Enfim chegou o grande dia, o grande momento!
Ao contrario das copas anteriores, chegou sem alarde, sem ansiedade, sem emoções…! Jamais imaginei que seria assim!
Meu primeiro contato com o futebol profissional aconteceu há 44 anos. De cara com a mais encantadora das seleções… Felix, Brito, Piaza, Everaldo e Carlos Alberto; Clodoaldo, Gerson e o “Rei”; Jairzinho, Rivelino e Tostão! E ainda tinha Ado, Leão, Marco Antônio, Baldochi, Fontana, Paulo Cesar Caju, Dada Maravilha e outros craques no banco à disposição de Zagalo…!
Assisti aos jogos na TV p & b do Danielzinho Marcondes, meu vizinho, na Rua São João. Ainda posso ver um close do Rivelino voltando num trote lento para o campo de defesa, depois de ter disparado um canhão que passou tirando tinta da trave adversaria…!
Guaraná Antarctica e cigarros Continental – com ou sem filtro – ‘preferencia nacional’, eram as propagandas que mais se ouvia durante as transmissões da TV Tupi canal 4.
Antes de cada jogo meu cunhando Teobaldo pegava emprestado um caminhãozinho Chevrolet da Mavesa onde trabalhava de mecânico… Depois dos jogos o caminhãozinho saia pela
cidade levando dezenas de torcedores na carroceria… Adultos e moleques como eu! Nunca houve um acidente…
Só vi vitorias da nossa seleção Canarinho! Logo na minha primeira copa, aos onze anos eu já era campeão mundial! Tri campeão… Talvez por isso eu tenha ficado mal acostumado!
E Tão apaixonado…!
Sofri demais com a eliminação da minha seleção nas copas seguintes. Assistir os jogos restantes da copa era como comer comida sem sal!
Era difícil aceitar que outra seleção fosse melhor que a minha! Que a nossa! Nem mesmo a fantástica laranja mecânica de 74 podia ser melhor!
Pior ainda a Argentina, que precisou comprar o Peru para abrir as pernas e enfiar aqueles 6×0, quando eles tinham tomado apenas de três da nossa seleção!
Em 82, a segunda melhor seleção que vi jogar, não podia perder apenas para um homem só! Mesmo que esse homem fosse Paolo Rossi! Por três vezes a classificação esteve em nossos braços… Por três vezes Paolo Rossi apareceu de penetra e roubou minha namorada! Me deixou chupando o dedo! Com cara de velório! Com uma angustia sem fim…!
Em 1986 o pênalti que o maior jogador da historia do Brasil, depois de pelé, bateu frio, fraco e colocado no canto possibilitando a defesa do goleiro francês, não doeu tanto… O que mais doeu foi aquela pancada que o zagueiro Julio Cesar deu na trave na quarta cobrança da disputa de pênaltis! Não precisava tanta força… Precisava de jeito!
Aquela enfiada de bola do Diego Cheiradona, desculpe, Maradona, na diagonal para o Cannigia matar o Brasil da entrada da área quase fez meu coração parar. Eu estava na sede da Lepa naquele jogo… A copa de 90 acabava ali! O pior é que o delegado Altair não me deixa esquecer aquele lance… Ele me chama de Cannigia toda vez que me vê… Por causa dos cabelos!
Em 94 eu finalmente fui à forra!
Enquanto Roberto Baggio e sua trancinha viam a bola do titulo voando para a arquibancada e o ‘Chatão’ Bueno agarrava o pescoço do Pélé e berrava: ‘acabou, acabou, acabou’… eu peguei o primeiro objeto que estava ao meu lado para comemorar… Era um sofá! Estávamos assistindo a final no quintal do meu cunhado. Coloquei o sofá – não a poltrona, o sofá mesmo, de quatro lugares! – nas costas e dancei e gritei enquanto tinha voz! Uns oito ou dez minutos sem parar… Com o velho sofá do Tio Luiz nas costas! Comemorei a Copa de 94 pelas outras cinco que vi escapar pelos vãos dos dedos dos goleiros… e das pernas dos zagueiros!
Não culpo Ronaldo Fenômeno por não ter feito os gols salvadores de 98. Ele jogou doente e a França não tinha nada a ver com isso.
Não culpo também Roberto Carlos por ajeitar a meia durante a cobrança da falta em 2006… Ele não estava no gol!
Nem culpo Julio Cesar por caçar borboletas contra a Holanda em 2010. Eu o vi de pertinho treinando pelo Flamengo no “Oscar In” em Monte Sião em 2003 e não gosto dele desde então. Mas se teve um cabeçudo naquele jogo, foi o Felipe Mello que chutou ao adversário sem bola e recebeu o cartão vermelho!
Até a copa passada torci e sofri! Me encantei, voltei à infância, torci e sofri com a seleção Canarinho…
A cada eliminação do nosso esquadrão era como se tivesse perdido a namorada de infância… A qualquer momento ela poderia voltar pedindo perdão… Ou aceitando o meu!
Eu passava dias, semanas e até meses esperando ouvir a manchete na TV: “Anulado o jogo que desclassificou o Brasil da Copa… Nova partida será realizada dia tal…”.
E eis que chega 2014! Eis que chega o tão sonhado momento do “équiça”! É o que rola nas redes sociais, ‘équiça’! Que aliás, é o retrato do Brasil ‘sem’ educação. É por causa desses “équiças” que vem a cada dia piorando a imagem do Brasil, que vou torcer contra!
Se a homogênea seleção brasileira atual ou, como quer a Globo, o Neymar ganhar a Fifa World Cup 2014 o brasileiro mediano passará o resto do ano festejando… Só lembrará que dos R$ 28 bilhões destinados às obras da Copa, que seria o seu legado, metade foi parar na guaiaca de ‘uma dúzia’ de corruptos. – Nos governos passados era apenas ‘meia dúzia’! – Sem contar que o tal legado ainda está relegado à boa vontade das empreiteiras! – a Copa do Lula definida em 2007 está começando 7 anos depois em meio a um canteiro de obras!
O povo que vai às urnas no próximo dia 05 de outubro precisa estar bem acordado. Para isso precisa tomar um choque!
O Brasil está mergulhado em mazelas e corrupção politica. Em insegurança, em descaso com a saúde… O Brasil está emaranhado em leis flácidas que não punem ninguém! Especialmente os políticos.
A situação politico-administrativa do Brasil precisa de um choque… O povo que escolherá seus governantes na próxima eleição precisa estar acordado para votar!
A conquista do titulo em casa em 2014 trará meses de farra e porre! E perpetuará os atuais politicos no poder! Quando a ressaca chegar será tarde demais!
A única arma que o brasileiro medianamente politizado tem no momento para acordar é o choque da segunda derrota da Seleção Canarinho dentro de casa… Principalmente se o carrasco desta vez for a Argentina!
Sinceramente!?
Não… Eu não gostaria de ver minha amada Seleção perder em lugar nenhum. Mas, para que o Brasil tenha chance de sair do lamaçal de corrupção e descaso com o bem publico, que vai afundando a passos largos, será necessário o remédio amargo da derrota!
Por isso, com o coração aos frangalhos, vou torcer contra a seleção!
Não nasci antes da bola e nem antes da Copa.
Aliás, esperei o Brasil ganhar a primeira para depois nascer. Mas conheço poucas pessoas tão apaixonadas por futebol quanto eu!
Joguei desde antes da fantástica conquista do México, com bolas de meias, bolas de palha de milho, fruta de lobo e qualquer coisa que rolasse na grama ou na rua…!
Hoje vivo tropeçando em bolas…
Meu caçulinha tem trinta bolas de futebol. – Umas oito espalhadas dentro de casa e no quintal. E outras vinte duas que ele jogou no quintal do vizinho! Até o “Pitoco”, seu cachorrinho de estimação, tem a sua própria bola. Toda furada, mas ele não larga…!
Jogo futebol metade dos dias da semana. Só não jogo a outra metade para não perder a esposa e os leitores! Não
entendi até agora como foi que ainda não aprendi jogar!
Sou apaixonado por futebol e pela seleção do meu país… Mas, se depender da Seleção Canarinho perder para o Brasil retomar o rumo da historia, vou torcer contra…!
Está bem… Não vou torcer contra!
A seleção, além de propiciar alegria a milhões de brasileiros, representa a pátria-mãe! Seria como torcer contra a própria mãe!
Mas também não vou torcer a favor…
O brasileiro precisa estar acordado no dia 05 de outubro…