Hoje, 22 de fevereiro, faz catorze anos que ele morreu no exercício da profissão… em defesa da sociedade!
“Quem ‘morre’ ‘deixa’ saudade em alguém… que fica chorando de dor…”
Em 1996 o capixaba Sidraque Correia da Rocha, 36 anos, veio para Minas em busca de sonhos e ingressou na policia civil. Alguns de seus colegas ouviram-no perguntar ainda na Acadepol;
– O que eu estou fazendo aqui? Por que será que entrei para a policia?
E ele mesmo responder…
– Acho que é por causa do meu senso de justiça, de heroísmo…
Esta introspectiva conjectura do jovem policial, em pouco tempo mostrou a muita gente quem era Sidraque.
Ele foi designado inicialmente para trabalhar na regional de Pouso Alegre. De lá seguiu para Extrema, e pouco tempo depois voltou para perto da família em Teófilo Otoni. Mas já havia bebido a água do Rio Mandú, por isso pediu para voltar para o Sul de Minas. Recomeçou em São Gonçalo do Sapucaí, depois Careaçu, Silvianópolis e novamente Pouso Alegre.
Apesar de ter trabalhado em poucas cidades, em 7 anos ele se tornou conhecido e lembrado em todo o Estado, através do curso de formação policial que fez com outros 400 detetives de todos os rincões das Minas Gerais, na academia de policia civil. Conhecido justamente por este jeito às vezes introspectivo, outras expansivo, outras vezes espeloteado sem dizer coisa com coisa, mas sempre com autenticidade, generosidade e bom humor.
Contam alguns colegas que, numa de suas tiradas, uma senhora chegou à recepção da delegacia de polícia e disse que havia sido roubada, tendo o meliante levado todo seu dinheiro e seus documentos. Sidraque, olhando muito atentamente para ela exclamou;
– Nossa!!! E agora. O que a senhora vai fazer???
No segundo seguinte ele se deu conta de que ela estava ali em busca de respostas e atitudes, e não de perguntas, e tratou de registrar o B.O. para ela.
O policial de origem libanesa era na verdade um grande artista. Era musico, poliglota – falava razoavelmente sete idiomas – dava aulas de grego, aramaico e latim, E nas horas de folga trabalhava de pintor de parede, cabeleireiro, dedetizador…! Quando chegou a Pouso Alegre em l996, pintou todo o prédio da delegacia regional… e não recebeu um centavo por isso!!
O domingo de carnaval, 22 de fevereiro de 2004, amanheceu chovendo em toda região. Durante uma pequena aragem por volta de dez da manhã, Sidraque encontrou casualmente com seu destino. Ele voltava da feira trazendo frutas e verduras para a esposa e o casal de filhos imberbes que amava com fervor, quando surgiu à sua frente um cidadão que fora vitima de furto no dia anterior, informando que o suspeito estava num boteco ali perto, e pediu providencias.
O policial que estava sempre à disposição de quem quer que o procurasse, se propôs abordar o suspeito, sozinho, pois além de não dispor de tempo para buscar reforço, ele era o único investigador da cidade. O mocinho – mocinho mesmo, recém completados 18 anos, franzino – que realmente tinha culpa no cartório, passou sebo nas canelas e dobrou a serra do cajuru. Sidraque saiu nos seus calcanhares. Enfurnaram-se numa extensa área onde se começava um loteamento, em direção ao ribeirão e sumiram da vista da vítima e de dezenas de curiosos que acorreram para a porta do bar. Minutos depois ouviram três tiros vindos lá do ribeirão. Estremeceram tentando imaginar o que estava se passando. Um dos curiosos exclamou;
– Nossa… O Sidraque matou fulano!!!
Continuaram olhando estupefatos e no minuto seguinte avistaram o larapio – agora assassino – subindo o pasto do outro lado do ribeirão, até sumir de vista, levando a arma do policial. Quando a vitima do furto e curiosos chegaram à beira do ribeirão, lá estava o detetive Sidraque, inerte… com três tiros no peito!
A chuva que ao que parece dera uma pequena trégua suficiente apenas para o sempre resoluto policial cumprir seu destino, voltou a cair torrencialmente sob o seu corpo e os de dezenas de policiais que varreram cada palmo de Monte Sião naquele domingo de carnaval, à procura do ladrãozinho pé-de-couve. Ele não foi encontrado.
Oito meses depois, quando cheguei à bucólica e rica Monte Sião, tentei desenterrar o assassino do policial. Mas, sozinho, como os demais colegas, não obtive êxito.
Nunca soubemos o que aconteceu entre o policial e o meliante naquela beira de ribeirão. Só o que se sabe é que o policial tinha uma pistola carregada na cinta e seguiu a lei ao pé da letra enquanto o meliante, na primeira chance que teve … preferiu matá-lo com sua própria arma.
Morreu o policial… morreu um artista, um cidadão admirável. E deixou como herança uma pensão de – descontados assistência medica, contribuição de aposentadoria, intermináveis descontos de empréstimos bancários – R$ 480 reais, na época. E deixou também um colchão de casal, dois de solteiro, um fogão, um guarda roupa, um teclado, seus tesouros Mirna de 9 e Misaque de 11 anos e… sonhos, melancolia e saudade!
Será que alguém ainda se lembra dos policiais Sidraque, Marcos Cabeçada, Marcos Paixão, do Gabriel Alvarenga, que morreram no cumprimento do dever de defender a sociedade?
Grande Sidraque!!! Como poderia esquece-lo.morou em Sao Gonçalo e na epoca salvou minha mae de um assaldo a mao armada no apartamento em que ela morava no primeiro andar.quando ela percebeu que estavam entrando no ap por um jardim de inverno.chegou na janela e pediu socorro.Sidraque que estava passando no momento nao hesitou em dar jeito de subir pela sacada de frente e enfrentou os dois bandidos salvando minha mae.A partir deste dia surgiu entre nos uma grande amizade .Nunca vou me esquecer dele. Dizia que minha mae lembrava a dele que estava tao longe e passou a frequentar a casa dela sempre com muito respeito e carinho.Era uma grande pessoa.Senti imensamente sua morte ,tenho saudades dele e gostaria muito de saber por onde anda seus filhos…
Se não me engano, o PC Paixão e o PM Alvarenga morreram em assaltos praticados por meliantes na mesma lotérica, atrás da Catedral.
Sim Leonardo.
Bom dia!
Sou de Extrema e lembro-me do meu pai falar com admiração do Policial Sidraque.
Deus o tenha em sua glória.
P.s: Parabéns pelo blog.
Obrigado Jonatas… Abraços a você e seu pai!