O portão da garagem já estava baixando quando ele chegou e foi se esgueirando, se esgueirando e entrou no quintal. Quando consegui baixar o vidro do carro para gritar com ele o portão se fechou e ele ficou do lado de dentro. Pensei em tornar a abrir o portão e botá-lo pra correr, mas eu já estava atrasado para o trabalho. Além do mais dona Rita estava lavando a garagem… Ela que expulsasse o invasor. Só esqueci de um detalhe… Pretinho, baixinho, daquele tamanho, invadindo o território alheio, com dois brutamontes  vigiando o quintal, talvez ele fosse massacrado… Foi mesmo!

Quando cheguei na hora do almoço, fiquei sabendo do estrago!

Átila e seus quase oitenta quilos estava curtindo o sol já quente da manha no fundo do quintal quando sentiu o cheiro do intruso e partiu para o ataque com latidos que mais pareciam um rugido. Tigrão veio logo atrás aos berros, com os dentões à mostra.

Pretinho tentou fugir mas o portão estava fechado e era muito alto. Foi encantoado e massacrado num canto da garagem até que conseguiu escapar das garras dos gigantes furiosos e enfiar-se debaixo da caminhonete.

Dominique, a sensual causadora involuntaria da invasão, não sabia se gritava, chorava ou se uivava em meio à balburdia. O barulho era tanto que os vizinhos pensaram em chamar os bombeiros, o BOPE, a Guarda Nacional…

Quando a empregada finalmente conseguiu entender o que se passava e abriu o portão eletrônico, Pretinho saiu tão apavorado que nem viu o portão aberto… atravesssou o quintal e foi se esconder debaixo do carro do meu filho. E Átila, Tigrão e Dominique atrás, no pega-escapa-caim-socorro-de deixa sair-desculpe-não faço mais isso…!!

Quando Pretinho viu a luz da rua saiu em desabalada carreira, com o lombo ardendo e virou a esquina sem olhar para trás, pensando;

– Caramba, que fria!! Onde eu fui me meter!!! Esses dois namorados ciumentos da ‘gatinha’ não estavam aqui no começo do ano quando eu fiz ‘creu’ na Dominique e nasceu o “Pudinho Preto”…

O Pretinho tarado deve estar correndo até agora…