Os fantasmas do Velho Hotel da Silvestre Ferraz – Parte IV

 

Um Fantasma de 100 mil reais!

Início de uma madrugada de inverno de 2007. Nos sombrios e assustadores corredores do Velho Hotel reinava o silencio. Apenas o cheiro adocicado de maconha circulava por ali. Nalgumas celas ainda se podia ver a luz verde azulada de uma ou outra tevê, e ouvir o som abafado de um radinho. De repente uma figura soturna surgiu no corredor principal do prédio. Para chegar ao corredor a figura havia passado por quatro portões – dois do lado externo e dois já no prédio – todos trancados com grossos cadeados. O ‘fantasma’ daquela noite caminhou até a porta do X3, colocou a chave no cadeado Papaiz, abriu, levantou o trinco na fenda da parede longe do acesso dos presos, puxou o trinco para trás e abriu a pesada porta de ferro. Ao lado da porta, a pretexto de fumar um cigarro, a hóspede esperava sentada, tensa, com mochila básica aos seus pés. Levantou-se muda, pegou a mochila e saiu fumando, como se estivesse indo fumar lá fora. Numa rua lateral a poucos metros do velho hotel, um carro tão sombrio quanto o fantasma esperava por ela. A ‘ausência’ da traficante foi percebida no dia seguinte, na saída para o banho de sol.

Quem seria o fantasma que soltou a traficante?

Como ele conseguiu abrir quatro cadeados para soltá-la?

Por que teria feito isso?

Onde estava o policial que deveria estar na sala da carceragem?

A única resposta que circulou nos dias seguintes, e depois nas sindicâncias, foi o cachê… O ‘fantasma’ silencioso daquela madrugada teria recebido R$ 100 mil reais para soltar a detenta sem a necessidade de alvará!

A sindicância instaurada pelo delegado corregedor não conseguiu identificar o fantasma. As outras doze hospedes do X3, que não fizeram check-out naquela madrugada, poderiam ter esclarecido o mistério do fantasma silencioso, caso quisessem. Mas era conveniente ‘não querer’! Por isso alegaram que estavam nos braços de Morfeu e não viram nada. Algumas disseram que ouviram o barulho do ferrolho no movimento clássico de abrir e fechar a cela, mas não deram importância.

– Achei que fosse um alvará do Homem da Capa Preta! – disse uma das hóspedes. Além do mais o corredor estava na penumbra… E o fantasma talvez usasse capuz.

Vários policiais, especialmente os que estavam de plantão naquela noite foram investigados. Porém, o fantasma que abriu cadeados e portões e soltou a traficante não apareceu! Se tivesse sido identificado, o ‘fantasma’ seria processado por corrupção e poderia ir para a rua. Por falta de provas o crime ficou sem solução… E a única que foi pra a rua foi a traficante, sem necessidade de Alvará… Mas com cem mil reais a menos na conta… E o ‘fantasma’ da madrugada com cem mil reais na algibeira!

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