Pra rir… Ou pra chorar?

 

Solta ele!… Senão eu vou chamar a policia!

A corrida era frenética. Meu fugitivo tinha uma pequena dianteira, pois apesar de ter pedalado os últimos três quarteirões, ele tomara a iniciativa. Quem toma a iniciativa sempre sai na frente!

Corríamos pelo elevado da linha férrea nos equilibrando para não escorregar nas pedras soltas do lado dos dormentes! Parecia que meu fujão iria escapar. A estação vazia se aproximava. Já estávamos chegando perto da escadinha da ruela Braz Vitale…

De repente meu fugitivo deu uma guinada e desceu pela escadinha! Desceu quase sem tocar os cinco degraus.

Eu desci sem tocar!

Desci pelo espaço… voando!

Caí lá embaixo com as duas mãos nas costas do fujão!

Toquei nas costas, mas não consegui segurá-lo! Ambos estávamos por demais molhados de suor e escorregadios!

Sua camiseta branca sem mangas em poucos segundos virou um trapo.

Durante um interminável minuto travamos uma ferrenha luta ali na ponta da viela…

Eu tentando dominá-lo para aplicar-lhe uma chave de braço e ele tentando se desembaraçar das malhas da lei…

Foi nesse momento que começou a parte cômica da história. Atraída pela balburdia da luta uma senhora saiu no alpendre da casa ao lado com uma vassoura na mão.

– Solta ele, moço! Solta senão eu vou chamar a policia! – disse a senhora brandindo a vassoura de piaçava.

Eu não sabia se ria ou se chorava… Quase perdi as forças!

O único pensamento foi: “Chama a policia logo, dona… E diga que é urgente”!

Pensei, mas não pude expressar. Um segundo de distração meu fugitivo escaparia!

Um gancho no estômago… ou um direto no queixo, certamente poria fim a resistência do meu prisioneiro. Mas o professor de defesa pessoal na Acadepol, meses antes, havia dito que o policial tem que dominar o meliante sem agredi-lo. Com poucos meses de policia, eu ainda não sabia que teoria e pratica são duas amigas inseparáveis, porém cínicas e maldosas!…

Continuei tentando imobilizá-lo. Durante a contenda subimos a velha escadinha de pedra de volta para a margem da linha férrea…

De repente surgiu lá na esquina da rua São José um gordinho cabeludo. Mais tarde eu saberia que ele era o Henriquinho Toledo. Pensei, em meio aos esperneios e esmaneios do meu quase prisioneiro:

“Que bom! O gordinho cabeludo tem cara de ser do bem… Ele vai me ajudar a dominar esse meliante teimoso!”

Ledo engano! Aconteceu o inverso!

Ao se aproximar, sem saber os motivos da abordagem, Henriquinho se condoeu do ‘pobre’ fujão e tentou libertá-lo.

“Solta ele, moço. Ele não fez nada”, dizia Henriquinho tentando desvencilhar meu prisioneiro dos meus braços! Mui amigo!

Eu já estava prestes a deixar escapar minha presa, quando finalmente surgiu uma luz no fim do túnel. Na verdade, surgiu lá na entrada do mata-burro do pátio do Freitas. Era o Ze Carlos, vizinho da delegacia. Ele veio andando rapidamente, curioso com aquela cena. Quando se aproximou e me reconheceu disparou:

– “Pó pará”! Esse baixinho sem camisa é ladrão de carro. O outro moço bonito é o Detetive Chips!

Finalmente Paulinho parou de espernear. A senhora da casa de baixo botou a viola, quero dizer, a vassoura debaixo do braço e saiu de fininho do alpendre. Henriquinho ajeitou as madeixas e ficou ali parado, com cara de tonto, olhando eu me afastar em direção à plataforma da estação levando meu prisioneiro numa chave de braço…

No minuto seguinte, depois da vaca morta, meus três parceiros surgiram na brasilinha verde ao lado da plataforma da Dr. Lisboa…

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