Virada da noite fresca de quarta, 06, chovendo fino… O velhinho caminhava cabisbaixo, meio curvado pela Avenida Marechal Castelo Branco, pelo passeio do quartel em direção ao Jardim Yara. Da guarita solitária – daquela mesma em que eu fiz poesia para a lua em 1977 – o soldado observava a figura frágil do ‘tiozinho’, talvez pensando em seu pai ou no seu avô. De repente subiu uma motocicleta Honda Biz azul do outro lado da pista, com dois ocupantes… Contornaram o canteiro, pararam ao lado do velhinho, saltaram, tomaram o bornal do seu ombro, vasculharam, pegaram o que interessava, devolveram o bornal e foram embora na motoca dando risadas.

Embora tivesse um FAL calibre ‘ponto 50’ pendurado no ombro, com quinze balas no pente e outras quinze no coldre, o soldado nada pode fazer. Restou usar o celular – que não faz parte do fardamento – para comunicar o fato ao “Sargento de Dia”. Em poucos minutos a policia militar estava no rastro dos motoqueiros assaltantes debochados.

Dheferson do Espirito Santo: Esse dinheiro é pagamento do meu salario…

A dupla foi barrada sobre a ponte do velho Mandu, no Aterrado, por uma viatura que vinha de frente. Levados à presença do velhinho no local do crime, tanto ele quanto o soldado que presenciara o assalto os reconheceram.

G.S.A.: Eu ‘tava indo dormir na casa do meu primo no Aterrado…

O velhinho – que não é tão velho assim, só tem 66 anos – disse que foi levado de sua guaiaca R$ 176 reais…

– Eu vim ‘na’ cidade receber a aposentadoria, paguei minha advogada e quando fui pegar o ônibus estava muito cheio. Mais tarde eu fui de novo na rodoviária mas os guardas não me deixaram ficar lá. Me expulsaram cutucando minha barriga com um cacetete… Aí eu fui na direção do quartel e acabei sendo assaltado por esses dois! – Contou com simplicidade Sebastião Avelino dos Santos.

O piloto da Honda Biz azul era Dheferson Espírito Santo Silva, 24 anos, segurança do Supermercado Alvorada e assaltante de velhinhos indefesos nas horas vagas. O garupa era o delinqüente G.S.A., dezesseis anos e meio, fugitivo da “Casa Dia” onde foi internado judicialmente há quinze dias, depois de três meses no Hotel do Juquinha, por furtos e roubos.

Quando foi parado na mira da ‘metranca’ dos homens da lei, Dheferson do Espirito Santo “malvado”, levava na algibeira R$ 1.262 reais, mas jura de pés juntos que era o recebimento do seu trabalho de segurança. O “dimenor” G.S.A. embora não tenha ‘santo’ no nome, foi ainda mais santo que ele…

– Nem conheço o cara doutor! Eu ‘tava’ no Santo Antonio, aí o cara passou de moto, eu pensei que fosse motoboy! Pedi para me lavar na casa do meu primo no Aterrado – contou ele quase jurando pela alma do Renan Calheiros!

Inocentes ou não, eles foram reconhecidos pela vitima e pelo solitário soldado Hugo Eduardo! Por isso assinaram o 157 e foram se hospedar no Hotel do Juquinha.

… Enquanto isso, o velhinho banguela sentado na cadeira de balanço comenta:

– Onde nóis vamo pará? Não se pode mais confiar nem nos segurança…!