Jeff… O Homem do Chapéu Furado

 

Capitulo II

No seguinte o sol fresco da manhã já ia alto quando Jeff saiu à rua. Eram mais de nove horas quando ele entrou na delegacia.

– Bom dia Morrison.

– Bom dia rapaz. Sente-se – disse o xerife indicando-lhe uma cadeira.

Antes de sentar-se Jeff examinou discretamente o lado interno da delegacia. Uma mesa, quase sem objetos, três cadeiras, duas empoeiradas, um armário contendo dois colts e três winchesters. Um pequeno corredor com duas celas de cada lado, todas vazias. Deixou escapar um comentário jocoso:

– Falta de clientes hein, xerife!

– Realmente. Desde que cheguei aqui há um mês, ainda não consegui nenhum, apesar de estar cheio deles no povoado.

Jeff soprou o pó da cadeira e sentou-se.

– Bem rapaz, acho que me deve explicações. Pois mal chegou na cidade e já destroçou a mão de um homem, que por sinal é muito perigoso, em seguida mandou quatro para o inferno. Afinal que é você?

– Ora… sou um homem como tantos outros. Foi eles quem me provocaram… eu apenas me defendi!

– Humm… Não estou bem certo disso. Talvez você tenha razão. No entanto, agora é melhor você dar o fora, pois os homens que você matou eram empregados de gente poderosa na região. O mexicano Sancho Perez é uma pessoa vingativa. Tão logo cure a mão ele e outros mais virão atrás de você como costuma fazer com quem atravessa seu caminho.

– E você não faz nada?

– Não posso. Eles fazem tudo legalmente, como por exemplo provocando para um duelo. Além do mais eles têm a seu serviço um pistoleiro considerado o mais rápido do Arizona. Por isso é melhor você desaparecer o mais rápido possível.

– Ao contrário xerife, nunca deixei um lugar sem vontade própria. Eles não serão os primeiros a forçar-me a isso. Gostei do lugar e pretendo ficar por aqui. Por coincidência você está precisando de ajudantes… pois sua procura terminou. Eu, Jeff Rogers, aceito o cargo de auxiliar de xerife em Carson City!

Morrison passou a mão pela cabeça, massageou a barba do queixo, pensou por alguns instantes e disse em tom desconsolado:

– Devo esquecer o que se passou e admiti-lo. Afinal você foi o único homem além de mim aqui no povoado que provou que pode usar calças!

– Devemos comemorar, Morrison. Você tem bebida aqui?

– Ainda deve ter um pouco que eu trouxe do QG dos Guardas Rurais do Texas, pois o whisky daqui é indigesto.

Logo após beberem uma dose de whisky Jeff assinou os papéis necessários a um ajudante da lei e colocou uma estrela de prata sobre a jaqueta de couro cor de búfalo que agora usava sobre  uma camisa xadrez verde e disse.

– Acho que vou dar umas voltas pelos arredores do povoado. Quero conhecer o município que vou defender. Voltarei à tarde.

Aos sair povoado o novo agente da lei se dirigiu ao norte de Carson City. Depois de percorrer algumas milhas em seu esperto cavalo baio pela estrada principal, Jeff entrou na planície descampada. Após alguns minutos de cavalgada, desceu do cavalo para esticar a pernas. Enquanto andava distraidamente percebeu um objeto no chão.

– O que é isso… um lenço masculino! Neste lugar, fora da estrada… aqui não tem pastagem! Estranho… – falou para si mesmo.

Jeff olhou atentamente para o chão onde apanhara o lenço e notou vários sinais de cascos de cavalo, e os seguiu.

– Hummm… deve ser uns dez ou doze cavaleiros. Mas para onde irão? Epa, aqui se dividem… Três seguem quase reto ou outros seguem para o oeste… Isso está cheirando a método usado por assaltantes após roubo. Eles se separam para confundir os perseguidores. Mas, partindo da estrada há uma pista muito fácil de se seguir! – pensou.

Tonou a montar no baio e voltou pelo mesmo caminho observando os rastros das ferraduras. Quando chegou a umas duas milhas da estrada a pista desapareceu.

– Hummm… apagaram os rastros! Quem se dá a esse cuidado só pode estar interessado em esconder suas atitudes. Vejamos aqui atrás… os rastros são de quase duas semanas… Muito curioso!

Ao anoitecer Jeff chegou à cidade e foi direto para a delegacia falar com Morrison, mas não o encontrou. Foi então para o hotel onde o xerife o esperava.

– Aonde você foi? Cheguei a pensar que você tivesse se arrependido e aceitado meu conselho inicial!

– Estava dando um passeio para conhecer as redondezas. Acho que descobri, sem querer, algo interessante.

– Depois conversaremos sobre isso. Agora coma alguma coisa e vá descansar. Amanhã escoltaremos uma carroça de Carson City a Spring Benson.

– O que leva esta carroça que precisa de escolta?

– O pagamento dos operários da linha férrea que está perto de Tucson.

– E quem a levará até Tucson?

– O xerife de Spring Benson e seus auxiliares.

– Muito bom. E na nossa ausência, quem ficará aqui para cuidar dos malfeitores?

– Não será ‘nossa’ ausência. Você irá. Eu ficarei aqui.

– Eu irei só?

– Não. Claro que não. Há também o cocheiro e mais três guardas, além do contador da companhia.

Jeff cochilava preguiçosamente na cadeira do xerife, quando um menino irrompeu na delegacia gritando:

– Sr. Rogers, xerife Rogers… corra ao saloon! Tem um punhado de homens querendo quebrar os ossos do xerife Morrison.

– Ahnn … Calma garoto! Morrison tem os ossos duros.

Ao chegar ao saloon Jeff interpelou o seguinte diálogo:

– Morrison, você é um irresponsável, um imbecil, um canalha! Contratar um pistoleiro para ser auxiliar de xerife…

– Jeff não é um pistoleiro. Ele apenas se defendeu… Vocês viram e sabem disso.

– Ele é um aventureiro qualquer, um pistoleiro. Só um pistoleiro teria habilidade para provocar e abater a tiros tipos iguais a Sancho e seus companheiros.

– Isso não quer dizer que ele seja pistoleiro… Ele enfrentou Sancho porque não é covarde como vocês!

– Como! Ainda ousa nos chamar de covardes? Pessoal, vamos permitir que este canalha texano nos insulte? – falou um dos populares.

– Não… Vamos dar-lhe uma lição! – respondeu um terceiro.

– Isso mesmo! Vamos quebrar-lhe os ossos – retrucou outro mais afoito.

– Vamos fazer a ele o que fizemos a Rock Hobson – exclamou um terceiro.

Ao ouvir aquele nome, Jeff que até agora permanecera imóvel observando a cena, explodiu para cima dos homens ao mesmo tempo que estes também lhes caiam em cima. Começou uma luta selvagem e, apesar da superioridade numérica, os dois homens da lei levavam vantagem. Morrison esquivava-se muito bem dos golpes que levava e retribuía potentes socos nos adversários. Jeff não deixou por menos. Mostrou que além de ser exímio atirador, lutava também com grande agilidade e habilidade. Cada soco que ele desferia atirava um homem sobre as mesas e cadeiras indo parar no chão poeirento do saloon. A luta estava quase no fim quando num rompante ouviu-se um disparo no justo momento em que Jeff esquivava de um soco dos agressores. A bala cravou-se no ombro do agressor enquanto Morrison alertava:

– Cuidado Jeff!… A janela…

O jovem executou um desesperado salto acrobático atirando-se ao chão a tempo de desviar do segundo projetil. Antes de chegar ao chão sacou seu colt e disparou na direção da janela. Foi tudo tão rápido que a bala de Jeff conseguiu arrancar o chapéu do pretenso assassino. Morrison correu para a rua sendo imitado em seguida pelo seu auxiliar, mas o traiçoeiro atirador desapareceu na escuridão da noite.

– Vê alguma coisa Morrison? – perguntou Jeff.

– Não… nessa escuridão é tempo perdido procurá-lo.

– Hei… parece que ele esqueceu algo!

– Hum… um chapéu seminovo… amarelado, com um buraco na copa!

– Ele teve sorte de estar usando um chapéu… caso contrário agora estaria estirado no chão com um buraco na testa. Você é mesmo terrível com este colt, meu rapaz!

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