Jeff… O Homem do Chapéu Furado

“… qualquer frequentador do “Cine Gloria” ou do “Cine Eldorado” em Pouso Alegre nas décadas de 70 e 80, dirão que o mais marcante foi Clint Eastwood!

O cavaleiro solitário – encarnado pelo ‘quase lendário’ Clint Eastwood – é, de longe, o mais longevo caubói da história do Velho Oeste”.

CAPÍTULO X

Jeff estava no estábulo ‘conversando’ com seu cavalo no final da tarde quando Stam chegou.

– Seu “primo” está vingado Tigre, com Juros como eu prometi. Ontem mandei uns dez lacaios para o inferno – dizia o delegado ao seu baio, enquanto lhe passava o escovão.

– Olá jovem. Cuidando do seu melhor amigo, não é?

– Olá doutor. Tem razão. Depois do colt o cavalo é o melhor amigo do homem, nestas terras violentas onde a civilização ainda não chegou.

– Você fala como um sábio rapaz. Isso me faz lembrar o velho xerife Rock Hobson. Ele costumava dizer: “A vida é como um jardim florido, todas as flores nascem com igual beleza, mas há sempre as que murcham antes das outras e enfeiam o jardim e as outras flores”. Ele dizia também: “Cuide bem do seu cavalo pois ele é o único amigo que você tem. As pessoas que o rodeiam como amigo, procuram apenas uma oportunidade para lhe cravar um punhal pelas costas ou meter-lhe uma bala de fuzil”.  Tinha razão o sábio Hobson.

– Já o ouvi falar desse homem como um herói. Você o conheceu bem? – indagou Jeff.

– Oh, muito. Fomos amigos por muitos anos. Amigos de compartilhar segredos. Ele era um homem formidável, muito honesto em suas atitudes. Em todo esse tempo ele cometeu apenas um só deslize… que ele mesmo me contou.

– É mesmo? Que deslize?

– Bem… aqui em Carsom City ninguém sabe disso… – parou de falar o médico.

– Diga Stam…

– Não sei se devo contar ….

– Ora doutor, eu não vou denegrir a imagem do finado.

– Rock era um rapaz muito simpático e atraente quando mais jovem…

– E aí ‘?’

– Bem, ele teve um caso fora do casamento… com a mulher de um rico banqueiro… – contou Stam a conta-gotas.

– Isso trouxe alguma consequência. O marido dela ficou sabendo e eles duelaram?…

– Não, não… O marido chifrudo nunca soube. Nem a filha…

– Filha? Ele teve uma filha com a mulher do banqueiro?

– Sim… a família mudou-se para Carson City mas o segredo sempre esteve debaixo de sete chaves.

– Que idade tem hoje a menina bastarda?

– Não é mais uma menina… É uma moça. Uma linda moça!…

– Espere! Você está dizendo que a filha de Rock é a … Doris?!

– Isso mesmo. – confirmou o médico, olhando por baixo dos olhos para o rosto de Jeff.

Essa revelação foi um choque inesperado para o jovem delegado. “Aquele pedaço de víbora então é minha irmã”? – pensou ele.

– O que foi rapaz? até parece que viu um fantasma. Está certo que foi uma fraqueza de Rock mas não é preciso ficar pálido por isso, afinal todo homem dá seus pulinhos.

– Não foi nada. Continue sua narração… Doris sabe quem  é seu verdadeiro pai?

– Não, sua mãe morreu quando ela ainda era criança. O banqueiro nunca soube. Rock naturalmente também se calou.

– E quanto a Doris? Como ela é? Sempre foi mesquinha desde pequena? – Interessou-se Jeff.

– Não. Até algum tempo era uma garota formidável. Mas depois com a influência do ‘pai’, foi se modificando. Hoje faz todas as vontades do pai. Mas é uma boa moça.

– Quer dizer que faz o que ele quer?

– Exatamente, tanto que ela vai se casar com o paspalho do Richard porque Charles o impôs.

– Preciso impedir isso, ela é min… – calou-se.

– Você ia dizer minha!…

– Sim, minha obrigação impedir que uma moça direita se case com um cafajeste como aquele almofadinha sem escrúpulos – emendou Jeff.

 

No dia seguinte.

“Toc, toc,toc” foi o som ouvido’ por Doris Heb vindo da porta de sua residência no andar superior do banco. Ao abrir maquinalmente a porta teve uma surpresa.

– Você?!

– Olá Cascavel. – disse Jeff provocante, tentando encontrar um assunto para abordar a jovem.

– O que quer aqui? Meu pai está lá embaixo…

– Muito melhor, pois eu preciso falar é com você.

Doris, lembrando do último episódio em que tentou matar o auxiliar de xerife atraindo-o a uma emboscada, e que, apesar disso, ele nada fizera contra ela, pensou que tinha um débito com ele. Por isso, mesmo contra a vontade, deixou-o entrar.

Jeff adquiriu uma atitude mais séria do que de costume e bastante embaraçado entrou no assunto que o trouxera ali.

– Bem, eu estou preocupado com você.

Doris se retraiu com a afirmação, mas nada disse. Jeff foi direto ao assunto.

– Você sabe quem é seu pai?

– Pergunta muito idiota não acha?

– Falo do verdadeiro pai.

– Que conversa é essa… Charles não é meu pai? – perguntou.

– Não. Você se lembra de Rock Hobson?

– Sim. Um bom sujeito que foi assassinado pelas costas tempos atrás e ninguém fez nada para punir o assassino. – Disse Doris com certa ponta de despeito pela função de Jeff.

– Eu estou aqui para isso e estou muito próximo de realizar meu objetivo. Mas o mais importante é o que você precisa saber…. Rock Hobson… era seu pai.

– O que disse?!!

Jeff lhe contou o que sabia.

-Não posso acreditar! – falou Doris esfregando as mãos para conter o nervosismo.

– É a verdade… E tem mais algo que você precisa saber. O velho Rock era… – hesitou Jeff.

– ‘Era’?….

– Rock Hobson era meu pai – completou Jeff.

Doris levou instintivamente as mãos à boca tentando esconder sua estupefação.

– Quer dizer que… nós somos irmãos

– Sim… Meio irmãos.

– É tudo muito absurdo. Há quanto tempo você sabe disso?

– Até ontem eu ignorava. Foi o doutor Stam quem me contou. É difícil acreditar, não é?

– Jamais imaginaria tal coisa.

– Tem mais coisa que precisa saber, Doris. Você sabe quem são os responsáveis pelos assaltos a bancos, diligências, caravanas, roubos de gado e todo crime que assola a região?

– Não tenho a menor ideia.

– É o pessoal do Rancho Barra Y, George, Brad, Richard e seus capangas. Não diga que não sabia disso.

– Não! Não sabia. Vou muito pouco à fazenda. Eles são muito amáveis comigo. Nunca desconfiei de nada.

– Então você não sabe por que o banco de seu pai nunca foi assaltado? É porque Charles é uma peça muito importante no jogo de George e Brad. É ele quem dá as informações quando entra algo de valor no condado.

– Você quer dizer que Charles é um cúmplice dos bandidos? E como você sabe tudo isso?

– Ora, basta ser um pouco inteligente e ter um pouco de sorte. Além do mais eu sou um agente da lei. Investigar é meu ‘mitier’! Me diga, agora, depois de tudo que sabe, você ainda pretende se casar com o almofadinha?

– Eu não sei o que dizer… O que você acha que devo fazer?

– Aja como se não soubesse de nada, por enquanto… Eles já sabem o que nós sabemos sobre eles. Amanhã teremos ‘fogos de artifício’ na cidade. Torça para que tudo acabe favorável à lei… Que a justiça seja feita. Se sobreviver eu a levarei daqui.

Jeff despediu-se deixando Doris mergulhada em um turbilhão de pensamentos. Quando ia saindo do prédio topou com Charles que vinha subindo a escada. O banqueiro instintivamente estendeu-lhe a mão dizendo:

– Olá rapaz, a que devo a honra de receber a visita do bravo delegado? Vamos entrar. O almoço já deve estar pronto.

– Obrigado sr. Heb, fica para outro dia. Morrison me espera na delegacia. Até logo.

– Até logo delegado – respondeu o banqueiro, intrigado com a visita.

Jeff ganhou a rua e se dirigiu para a Delegacia sem notar a presença de um homem no telhado do prédio defronte o banco. O mesmo que estivera ali observando desde que ele entrara na residência do banqueiro. O homem habilmente deixou o telhado descendo pelos fundos, montou em seu cavalo e saiu sorrateiramente da cidade. Enquanto isso…

– O que o delegado queria, filha?

Doris hesitou. Um tanto porque não tinha uma resposta pronta e outro tanto pelo significado da palavra “filha”. A hesitação lhe ofereceu uma boa resposta.

– Ele veio procurar Stam. Parece que ele contundiu o ombro ontem e lhe disseram que talvez o doutor estivesse aqui.

– Hum… – resmungou Charles, pensando em coisas mais urgentes.

 

Mais tarde, não muito distante da cidade.

No curral havia mais de quarenta homens. Entre eles George, Brad e Richard. O clima era tenso e belicoso.

– Já é a segunda vez que esses malditos xerifes vão direto ao esconderijo – esbravejou Brad. Impossível que seja por mero acaso. Tem que ter um traidor! Seja ele quem for, vai pagar com a vida.

– Você tinha razão Brad… Charles e a filha são os traidores! – Disse o pistoleiro que estivera observando os movimentos de Jeff mais cedo.

– Conte o que sabe Stanley.

– Eu fiz como você mandou. Me alojei no terraço do prédio em frente o banco e fiquei observando. No final da manhã o auxiliar de Morrison foi até a casa do banqueiro. Foi atendido por Doris, entrou, conversaram uma meia hora… Quando ia saindo topou com Charles que subia para almoçar. Cumprimentaram no pé da escada, trocaram algumas palavras amistosas e o delegado seguiu para a Delegacia. – Narrou o espião.

– Está vendo George? Não se pode confiar em ninguém. Hoje a noite arrasaremos Carson City. Vamos liquidar os dois xerifes, o banqueiro e a filha.

– Espere – interrompeu Richard – Se liquidarmos os xerifes não haverá necessidade de acabar com os Heb.

– Talvez você tenha razão. Após tirar os empecilhos do caminho prosseguiremos com nosso passa tempo e precisaremos de um bom informante.

– Não sei não… Traidor uma vez, sempre traidor. Além do mais já perdemos muitos homens por causa dessa traição. É melhor dar cabo deles também. – Cortou George.

– Vamos primeiro cuidar dos homens da lei, depois a gente cuida dos Heb. –  arguiu Richard, pensando na jovem Doris, com quem pretendia se casar.

– Então já sabem: hoje no escurecer vamos varrer Carson City, a começar pelos dois xerifes. E não se esquecem que James e Pat são amigos deles, portanto merecem um pouco de “atenção”! Quem abater Jeff poderá ficar com o saloon como prêmio.

– Aí caramba, poderei beber “tequila” à vontade. – Disse cinicamente Sancho, o que mais tinha sede em Jeff.

 

*** A aventura de Jeff, o homem do chapéu furado em Carson City – penúltimo capítulo -, continua na próxima quinta-feira, 10.

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