Mudanças…
O peculiar carinho de Mariana aquela noite não passara despercebido à Chico Luca. Desde que passara defronte a janela em que ela amamentava a ‘gorduchinha preta’ – era assim que eles chamavam Maria Sione logo que ela começou engordar com o leite materno – ele sentira alguma coisa em seu olhar. Era um olhar mais manso, mais terno, mais meigo. Ao sentar-se para pitar na escada da porta ela viera sentar-se ao seu lado, sem fazer os relatos espinhosos do dia como sempre fazia. Ao contrário, só conversaram coisas amenas!
Essa paz despertara nele o desejo de um jantar especial… regado à cangibrina! Talvez para comemorar alguma coisa que ele, também, não sabia o quê.
Lembrou-se das últimas horas que passou no mandiocal no Sapé…
Lembrou-se da cascavel com a linguinha fina na frente da fuça triangular procurando o alvo para dar o bote. É verdade que ele sentiu um certo pavor, correu um grande risco, mas, certamente já se vira em situações semelhantes outras vezes e não sentira nada diferente.
Não, não havia acontecido nada de novo, de diferente, naquele dia. Mas, sim, ele se sentia mais alegre do que de hábito, mais leve, mais…mais, mais próximo da sua negrinha!
Estendeu o braço comprido por sobre o ombro de Mariana e a puxou para seu peito…
Ela se aninhou, se derretendo…
Ficou por uns instantes assim mergulhada no peito do marido até que levantou lentamente a cabeça e procurou seus lábios…
Beijaram-se com doçura.
Passos lentos e suaves no piso de madeira da sala interromperam o momento de ternura.
Mariana afastou um pouco do peito do marido, olhou pra ele. Olhou para a lua que subia lentamente no céu, agora bem acima do bambueiro. Procurou palavras que expressassem o que estavam sentindo. Desnecessário, pensou. Tornou a olhar para o céu de prata e finalmente falou:
– Vamos sentir saudades daqui!
Chico Luca puxou uma longa tragada do cigarro, soltou a fumaça pra cima e falou em tom resignado:
– Sim. Mas é preciso…
A lua cheia estava se aproximando do beiral do telhado. O frescor da noite, o silencio, aqueles momentos de ternura… Tudo convidavam para um contato mais caliente. Chico Luca e Mariana voltaram a se beijar.
– Sobrou um restinho da cangibrina? – perguntou ele com um sorriso malicioso nas bochechas.
– Você está querendo fazer arte, hein! – falou Mariana, fingindo rubor, se levantando.
Um minuto depois voltou com a garrafa que ainda continha alguns dedos de cachaça e a entregou ao marido. Chico Luca tirou a rolha e ofereceu à esposa. Mariana devolveu o olhar de malícia e tomou um generoso gole. Chico Luca tomou o restante… Foram abraçados para o quarto. Aquela noite fizeram amor como nunca antes na vida. Amor cúmplice. Amor terno. Amor meigo. Amor despertado… amor de marido & mulher que se amam!
*** Se você quer continuar essa viagem pela bela historia de vida de “Chico Luca & Mariana”, embarque no romance… ( ops! Esse não tem título definitivo e ainda nem foi publicado, rsrsrsrs…)