas salas ao lado, checar suas informações no livro de “registro de crimes contra o patrimônio”. Como não encontrei o BO a que ele se referia, o Adair foi me ajudar. Enquanto procurávamos, o Paixão também chegou para ajudar. E o preso ficou no ‘confessionário’ aos cuidados apenas do Barbosa! Não havia riscos. Afinal, o preso estava algemado, sem o cinto, com a calça na mão, justamente para dificultar seus movimentos! Dois minutos depois o Barbosa também chegou à Inspetoria para ajudar a procurar o tal registro. No minuto seguinte nós quatro perguntamos juntos:
– Quem está no ‘confessionário’ com o preso ???
Ninguém. E não havia necessidade. Não havia mais preso no confessionário! Foram necessários poucos segundos para que ele batesse asas!
Quando estávamos no meio da rua tentando avistar sua sombra em cima do telhado da velha delegacia, único local possível para se fugir, o Mauricio Chiarini que chegava em casa com amigos, ao lado da delegacia perguntou:
– Vocês estão procurando um preso que fugiu algemado e seminu? Nós acabamos de encontrar com ele lá perto do portão da Rinha…!
Demorou vários meses para esclarecer aqueles furtos…
Naquele mesmo ano eu estava no mesmo confessionário interrogando o Peixinho, às dez da manhã. Quando ele terminou de contar para quem havia vendido a televisão furtada do Dr. Afonso Celso, eu fui à inspetoria pedir uma viatura para continuar as diligencias. Um minuto depois o colega Mairinques, que havia ficado com o Peixinho, também chegou à Inspetoria. Antes que eu perguntasse a ele onde estava o nosso preso, o detetive Pomarola, – que na época era ainda um meninão gordo e cabeludo que trabalhava com seu pai no escritório em frente, me respondeu… Depois de bater timidamente nas minhas costas ele falou… com a boca e com os braços:
– Saiu um cara algemado correndo ali do fundo da delegacia!
Era o nosso preso Peixinho… Ensaboado!
Esse eu consegui recapturar. Corri sem vê-lo por vários quarteirões, atravessei a linha férrea da Avenida Brasil, entrei na várzea do Aterrado e finalmente o alcancei na beira do Rio Mandú – essa história está na pagina 37 do livro “Meninos que vi crescer”!
Fugas de presos são assim… Basta um descuido do policial, e o preso, que nunca se descuida, bate asas e levanta voo! Mesmo que ele esteja sem o cinto, tendo que segurar as calças, ou com as mãos presas por algemas, se houver possibilidade de fugir… ele foge! Motivo para o bandido fugir não falta: ele não tem nada a perder! E pode ganhar um valioso prêmio… a liberdade!
No final da noite desta segunda, 15 de maio, aconteceu mais uma fuga deste tipo na delegacia de polícia civil de Pouso Alegre. Quem dobrou a serra do cajuru foi o meliante Wagner Aparecido Roque, 27. Ele havia sido recapturado duas horas antes na cidade de Cachoeira de Minas. Wagner o “Negão” era fugitivo da cadeia de Itajubá, para onde fora levado uma semana atrás, depois de ser preso preparando para dar o bote em um posto de combustíveis na vizinha Piranguinho.
Negão, 27 anos, está na estrada do crime desde o fim da adolescência. No entanto, não costuma criar raízes atrás das grades. E é do tipo valentão! Daqueles que gostam de rolar na poeira com os homens da lei. Em 2011 a Juíza Criminal da Comarca de Itajubá mandou chamar Negão à sua presença para dar-lhe uns puxões de orelha. Negão, que estava cumprindo pena no regime aberto, engrossou com a juiza! Quando os policiais chegaram para conduzi-lo para o presidio, Negão rolou na poeira com os homens da lei…! Mesmo na presença da ‘Mulher da Capa Preta’!
As onze e meia da noite desta segunda, depois de ter sido preso num mocó em Cachoeira de Minas, Wagner Negão esperava no ‘corró’ da DP o momento de pegar o taxi do Magaiver para o Hotel do Juquinha. Mesmo dentro do ‘corró’ ele continuava com as pulseiras de prata. Mas bastou um minuto de descuido para Wagner Negão bater asas e levantar voo! Três horas mais tarde ele voltou a andar no taxi do contribuinte. Wagner Negão foi novamente recapturado às três da manhã na BR 459, perto da Maria Fumaça.
Apesar de ter sido recapturado poucas horas depois da fuga da DP, pelos mesmos policiais que cochilaram, Wagner Negão deixou uma peteca quente para os policiais segurarem!