BORA VIAJAR…

Cirilo… e o promotor

Debaixo de uma saraivada de bala dos homens da lei, Cirilo passou sebo nas canelas e tentou dobrar a serra do cajuru mas… tropeçou numa cerca de arame farpado e caiu nas malhas da lei! Antes de passar pelo nosocômio, ele teve uma entrevista com o promotor de justiça de Ouro Fino, e desfiou seu rosário de chorumelas.

– Os ‘zomi’ atiraram em mim, doutor. Eu tô ferido… Tem uma bala encravada na minha perna! – informou ele.

Conhecendo suficientemente o tamanho da ‘capivara’ do meliante, o promotor não lhe deu trela.

– Ah, é um ferimento à toa! Podem trancá-lo… Amanhã durante o expediente vocês cuidam disso! – teria dito o promotor.

A indiferença do promotor doeu muito mais na alma do que na perna do meliante. Por pouco lhe custaria a vida anos mais tarde!

Numa noite chuvosa de fim de ano, Cirilo descia a Dom Nery em Pouso Alegre nos braços de Severina do Popote, tentando se proteger sobre as marquises, quando de repente cruzou com um vulto soturno e bem-vestido debaixo de um guarda-chuva. Apesar do mau tempo, Cirilo encarou o sujeito para ver se resistia aos desejos mundanos de anos atrás quando era jovem. Talvez até resistisse se o vulto soturno debaixo do guarda-chuva fosse uma pessoa qualquer. Mas não era. Que azar! De ambos!

O vulto bem-vestido tentando se proteger da chuva era um velho conhecido… um velho algoz!  Um algoz que ele viu apenas uma vez na vida…, mas que fora cruel com sua dor!

Se fosse o policial que colocou a bala em sua perna naquela noite no bairro Caneleira perto de Ouro Fino, teria passado batido, pois estava fazendo seu trabalho caçando bandido. Mas o inimigo era muito pior!

O inimigo não fizera o seu trabalho. O inimigo não permitiu que ele fosse medicado e mandou que o trancafiassem atrás das grades sem nem mesmo uma aspirina para amenizar a dor do ferimento à bala na perna… Era o promotor de Ouro Fino!

Tomado pelo ódio, Cirilo saltou sobre o promotor e bateu nele até vê-lo prostrado no meio da chuva. E seguiu seu caminho pela rua deserta… com a alma lavada. Duplamente lavada…. pela chuva e pelos socos desferidos no inimigo.

– Tanto tempo depois, você se arrependeu de ter batido assim no promotor? – Perguntei.

– Me arrependi amargamente…. de não ter conferido se ele estava morto! Isso me custou 4 anos e oito meses de cadeia! – respondeu Cirilo.

 

*** As aventuras e desventuras do Cirilo Bola Sete começam na página 293 do livro “Meninos que vi crescer”.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *