O MENINO NÃO CANTA MAIS …

Na quinta-feira, enquanto dormia, passou de um sonho a outro e lá ficou…

Na verdade, faz muitos anos que ele parou de cantar. Cantava afinado, com a voz fina, doce e aguda… Cantava feliz, fingindo distração enquanto passava graxa nos sapatos dos clientes. Ganhou até o apelido de “Engraxate Cantor”!
Assim era Claudinei no final da adolescência. Cantou até tropeçar numa pedra no caminho… Até tropeçar na famigerada “pedra bege fedorenta”!
Desde então desafinou, tornou-se dependente da pedra. E para conseguir dim-dim para infringir o artigo 28 da lei 11.343, precisou infringir outros artigos do código penal. Isso o levou diversas vezes para o Hotel do Juquinha, depois APAC… Tornou-se um típico “Menino que vi crescer”!
Quitou seu débito com a justiça, mas não conseguiu voltar à encruzilhada e recomeçar sem mácula … Continuou no caminho espinhoso de quem um dia fez a escolha errada. Até que numa madrugada fria, há três anos, envolveu-se numa contenda banal com um desafeto e foi ferido a golpes de tesoura.
Desde então, quase inválido, tornou-se recluso em um quarto cedido por uma sobrinha. Já não engraxava, não cantava…
Semana passada, enquanto dormia, passou de um sonho a outro e lá ficou… não acordou mais!
Na quinta-feira, 20, seu corpo voltou ao pó… do Cemitério Municipal.
Claudinei, o Engraxate Cantor, era um dos “Meninos que vi crescer”!

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