Jeff… O Homem do Chapéu Furado

                                                                         CAPITULO III

 

Algumas milhas distantes da cidade.

– Vocês são uns imprestáveis! – dizia furioso o rancheiro a seus vaqueiros.

– Calma patrão! Não tivemos culpa. O homem é terrível…

– Terrível coisa nenhuma. Vocês é que são uns patifes, umas bestas, palhaços… Deixarem-se vencer por apenas dois homens.

– O que está acontecendo?  – Perguntou Brad Macgree, que acabara de chegar de Spring Benson, onde fora fazer compras. Porque você está tão furioso George – acrescentou.

– É por causa destes imbecis, incompetentes…

– Afinal, o que eles fizeram?

– Deixaram-se surpreender pelo forasteiro que agora é delegado. Eu os mandei à cidade  dar cabo dele e do xerife Morrison e eles, além de falharem, levaram uma tremenda surra  dos dois!

– Você os mandou dar cabo do forasteiro? Isso não é bom…

– Não se preocupe. Foi indiretamente. Nossos homens incitaram os frequentadores do saloon a agredir o Xerife, acusando-o de contratar um pistoleiro para ser seu ajudante e no meio da briga Ted Slim atirou no forasteiro, através da janela. Mas falhou…

– Ele foi descoberto?

– Se tivesse sido agora só restaria seu cadáver. O que você acha de chamarmos “Ben” para liquidar o delegado?

– Melhor não… Vamos agir com cautela. Amanhã temos um serviço.

– Um serviço?…

– … Uma carroça da companhia da estrada de ferro contendo o pagamento dos operários vai passar por aqui…

– De onde vem?

– Virá da capital do estado, passará por Carson City, Spring Benson até chegar a Tucson, onde está acampado o pessoal da ferrovia.

– A quantia é boa?

– Qualquer quantia interessa.

– Certo. Hei Ted… avisa o pessoal que temos ‘serviço’ amanhã…

No dia seguinte.

Debaixo do sol que já ia alto, os quatro cavalos puxavam a carroça, à galope cadenciado, seguidos de perto pela escolta. Jeff ia na frente cavalgando seu baio.  A certa altura da estrada, parou e acenou para o grupo.

– Alto! Esta região está infestada de bandoleiros… E esta viagem está muito calma até agora. Esse silencio significa barulho. Todo cuidado é pouco. Vamos seguir com cautela… e atentos!

Mal os cavalos se movimentaram Jeff gritou:

– Esperem, esperem … Estou me lembrando de algo. – Jeff se lembrou dos rastros que descoberto por acaso no dia anterior, há menos de uma milha adiante, e disse:

– É melhor sairmos da estrada principal e entrarmos na planície à esquerda!

– Por que isso? – quis saber o contador da companhia.

– Pressinto que há bandidos nos esperando a menos de uma milha, perto das rochas. É melhor pegar outro caminho.

– Isso irá nos atrasar em várias horas! – exclamou o cocheiro.

– O que você prefere: chegar atrasado vivo, com o dinheiro, ou chegar na hora sem um tostão, com uma bala no crânio?

– Parece que não temos muita escolha. Mas afinal, em que se baseia sua suspeita de que há bandidos logo adiante nos esperando? Tem alguma evidência ou é apenas palpite? – quis saber o cocheiro.

– Ontem eu descobri casualmente rastros de cavalos, muitos cavalos, e um lenço fora da estrada perto das rochas. Hoje eu ia investigar, mas…

– Está bem… Por precaução, vamos sair da estrada principal – concordou a contragosto, John Calvey, o contador.

Duas horas depois, longe dali, retomaram sem incidentes a estrada principal que levava a Spring Benson.

– Pronto – disse Jeff. Atrasamos um pouco a viagem, mas agora estamos seguros. A esta hora os bandidos já devem ter desistido do assalto, pensando que não viremos.

Enquanto isso, milhas atrás Ted Slim e seus comparsas estavam impacientes…

– Não é possível! – dizia ele. Algo deve ter acontecido. Estão mais de duas horas atrasados…

– Alguém de nós deveria ter seguido a carroça desde Carson City – comentou um do bando.

– Acho melhor voltar e relatar ao chefe o que está acontecendo – sugeriu McCoy.

– Está louco!! O chefe consideraria isso mais uma falha nossa! Ele vai nos fritar vivos!

– Então o que você sugere Ted?

– Calem-se! Estou pensando.

Depois de alguns instantes de impaciente silencio, Ted ordenou:

– McCoy, Catlow, Smith, peguem os melhores cavalos e venham comigo. Vamos a Carson City. Os outros fiquem esperando aqui e façam o serviço conforme o combinado… se eles passarem.

Depois de percorrerem pouco mais de uma milha na estrada arenosa que levava a Carson City, Smith gritou:

– Hei Ted, veja… Marcas de rodas de carroça!

– Hum… Maldição! Rastros de cavalos! Então é isso a causa do atraso. Eles saíram da estrada antes da tocaia… Como souberam que estávamos esperando por eles! Muito espertos. Realmente muito espertos! Por pouco eles nos enganam…

– E agora? Que faremos? – indagou McCoy

– Vamos no encalço deles.  Se eles saíram da estrada aqui devem tê-la retomado há poucas milhas daqui, perto da Rocha do Abutre! Ou seja: pouco mais de duas horas daqui. E devem estar com os cavalos cansados… Atrás deles. Vamos fazer-lhe uma surpresa!

Minutos depois os dois grupos se reuniram na estrada. Após colocar os cúmplices a par do ocorrido, partiram em disparada pela estrada principal no encalço da carroça recheada de dólares.

A viagem transcorria tranquila apesar do calor causticante. Eram cerca de duas da tarde.

– Poxa como faz calor – comentou o cocheiro limpando o suor do rosto com o lenço encardido.

– Está quente mesmo… Quando o sol se deitar, refresca. À noite faz um frio danado   – comentou Jeff, que conhecia bem aquela região.

– Porque tão brusca mudança de temperatura em apenas vinte quatro horas – quis saber John Calvey, responsável pelo pagamento dos operários da companhia férrea.

– É que estamos à borda do deserto – explicou Jeff. No deserto, durante o dia ´calor é insuportável. Porém à noite a temperatura cai repentinamente chegando a níveis muito baixos, às vezes próximo de zero!

– Xerife… – interrompeu Carson. Acho que temos companhia!

– O que está havendo?

– Tive a impressão de ter visto uma nuvem de poeira algumas milhas atrás.

– Será que é a nós que estão seguindo? – perguntou o condutor da carroça.

– Certamente. Devem ser os bandidos que nos esperaram de tocaia e descobriram nossa manobra. Continuem pela estrada. Vou verificar…

Minutos depois o agente da lei voltou a galope.

– Então, viu-os? – Perguntou Calvey apreensivo, com os olhinhos brilhantes atrás dos óculos redondos.

– Sim. São dez ou doze… E vem a todo galope. Pela toada eles querem nos alcançar.

– Chiiii… estamos encrencados! – Choramingou Jed, enquanto Newton, outro escolta pedia ao delegado uma solução.

– Tenho um plano! Saiam um de cada vez da estrada e entrem na pradaria. Você cocheiro, quando achar um ponto da estrada onde o terreno não deixe marcas da carroça, faça o mesmo, para que eles não percebam que saímos da estrada novamente…

Em poucos minutos a estrada ficou deserta, sem vestígios de nada. A menos de uma milha dali, atrás de um pequeno bosque, Jeff e seu comboio viram o bando de Ted Slim passar em disparada pela estrada a caminho de Spring Benson. Tão logo a poeira baixou o pequeno e valioso comboio retomou a viagem pela estradinha batida e poeirenta.

No entanto, logo adiante…

– Você teve sorte em avistar um dos escoltas quando ele subia a elevação para checar a nossa poeira, Ted – comentou Smith.

– Tem razão. Agora eles seguirão viagem tranquilamente pela estrada pensando ter nos enganado. Vamos preparar a emboscada.

Meia hora depois a viagem prosseguia tranquila, quando de repente:

– Cuidado… saltem ao chão – gritou Jeff ao perceber o brilho de um fuzil contra o sol. Ato contínuo abandonou o arreio do baio e saltou para o chão duro à margem da estrada e rolou para o abrigo das rochas. Os outros o imitaram atônitos, mas o cocheiro não teve a mesma sorte e agilidade. Um projétil certeiro foi alojar-se em seu peito tirando-lhe a vida instantaneamente. Teve início um tiroteio selvagem. O primeiro disparo de Jeff acertou a cabeça do assassino do cocheiro.

– Por ora estamos abrigados – disse John – mas não podemos ficar parados aqui.

– Você tem razão John – concordou Jeff. Dentro de poucas horas será noite. Como são o dobro de nós, seremos presas fáceis.

– Então, que faremos?

– Tenho um plano.

– Exponha-o.

– Antes de tudo carreguem suas armas muito bem. John e Jed ficam aqui, Carson e Newton, deem a volta por trás deles, cautelosamente, estejam preparados. Vou me expor… Enquanto tentam me alvejar, vocês os abatem…

– O plano é bom, muito engenhoso, bom mesmo! Mas você ficará igual a uma peneira após o tiroteio. Por isso é melhor nos despedirmos já. – Disse Calvey com ironia.

– Não se preocupem comigo. Estejam atentos.

Minutos depois, tendo Newton e Carson se posicionado, Jeff saiu correndo em zigue-zague na direção dos bandidos até se jogar ao chão e rolar como uma bola abrindo fogo. Na arriscada ação fulminou dois dos assaltantes que mostraram as caras. Protegido pelas rochas Ted Slim berrou furioso:

– Liquidem-no seus idiotas! Ele é apenas um homem.

– Faça-o você, imbecil! O que acha que estamos tentando fazer – retorquiu um dos seus homens.

John acabara de mandar Catlow visitar satanás, quando um projétil lhe arrancou o chapéu, fazendo-o esbravejar:

– Diabos!! Quase me estragam o chapéu novo!

Jed recarregava seu rifle quando um dos bandoleiros lhe fez pontaria. No exato momento em que apertou o gatilho, caiu fulminado por uma bala de Carson, que gritou:

– Mãos ao alto… Não se movam!

Apesar de surpresos com a aparição de Carson à retaguarda, os assaltantes não acataram o apelo e trataram de fugir, ao comando de um deles. Correndo em zigue-zague procuraram freneticamente os cavalos, debaixo da saraivada de balas de Carson e Newton.

– Acertei um – gritou Newton eufórico.

– Lá vai mais um – acrescentou Jeff há poucos metros dali, enquanto pedia – Deem-me um rifle, rápido!

– Segure-o. Só tem duas balas.

Jeff fez pontaria e acionou o gatilho. A primeira bala acertou a nuca de MacCoy. A segunda, como Jeff planejara, atingiu o cavalo de Smith arremessando-o ao chão.

– Puxa, xerife… você é terrível! É mais rápido que um lince das montanhas de Nevada – comentou alegremente o miúdo contador John Calvey.

– Nem tanto… – modestou Jeff. Vamos interrogar este coiote.

– Quem é você e para quem você trabalha? – interpelou Jeff.

Smith continuou mudo.

– Pra quem você trabalha? – interrogou o xerife esbofeteando o assaltante subjugado.

– Pensa que sou tolo a esse ponto, xerife? – Rosnou sarcasticamente o prisioneiro.

– Pode não ser, mas parece e muito. Bem, agora não temos tempo para interrogatórios. Mas não se vanglorie. Você ainda soltará a língua. O xerife Morrison ficará contente em tê-lo como seu primeiro hospede. E não se preocupe com a solidão… Logo, logo seus companheiros irão lhe fazer companhia no ‘hotel da justiça’. Bem John, estamos a poucas milhas de Spring Benson. Creio que não há mais bandoleiros à frente. Os três que escaparam foram em direção oposta… Não voltarão a atacar. Vou voltar para Carson City enquanto é dia.

– E mesmo que tivessem ido em outra direção, imaginando você conosco, eles não se aproximariam – acrescentou Newton, o mais velho escolta.

– Tem razão – confirmou John –, depois de sua atuação estamos mais encorajados.

– Ótimo. Então sigam em frente que eu vou levar este facínora para o xerife. Até a vista. – Despediu-se Jeff.

 

* A aventura de Jeff, o homem do chapéu furado em Carson City, continua na próxima segunda-feira,10.

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