Ontem foi o dia dela… da ‘marvada’ cachaça!

‘Severina do Popote’ está completando quase quinhentos anos!

Produzida no Brasil desde que o país era criança em fraldas, – 1530 – a cachaça é a única bebida genuinamente brasileira! E desde aquela época, sempre teve vocação para estrela… tornou-se símbolo da resistência ao colonialismo de Portugal. Mais tarde no Império, virou símbolo da Independência do Brasil. Hoje é vedete em Bruxelas!

Ao longo da sua história, a cachaça passou por vários status sociais. Dos escravos, aos senhores de engenho; do proletariado, à burguesia; do balcão dos botecos, às reuniões de família!

Apreciada pela elite dominante do século dezenove, a cachacinha brasileira frequentou e desfilou bela e faceira pelo palácio real enquanto ele resistiu. Mas perdeu o trono… Com a Proclamação da República em 1889, perdeu duplamente a nobreza! A partir de então, chic era beber vinho, champanhe e whisky importados. E a velha cachacinha virou “bebida de pobre”, vendida e consumida em balcões de botecos!…

E assim ficou marginalizada durante quase um século!

A partir de 1980 a bebida feita do caldo destilado de cana, começou a dar a volta por cima, começou a reconquistar seu espaço. Hoje só no município de Salinas, no nordeste de Minas, existe cerca de 60 alambiques. Todos tentando seguir os passos da septuagenária conterrânea Havana, que não se encontra em lugar nenhum a menos de R$ 550 a garrafa. Se estiver numa prateleira de boteco, com o rotulo antigo, encardido e empoeirado há várias décadas, ninguém leva para casa por menos de oito mil reais!

Em 1995, com a estabilização do Real, aposentados e pessoas que tinham uma reserva na Poupança, sacaram as economias e foram buscar “Seleta” e “Lua Cheia” em Salinas, para vender no Sul de Minas a R$ 4 a garrafa de 600ml. Na ocasião, as tradicionais “Velho Barreiro”,  “51”, Amélia ou Democrata, custavam cerca de R$1,70 o litro! Hoje a mesma Lua Cheia custa no mercado em média R$ 80. E nem desfila entre as estrelas!

A famosa Havana, de historia controversa, a qual chegou a ser usada como moeda para pagamento semanal dos funcionários do alambique do velho Anísio Santiago, ainda joga no teatro de elite. No entanto, tem que dividir o palco com outras tantas cachacinhas que surgiram depois e investiram em qualidade e marketing. Várias delas produzidas em solos gaúcho e catarinense.

A guinada na performance da cachaça foi o armazenamento da bebida em barris de madeira. Além do acentuado sabor do Carvalho, da Umburana, do Ipê, do Balsamo… a madeira dá cor e sabor especial à bebida.

O preço médio de uma boa cachaça ouro, envelhecida cinco anos em barris de madeira, oscila em torno de R$200. – O mesmo preço de um whisky importado, da mesma idade.

Nossa cachacinha mudou a cor, mudou a qualidade, mudou o preço e mudou o jeito de beber! Não se bebe mais cachaça em copos lavrados. A cachacinha brasileira agora é servida em mini copos e até em taças de cristal! Não se bebe mais para ficar ‘tonto’. Bebe-se para relaxar!

Desde 1999 a tradicional bebida destilada brasileira, descoberta casualmente pelos escravos de engenho, tem desfilado bela e formosa nos salões dos concursos de Bruxelas na Europa e arrebatado dezenas de medalhas.

Se o consumo da ‘marvada’ se expandiu, a produção também ultrapassou as fronteiras estaduais e se espalhou Brasil afora. É raro encontrar um município brasileiro que não possua ao menos um alambique artesanal.

Ontem, 13 de setembro, foi o Dia Nacional da Cachaça! Coincidentemente a data ‘caiu’ numa segunda-feira, meu ‘dia nacional de abstinência’! – Não que eu beba todo dia, mas na segunda-feira, destilado ou fermentado, não bebo nem para remédio!

No entanto, curioso e apreciador de uma boa cachacinha, eu não poderia deixar de prestar uma singela homenagem à nossa bebida nacional, à nossa fogosa e estonteante “Severina do Popote”!

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