Sebastião Alves Maia, motorista da ‘Trans Tassi’, de Poços de Caldas, passava por Pouso Alegre, com seu caminhão carregado de oxigênio, quando resolveu parar para descansar. Procurou um lugar seguro. Estacionou o bruto ao lado do terminal rodoviário, onde há movimentação de pessoas, veículos e policiais durante toda a noite e entregou-se às caricias de Morfeu em um hotel ali perto. Acordou às sete e meia da manha com batidas na porta do quarto. Era a policia…!
Apesar da sisudez do trabalho e da hora ainda tão pequena do dia, os policiais gastaram o bom humor…
– O senhor é o motorista do caminhão de “Air Liquide” que está estacionado lá fora? – Perguntaram.
-Sim. Aconteceu alguma coisa…?
– Temos duas noticias… Uma boa e uma ruim! Qual você quer primeiro?
Com olhar perscrutador, tentando adivinhar o que acontecera, Sebastião balbuciou…;
– A ruim primeiro, né!
– Arrombaram seu caminhão e furtaram seus pertences!
– … E ainda tem noticia boa? – Emendou Sebastião.
-… Já prendemos o ladrão e recuperamos os objetos roubados !
O furto acontecera às 05:40h da manhã. Enquanto Sebastião Alves dormia, o garotão Jeferson Luiz Maciel arrombou o caminhão e furtou do seu interior uma impressora com coletor para emissão de nota fiscal, uma caixa de ferramentas, equipamentos de segurança e uma mala de roupas.
Não se importando com os olhares dos passantes à meia luz da aurora, Jeferson se afastou de fininho do caminhão, mas não foi longe. Um dos ‘olhares’ indignados digitou 190 e ele caiu nas malhas da lei dois quarteirões adiante, antes que a res furtiva virasse ‘brita’ numa boca qualquer do velho aterrado.
Antonio A. Maia, 47 anos, morador da bela Passos, a cidade mais violenta do Estado, recuperou seus objetos antes de saber que eles haviam sido furtados e pôde seguir viagem… atrasado!
E o larapio Jeferson Luiz???
Bem, toda moeda tem dois lados…
Quando eu lhe perguntei seu endereço, encostado no canto da cela correcional, Jeferson baixou a cabeça e só depois de uma eternidade respondeu, reticente, já com voz tremula;
– Moro na rua…
– Você não tem família, casa…?
– Tenho mãe, mas não tem jeito, não… Eu fui abandonado quando tinha dois anos, eu e meu irmão maior fomos deixados no CREM… Minha mãe foi expulsa da cidade…
– Expulsa? Porquê?
– Tentativa de homicídio… Eu cresci no CREM até os 15 anos. Aí fui pra rua. Conheci as drogas, furto… Fui internado na clinica em Itamonte. Chequei a ser monitor do grupo, líder de albergue… Mas não podia ficar lá mais de um ano… Voltei p’ra rua e ‘inferpei’ no crack. Roubei o caminhão do ‘coroa’ p’ra trocar por pedra…
Quando perguntei do irmão, o garotão que minutos atrás tinha cara de mau, deixou cair a mascara de vez, desandou a chorar… viajou no tempo!
– O meu irmão..? Eu queria ter a sorte dele! Ele foi adotado, casou, tem emprego, tem mulher, casa, filho…
– Mas sua mãe não aceita você de volta?
– Ela mora na rua Projetada, no Aterrado. Faz poucos meses que ela saiu da cadeia… trafico de drogas. Conheci ela quando tinha 16 anos… Sem chance!
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… Depois de assinar seu primeiro 155 – segundo ele – Jeferson Luiz Maciel – que diz ser filho de Sandra Maciel dos Santos – recebeu amparo social… Vai morar no Hotel do Juquinha!
Jefinho, conheci ainda criança… conheci também seu irmão, seus pais adotivos, encontrei com ele na rua logo quando saiu da clinica, estava de terno e gravata com uma biblia na mão, meu coração se encheu de alegria!
Mas as drogas né, infelizmente não deixou ele seguir os passos do irmão.