Simplorio & Finorio vendem bilhete premiado em Pouso Alegre

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Seu Juca, 61 anos, morador lá das bandas da serra de Espirito Santo do Dourado, conheceu Simplório no final da manhã desta segunda, 25. Cruzava ele a Herculano Cobra com Adolfo Olinto, na esquina do correio, saindo da casa lotérica, quando Simplório, moreno claro, baixo, gordo, com aparência de baiano, cerca de 40 anos se aproximou e puxou prosa com ar humiiilllde, quase santo…

– Seu moço, será que o sr. pode me ajudá? Eu tô com um bilhete de loteria aqui na ‘gibeira’, minha mulé falou que tá premiado… O sr. conhece por aqui uma casa lotérica que possa confirmar isso pra mim…?

Antes que o agricultor, plantador de banana, moço bom e honrado, dissesse alguma palavra, apareceu Finório…! Sujeito maduro, alto, claro, bem vestido, boa prosa. Foi logo se desculpando por entrar na conversa…

– Desculpe senhores, eu não pude deixar de ouvir a conversa de vocês… O sr. disse que tem um bilhete premiado? Pelo amor de Deus, fala baixo… Essa cidade está cheia de ladrões! Se alguém escuta isso toma o bilhete do sr.! Chega pra cá… Eu sou cambista, deixa eu conferir…

E foi logo abrindo uma maletinha que trazia consigo, tirando um pacote de bilhetes, impressos de loteria, anotações e sem dar tempo a Simplório e a Juca,  pegou um folheto e emendou…

– Está aqui, este são os últimos números sorteados da Quina… vamos conferir… Seu Juca, por favor, eu digo os números que deu e o sr. confere no bilhete do Simplório… Anota aí… 24… 47… 13… 31 e…50…

Simplório com os olhos grudados no papel na mão do plantador de bananas solta um grito e imediatamente tapa a boca com a mão…

– A Maria tinha, razão, tô rico… Agora ‘vamo’ ‘pode’ compra nossa casinha! Vou trocá a bicicleta…

– Pela amor de Deus, disfarça Sr. Simplório! Quer ser assaltado antes de receber o premio? Eu vou ajuda-lo a receber… Vou leva-lo à agencia da Caixa Econômica Federal antes que alguém tome o seu bilhete… O sr. está com os documentos aí, Rg, CPF, comprovante de residência, carteira de trabalho, cartão do sus, reservista, batistério, declaração de renda, carteira de sócio-torcedor do flamengo…  O sr. vai ter que abrir conta para receber esse premio!

– Ixi… Danô! Eu não tenho nada disso aqui não, sô.

– Olha eu posso ajudar o sr. a receber esse premio, deixe ver… – consulta seus folhetos! – Deve dar uns 300 mil, mas eu quero 10% ! – propõe Finório.

– Topá eu topo seu Finório, mas eu tenho que dá uma gorjeta pro moço aqui também, porque ele tava me ajudando primeiro quando o sr. chegô… – retruca Simplório quase ofendido.

– Concordo, nada mais justo… Então o sr. pega dez por cento de 300 mil e reparte pra nóis dois. Está bom assim pra voce sr. Juca?

Para o agricultor da “Praia” estava ótimo. Ele estava apenas passando por ali. Ganhar 15 mil reais sem fazer força era bom demais! Ele precisaria de duas Toyotas Bandeirantes lotadas de banana para ganhar 15 mil…!

– Mas como que a gente faz, seu Finório…? Quis saber simplório.

– Nós vamos à Caixa, recebo o premio na minha conta, saco e passo para o sr. descontando a minha parte…

– Mas que garantia que eu tenho…?

Antes que completasse a frase desconfiada, Finório emendou

– Vamos fazer o seguinte… Como prova de confiança, cada um de nós vai deixar os 15 mil reais com o Sr…. Eu tenho quase vinte mil reais aqui na maleta, que eu estava indo ao banco depositar – Completou Finório abrindo a maletinha e mostrando um gordo pacote de notas de cem reais. Virando para Juca ele pergunta;

– O sr. também tem os quinze mil para deixar com ele como prova de confiança?

Neste momento o plantador de banana que até então praticamente não abrira a boca, pois Finório não parava de falar, soltou a voz desanimado…

– Eu só tenho 750 reais na algibeira…

– Ah então não tem jeito, eu ajudo o sr. receber seu premio mas eu fico com os 30 mil de gorjeta..!

Antes que Juca dissesse qualquer coisa, Simplório indagou;

– Eu queria dar a gorjeta para o sr. também… O sr.não tem um dinheiro no banco, alguém que pode emprestar os 15 mil…

Alziro coçou a cabeça, pensou na bufunfa que estava escapando pelo vão dos dedos e falou…

– Bem, no banco eu tenho uns 5, tenho umas contas de banana para receber de clientes, mas não dá 15 mil…

Finório imediatamente enfia a colher na conversa…

– Tudo bem… Então vamos ao banco sacar este dinheiro! Vamos tomar cuidado com ladrões e vigaristas!

E foram.

Depois de limpar a conta no banco do Brasil, os três seguiram no carro do Finório, um Honda Civic prata, pela cidade, em busca dos clientes que deviam bananas para o sr. Juca. No Jardim Noronha ele recebeu uma divida de 4 mil reais, totalizando R$ 9.750. Colocaram o dinheiro do agricultor junto com o pacote de dinheiro do Finório numa bolsa que Simplório levava e seguiram para a Caixa Econômica onde iriam receber o premio da Quina, de 300 mil reais.

Toda a ‘operação’ para arrecadar o dinheiro, “prova de confiança”, durou cerca de duas horas. Finório, Simplório e Juca já haviam se tornado ‘velhos amigos’! Ao passar defronte uma farmácia na Silviano Brandão, Simplório passou mal! Parece que teve uma queda de pressão ou algo parecido! Ainda bem que estavam em frente a farmácia. Só tinha um problema! Não havia como estacionar…!

– Por favor seu Juca, pega um remédio ali pra mim. Eu sempre tenho isso… Tenho que colocar embaixo da língua senão o coração paraaaaiiiii… – disse Simplório entregando uma cartela vazia com o nome do medicamento e ‘desmaiando’ no banco traseiro do Honda Civic!

Juca entrou na farmácia e saiu rapidamente com o remédio na mão!

Mas cadê o Honda?

Juca olhou pra lá, olhou pra cá, olhou pra cima, pra baixo, foi até a esquina! Chegou a perguntar a um transeunte se não tinha visto um Honda Civic prata! Demorou alguns minutos para Juca ‘cair na real’… Para deixar ‘cair a ficha’… Para se dar conta de que havia caído no ‘conto do vigario’…! Mesmo assim, ora com um frio na espinha ora com o sangue fervendo nas veias, de raiva, ele ainda andou mais meia hora nas imediações da farmácia na esperança de avistar o Honda. Na esperança de ver Simplório desmaiado numa sombra qualquer segurando a bolsa com seus 9.750 reais…! Somente duas horas depois ele se aninou a procurar a policia para contar o fato. A esta altura Simplório & Finório deviam estar saboreando um rodizio regado a Casillero Del Diablo safra 2007, numa churrascaria qualquer da Fernão Dias próximo à Atibaia…

O diálogo e nome do personagem desta historia são fictícios. Foram criados com base em experiencias anteriores. Até porque, as vitimas morrem de vergonha de admitir que foram tão ingênuas. E contam pela metade ou inventam historias. O nosso “Juca” por exemplo contou para os familiares que foi assaltado, com arma e tudo, dentro do banco! – Não é mesmo, Jesus?

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O personagem, sua atividade laborativa, sua procedência  e os valores no entanto são reais. O produtor de bananas da “Praia” caiu mesmo no famigerado “Conto do Vigário” na segunda passada. Entregou de bandeja quase dez mil reais à famosa dupla. Simplório, o moço sempre de meia idade pra cima, que finge de pobre coitado e pede ajuda para receber o premio de loteria, pois não tem conta em banco, e Finório, o boa pinta, boa praça, boa prosa que oferece ajuda, foram batizados com este nome lá nos tempos de vovó de vestidinho chita… O golpe é muito velho. Mas tem vitimas novas todo dia!

Para cair no “conto do vigário” não precisa ser plantador de banana da Praia, aposentado do ‘Inamps’ ou costureira de subúrbio. Basta dar trela para Simplório & Finório. Eles conseguem até tirar leite de cavalo sem tirar o peão da sela!

Em Pouso Alegre já caíram no golpe ofice-boy, professora, policial aposentado, advogada… Teve até um distinta agiota da ‘high Society’. Ela foi aborda na porta da igreja de Fátima e conseguiu uma façanha! Entregou três mil reais que tinha em casa e foi ao banco na companhia da dupla e fez um empréstimo de 25 mil… Ela queria comprar o bilhete inteiro de 250 mil por 30 e ainda conseguiu um ‘desconto’! E depois queria me processar por causa das perguntas que eu fiz a ela!

Enfim…! Qualquer pessoa que cresça os olhos numa ‘graninha extra sem suar a camisa’ poderá cair no Conto do Vigário! Basta cruzar por aí com a famosa dupla Simplório & Finório!

 

5 thoughts on “Simplorio & Finorio vendem bilhete premiado em Pouso Alegre

  1. Chips,isso não é cair em golpe, isso se chama GANANCIA, querer se aproveitar e onde acabam aproveitados.
    Querer tirar vantagem dos outros, imaginem se essas historias fosse verdades, ao invés de ajudar o próximo daria um tombo no próximo… então tem que se ferrar mesmo.

    Sei que é injusto, mais parabéns a quem consegue dar esses golpes, pois os zoiudos temq ue se ferrar mesmo.

  2. “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”
    Rui Barbosa.

    Ignorância + tendência criminosa + apoio social + inclusão digital = “Fezes Virtuais”

    Lamentável realidade da podridão social.

  3. Realmente, Chips, essa foi a história que ele relatou pros seus familiares e tbm pra população da Praia ” fora assaltado dentro do BB. por homens armados”.

  4. infelismente a ganancia falou mais alto, pois esse golpe do bilhete premiado e do tempo em que o arco iris era preto e branco.toda vez que alguem cai neste golpe, todos os jornais da cidade e da regiao divulga, e mesmo assim muita gente cai.

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