Um meliante no meu quintal

O sujeitinho passou pela pequena colônia da Fazendinha, entrou no cafezal, saiu no terreirão da Fazenda Nosso Paraizzo, mocosou a bicicleta atrás de um pé de café e desceu até um galpão da Fazenda Mamono. Lá, usando uma pedra, fez um buraco na parede, entrou, retirou a bateria elétrica do veiculo Ford Pampa, juntou a um motor elétrico dentro de um saco de estopa e voltou para o cafezal. Logo em seguida passou pelo quintal do vizinho dos fundos onde o cão nada pode fazer, pois estava amarrado, chupou cana, pulou a cerca de tela e se lambuzou ao pé de uma mangueira Coquinho. Ficou à vontade no pomar da Fazenda Nosso Paraizzo. De onde estava protegido pelas fruteiras, podia ver o caseiro cortando gramas a menos de cem metros bem como a empregada lavando ‘os trem’ do almoço. Talvez tenha visto até a babá na varanda ninando o Daniel.

Eram 13:10h quando ele subiu numa grande escada de alumínio para chupar Lixia. Neste momento os galos e galinhas fizeram um tremendo guaiú avisando que havia um intruso no pomar.

O dono da casa estava de barriga para cima no quarto, vendo seu programa favorito; “Globo Esporte” e não deu importância ao alerta dos bípedes cantantes. Bem que ouviu, mas concluiu que deveria ser uma cobra, um gambá, um cachorro pegando galinha ou quem sabe o galo índio dera um “creu” na galinha chita e o galo carijó ficou enciumado, mas não teve coragem de encarar. Isso é muito comum. Ele não pensou que um gatuno poderia ter a ousadia de entrar no seu quintal àquela hora do dia, aproveitando a benfazeja aragem. Se tivesse saído na varanda do quarto teria visto o meliante na copa da arvore dividindo as vermelhas e açucaradas Lixias com as abelhas e marimbondos.

recolher cães

Os cães da casa? Todos eles passaram a noite chuvosa de vigília. De dia desligaram os sensores auditivos e olfativos e foram dormir, pois ninguém é de ferro!

Depois de saciar a fome com a exótica frutinha vermelha o meliante desceu da arvore, dobrou a escada de alumínio, colocou nas costas e foi escondê-la no cafezal.

Eu estava chegando à Pouso Alegre quando o celular tocou. Era o caseiro desesperado;

– Corre, sêo Chips, que tem um ladrão aqui na fazenda!!!

Ele havia surpreendido o ousado meliante no interior do veiculo do inquilino dos fundos da fazenda, arrancando o aparelho de som do velho Opala. Ao ser questionado, o meliante levou a mão por baixo da camisa e ameaçou:

– Some daqui senão te passo fogo…!

Como não está no contrato de trabalho que caseiro tem que prender ladrão folgado magrelo pé-de-chinelo, ele sumiu e foi me chamar.

Não corri. Pedi a ele que ligasse para a policia militar e liguei para minha esposa. Eles foram lá.

Minha esposa abandonou os pacientes no consultório e chegou muito antes da PM. Aliás, ela teve ‘uma certa dificuldade’ para levar os homens da lei ao local do crime. O interlocutor do 190 submeteu-a a um questionário tão extenso – quis saber até o CPF do avô do vizinho do caseiro, o numero da Licença de Navegante de Pedro Álvares Cabral e numero de serie da carteirinha de sócio do Flamengo – que o ladrão teve tempo de dobrar calmamente a serra do cajuru com o que pode carregar amarrado na bicicleta. Quando chegaram os policiais olharam através da cerca que margeia o cafezal e foram embora. Disseram que iriam contornar a cidade e subir ao Morro do Cruzeiro para terem uma visão panorâmica do local onde o meliante se embrenhara.

O furto do vizinho só foi descoberto quando ele foi ligar a Pampa e o carro não pegou. E nem pegaria sem a bateria. A escada só teve sua ausência sentida na segunda feira quando o caseiro precisou subir ao telhado para desentupir a calha.

Bem, se a PM tinha coisa mais importante a fazer do que prender em flagrante um folgado ladrãozinho de fazenda, restava ao colunista policial suspender temporariamente a aposentadoria e voltar aos bons tempos…

No final da tarde de segunda apresentei à delegada Stela Reis o nome, endereço, filiação e capivara do ‘meliante do meu quintal’. Trata-se de Jéferson Manuel Gonçalves, vulgo “Foguinho”, 23 anos, figurinha carimbada nos arquivos da policia, por furtos, uso e ‘mula’ de drogas. Foguinho deveria estar morando no confortável Hotel Recanto das Margaridas, mas há quatro meses saiu no Regime Aberto, para trabalhar mas preferiu as agruras da vida de fugitivo e não voltou mais para o albergue.

Agora o assunto é com a policia civil. Atualmente ele pode ser encontrado no boteco do pai na Rua da Radio ou na casa da mãe, na Rua dos Canários, no Jardim Arco Íris, ou …chupando cana, manga ou lixia no pomar deste colunista.

Este fato aconteceu em janeiro de 2010. Foguinho foi preso cerca de 40 dias depois, quando comprava fraldas e leite de bebê no Supermercado Avenida com um cheque furtado, no valor de R$ 300 reais. Ele só foi descoberto porque, casualmente, a funcionaria do caixa era irmã da emitente do cheque furtado. Foguinho já havia queimado outros 4 cheques do mesmo valor no comercio da cidade, sempre pegando troco de volta.

0 thoughts on “Um meliante no meu quintal

  1. Vc escreve muito bem, mas esta ultima história aí de cima, ficou confusa e não deu pra entender direito, Ok? Ah …. ..e mais um detalhe: não escreva: ” Minha esposa abandonou os pacientes no consultório” , não fica bem abandonar pacientes que pressupõe-se podem precisar mais dela lá, do que o “caso” em questão. No mais, parabéns, também sou um “amigo oculto da lei”.

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