Minha sogra está no quarto e ultimo casamento. Meu sogro no terceiro e ultimo também. Eles têm um belo relacionamento. Se falam e se vêem com freqüência via internet e toda vez que ela vem nos visitar eles se encontram – ela com o marido, ele com a esposa e nós – em nossa casa ou em restaurantes, como bons amigos, como devem ser as famílias que se separam e tomam novos rumos. Afinal entre eles existem três belas mulheres – uma aliás, linda e maravilhosa – três genros – um deles lindo! – e seis netinhos sapecas e maravilhosos.
Mês passado, ao anunciar o falecimento da senhora Esther Telles, em Santa Rita do Sapucaí, a radialista Kátia Kersul tomou um susto:
– Nossa!!! A amiga da Clarisse morreu… Será que ela está sabendo? Preciso avisá-la! – pensou Kátia.
Acontece que uma semana antes, nós havíamos sepultado nossa querida Tia Dinda, ex-cunhada, amiga e vizinha dela no Rio de Janeiro. Por isso Kátia ‘encheu-se de dedos’ e telefonou para ex-esposa do marido e deu a triste noticia.
Clarisse, muito sensível e emotiva, ainda abalada com a morte da ex-cunhada, ligou para a casa da amiga que não via há anos, em Santa Rita para expressar seus sentimentos – e como expressou! – e saber detalhes de sua morte. Depois do quarto “trimmm” uma voz de mulher idosa foi ouvida do outro lado do aparelho. De quem era a saudosa e distante voz??? Da própria Esther, cuja morte e velório Kátia havia anunciado com pesar na Radio Difusora horas antes!!! Caso de assombração?! Um equivoco?! Numero errado?!
Pega de surpresa, já chorando, Clarisse tentou ordenar as idéias enquanto as lagrimas molhavam sua delicada mesinha de telefone:
– É você, Esther…?
– Oi… Há quanto tempo Clarisse?
– Está tudo bem na sua casa?
– Sim. Tudo bem, e com você e o Jose?
– Mas está tudo bem com sua família…
– Sim…
– E aí em Santa Rita, os vizinhos… está tudo bem…? – E as lagrimas já inundando o Aterro do Flamengo…!!!
– Ah, Esther, que bom saber que está tudo bem com vocês…
– Mas, Clarisse… porque você está chorando?
Já sem perguntas e sem uma resposta mais adequada, minha sogra soltou de chofre, deixando as lagrimas escorrerem até a prainha, suja de óleo de barcos, do Botafogo…
– Ah, eu estava com tanta saudade de você……..!!!!!
Bem… Esther estava e está vivinha de Azevedo em Santa Rita. E talvez nem saiba que sua homônima, galho de outra arvore de “Telles” – que Deus lhe dê um bom lugar – naquela tarde descia à sua ultima morada. Apesar da gafe pela qual passou e das lagrimas equivocadas que escorreram até a Baia de Guanabara, minha sogra não rompeu a amizade com a esposa do meu sogro…